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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Vocação, resposta, seguimento...


Aristóteles dizia com devida propriedade que “quando as habilidades do homem se encontram com as necessidades do mundo, eis aí a verdadeira vocação!”
Em 1999 me detive a refletir sobre a verdade impactante desta percepção aristotélica. Mas parecia faltar nela algo, para que ela tivesse a dimensão cristã plena. Onde entrava aí o papel de Deus, que chama? Sim, porque vocação na perspectiva da Fé refere-se ao próprio significado etimológico do verbete: vocare = chamado/chamamento!
Como a verdade não é perneta, mas caminha na história com suas duas pernas – a Razão e a Fé – então agradeci a genialidade do grande mestre da Razão, Aristóteles, e me atrevi a uma reformulação na perspectiva da realidade incluindo o Criador dela. Ficou assim:
Quando as necessidades do mundo se encontram com as habilidades do homem, por um misterioso Desígnio de Deus, eis a mais autêntica vocação!
Deste momento em diante, coloquei-me a pensar que tipo de habilidade eu poderia ter, isto num momento singular da minha história, em que eu desacreditava profundamente em mim mesmo, posto que todos os meus projetos pessoais ao longo de 12 anos haviam desmoronado...
Foi em meio aos escombros de minha própria história e do fracasso de tudo que tinha significado na minha vida até então, é que descobri um dom, que só podia se manter em mim, no meio de tanto infortúnio, se dado por Deus: o dom de voltar recorrentemente ao pó... e, ainda assim, recomeçar...
Descobri que São Francisco de Assis repetia constantemente, após anos de grande esforço espiritual para fazer-se entender no incompreensível propósito de abandonar tudo para seguir o Evangelho a la letra: “até agora não fizemos nada... comecemos tudo outra vez!”, dizia o Santo de Assis, frequentemente.
Contudo, começar o quê, eu me perguntava?
Já que somar fracassos não é um bom currículum para o século, então, parecia sensato devolver este Dom dado por Deus para aquilo que pertence a Deus: “dai a Cezar o que é de Cezar e a Deus o que é de Deus!”
De Cezar é o resultado temporal, a glória do sucesso. De Deus é a humilhação da Cruz!
Santa Terezinha dizia: “verdadeira alegria é ser desprezada e tida por nada!”. Por incrível que pareça, a loucura destas palavras pareciam começar a fazer algum sentido concreto na minha vida, do alto dos meus trinta e poucos anos de idade, no último ano do milênio passado...
Tentar sempre. Não desistir nunca. Não olhar para trás. Seguir sempre adiante. Ignorar os fracassos. Transpor as barreiras. Vencer o desafio da derrota instalada... Raciocínios assim eu os encontrei com abundância na vida dos Santos. E tudo isto, agora, era mais que uma referência para dias maus... era uma convocação, um chamado, para todos os minutos da vida, doravante...
Trabalhar e desenvolver esta habilidade, numa era em que o mecanismo do sucesso é a força mental para idolatrar os feitos próprios, é, para o mundo, um contra senso. Contudo, para Deus, parece ser exatamente o contrário: funciona como uma habilidade para responder à necessidade de uma época. O Desígnio de Deus, a partir de então, aparecerá na resposta constante ao novo projeto...
Não passei a acreditar mais em mim para cada recomeço. Passei a assumir como valioso o Dom de Deus para recomeçar sempre, mesmo sem ser acreditado por ninguém e sem acreditar em mim mesmo...
Aí minha vocação se manifestou sustentada pelos três pilares que sustentam uma autêntica vocação:
  • a habilidade do homem - que eu tinha e passei a investir nela: a habilidade de fracassar sempre e mesmo assim não desistir nunca;
  • a necessidade do mundo - atualmente, de acreditar que não obter êxito ou sucesso não é o fim, mas, pode ser o começo;
  • o Desígnio de Deus - de juntar uma coisa à outra à revelia do nosso querer, sempre!
Posso dizer: nesta perspectiva fui sendo conduzido pela história, não como seu protagonista, mas como seu servo. Não escravo por amor dos meus sonhos e vontades, todos sucumbidos, mas por amor de quem me purificava por este processo no cadinho da humilhação...
Ninguém podia acreditar, nem eu... ainda assim virei monge!
Ninguém podia admitir, nem eu... todavia, apesar do esforço contrário de uma multidão, fui ordenado Padre!
Ninguém podia tolerar, PRINCIPALMENTE EU... mesmo assim, seguindo os fatos e crucificando em cada etapa os sentimentos e a própria vontade, me vi responsável, na Igreja, por uma Fundação Religiosa, a Obra dos Pequenos Monges do Pater Noster...
Como isto poderia ser possível?
Um infeliz colecionador de fracassos, que passou a ter como objetivo de vida a oferta diuturna e humilhante de fracassos sucessivos, contínuos e ininterruptos, ser responsável por uma Fundação na Igreja?
E uma Fundação Monástica?!
O raro consolo que me invade vem da certeza íntima de que ninguém poderá atribuir os êxitos desta Fundação à minha capacidade de ser bem sucedido. Bem ao contrário, é minha tão visível história de fracassos - entregues com resignação ao Bom Deus - que faz das cinzas do meu presente, surgir a matéria do futuro da Obra...
In te, Dómine, sperávi: Non confundet in aeternum (Em ti espero Senhor, não serei confundido eternamente!)
Mas, enquanto a eternidade não me arranca da mortal confusão, vou sendo assolado pelas indagações:
- Que fiz eu para ser considerado digno pela Santa Igreja de ser Monge?
- Que fiz eu para ser considerado digno de ser Sacerdote do Altíssimo?
- Que fiz eu para ser considerado digno de receber do Papa João Paulo II - que será beatificado dia 1º de maio deste ano - a aprovação de próprio punho no primeiro documento desta Obra do Pater Noster, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo e nosso?
- Que fiz eu para receber do Papa Bento XVI a faculdade de rezar a Santa Missa no Rito Romano e a Santa e Divina Liturgia no Rito Bizantino Greco Melquita?
- Que fiz eu para merecer a confiança do Arcebispo D. Fáres Maakaroum, que com a humildade de um gigante, perguntou-me, no início da nossa vida fraterna, se seria aceito como um membro co-fundador?
- Que fiz eu para merecer a vida consagrada da venerável Monja – a Madre Paulina - que viveu 14 anos na clausura Papal, na nobilíssima Ordem de Santa Clara de Assis e, com permissão formal da Santa Sé, num caso raro de concessão, vir cerrar fileiras neste desafio de uma nova Fundação, que por muitos momentos nos faz padecer a inexprimível experiência da capacidade que o homem tem de ser cruel, quando movido pelos ciúmes, pela inveja ou por ambos?
- Que fiz eu para resistir a tamanhos desencontros comigo mesmo, com a esmagadora velocidade com que tudo isto se deu e com o compreensível questionamento eclesiástico de todos?
Uma só coisa me salta à mente: o que fiz, foi fracassar... fracassar em tudo o que tentei até aqui, sem jamais desistir de começar tudo outra vez...
Do barro amassado dos meus fracassos, misturado ao esterco de minhas indignidades, Deus, por Sua Providência Divina - que escandaliza a mim e a todos - faz nascer a Sua Obra! A Obra é dEle!
Não penso em relação a tudo isto nada diferente do que opinou Gamaliel:
“Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens. Deixai-os! Se o seu projeto ou a sua obra provém de homens, por si mesma se destruirá; mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis a entrar em luta contra o próprio Deus. Aceitaram o seu conselho.” (At 5, 34)
Não tenho pretensão de me firmar nesta palavra para convencer a ninguém de nada. Antes, aplico-a a mim mesmo, na medida em que estou convencido da minha própria incapacidade para realizar a Obra de Deus, inclusive produzindo apenas a constrangedora soma de sucessivos fracassos...
Non confundet in aeternum...
Deste laborioso processo existencial tiro uma conclusão, reflexiva, é claro...
Quem chama é Deus! Quem responde é quem é chamado! E quem confirma é a Igreja! Mesmo quando os homens que por ela respondem, contestam este chamado... isto é incrível!
Agora, Deus chama a que? Para quê?
Para que ofereçamos a Ele a renúncia de nós mesmos e a cruz de cada dia... Não me acretida? Então ouça-O:
“Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida? Ou que dará o homem em troca da sua vida? Porque, se nesta geração adúltera e pecadora alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os seus santos anjos. (Mc 8, 34-38)
É assim que funciona: Deus chama, nós respondemos e a Igreja nos ensina a seguí-Lo... na direção do calvário...
Resumo da ópera: não desanime, nunca, pois, o Sucesso de Deus (=Glória de Deus) depende do nosso fracasso para os homens. Eis o que significa a Cruz! Nela Cristo fracassou para o mundo, erguendo da morte a Vitória sobre o mundo, a fim de salvar o mundo! Capiche?!
Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

2 comentários:

  1. JHS!
    Frei Fabio, está postagem é bem reflexiva e me fez pensar "fracassos" que "atropelam" a vida da humanidade, mas que "cegos", devido a pouca Fé, colocam a culpa das "enfermidades" espirituais em Deus.
    Unidos em Oração!
    Abraço!

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  2. Quero entrar para o Mosteiro dos Pequenos monges do Pater noster o que faço?

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