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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

TODOS ESTÃO CERTOS... O ERRADO SOU EU!

Certamente você já ouviu a expressão “dia de cão!”.

A linguagem popular conserva expressões curiosamente significativas para expressar realidades experimentadas. Esta é uma delas. Muitas vezes ouvi dizer: “hoje eu tive um dia de cão!”...

A expressão é usada para fazer referência a um dia que foi - ou é - peculiarmente difícil, um dia “infernal”. Provavelmente essa expressão tem relação com a figura mitológica de Cérbero (Kérberus = demônio do poço, de Kroboro: comedor de carne),[1] o cão que, na mitologia, guarda a porta do inferno e que fora vencido por Hércules, na sua última prova, de número 12...

Com relação ao cão guardião do inferno, a mitologia grega coincide com outras mitologias, como a cabala vedas (hindu).

E a função principal de Cérbero não era impedir a entrada na região dos mortos, governada por Hades (deus do inferno segundo a mesma mitologia). Cérbero, o cão do inferno, tinha como ofício impedir a saída da região dos mortos.

Para acolher na entrada era afável e festivo. Para sair, era impossível enfrentar o monstro diabólico. Bem característico da imagem daquele que “ruge como leão para perder as almas”...

Conta ainda a lenda que sendo trazido à luz do dia pelo herói Hércules, o cão danado de três cabeças regurgitara uma espécie de gosma dando origem a certo veneno, visto que ficara incomodado com a luz do dia, já que seu habitat era pura trevas.

Alguns mitólogos mencionam que este personagem – o cão do inferno – talvez pudesse ter sido, antes, a serpente do Hades. Seja como for, o simbolismo mitológico encontra correspondência tanto nas citações bíblicas – não propriamente este personagem mitológico, mas sua correspondência nas figuras da serpente, do dragão e correlatos – como, também, no imaginário popular.

Na cultura popular hodierna goza de grande popularidade o cão do inferno, o que se verifica, em especial, na utilização de sua figura nos jogos eletrônicos e na literatura que serve à indústria cinematográfica (Harry Potter, Cavaleiros do Zodíaco, etc).

Seja como for, o imaginário coletivo, cultiva alguma coisa dessa emblemática e terrível figura guardiã do Hades: o cão! É assim que o povo, muitas vezes, personifica o mal.

O famoso amigo do homem, que na terra é símbolo de fidelidade, companheirismo, amizade e guarda da casa contra invasores indesejados, no inferno, é símbolo avesso: é o inimigo terrível que cativa para entrar na região dos mortos, mas, depois que o indivíduo cai no encanto do convite enganador, se transforma no odioso monstro que impede o homem de sair do lar dos mortos.

Muito significativa esta dupla e oposta carga simbólica dada pelo homem ao seu maior amigo/inimigo... o cão!

A questão é: se, já que não sou mitólogo e tampouco me interessa ficar narrando fatos mitológicos – não obstante seja recorrente que me valha da eficiência dos símbolos para exprimir minhas reflexões contundentes – então, qual a razão para considerar o antagonismo simbólico do cão?

Se pensarmos na expressão: “dia de cão”, veremos que ela significa dia difícil, infernal.

Logo, o “dia de cão”, na verdade é noite, é trevas. Exprime o pesadelo de quem está acordado, em pleno dia, no confronto com desafios infernais.

E o que isto tem que ver com o “cão” que impede a saída da região dos mortos no âmbito dos meus questionamentos?

Bem... aí é que está o sentido maior desta reflexão...

Olhando panoramicamente para o contexto desta época, na perspectiva de confronto com a verdade e com a realidade em si mesma, conforme tenho exprimido já em algumas dezenas de reflexões, então, se poderá perceber uma terrível sensibilidade analógica.

Se todos estão certos, na geração libertina do jeans, que garante as mais volupiosas marcas da sensualidade e da libido, como coisa absolutamente normal e aceitável, a ponto de ser critério de evangelização, então, eu, com meu habito monástico, estou redondamente enganado...

Especialmente por lutar contra a dominação interna que minha libido instintiva deseja também exercer sobre: minha sensibilidade psíquica (que me indica haver razões superiores para não agir como um mero animal); e sobre minha sensibilidade racional (que me indica haver razões para agir acima das paixões fúteis, daquele que pelos sentimentos mais nobres vence os meros instintos)...

Sendo assim, todos estão certos... o errado sou eu...

Neste sentido, até a “nova evangelização” que promove a “santidade de calças jeans” (com cursos de mergulho na afetividade e sexualidade) está certa diante do erro da “velha” Evangelização, que ensinava, outrora, quando eu sequer era nascido, que a verdadeira espiritualidade supunha a renúncia destas áreas da nossa dimensão existencial como prova de Amor a Deus... e de respeito às limitações do semelhante...

Se todos estão certos... e o errado sou eu – porque não posso presumir-me certo acima de todos sem correr o risco de ser presunçoso – então, minha consciência latejante vive no Hades e, na porta, o cão ladra diuturno contra minha sensibilidade, impedindo-me de sair para encontrar-me com a razão lógica...

Pois a lógica é outra, afinal...

A liberdade impera fazendo do livre-arbítrio um trono real para a libertinagem que reina.

E não se amalgamar a ela significa prender-se, deliberadamente, no Hades do moralismo, não é mesmo?!

Quem lê minhas lamentações com relação a este paradigma epocal pode concluir que estou desgarrado da inteireza do meu ser que inclui aptidões afetivas e sexuais. Ou julgar que evoco um puritanismo angelical, num ébrio fundamentalismo moralista e religioso, que, de qualquer forma, poderão indevidamente concluir, anti natural.

Enfim, podem dizer, pensar e concluir o que quiserem a meu respeito... já estou no Hades existencial mesmo... Cérbero tinha muitas cabeças. Talvez a predominância tricéfala seja para significar a “onipotência” de sua multiplicidade. Então, uma cabeça de cão a mais ou a menos latindo blasfêmias contra minha luta para fugir desse inferno de insensatez a la big brother, não vai fazer tanta diferença...

Mas a verdade é que minha natureza grita os mesmos apelos instintivos e sentimentais como a de qualquer ser humano. Agora, só por isto vou deixar-me guiar pela anarquia dos instintos? Ou vou permitir ser dirigido pelo desgoverno dos meus sentimentos? Ou consentir que ambos se manifestem - ou sejam tolerados - só para garantir os meus interesses temporais?

Se é para ser assim, qual a razão para que eu, como ser humano, tenha o uso da Razão?

Não deveria a Razão administrar com sensatez os impulsos animalescos dos meus instintos?

Não deveria a Razão educar sensatamente os arroubos de paixão, por vezes completamente incompatíveis com a lógica da própria ordem natural?

Para que temos essa bendita – ou Deus que há de me perdoar como bom descendente de italiano dizer: “maledita” razão – se o ordenamento dela é lei do cão para quem quer fazer imperar a sensibilidade instintiva ou psíquica?

Ou ela própria seria um “cão” ladrando sem parar para nos manter cativos nessa mega permissividade hodierna, onde, usar fio dental/topless, apresentar em horário nobre televisivo todo tipo de promiscuidade e perversão moral, ETC, PODE, mas usar hábito e lutar contra a força quase indomável (eu disse quase) da própria natureza... NÃO?!

Será possível isto? A razão que é compatível com a lógica natural ser a louca do corpo?

A imaginação, como dizia Santa Teresa D’Ávila, sim, é a “louca da casa”... mas a razão que educa a imaginação, não pode ser, uai...

Fato é: muitos irão se escandalizar com a nudez das minhas exposições, dizendo:

_ Nossa, quanta agressividade, amargura, isso, aquilo...

Curioso é que a nudez limpa – no sentido de racionalidade - da minha argumentação, esses tais não toleram, mas, a nudez imunda – no sentido de irracionalidade – da permissividade moral instalada, mais que toleram... acolhem com risadinhas cínicas... especialmente se isto pode prejudicar objetivos a serem alcançados nesta terra que tem um Príncipe, dono de um certo um cão...

Ora...

Resta-me dizer o que?

Todos estão certos... o errado sou eu!

Por que razão me tornei monge católico seguindo a Tradição do Oriente Cristão, procurando imitar o exemplo, segundo as medidas das minhas possibilidades, os Padres do Deserto?

Porque, já que todos estão certos e o errado sou eu, então, só resta-me repetir sem cessar:

Senhor Jesus Cristo, Filho Único de Deus Pai, Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem, perdoai-me pecador e tende piedade!... porque todos estão certos... e o errado sou eu!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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