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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Uma visita de Santa Helena...

Ao escrever a última reflexão postada neste blog (A natureza íntima da corrupção...), fiz breve menção a um fato que foi especialmente marcante na Peregrinação feita em 2008, à Terra Santa e alguns santuários europeus.

De fato, a presença diante da Escada Santa, trazida de Jerusalém para Roma por Santa Helena, acionou minha sensibilidade intuitiva de maneira muito singular.

Sabe aquela situação que intriga, que fica martelando a especulação mental e emocional? Pois é... algo assim!

É aquela coisa que fica latente na nossa intimidade, mesmo que não entendamos as razões, não saibamos explicar, nem sejamos capazes de identificar as causas, os por quês, e mesmo os desdobramentos do porvir de alguma maneira relacionado com determinado fato.

E o fato em questão é: Santa Helena parece estar presente na minha vida desde minha mais tenra infância, muito embora eu jamais tenha percebido esta sua presença. Mais que isto. Toda memória da minha existência está envolvida pelo espaço geográfico dos quarteirões de um bairro que recebeu seu nome como forma de homenagem à Santa.

Outros tantos fatos coincidentes – que sempre prefiro tratar por Providentes - apontam, agora, a bússola da minha percepção interior para a vida desta Santa.

A extensão de sua importância na História da Igreja e de toda uma época é semelhante a um dique que vaza continuamente o excesso dos mananciais que recebe da Graça Divina...

Nasci, cresci, enfim, fui criado no ambiente meigo e agradável, apesar de central, do Bairro Santo Helena, em Juiz de Fora-MG. As peripécias de criança e adolescência foram vividas neste bairro. As memórias mais caras, eu as trago de lá. Os momentos mais difíceis se desvaneceram naquele cenário físico, sem desfigurar o conjunto de significados impressos nas ruas, casas, prédios, praças... Também os momentos marcantes dos sonhos geradores de esperança, contra todos os limites impostos pela realidade, puderam ser vislumbrados de alguma janela de apartamento onde sempre residiram – e ainda residem – meus pais...

Tendo saído da segurança da casa dos pais algumas vezes – até sair uma última e definitiva quando professei os votos monásticos - para tentar a vida longe de Santa Helena, no sentido físico do bairro e no sentido espiritual da fé e religiosidade, para lá regressei, sempre que o fardo do insucesso ou mesmo a demolidora força do fracasso total bateu à minha porta.

Ó Santa Helena, a rede de significados potentes que traz para minha vida o bairro que leva o seu nome, não ultrapassa - pela fé - a barreira da casualidade?

Este bairro, no coração de Juiz de Fora, aos pés do Morro do Cristo, foi edificado sob a proteção da auspiciosa Santa Imperatriz, Augusta do maior Império da Antiguidade Ocidental.

Santa Helena patrocinou feitos que alteraram por completo o paradigma do Império e da Igreja, alguns dos quais iremos colocar em relevo mais adiante.

A mesma mulher que protagonizou um novo cenário épico para o cristianismo e patrocinou a construção da Capital Bizantina de Constantinopla, cede, com generosidade, a força de seu nome e de sua história de santidade para, providencialmente, acolher a única Paróquia Católica de Rito Bizantino da zona da mata mineira.

Esta Paróquia Melquita, no Bairro Santa Helena, é dedicada ao Grande Mártir São Jorge.

O martírio de São Jorge por volta do ano 306 d.C. coroou o fim de uma época de terrível perseguição aos cristãos. A eloqüência do derramamento de seu sangue, nas altas esferas do poder romano, se tornou o principal testemunho qualificado da Fé em Cristo naqueles anos.

A enorme repercussão que teve em todo Império o Martírio do oficial de alta patente, Jorge, foi um divisor de águas entre o cristianismo dos três primeiros séculos e o cristianismo até os dias de hoje.

Não é por menos que a Iconografia Bizantina representa São Jorge à maneira daquela belíssima figura do Apocalipse:

“... eis que aparece um cavalo branco. Seu cavaleiro chama-se Fiel e Verdadeiro, e é com justiça que ele julga e guerreia.” (AP 19, 11)

De fato, esta passagem refere-se ao próprio “Verbo de Deus” (cf. AP 19, 13b).

Todavia, não foi o testemunho do Verbo que conferiu a Jorge a Graça de repetir na história, três séculos adiante, as exatas pegadas do Cristo?

E este testemunho de exímia qualidade do Verbo, não terá feito repensar a vida de Flávia Helena, Constantino e, a partir da força imperial de ambos, de todo o resto do Império?

Sim. Foi esta eloqüência estupenda na tentativa de silenciar a Palavra pela truculência do ódio à Cristo e Seus seguidores fiéis, que derramou a Graça no primeiro escalão do Império. Isto, seguramente, influenciou, sim, a futura conversão de Flávia Iulia Helena, bem como a boa vontade de seu filho - o Imperador Romano Constantino I - para com a jovem Igreja, no alvorecer da era cristã.

Não é por menos que o Grande Vitorioso São Jorge é cultuado em todo Oriente Cristão como aquele que traspassou a cabeça do dragão (o Império anticristão) com a lança de sua Fé inamovível.

Foi, portanto, na Paróquia Bizantina de Rito Oriental Greco Melquita Católica São Jorge que, aos troncos e barrancos, fui ordenado Sacerdote da Igreja Católica, com a faculdade concedida formalmente pela Santa Sé para celebrar nos dois principais Ritos Litúrgicos: o Romano e o Bizantino.

Ordenação realizada por Sua Excelência Reverendíssima Dom Fáres Maakaroum, Eparca Melquita do Brasil, com a permissão Pontifícia concedida por documento pelo Papa Bento XVI, em 2005 - quando fui ordenado Diácono - para ser ordenado sacerdote, por Graça de Deus, em 2008.

E foi lá que a Providência Divina plantou a “grãozinho de mostarda” da Obra dos Pequenos Monges do Pater Noster, como se referiu a ela Sua Beatitude Gregórios III Laham, Patriarca dos Melquitas, em agosto de 2010, por ocasião de sua visita a nossa Casa Religiosa, onde funciona a Sede provisória da Obra.

E foi lá também que, como toda Obra de Deus, padeceu as auguras das primeiras horas de uma Fundação Religiosa na Igreja... “O que está escrito, está escrito”, disse Pilatos aos invejosos que perseguiram Cristo. Digo-o também agora!

Jamais em toda minha vida pude imaginar que tudo isto pudesse acontecer. As nuanças de todo processo que veio a resultar em tudo isto é de dificílima descrição e justificavelmente dispensável neste contexto.

Entretanto, como não perceber o valoroso patrocínio de Santa Helena naquilo que a Fé me convida a crer como Desígnio de Deus para minha vida?

Talvez eu só tenha percebido a curiosíssima conexão entre elementos da minha vida e a correspondência espiritual que abarca a história desta grande Santa, diante de um dos mais laboriosos empreendimentos realizados por ela que, além do mais, tem o mesmo primeiro nome que eu, no feminino (Flávia).

Foi admirado aos pés da Escada Santa, em Roma, a qual foi trazida pedra por pedra do Palácio de Pôncio Pilatos, que eu devo ter ficado impactado com as misteriosas conexões que ainda viria a associar.

Trazer blocos maciços de pedra de Jerusalém para Roma por volta do ano 326 d.C. não é um feito de pouca monta. E nem um ato de Fé pouco representativo.

É ainda mais significativo que se trate da mesma escada que Nosso Senhor Jesus Cristo subiu para ser condenado, deixando nela marcas do Sangue que vertia de Seu Corpo flagelado... Em cujos degraus, de pé, há dois milênios, foi coroado de espinhos, seminu e escarnecido coberto com um manto vermelho para zombar-lhe a Realeza Celeste. Nesta condição humilhante ouviu seu próprio povo – a quem distribuiu os maiores milagres de que se têm notícias na história inteira da humanidade – gritarem odiosamente: “Crucifica-o! Crucifica-o!”

Foi nestas escadas, verdadeira testemunha rochosa do inacreditável, que o Filho Único de Deus, inocente de ter pecado, fora trocado pelo povo de Deus por um salteador, revolucionário assassino e líder revoltoso chamado Barrabás...

Para remover bloco por bloco essa escadaria e transportá-los de Jerusalém para Roma, numa época que não havia guindastes, carretas e toda parafernália tecnológica, é um desafio insensato para quem não é capaz de alcançar o que tudo isto significa.

Mas para Helena, Imperatriz de Roma convertida ao cristianismo, que vislumbrava as injustiças continuadas em Roma contra os cristãos na esteira de três séculos, tal qual aquela presidida por um Governador Romano, de nome Pôncio Pilatos, tais escadas significavam muito.

Representavam o símbolo de uma nova época para Império. Significava o exemplo irrefutável da injustiça de Roma para com Cristo e seus seguidores. Isto é mais que um feito histórico e épico. É um eco perpétuo de reconhecimento da falibilidade da justiça humana.

O Governador Romano corroborou a sentença injusta e equivocada do Sinédrio, na tentativa de salvar a própria glória, sem, todavia, ser capaz de deter a Glória de Deus:

“Mas os judeus gritavam: ‘Se o soltares, não és amigo do imperador, porque todo o que se faz rei se declara contra o imperador’. Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal... Entregou-o então a eles para que fosse crucificado.” (Jo 19 12b-13a e 16)

Passados dois mil anos, lá estão, no que sobrou da Antiga Roma imponente, as mesmas escadas, subidas, todos os dias da atualidade, de joelhos, pelos fiéis e peregrinos de todo mundo. As escadas onde - de pé e humilhado - o Inocente foi condenado à morte pela inveja dos judeus e ambição dos romanos...

Santa Helena transcendeu à história com a força da História. Trouxe para o centro do Império a prova inconteste do mais fragoroso erro da Roma Antiga, fazendo virar pó aos pés daquela escadaria de rocha bruta vinda de Jerusalém, a truculência de três séculos de injusta perseguição contra os cristãos, a partir do próprio Cristo.

Roma, que tanto odiou os cristãos, agora tinha diante de si a escada da sua derrocada, pela qual subiu a Glória Eterna de Deus e através da qual Deus fez o homem descer de sua glória passageira...

Santa Helena, a Nobre (Santa) alma nobre (Imperatriz de Roma), percebeu isto...

Mas, estas conexões, associações e relações de fé entre o que diz respeito à vida de Santa Helena e os fatos de minha para lá de insignificante história, são apresentados aqui apenas como uma boa razão para justificar a boa escolha de falar um pouco desta vida proeminente na História da Igreja.

Flávia Iulia Helena, segundo consta, teria nascido na Bitínia, região da Ásia menor, atual Turquia. Não teve uma vida fácil nem antes nem depois de ser Imperatriz.

Antes, ainda pagã, trabalhou como criada numa taverna até casar-se com Constâncio, um Tribuno Romano que foi nomeado Governador da Ilha Britânica. Foi abandonada pelo marido que se casou com uma nobre para tornar-se Imperador de Roma, levando para longe dela seu filho Constantino I. Ficou separada do filho 14 anos.

Depois, quando o filho se tornou Imperador de Roma, com a morte do pai, foi buscada por ele para junto do Império, recebendo o título de Augusta Imperatriz. Helena, cujo primeiro nome era Flávia, teve no entorno de sua vida outras duas mulheres de mesmo nome (Flávia), que lhe trouxeram grande sofrimento.

A primeira, Flávia Theodoro, roubou-lhe o marido Constâncio e o filho ainda muito jovem. A segunda, Flávia Fausta, sua nora, acusou o neto mais velho de Helena, Crispus, filho de Constantino I antes dele se casar, de tentar seduzi-la, conseguindo que fosse condenado a execução pelo pai, sendo ela própria também morta depois disto.

Na disputa pelo poder imperial, Helena já convertida, foi injustamente acusada pela morte da nora. Após os 77 anos de idade, Helena, amadurecida no sofrimento e firmemente movida pela consciência cristã, peregrinou para Terra Santa. Em Jerusalém mandou construir templos cristãos nos lugares Santos: no Gólgota, no Monte das Oliveiras e na Gruta de Belém.

Ao lado do Bispo de Jerusalém, Macário, empreendeu escavações no gólgota, na esperança de encontrar a Cruz na qual Cristo fora pregado. Baseados numa antiga Tradição Judaica, que dizia que os instrumentos da pena capital de um condenado tinham de ser enterrados no mesmo lugar, Helena não mediu esforços.

Mandou demolir o templo pagão dedicado à deusa Vênus, construído no Gólgota pelo Imperador Adriano para afastar do lugar o culto cristão. No local das escavações foram encontradas 3 cruzes, cravos e a inscrição com as iniciais Rei dos Judeus em hebraico, latim e grego. Contam as antigas Tradições que a identificação da Cruz de Nosso Senhor se deu pela ocorrência de milagres instantâneos ao toque no Madeiro Santo.

Santa Helena com sua piedade e fé foi peça sine qua non para que a Igreja viesse a repetir na história o feito de ressuscitar após três séculos de martírios, assim como Cristo ressuscitou após três dias de sua crucificação.

Foi através do famoso Edito de Milão (312/313 d.C.) que os cristãos finalmente puderam exercer culto a Deus sem mais serem perseguidos, molestados e mortos pelo Império. Nenhum outro Imperador depois, ainda que tenha quisto ou tentado, conseguiu demover a validade perene deste Edito.

A construção da Capital Bizantina de Constantinopla, na qual aparece novamente o dedo da Santa Imperatriz, foi pouco a pouco fortalecendo a possibilidade do que culminaria futuramente na divisão do Império entre Oriente e Ocidente.

As marcas vigorosíssimas desta divisão atingiram também de cheio a Igreja, fortalecendo progressivamente a distinção de duas Grandes Tradições: a Tradição Cristã do Ocidente e a Tradição Cristã do Oriente. Aos poucos, a divisão do poder imperial contaminou a plena unidade dos cristãos na diversidade, fomentando conflito e discórdia entre pares na fé.

A situação se complicou em eventos como a Iconoclastia (guerra contra os Ícones) e os problemas de tradução durante o Império Carolíngio que reunificou o Ocidente. Isto foi se somatizando até se transformar também numa verdadeira e dolorosa separação para a Igreja: o Cisma de 1054. Nele, a Igreja Una, Corpo de Cristo, se partiu e fracionou, mas não se dividiu... tal qual São João Crisóstomo compôs, no Séc IV, para oração de preparação da Santa Comunhão do Corpo de Deus:

É partido e fracionado o Cordeiro de Deus, que é partido sem ser dividido, que é sempre comido e nunca consumido, mas santifica os que O recebem... A plenitude do Espírito Santo.” (Liturgicon Bizantino)

De fato a Igreja é Una e Indivisa. A separação não dividiu a Fé e a Tradição Apostólica, que é vínculo indissolúvel entre os Sucessores dos Apóstolos em diversas tradições inculturadas. A separação eclesiástica é uma deficiência triste e visível, não há dúvidas, mas não é uma divisão do Corpo Místico de Cristo, para aquelas Igrejas que possuem Sucessão Apostólica válida e ininterrupta através dos séculos.

O que estas considerações têm que ver com Santa Helena, a Grande Santa do Ocidente e do Oriente?

Há duas maneiras de compreender as iniciativas da Imperatriz a cerca da construção da futura capital do Império que viria a se dividir... e que tanto afetou a Igreja. Uma visão estrito senso secular e pragmática. Outra visão de fé e concórdia com os Insondáveis Desígnios de Deus.

Na visão secular pode-se apontar o projeto de uma nova capital para toda aquela estrutura de poder temporal, como sendo a semente da divisão do Império e a futura separação no seio da Igreja. Neste caso, a culpa de ter plantado, com vigor histórico, esta semente, seria da Imperatriz Helena e seu filho Constantino I.

Esta disposição teria favorecido a disputa de interesses que foram aumentando a distância pelos séculos afora das culturas distintas, das formas litúrgicas diferentes e, sobretudo, da clara diferença entre os modelos mentais do ocidente e do oriente (o modelo mental ocidental é catafático, isto é, afirma a verdade pela via positiva do raciocínio lógico; e o oriental é apofático, ou seja, afirma a verdade pela via negativa do raciocínio lógico).

Esta é a visão que o homem tem da história. Cabe perguntar: e a visão que Deus tem dela, é a mesma?

Levando-se em conta que invariavelmente o homem erra na sua visão da história, é difícil crer que ela coincida com a Visão de Deus.

Podemos propor, por exemplo, algumas questões sob uma perspectiva menos pragmática e mais sensível ao misterioso benefício da Providência Divina:

O Império era muito extenso e as fronteiras orientais estavam delicadamente ameaçadas. Era do Oriente que neste momento vinha a parte vital da economia do Império. Não protegê-lo de modo efetivo poderia significar a sumária destruição e decadência de todo Império. Como o Império acolheu em seu seio a Jovem Igreja, Ressuscitada na história para “crescer em Tamanho, Sabedoria e Graça”, era preciso protegê-la... ou não?

Outra coisa imprescindível: Roma era uma cidade pagã, com arquitetura pagã, templos pagãos, etc... verdadeira figura da nova Babilônia. Precisava cair do ponto de vista da profecia Bíblica. Só depois de quebrada com o malho pelo Oleiro, é que poderia ser novamente cozido o barro de sua história para reerguer-se como verdadeiro centro Universal do Cristianismo séculos mais tarde. Será possível que Deus não é Mestre em tirar de todo mal um bem maior?

Constantinopla, ao contrário, recém concebida para transcender os antigos marcos anticristãos e ser capaz de atravessar aquele novo período da história, foi erguida sob a égide de uma cultura cristã. O mundo cristão bizantino produziu, literalmente, as bases da cristandade na baixa idade média. Basta fazer uma viagem arqueológica pelo mundo e se verá isto nos substratos do solo através de ruínas e artefatos. Na sequência dos substratos arqueológicos vamos encontrar: impérios antigos, império romano pagão, império bizantino e cristandade ocidental... Como não ver nisto a Providência de Deus?

Santa Helena com sua fé, piedade e devoção aplicada com diligência na função de Imperatriz do Império Romano – outrora perseguidor dos cristãos – ajudou a virar uma importantíssima página da História da Humanidade e da Igreja.

E como todo(a) Santo(a), amou a Deus sobre todas as coisas com honesto fervor apesar das suas falhas. E errou com os homens também, como todos os santos e santas... Patrocinou Eusébio, defensor da heresia ariana ao lado de mais de 60% do episcopado da época...

Esta é a marca dos verdadeiros Santos. Não são homens e mulheres que se pretendem impecáveis e angelicais, o que, de per si, é uma ofensa a Deus por rejeição à própria natureza.

A leitura da Liturgia Romana de hoje não deixa dúvidas sobre isto:

“Visto que os filhos tem em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para assim destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, e libertar os que por medo da morte, estavam sujeitos a toda escravidão” (Hb 2, 14-15)

Isto se aplica com perfeição à Roma Antiga, o Dragão que mantinha cativos os seguidores de Cristo.

E mais, a conformidade com a própria natureza é um sinal de perfeita santidade e sujeição a Deus, apesar das misérias do coração. Isto porque, Deus, que por sua Onisciência é capaz de conhecer essa miséria do coração, antes de nos fazer participar na Vida Divina, quis Ele próprio participar na Miséria do Coração:

“Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão. Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso [= com coração pleno de miserere, isto é, compadecido] e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. Pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação” (Hb 2, 16-18)

Especialmente os últimos quatro pontificados têm feito grande esforço para recuperar a perfeita visibilidade da Igreja, repetindo um após o outro a necessidade de que ela, a Igreja, tem de “voltar a respirar com os dois pulmões”, o Ocidente e o Oriente.

Santa Helena, Grande Imperatriz benfeitora da Igreja e das Obras de Deus, valei-nos, socorrei-nos! Visitai-nos com a Divina Providência! Visitai-nos...

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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