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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

3ª e última mensagem de 2010

Mensagem para o Ano Vindouro dos que questionam – velada ou notoriamente – a Sé Romana...

A terceira e última mensagem de fim de ano é de cunho eclesiológico, isto é, diz respeito à Igreja em todo o seu conjunto. É dirigida a todos que são implicados por Ela (de modo positivo ou negativo) e a todos os que implicam com Ela. Sendo assim, não haverá exceção entre o público cristão, não obstante tenha medidas certas para alguns crânios com deformidade na fé.

Há poucas semanas, às portas do Advento, se encerrou em Roma, sede da Cátedra de Pedro, o Sínodo para as Igrejas Orientais Católicas. Na sequência deste grande evento, o Sucessor de Pedro, convocou o consistório com o Sacro Colégio Cardinalício.

Estes fatos de cúpula sempre causam grande repercussão e geram todo tipo de especulações dentro e fora da Igreja. E muitas dessas especulações - internas e externas à Igreja - são formuladas pelo espírito não raro incauto dos que as noticiam ou comentam.

Não são inimigos da Igreja apenas aqueles que, sem a ela pertencer – e, portanto, ignorando a verdade dos fatos - acusam-na acintosamente por falácias e calúnias.

São inimigos da Igreja todos aqueles que, estando em seu interior e a ela ligados institucionalmente, vêem-na apenas como um mero lugar para a concretização de seus ideais de estrelismo e/ou em busca de poder e glória, cargos e reconhecimentos.

Especialmente o Pontificado de Bento XVI tem estado na mira de tais inimizades. Razão pela qual, esta nossa última mensagem no fim da primeira década deste novo milênio fará considerações específicas sobre a Sucessão Petrina.

Numa época em que a história parece construir um funil para tragar a Igreja, é imprescindível construir esforços de unidade e desmascarar as sementes de divisão...

A Cátedra de Roma sempre foi, desde que lá se instalou Pedro Apóstolo, a Cátedra da moderação universal dos cristãos. Daí decorre a necessidade de refletir sobre as dificuldades que se abatem sobre este Primado Apostólico. As coisas de ordem prática na multiplicidade da Igreja em sua universalidade e o pessoalismo de muitos de seus membros, não contribuem para o fortalecimento deste que é o maior sinal de unidade.

No conjunto dos problemas internos à Igreja, o carreirismo é também uma tentação severa que arrebanha uma multidão de almas consagradas...

Feliz aquele que, consagrado na Igreja, não tem onde recostar a cabeça... Recebe o infortúnio como justo salário de seus próprios pecados e como penitência pelos pecados do mundo...

Antes de prosseguir fazendo o mea culpa do cristianismo atual, na esteira da tal “nova evangelização”, o que faremos em outra reflexão, nesta, enfatizaremos a indefectibilidade e primazia da Sé Romana.

Para tanto, é sumamente relevante considerar a razão eficaz e eficiente da Sucessão Petrina.

Podemos e devemos dizer que a Santa Sé Romana guarda a Primazia absoluta e inquestionável da Cátedra de Pedro por que foi lá, em Roma, que Pedro - escolhido Chefe dos Apóstolos por ninguém menos que o próprio Filho de Deus - derramou seu sangue, realizando com a máxima perfeição o seguimento de Cristo (no cristianismo não há maior perfeição de seguimento que a do martírio).

O que confere, portanto, à Sé de Roma o status soberano de legítima Cátedra da Sucessão Petrina é a coroa mais excelsa do seguimento exímio ao Único Senhor da Igreja: a Coroa do Martírio.

Quem ama mais que aquele que morre por amor?

E quem é que morre mais configurado ao Amor que aquele que, reconhecendo-se indigno, como Pedro que negou a Cristo e chorou amargamente, aceita o terrível ônus de ser, da parte do Rei, o Príncipe dos Apóstolos?

Pedro não se ofereceu. Ao contrário, duvidou de seu chamado. Negou seu Mestre antes do galo cantar três vezes. Com espada na mão prometeu defende-Lo e depois fugiu acovardado. Era pescador simples e ciente de sua condição: “Senhor, a quem iríamos? Só Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68).

Mas Pedro tinha a Fé de uma rocha (Cefas): “Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo!” (Mt 16, 17)...

E Cristo, a Pedra Angular que fora rejeitada pelos chefes do Povo de Deus, - negada por Pedro (a rocha na Fé), mas não rejeitada por ele - não rachou o rochedo de Sua Palavra Eterna em fragmentos de significados. O que disse há dois mil anos, vale ainda hoje:

“E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus; tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (MT 16, 18-19).

E Pedro, à frente dos Apóstolos, fundou as primeiras Igrejas mais importantes do Cristianismo.

De fato, Pedro fundou a Igreja de Jerusalém e a Igreja de Antioquia tanto quanto fundou a Igreja de Roma. Estas Cátedras são igualmente veneráveis. Todas elas fundadas por Pedro, sim, Rocha de Cristo, e, por Vontade do Rei, Príncipe dos Apóstolos.

Não se pode dizer - sem falsear a história - que as Sés de Jerusalém e de Antioquia não foram fundadas por Pedro, porque de fato elas foram. Também não se pode pretender que elas tenham a mesma Glória da Sé de Roma, porque elas não têm. E por quê?

Lá, na Sé de Roma, Pedro regou sua Cátedra com seu sangue apostólico. E não só Pedro, mas, também, o Grande Apóstolo dos Gentios: Paulo.

O segundo entre os maiores Arautos da Fé, Paulo, perdeu a cabeça, literalmente decepada, em Roma, por amor de Cristo e pelo bem da Igreja.

O primeiro entre todos os Arautos do Evangelho, Pedro, Chefe dos Apóstolos “escolhido a dedo” – a la letra - por Nosso Senhor Jesus Cristo, foi, seguindo Aquele que o designou para a mais importante função de Deus na terra, crucificado em Roma.

Consciente de sua indignidade até a hora da morte, face à tão tremenda responsabilidade - que acentua a nobreza, o caráter e a franca humildade de Pedro - o Primeiro entre os Apóstolos, fez, ainda, um último pedido em Roma: ser crucificado de cabeça para baixo, por saber-se indigno de imitar Nosso Senhor...

É esta dignidade Petrina que faculta à Catedra por ele fundada em Roma a primazia sobre as demais Cátedras de Cristo.

Onde está a humildade dos cristãos que não reconhecem isto? Viva a humildade de Pedro e de seus Sucessores!

Onde está a humildade dos Hierarcas, que defendendo com dignidade – como lhes é cabida - as Honradas Tradições Antigas que devidamente sucedem e representam, rejeitam esta autentica Tradição da Fé, desde os primeiros padres? Viva a humildade de Pedro e de seus Sucessores!

Onde está a humildade dos padres que pensam e referem-se, aqui e acolá, à Sé Romana como se esta fora uma mera sacristia de suas paróquias insignificantes? Viva a humildade de Pedro e de seus Sucessores!

Às vezes me coloco a pensar se as resistências - veladas ou notórias, discretas ou raivosas – dessa gente não será por causa de um incontido orgulho e de uma apodrecida ambição de querer o lugar daquele que legitimamente Sucede Pedro.

Talvez, estes adoecidos na vaidade, pensam-se mais dignos de ocupar tal função. Alguns até se comportam como papas de si mesmos nos púlpitos de suas cádetras de bairro, considerando-se “espertos” o bastante para jogar confete em outras Sés Apostólicas, quem sabe atrás de uma de uma Coroa, como se fossem dignos de portá-las...

Deixemos as intenções funestas dos presunçosos de lado. Voltemos à glória da Santa Sé Romana...

Glória esta quista por Deus e estabelecida pelos séculos através do Martírio do Primeiro entre os Apóstolos.

Esta Glória foi, é, e sempre será muito maior que a Glória de todo um império conquistado para Igreja pelos méritos de um Grande Imperador, fruto da fé fervorosa e das orações perseverantes de uma Santa Rainha, uma baluarte do cristianismo no oriente e no ocidente.

Esta Glória da Sé Romana é maior mesmo que a Glória das outras Digníssimas Cátedras também fundadas por Pedro, as quais não mereceram, por desígnio de Deus, seu Sangue Apostólico! (O que entendo da Glória de Bizâncio, entendo-o na qualidade de sacerdote Melquita, de Rito Bizantino)

Isto é um fato. E um fato oriundo de um feito histórico. Contra fatos não há argumentos. E contra fatos feitos históricos, corroborados por Deus, o casuísmo da arrogância humana não pode prevalecer, nem hoje, nem nunca, doa a quem doer!

Portanto, da parte dos que vivem a verdadeira Glória de Bizâncio, não há o menor constrangimento em colocar em relevo o teor desta verdade. Cum Petro et sub Petro haverão de regozijar-se com o valor da verdade dos fatos. Pois a Verdade é soberana e digna de louvor.

Todavia, para alguns poucos anões na lealdade, no caráter, na moral, na fé e, sobretudo, na obediência reta à Igreja e às Autoridades constituídas, os quais querem roubar para si mesmos a Glória de Roma ou de Bizâncio, a coerência perene desta exortação, fará ranger até os ossos (a referência aqui diz respeito ao pensamento de algumas anomalias pessoais e não se estende, em absoluto, à legitimidade institucional).

Voltemos à Roma...

Em Roma, os dois Grandes Apóstolos Arautos da Fé, atingiram o ápice magnânimo e insuperável do seguimento a Cristo.

Não há testemunho mais qualificado e crível que este na Fé Cristã. Não existe no Cristianismo Glória maior que esta. O Martírio é o Louro da Vitória, a Coroa da Glória de Deus entre os homens pecadores.

Pode-se pregar como um Arauto. Ensinar como um Mestre doutoral. Amar como um Santo. Curar como Taumaturgo. Profetizar como um Precursor. Tudo isto é louvável e contribui para a santificação pessoal e coletiva dos cristãos. Mas nada disso garante que alguém entre no Céu...

“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!” (Mt 7, 22-23)

Ao contrário, o Mártir, aquele que perde a própria vida (jamais o que tira a vida de alguém em nome da fé que for!) como testemunho qualificado da Fé, este sim, está garantido no Céu, mesmo que não seja capaz de pregar sequer como um ignorante; mesmo que não saiba o suficiente para a própria compreensão (quem dirá para ensinar alguém); mesmo que tenha dificuldades de demonstrar o amor que sente; mesmo que não cure nem a própria indignidade; mesmo que não profetize nem mesmo para as pedras. Se está provado que morreu pela Fé, não se é necessário provar outra virtude qualquer para que a Igreja garanta que entrou no Céu.

Se esta é a qualidade sumária de um Mártir, imagina a qualidade de um Mártir do galardão de Pedro: Moderador dos Apóstolos, dos Arautos, dos Mestres e Doutores, dos Profetas, dos Taumaturgos, dos Caridosos, enfim, dos Santos na Igreja Peregrina e “porteiro” do Céu???

A coisa mais triste que constatamos num cristão – pior ainda se consagrado a Deus na Igreja – é quando, sendo ele um verdadeiro anão, se enxerga um gigante... é de dar nó na compaixão...

Dito isto, que sempre tem endereço certo e cabe como uma carapuça na cabeça oca de muito ‘cristão’ de conveniência e de muito consagrado de causa própria, nada melhor que terminar o ano cortando, na própria carne, as necroses espirituais de uma década...

Antes, porém, de concluir este último balanço, nesta 3ª e última mensagem para o Ano Vindouro, não em defesa de mim mesmo, mas por coerência com a verdade inerente aos fatos, registro com vigor a ciência que possuo de que, sobretudo, aqueles que se encaixam no perfil desta provocação reflexiva, possam julgar-me pedante pela austeridade do raciocínio, pela pujança das palavras e, principalmente, pela ousadia do que pode ser tomado como exortação, afinal, quem sou eu para colocar o dedo nesta ferida multisecular?

A eles, recomendo a leitura de outros artigos do blog como: Eu não quero ser santo; O orgulho do saber; O homem indigno; Salva-me de mim mesmo, entre outros...

Toda severidade lá encontrada, como a aqui ressaltada, aplico-a em primeiro lugar contra mim mesmo. De modo que não me refuto ao desafio de fazer-me publicamente juiz de mim mesmo ao lado dos que quererão me acusar, naquilo que eu não for consoante com o que disse... Resta saber se eles correão o risco, de igual modo, de depor da pelo de cordeiro naquilo que escondem de lupino no pensar e no agir...

Que melhor e mais digna contribuição - um sacerdote insignificante e desprezível como eu - poderia dar aos leitores deste blog, como perspectiva para um novo ano, senão a de trazer à baila, às vésperas do réveillon, a pedra fundamental da verdade sobre Cristo e Sua Santa Igreja?

Feliz 2011, com muito Fogo (vindo do Alto e não projetado para o alto) na consciência!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Eu não quero ser santo...

É verdade! Sou sacerdote e monge e nunca quis ser santo. Nem quero agora. Certamente não é a meta do meu querer para 2011 e acredito que não quererei no futuro.

Isto pode soar estranho, muito estranho, partindo de alguém consagrado a Deus, não é mesmo?!

Contudo, mais estranho seria um religioso, que livremente escolhe seguir um projeto que jamais concebeu para si mesmo, e que livremente faz votos, faltar com a verdade...

Há, contudo, razões honestas para que eu não queira ser santo. Vamos a elas.

A primeira delas está no significado da própria palavra. O Novo Testamento, escrito em grego e difundido em latim, recorre ao Antigo Testamento, escrito em hebraico, para buscar o conceito de sanctus. É no hebraico que temos o termo Kadosh e que significa, etimologicamente, separado.

Estrito senso, “só Deus é Santo” (cf. 1Sm 2,2; Sl 22,3; Is 6,3). De fato, a única natureza existente completamente distinta, separada de todas as leis cósmicas, e separada perfeitamente do tempo e do espaço, é a Natureza Divina.

Todas as demais naturezas, no mundo da Graça e no mundo natural, estão, de alguma maneira, misturadas por um conjunto de elementos. De tal modo que a separação só se dá em razão da Graça e em medida de participação, não em medida de essência.

Esta separação clara e absoluta de Deus é tão patente que até o Mistério da Encarnação a demonstra, na questão da dupla Natureza do Filho, Verdadeiramente Deus e Verdadeiramente Homem. Na união hipostática na Única Pessoa do Filho, as naturezas – Divina e Humana - não se misturam, não se fundem nem se confundem. Permanecem ‘separadas’ substancialmente, mas unidas sem confusão na Única Pessoa do Filho, conforme ensina o Dogma de Calcedônia, em 461dC.

Se ser santo é ser separado, ser perfeitamente Santo é ser perfeitamente separado. E só Deus, que é perfeitamente separado, é perfeitamente Santo.

Logo, como o início do pecado no gênero humano está associado ao desejo de “ser como deuses” (cf. Gn 3, 5), eu não quero ser como um deus, perfeitamente separado, isto é, não desejo acreditar iludidamente que a minha natureza é divina, sequer em germe... A natureza que Deus me deu é humana e é Sua Graça que a Diviniza...

Não sou um deus. Deus é Santo, Santo, Santo. Sou pecador que vai sendo 'divinizado' por participação na Graça Divina, não por desenvolvimento da consciência de mim mesmo.

Não sou um iluminat, ou seja, alguém separado por força de sua própria condição. Sou salvo, não salvador de mim mesmo.

Aceito com modéstia o que sou. Não desejo presunçosamente ser aquilo que não posso ser. E, se por um lado, não posso separar-me do pecado por minha própria força, por outro, não posso trancar-me nele rejeitando a Graça santificante (separadora) de Deus.

Esta é a primeira razão para que eu não queira - no sentido de ser uma iniciativa da minha vontade, poder ou capacidade - ser santo... Há outras!

Ser santo é ser separado. Não é ser separando e nem separador. Quem é separado está sob a ação de outrem. Eu não me separo porque eu não sigo a mim mesmo. É Deus quem me separa para Si. Ora, se eu não posso separar a mim mesmo para me seguir, então, não posso querer ser santo, no máximo, posso aceitar - ou não - participar da santidade de Deus. Posso responder – ou não - à separação feita por Deus.

Estas razões anteriores são da ordem da lógica, contra as quais não se pode tergiversar sem se tornar ilógico.

Todavia, há uma razão bem mais severa para que eu não queira ser santo...

Tenta, você, separar um braço, uma perna, ou mesmo um dedinho, do seu corpo – de preferência sem anestesia - e diga-me o que sente, tanto pela perda do membro como pela violência do ato...

Dor? Pavor? Medo? Angústia? Insegurança? Perda?...

Tudo isto e muito mais - só de imaginar! - não é mesmo?!

Sou cidadão do mundo. Nasci e cresci no mundo. Aprendi com o mundo. Quando eu vim ao mundo ele já existia como um corpo marcado pelo pecado. Sou um membro deste corpo, com as mesmas marcas. Ser separado dói... Implica em sentir tudo aquilo que você imagina sentir com a perda de um membro de seu corpo...

Dói abdicar dos prazeres da vida, numa vida de renúncias...

Dói não ser compreendido pelos que não entendem esta separação...

Dói ser tratado como um membro amputado e sem valor para o corpo social...

Dói de muitas maneiras, ser separado (santo)...

Não sou masoquista. Se não amo o sofrimento e não sinto prazer na dor, como posso querer ser separado? Por isto nunca quis e continuo não querendo ser santo... Contudo, de que vale a minha vontade???

Mas, a coroa da razão para o fato de eu não querer ser santo, é a vida dos santos...

Não bastassem as dores das renúncias acima elencadas, os santos (separados por Deus), viveram uma vida de horror nesta terra. Sinto calafrios de indignidade só de pensar no dízimo (para quem não sabe: a fração de 10%) da resposta que eles deram...

Como alguém pode querer isto para si? Tanto é verdade que nenhum de nós, capaz de refletir sobre o que isto supõe, pode querer sem grande sofrimento.

Aqueles que prontamente dizem querer, sem avaliar o que significa curvar a vida na direção da Cruz (único caminho para santidade), são enganadores de si mesmos e, na prática, não suportam as exigências de tal empreitada. São seplucros caiados.

Raríssimos são aqueles, entre nós, que respondem a este chamado com o rigor que ele requer. Ou estou mentindo?!

Fosse mentira, os processos de canonização seriam uma festa e não uma batalha com tribunal próprio...

De resto, o simples desejo de ser santo (separado), no sentido de ser diferente, especial, iluminado, acima dos pobres mortais, já é, de per si, o contrário da santidade. É presunção! E se temos esta pretensão dentro de nós, começaremos a ser santos quando começarmos a lutar contra esta pretensão.

Posto tudo isto eu lhe pergunto: como é que eu posso querer ser santo?

Em perspectiva da vida futura, esta separação na vida presente é uma dádiva. Mas isto é um ato de fé, pois, em razão da vida presente, viver como um separado (santo) é uma verdadeira loucura.

Por isto, para ser coerente com este chamado, não existem frases mais honestas e verdadeiras que as seguintes:

- “Morro por que não morro! Vivo sem viver em mim!” (Santa Tereza D’Ávila);

- “Já não sou eu quem vivo é Cristo que vive em mim” (São Paulo Apóstolo);

- “Meu amor está crucificado!” (Santo Inácio de Antioquia);

Conclusão: não quero ser santo.

A santidade é o querer de Deus para mim, não o meu querer para mim mesmo e nem para Deus. E porque Deus me quer Santo, Ele me separou para Si, contra meus planos de vida. Que posso fazer? Dizer não para Deus? Virar-Lhe as costas? Ignorar Aquele que desenhou minha existência quando eu sequer podia desejá-la ou mesmo imaginá-la?

Francamente? Bem que eu gostaria de ser corajoso o suficiente para opor-me ao Desígnio de Deus. A ‘lasqueira’ (expressão mineira interiorana que significa algo parecido com desafio incalculável, que pode ser bom ou ruim) é que nem a virtude da coragem eu possuo, logo, tenho que me contentar com a minha covardia em seguir sem méritos o Santo dos Santos, sentindo-me, além do que, humilhado.

Por isto, mesmo sem querer ser santo, no sentido de ser a santidade um desejo que parte de mim, a busca/resposta de santidade é um compromisso que abarca minha existência fugaz.

Minha meta e meus votos para 2011 são muitíssimo mais módicos do que o pleito da egrégia santidade. Me contento em me tornar - com ajuda de Deus - um cristão melhor, mais autêntico, íntegro e comprometido.

É o que também lhe desejo para 2011.

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Retrospectivas e balanços de fim de ano...

Ao findar da primeira década do terceiro milênio da era cristã, a coletividade humana dá seu primeiro passo consistente no rumo de uma nova era, sob os auspícios engendrados de uma nova ordem mundial, patrocinada pela “inclusão” permissiva ao preço da intolerância contra os princípios morais pautados nos Dez Mandamentos...

Nos últimos anos muito se disse e escreveu sobre os efeitos e impactos apocalípticos de uma Nova Era de Aquários, da Nova Ordem Mundial, de segundas vindas de Cristo, fins do mundo, etc.

A imaginação humana, cheia de desejos de ser reconhecida pelo pioneirismo profético, agigantou o ápice de um fenômeno que se constrói a conta gotas há mais ou menos cinco séculos.

Este é o mistério da iniqüidade. Ele se deixa anunciar bombasticamente num marketing formidável para ser absorvido, imperceptivelmente, na sucessão de eventos coroados pela mídia, cozinhando, desse modo, o inconsciente coletivo em banho-maria.

Algo semelhante ao curioso caso da rã... Ao se colocar uma rã viva numa panela de água quente, imediatamente ela salta... mas, se colocá-la numa vasilha com água fria e levá-la ao fogo, ela morrerá inerte, pois vai adequando-se ao ambiente enquanto tem seus músculos cozidos até não ter energia para saltar...

De modo análogo, o humanismo foi a 'caçarola' e, o ‘cristianismo’ da reforma, a água fria esquentando pouco a pouco na brasa da evolução cientificista.

O ponto de fervura foi atingido com o fogo das revoluções: social (francesa) e industrial (inglesa).

Agora, com o fervilhar do caudaloso orgulho do espírito humano, a Água Pura do Espírito de Deus parece entrar em ebulição, evaporando-se do comportamento humano, o qual, inerte ao estado geral das coisas em que está submerso, vai vendo esvair suas últimas energias sem ser capaz de dar um salto histórico sobre os limites da ‘caçarola’ anticristã.

A consciência humana está quase cozida, sem perceber o que de fato acontece. E há quem pense que o fogo que agita alguns grupos de rã pula-pula – em festa dentro da ‘caçarola’ - é o fogo abrasador do Espírito. Mas, não. É o fogo da carne mesmo. Que se compraz seja com as glórias do êxito social, seja com as glórias do êxito econômico (individuais ou coletivos).

Claro, numa sociedade motivada pela busca da plena realização neste mundo passageiro, quem vai se comprazer com a Glória de Deus na Cruz?

O tão falado relativismo diluiu-se em doses homeopáticas no inconsciente coletivo e, agora, as liberdades de consciência - que não compactuam com as perversões camufladas no relativismo - caminham a passos largos para o gueto de uma época onde impera a normalidade caótica...

A quase totalidade das minorias cujas consciências reconhecem a verdade em seus princípios imutáveis, não obstante rejeitem intimamente esta dominação do relativo espúrio em relação ao absoluto honrado, negociam, o quanto podem, com as bases do novo sistema, num jogo dialogal, para manter o conjunto de seus interesses temporais.

Assim, a lealdade entre pares fica a mercê dos interesses particulares a se conquistar, afinal, numa sociedade que acredita que todos são filhos de Deus – ou sementes divina em germe – cada qual tem que atingir seu mecanismo íntimo de divinização, para, então, somente depois deste regalo interior, ajudar o outro com sua autoconsciência de partícipe do sagrado... Se isto não é uma forma apuradíssima de egoísmo, o que é então?

Os homens de fé e os homens de boa vontade curvam majestosamente a verdade que os transcende para garantir um lugar ao sol, na parte do sucesso que crêem lhes caber... Entendem, nesta nova moralidade emergente, que conquistar este “direito” é o exercício de máxima cidadania democrática na direção da justiça social comum a todos. Neste prisma, não importam tanto os meios, se os fins podem justificar maquiavelicamente o direito inato de cada qual atingir antes suas ‘justas’ metas de glória ‘divina’ na terra...

O carreirismo coroa as mais leais disposições íntimas com a desculpa esfarrapada de que sendo mais se poderá fazer mais, ajudar mais, ser melhor ou mais digno...

Na selva de pedra, o instinto vivo da animalidade humana, ruge do alto de seus feitos tecnológicos o som mecatrônico de senhorio, não apenas da criação, mas, agora - como nunca antes - de senhor manipulador das leis cósmicas que compõem e sustentam a criação.

O animal humano, na sua radical ferocidade científica, é senhor não só dos anéis da libertinagem social, das varinhas alquímicas do tecnicismo e do vampirismo digital... É senhor absoluto de seus feitos e conquistas dentro e fora de si. Ele é o cara...

Os ‘cristãos’, outrora seguidores de Cristo (que rezavam com humildade pedindo a Deus a Graça de se conformarem com a Vontade do Pai), agora, na massa informe da nova ordem mundial macroecumênica, superaram a fé dos Apóstolos, dos Mártires e dos Santos, pois, são tão confiantes de sua condição de semente divina que rezam ordenando a Deus que cumpra o desejo de suas vontades.

Aliás, já que os muitos ‘cristos’ evocados variam de perfil, segundo as especificações da fabricação interna do desejo pessoal, cada indivíduo ou grupo, faz do ‘cristo’ que elege -segundo seus interesses - um servo submisso aos seus anseios interiores.

Tais ‘cristos’ não determinam para tais ‘cristãos’ a Vontade de Deus. São tais ‘cristãos’ que determinam para tais ‘cristos’ as suas ‘divinas’ vontades.

Afinal, sentados no trono da vontade própria, todos ordenam ao Pai que cumpra imediatamente aquilo que o Filho prometeu. E já viu né... uma vez que o cristianismo dominante é o da prosperidade – social (marxista) ou individual (capitalista) - promessa é dívida...

Logo, ‘tem’ mais ‘fé’ aquele que exige - mais e melhor - que se cumpra esta dívida de Deus para com o homem, aqui e agora...

O princípio da lealdade àquilo que é nobre e que está fora do ente eu, mesmo entre aqueles que compreendem o valor desta nobre virtude, se detém diante da carreira próspera a que todos reclamam ter direito: os honrados e desonrados, os justos e injustos.

E se todos têm direito, o que importa é ser ‘leal’, por primeiro, ao direito pessoal, ainda que ao preço da falta de lealdade com o direito do outro que, neste modelo em curso, é secundário e irrelevante.

Sendo assim, no mundo globalizado a partir deste princípio de ‘direito’, só NÃO terão vez aqueles que reconhecem que nenhum outro além de Cristo possui, por nascença, a Natureza Divina, logo, nenhum outro pode requerer direitos para si antes de cumprir deveres para com outros.

Bem ao contrário desta premissa globalizante - de ascendência pessoal que prodigalizaria a ascendência coletiva - se dá a participação do homem na filiação Divina.

O homem, somente admitindo com enorme esforço de humildade, participa deste processo de divinização – e exclusivamente – por ação da Graça.

Graça derramada ao longo dos séculos num Jordão batismal, que convida o pecador a aderir conscientemente ao Único Salvador dos Homens, fora do qual não há como acontecer a salvação, não porque Deus exclui, mas, porque Deus quer que o homem se inclua.

A inclusão livre e consciente do homem na Oferta gratuita de Deus é justa levando-se em conta que o homem atualiza permanentemente o separar-se da Vontade de Deus ao preferir - livre e conscientemente – sua própria vontade...

E é neste contexto de época que se situa a Igreja, envolvida por contingência histórica até o pescoço com a realidade do homem de época, o que não poderia ser diferente.

E se o Papa que encerrou o Concílio (Paulo VI) diz que por “uma fresta a fumaça de satanás adentrou as portas da Igreja”, obstruindo a boa oxigenação, necessária para o uso sóbrio da Verdadeira Fé e da Razão Verdadeira, quem sou eu para desdizer?

Pior, quem sou eu para contestar ou questionar o Desígnio de Deus, que permitiu tão profundo mergulho da Igreja no lodo do século?

Quem sou eu para vacilar diante da Autoridade de um Urbano VIII, que estabeleceu por muito apropriado Decreto Papal que ninguém pode se antecipar ao juízo da Igreja?

Igualmente, quem sou eu para não me fazer um com a angústia do Pontificado da envergadura de um Bento XVI, e não aceitar que ele, que foi perito conciliar, possa exortar – COMO PAPA - a Igreja a ler o Concílio Pastoral Vaticano II na perspectiva da Sagrada Tradição, através do que ele próprio chama de hermenêutica da continuidade, refutando o que ele disse ter-se instalado desastrosamente como hermenêutica da ruptura?

Até emergir deste mergulho no século, em que também a Igreja padece – por enquanto – a realidade de estar mais inculturada do que inculturando parece-nos que o exemplo módico e silencioso da Mãe de Deus é o mais apropriado para se seguir...

Isto, contudo, não nos impede de observar - doídamente - o desmantelamento moral e ético de uma humanidade que faz retrospectivas cheias de empáfias no conjunto de seus feitos coletivos.

E, no que se referem aos balanços pessoais, perceber que os indivíduos reclamam mais espaço para sucesso no ano vindouro, fazendo do exame de consciência não uma ferramenta para reconhecer seus erros no plantio de dias mais justos, mas, uma arma em punho para requerer o reconhecimento de seus esforços na colheita da parte que cabe a cada um, mesmo que ao preço de construir um milênio cada vez mais injusto...

Diante desta batalha de paradigmas, em que o mal parece prevalecer sobre o bem, segundo este balanço e esta retrospectiva da década que se encerra, quais serão, então, as perspectivas que lanço - com minha visão de um único olho torto e míope em terra de cegos - para 2011 e o conjunto da próxima década deste milênio em que o avatar esperado é a soma dos falsos ‘cristos’ que todos desejam seguir?

Olho para Cristo, o Verdadeiro, Aquele que só ressuscitou porque foi crucificado, e digo: o defeito, Senhor, deve estar no meu único olho míope e torto, e não na cegueira coletiva dos homens; a cegueira os impede de ver o que fazem, perdoai-os, porque não vêem o que fazem. Quanto a mim, sou pecador, tende piedade!

Que 2011 e seguintes sejam mais próximos da Vontade de Deus que têm sido desde a década de sessenta... a qual, apenas temperou - com o justo esforço da Igreja (apesar de parecer que o tiro anda saindo pela culatra com as tais hermenêuticas da ruptura) - o cozido de ‘rãs’ ambientadas com a água fria da reforma protestante, depois com a água morna da teologia dos pobres e, por último, com a água ‘fervente’ do neopentecostalismo que está fazendo evaporar até o Espírito Santo das Santas e Divinas Liturgias...

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Quem é o Menino?

Caros leitores do Blog,

Na postagem anterior (abaixo), deixei-lhes uma pequena reflexão como mensagem para o Natal que se aproxima, escrita e publicada em 22 de dezembro.

Hoje é dia 24 de dezembro de 2010 e o Natal já se aproximou...

E aproximou com a força inequívoca da verdade... De tal modo a proximidade do Natal surgiu-me - ao raiar destas vésperas natalinas – com a pujança do que ele significa na sua mais fecunda e autêntica essência, que tomo a liberdade de postar abaixo uma mensagem sobre a nobreza do Natal, inatingível na prática mesmo por aqueles que se dizem cristãos, enviada a mim hoje pela manhã por um grande amigo, Pe. Elílio de Faria Matos Júnior.

Apesar das ‘churumelas’ dos que se beneficiam da “sombra de Jesus” - que é muito boa, sim, mas, como dizia a querida Serva de Deus Lola (Floripes Dornellas), “ai de quem se vale dela para tirar proveito para si...” – fazemos valer este belo eco do verdadeiro cristianismo, bem concatenado nas sábias palavras do Reverendíssimo Pe. Elílio. Obrigado bom amigo, por compartilhar conosco a consciência da Verdade sobre o Menino Deus!

A todos, meu FELIZ NATAL!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

Quem é o Menino?

(p/ Pe. Elílio de Faria Matos Júnior)

Quem é o Menino que celebramos no Natal? O que foi dele? Qual a sua ventura? Humanamente falando, a trajetória do Menino foi a de um fracassado. E em todos os sentidos. Nasceu pobre e marginalizado... Morreu como nasceu, desprezado e quase só. É que a silhuetas da cruz já se mostravam na manjedoura. A sua vida não foi fácil. Incompreensões, maledicências, insucessos, perseguições e fadigas não faltaram.

Ele é o “Pobre de Nazaré”, como diria o Frei Larrañaga. Na verdade, ele é o Rico que se fez Pobre. E na extrema pobreza manifestou a forma mais rica de amar. Em belas palavras, o Papa Bento XVI expressou-o muito bem: “Cristo ocupou o último lugar no mundo – a cruz – e, precisamente com essa humildade radical, redimiu-nos e ajuda-nos sem cessar” (Encíclica Deus caritas est, n. 35).

Tenho compreendido cada vez mais que é o amor que faz a Igreja. Não as honrarias, não os cargos, não as grandes realizações, não a carreira eclesiástica. É o amor. O amor que se faz pobre e é capaz de suportar as dores próprias e alheias com confiança e renúncia. O amor que enfrenta derrotas sem perder a força de continuar a caminhada, mesmo que às cegas. O amor que, através de pequenos gestos, difunde o acolhimento, intui a necessidade alheia e se faz próximo.

O amor, tenho aprendido, não é determinado pelo contentamento humano nem pela complacência nas realizações humanas, por mais nobres que sejam. Pode-se amar – e talvez só assim o amor aconteça perfeitamente – na extrema penúria, no sentimento de fracasso e na ânsia da solidão. Isso porque o amor é algo de outra ordem. De uma ordem que supera o entendimento das coisas sublunares.

Ama-se doando-se. E não se pode amar sem se doar. E doar-se é doído. Desse modo, compreendi que não é preciso estar “feliz” ou contente com as próprias realizações para amar. Muito ao contrário. A doação acontece no sofrimento, e sobretudo no sofrimento. Na fadiga, na doença, no desprezo, na exclusão, na provação... É sobretudo aí que o amor aparece. Ele não combina muito bem com o sentimento de altivez, de brio próprio e de complacência consigo mesmo.

O amor, de fato, é de outra ordem. São Paulo parece ter tentado expressá-lo, mas apenas elencou as suas manifestações sublimes, garantindo, contudo, que o amor é maior (cf. ICor 13, 1-13). É o amor que se manifestou corporalmente na manjedoura e que se doou até a morte de cruz que constrói a Igreja, não outra coisa. E ele é vitorioso, sempre!

Feliz Natal a todos!

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Natal se aproxima...

O Natal se aproxima. Todos os anos a Sabedoria da Igreja conserva viva a Tradição do mais importante nascimento que já houve na Terra: o nascimento do Único Menino com Natureza verdadeiramente Divina.

Gerado pelo Pai no Seio da Trindade Divina, Ele é Verdadeiramente Deus. Gerado no ventre da Virgem Maria por Obra do Espírito Santo, Ele é Verdadeiramente Homem!

Não houve antes. Não há agora. Nem haverá jamais, nascimento tão distinto e egrégio.

Deus Se fez carne para habitar em meio a nós. Veio para nos Salvar. Sua vinda como Homem gerou revolta entre os Anjos. E como toda revolta termina em divisão (= diabolus/diaboli), o Céu cindiu e precipitou para Terra aqueles que se tornaram inimigos de Deus.

Vagando pela Terra para estabelecer a inimizade dos homens com Deus, o poder das trevas disseminou em muitas culturas e crenças os mitos sobre filhos de deuses. Para confundir e desacreditar a Vinda do Único Herdeiro do Trono Celeste – o Mashiar (Messias) Hebreu - aqui e acolá, ao longo da história humana, se difundiu estórias fantásticas e mirabolantes sobre divindades e suas peripécias com os reinos dos homens...

Mas o Verbo Se fez carne uma única vez, no centro geográfico do mundo, no centro cultural da humanidade e no centro paradigmático divisor da história... e habitou entre nós.

Entre os extremos do ocidente e do oriente, a Pedra Angular Se estabeleceu para mediar a religação autêntica entre a criatura humana e o Criador Divino.

O Verbo venceu a natureza carnal e Se fez carne por Obra do Espírito de Deus...

O Verbo venceu a ambição e o orgulho dos príncipes deste mundo e fez da manjedoura de palha um Trono de Humildade...

O Verbo venceu a inveja e o ciúme dos governantes da Terra Santa (Santa por ter acolhido Deus numa gruta), fugindo ileso ao atravessar o deserto onde habitam os espíritos malignos, para refugiar-Se onde outrora o Povo de Deus fora escravizado pelos antigos Faraós, então soberanos da Terra...

O Verbo - a Água Viva da Divina Fonte - recém nascido da carne de uma Virgem, venceu a truculência do Rei de Judá, escapando ao rio de sangue que se derramou no seu encalço, no mais eloqüente infanticídio da história...

E, após exilar-se além mar vermelho – que fora atravessado a pés enxutos por Moisés e o Povo Pascal - voltou menino para crescer em tamanho, graça e sabedoria, no entorno das águas mortas do único mar sem vida do globo, o mar devidamente chamado de morto, por estar a mais de 400 metros abaixo do nível dos oceanos, formando uma gigantesca bacia de água extremamente salinizada e estéril para a vida... Lá, neste espaço geográfico inóspito e desértico, plantou Deus a Árvore da Vida...

O Verbo venceu a insignificância desprezível das terras áridas e inóspitas do Antigo Israel, para fazer frente, pela Palavra da Verdade, a um dos maiores Impérios que a Terra já conheceu, fazendo-o curvar, toda sua opulência e soberba legitimamente representada pelo Governador da Judéia, diante do tremendo Mistério: “o que é a Verdade?!”

O Verbo venceu a cegueira, a surdez, o aleijão, a doença, a fome, o desprezo, o abandono, enfim, a morte do corpo e a futura morte da alma... Com os Sete últimos Sopros de Sua boca derrotou o maior dos inimigos do homem, a morte:

1) "Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem." (Lucas, 23:34);

2) "Em verdade eu te digo que hoje estarás comigo no Paraíso." (Lucas 23:43);

3) "Mulher, eis aí teu filho; olha aí a tua mãe." (João 19:26-27);

4) "Eli, Eli, lama sabachthani? (Deus, meu Deus, por que me abandonaste?)" (Mateus 27:46 e Marcos 15:34);

5) "Tenho sede". (João 19:28);

6) "Está consumado" (João 19:30);

7) "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito". (Lucas 23 46);

O Verbo destruiu a morte pela morte, porque o Verbo, a Palavra, a Razão, Se fez carne e assumiu, na carne, a dor e a morte, para poder destruí-las de igual modo pela dor e pela morte...

O Verbo venceu o veneno da serpente, a morte, extraindo dele o antídoto: matando a morte pela morte! Por esta razão a Arte Sacra Bizantina em sua magnífica catequese iconográfica, apresenta, no Ícone da Natividade, o Menino Deus envolto numa mortalha... É para isto que Se fez carne e habitou entre nós: para matar a morte pela morte! Aleluia!...

O Verbo veio para vencer o pior dos inimigos dos homens, feitos à imagem e semelhança de Deus... Veio para vencer a morte! Aleluia! E venceu a morte pela morte! Aleluia! Aleluia! Aleluia!

A vitória sobre a morte só poderia se realizar matando-se a morte. Escolheu Deus a morte de Cruz, pois, ninguém realiza a vontade de Deus sem antes crucificar suas próprias vontades (“Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua.” - Lc 22, 42). Se esta é a evidência da verdade, de onde vem a repugnância que os falsos “cristãos” de hoje tem da Venerável e Vivificante Cruz?!

A glória que buscam todos aqueles que usam em vão o Nome de Deus ao repudiar a Cruz, é igualmente vã...

A Glória de Cristo se dá através da Cruz! Ele Se fez carne para habitar no meio de nós, morrer como um de nós e ressuscitar como primogênito dentre os mortos para dividir a herança da Ressurreição com todos...

Sem a Sua Gloriosa Encarnação, não haveria Sua Gloriosa Paixão...

Sem Sua Gloriosa Paixão, não haveria Sua Gloriosa Morte na Cruz, onde derramou sobre todas as gerações - do passado, presente e futuro - o Amor Puro e incondicional...

E sem esta Gloriosa morte na Cruz, não haveria Gloriosa Ressurreição...

E se Cristo não morresse para ressuscitar, como primogênito, ninguém ressuscitaria... Esse é o Mistério da Fé!

Que neste Natal, nasça em nós a humildade e a modéstia necessárias para entendermos este Mistério da Fé para além dos nossos interesses pessoais e temporais. Que nasça em nós o Cristo Verdadeiro que veio, sim, para morrer por amor de nós, e ensinar-nos a crucificar, sim, as nossas vontades por Amor de Deus!

Como poderá nascer em nós a inocente e humilde Vontade de Deus se, antes, nós não aceitarmos que sejam crucificadas as nossas vontades cheias de malícia e soberba?

Como poderá Deus agir como uma Criança em nossa consciência se, antes, nós não fizermos curvar o adulto altivo e pretensioso, senhor absoluto dos nossos desejos e vaidades?

Como poderá, enfim, o Verbo Eterno habitar em nós, fazendo da nossa morada carnal a morada do Seu Espírito se, antes, nós não destruirmos os tronos de glória vã das nossas ambições, que nos fazem desejar sermos amados e idolatrados pelos que nos rodeiam como se fossemos deuses?

O Natal se aproxima com chocolates, papais-noéis, presentes, comes e bebes, festas e alegrias, e tudo que o homem pode imaginar e construir para substituir o verdadeiro significado do Natal... E, este falso natal, se aproximando assim, do imaginário coletivo de muitos que se acreditam “cristãos”, faz afastar para longe dos convivas de Cristo o Verdadeiro Natal, o qual traz consigo a realidade intrépida dos que se identificam com o Menino da Manjedoura, porque igualmente não nasceram em berço de ouro...

Esta dura realidade do Natal não se apresenta a nós para estabelecer sobre nossas consciências maior condenação do que ela já carrega em razão dos nossos subterfúgios festivos. Mas, para trazer nossas consciências para o reconhecimento da realidade sem máscaras e sem gorros de “bom” velinho barbudo, duendes e fantasias surreais, introduzindo-nos no Verdadeiro Espírito do Natal, fazendo-nos sentir compaixão sincera pelos mais necessitados, como acontecia com o velho Bispo São Nicolau...

Envolto na mortalha de uma recém nascida Obra no Coração da Igreja, desejo a todos aquilo que só Deus pode conceder aos homens de Fé e de Boa Vontade, nesta Natividade do Filho Único de Deus Pai: a Paz que vem do Alto, que se mantém mesmo no tempo da desgraça e do infortúnio e, a Vida Eterna, que adentra o Céu muito para além dos túmulos!

FELIZ NATAL !!!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

VIDA e EMBRIÕES!

Você conhece alguém que ame a morte? Algumas pessoas, talvez, machucadas ou decepcionadas podem chegar - num momento de fraqueza e cansaço - pensar que desejam morrer. Mas este é um pensamento falso, um grito íntimo de revolta e desespero contra a situação que tira da pessoa exatamente o que ela espera: situações de vida... realizações na vida! Fato é: ninguém ama a morte.

A vida é um dom. Nós a administramos, sim. Mas, não nos pertence. Por isto ninguém tem o direito de atentar contra a própria vida ou contra a vida de quem quer que seja. A vida deve seguir seu curso natural do primeiro momento até o último.

Surge então a pergunta: quando começa a vida? Hoje, o conhecimento e a tecnologia permitem o mergulho na natureza íntima da existência humana: o DNA! As respostas que o homem busca sobre si mesmo, sobre sua origem primeira, enfim, a solução para os dramas que estão associados à vida não podem, em absoluto, legislar contra a vida, outorgando à sociedade instrumentos de morte como solução para estes impasses.

A Igreja é guardiã da vida. Sempre foi. Sempre será. Jamais poderá se compactuar com uma “cultura de morte” (Papa João Paulo II), mesmo que para isto - para defender o direito à vida - coloque sua própria existência sob ameaça da truculência do século.

A Arquidiocese de Juiz de Fora, a CODEVIDA (Comissão Arquidiocesana em Defesa da Vida) e a Obra dos Pequenos Monges do Pater Noster, no intuito de estimular as melhores mentes da comunidade juizforana em torno desta que está se tornando a principal pauta em discussão no cenário nacional, atraindo os olhares do mundo para a postura do Brasil nesta questão, realizarão na Faculdade de Medicina da UFJF, no dia 03 de dezembro de 2010 o II SIMPÓSIO de BIOÉTICA: VIDA e EMBRIÕES!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

Confira a programação, divulgue e participe:

II Simpósio VIDA e EMBRIÕES!

Local: Anfiteatro de Medicina da UFJF

Data: 03 de dezembro de 2010

Programação:

· 09:00 – Abertura (Dom Gil Antônio Moreira)

· 09:30 – Apresentação do filme O grito silencioso

· 10:00 – Enfoques e abordagens:

- Filosófica (Pe. Elílio de Faria Matos)

- Jurídica (Dr. Victor Paschoalim de Castro)

- Científica (Dr. Ivan Augusto Vaz de Melo)

- Ética (Pe. Frei Flávio Henrique de Castro, pmPN)

· 14:30 – Aborto! Problema de saúde pública sim: SPA (Síndrome Pós Aborto) (Pe. Frei Flávio Henrique de Castro, pmPN)

· 15:15 – Considerações sobre a SPA (Membros da CODEVIDA: Dr. Ivan Augusto, Luciana Lobo, Zânia Batista)