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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

esvaziamento X aniquilamento (Parte II)

Continuação...

Uma vez alicerçada a diferença inconciliável entre estas realidades, passemos a explorar a matéria desses conteúdos que se chocam, como dissemos no início, antagonicamente.

E a questão que propomos é: em que, efetivamente, tais conteúdos se chocam produzindo antagonismo?

Partamos, novamente, daquilo que aparentemente os aproximam.

Ambos os conteúdos, do hesicasmo e dos mantras, são referentes à oração, isto é, são orientados para a busca de diálogo com o Divino, o Sagrado, portanto, arremetem a experiência humana a uma relação com a Transcendência.

Entretanto, a ortodoxia católica ensina célebre distinção entre o mundo Sobrenatural e o mundo preternatural. Um e outro, além de distintos entre si, distinguem-se também do mundo natural, ambos, transcendendo-o.

O fato de que tanto o Sobrenatural quanto o preternatural transcendam ao natural, não significa que sejam coisas iguais. De fato, não o são.

A Sobrenaturalidade é uma realidade que transcende a naturalidade em perfeita sujeição à Graça. A preternaturalidade é uma realidade aquém da Graça, na medida em que não se sujeita a Ela, não obstante também transcenda a naturalidade.

Partindo dessa premissa da ortodoxia da fé cristã, nós poderemos de pronto concluir que a “experiência” espiritual e fenomênica daquele que reza recorrendo ao método da repetição contínua, pode confundir-se entre a ação Sobrenatural e a preternatural, conduzindo-o a mundos diferentes.

E o fato desses dois mundos transcenderem à realidade, pode causar a impressão de que ambos estão relacionados a Deus, apesar de um desses mundos estabelecer franca oposição objetiva ao Divino Criador.

É sabido que toda ação Sobrenatural tem sua origem no Deus Único e Verdadeiro, Criador de Todas as Coisas e distinto delas.

Por outro lado, as ações preternaturais têm sua origem nas criaturas angélicas que romperam sua relação de sujeição à Graça de Deus.

As ações angélicas podem ou não ter procedência e vínculo de comunhão com o Summum Bonum.[3] Caso não tenham, estarão reduzidas ao vínculo com a Privatio Boni,[4] protagonizadas pelos anjos decaídos de sua condição primeva e cuja atitude em relação aos homens corresponde ao que diz a Sagrada Escritura:

“vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar.”[5]

E tal adversário, artífice da maldade e “pai da mentira”,[6] sabe como confundir aqueles que, orando, abrem diálogo com os mundos que transcendem o mundo natural, no qual estamos inseridos em corpo, alma e espírito:[7]

Portanto, a capacidade angélica de manipular os meios para alterar os resultados - que está além dos elementos da natureza e aquém da Graça - é o cartão de visita mais refinado do mistério da iniqüidade:

“E não é de estranhar! Pois o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz”.[8]

Que o diga o Corão, livro sagrado dos mulçumanos que admite textualmente que seu profeta, Maomé, recebeu uma revelação de Satanás vestido de Gabriel, anjo ao qual atribui os conteúdos do livro.

Eis o ponto que nos interessa ressaltar. Dependendo dos conteúdos utilizados pelo método da repetição contínua poder-se-á ter acesso a uma das duas realidades supra apresentadas: Sobrenaturalidade ou preternaturalidade.

E o que repetem os hesicastas, segundo a Tradição Espiritual do Oriente Cristão?

A invocação do Nome...

Que Nome?!

“Por isso Deus o sobreexaltou grandemente e o agraciou com o Nome que é sobre todo o nome, para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho dos seres celestes, dos terrestres e dos que vivem sob a terra e, para a glória de Deus, o Pai, toda língua confesse: Jesus é o Senhor.”[9]

Por isso o hesicasmo é uma oração legitimamente cristã, pois que, repete continuamente:

“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Pai, perdoai-me pecador, tende piedade!”

O hesicasmo usa o método da repetição contínua para invocar o Nome que tem poder sobre tudo, na terra, no Céu e nos infernos. O conteúdo da oração hesicasta assegura que o resultado desta oração seja uma janela aberta para a Sobrenaturalidade, onde só Deus Reina!

Além do que, após invocar repetidamente o Único Nome com Poder em todos os mundos, o hesicasmo completa sua perfeita obra de comunhão com Deus quando, na sequência do que se diz continuamente, o indivíduo, por força da repetição, entra num “estado mental alterado”[10] combatendo o orgulho ao repetir seguidamente: “perdoai-me, pecador, tende piedade!”.

Esta é outra diferença crucial entre o hesicasmo e o mantra.

Ao mensagens subliminares dos mantras estimulam o orgulho, a vaidade, a auto suficiência, a presunção, enfim, a idéia intrínseca e subjacente de que a força está no próprio homem, nas suas palavras e na sua capacidade de estabelecer contato com forças adversas - internas ou externas a si mesmo - a partir da própria força orante.

Os Santos Padres do Deserto eram hesicastas: reconheciam um único Senhor e Salvador e reconheciam-se humildemente pecadores.

Com isto, combatiam as forças adversas malignas dentro de si e aquelas advindas da preternaturalidade para lhes desvirtuar do Caminho de Salvação.

Assim rezavam os Santos Padres do Deserto!...

E por isto atingiam a koinonia (comunhão com Deus)... E por isto combatiam as forças do inferno, os anjos decaídos, pois invocavam única e repetidamente o Nome que tem poder sobre eles...

Rezavam repetidamente e teciam cordas!...

Neste ora et labora, seguindo a invocação mística de um Único Nome capaz de subjugar as forças preternaturais, podiam os cristãos de outrora – e podem os cristãos de agora - usar a técnica da repetição contínua para lhes abrir as janelas da alma e colocá-los em comunhão com o mundo Sobrenatural (koinonia), sem correr riscos de estabelecerem vínculos de invocação/adoração – consciente ou inconsciente - com o mundo preternatural.

É fundamental, todavia, ter um diretor espiritual para guiar a alma (Abuna[11]) com segurança, pela obediência, neste mergulho em que se desce às profundezas do espírito para travar a luta contra o mal.

E é exatamente o oposto que pode acontecer com os mantras, que predispõem o estado de consciência para conexão para além das forças naturais e aquém da Graça Sobrenatural.

E foram estes soldados da oração contínua (os Padres do Deserto), que travavam batalhas em Nome de Cristo contra as hordas infernais no deserto - e não outros – que: ao rezarem a oração do coração (=hesicasmo), se tornaram os fundadores da vida religiosa na Igreja!

Tal modelo de vida cristã que eles – e não outros – inauguraram na Santa Igreja de Deus, possibilitou, no curso dos séculos que se seguiram, o testemunho de fidelidade da maioria dos Santos que fizeram História, a saber: os religiosos e religiosas, almas consagradas a Deus segundo o modelo inspirado pela vida de oração contínua dos Padres do Deserto.

De fato, a esmagadora maioria dos santos cultuados oficialmente na Igreja, saiu da vida religiosa.

E a vida religiosa cristã, em suas primícias, é resultante da notória diferença entre o hesicasmo (repetição contínua do Nome de Jesus) e o mantra (repetição de qualquer nome ou palavra que leva ao estado de adoração de si mesmo ou de outras forças da natureza ou preternaturais, nunca, jamais Sobrenaturais).

A Título de exemplo, citemos: São Bento de Núrcia, Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho, São Francisco de Assis, Sta. Clara, Santo Inácio de Loyola, Sta. Terezinha de Jesus, Sta. Tereza de Ávila, São Cura D’Ars, São Pe. Pio de Petrelcina, etc, etc, etc.

Citamos apenas estes que são grandes baluartes no ocidente cristão. E todos estes, como todos os outros grandes santos vindos da Vida Consagrada no ocidente são, sem exceção, devedores da Vida Religiosa, que fora fundada por aqueles hesicastas do deserto... e não por outros!

São estes Santos Ocidentais Gigantes da espiritualidade cristã?

São sim, pois que herdaram de seus predecessores, Gigantes Orientais da espiritualidade cristã, a vocação para consagrarem suas vidas exclusivamente a Deus, na oração contínua, repetindo o que a Igreja aprova.

Seguindo pé por pé os passos do Mestre, todos eles são homens e mulheres kenóticos(as) sim!:

"Ele tinha condição divina e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!"[12]

E, melhor explicação do que nosso argumento para aquilatar o conceito de esvaziamento atribuído a Cristo Jesus - modelo a ser seguido por nós -, é dado pela nota exegética da Bíblia de Jerusalém:

"Do verbo grego que significa esvaziar veio o termo 'kénosis'. Trata-se menos da encarnação do que do seu modo. Aquilo de que Cristo feito homem se despojou livremente não é a natureza divina, mas a glória que por direito ela lhe conferia, a glória que ele possuía na sua preexistência (cf. Jo 17, 5) e que deveria normalmente resplandecer sobre a sua humanidade (cf. a transfiguração, Mt 17 , 1-8p). Ele preferiu livrar-se dela para recebê-la apenas do Pai (cf. Jo 8, 50.54), como preço do seu sacrifício (vv. 9-11)."[13]

Ora, se Nosso Senhor Jesus Cristo - Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus - esvaziou-Se da “glória que ele possuía na sua preexistência”, como é que nós, pobres pecadores, não nos esvaziaremos da PRETENSÃO de uma glória que não possuímos na nossa existência?

Portanto, para corroborar nossa afirmação de que o conteúdo hesicasta é distinto e antagônico, em sua essência, do conteúdo dos mantras, demonstramos que a Palavra que se repete na oração do coração é o Nome Daquele que fez com que os Anjos cantassem um cântico novo, dizendo:

“Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça;”[14]

Nome impronunciável antes da Encarnação do Verbo Eterno de Deus, pois que, os Hebreus, não se atreviam a pronunciar porque não conheciam Sua Face:

“Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó". Moisés escondeu o rosto, e não ousava olhar para Deus.”[15]

Não conhecendo a face do Filho, não poderiam conhecer a Face do Pai:

“Quem me vê, vê o Pai”[16]

E não reconhecendo o Pai no Filho, como poderiam pronunciar o Nome Santo de Deus, em sua língua hebraica?

Para evitar uma pronuncia indevida – já que o hebraico é uma língua sonora e grafada só por consoantes, sem vogais - excluíram a conjugação do verbo “ser”, sobretudo, na primeira pessoa do singular, o que deu origem ao Tetragrama Sagrado (transliterado por YAHWEH).

E pronunciar a conjugação do verbo “ser”, na primeira pessoa do singular, em hebraico, é blasfêmia para os judeus...

E fazê-lo diante do Sinédrio?!... Blasfêmia ainda maior, posto que o Sinédrio estava sob a autoridade do supremo juiz, o Sumo Sacerdote, que estava julgando em nome Daquele que é o Todo Poderoso Deus de Israel, inquirindo sob ameaça de anátema:

“Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus”[17]

Mas, a blasfêmia inaudível para os judeus, está na resposta dada: “Eu sou.” [18] (em português).

Ou, se tivesse respondido em grego, teria dito o famoso: Ego em mi, que chega até nós através dos manuscritos originais dos Evangelhos escritos em Grego.

Mas, como estava respondendo um julgamento no Sinédrio, ouviu a pergunta em Hebraico e, sendo judeu de nascimento, certamente, respondeu na língua do julgamento o impronunciável: IAHWEH (cuja sonoridade exata desconhecemos, mas que corresponde à conjugação do verbo ser na primeira pessoa do singular, e refere-se ao Nome de Deus, impronunciável para os judeus.

Eis a razão da atitude do Juiz do Sinédrio ao ouvir a resposta de Yeshuà (Jesus em Hebraico):

“O Sumo Sacerdote, então, rasgando as sua túnicas disse: ‘Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia. Que vos parece?’ E todos julgaram-no réu de morte” [19]

Somente Aquele que pronunciou o impronunciável Nome de Deus, fazendo-se ao mesmo tempo Verdadeiro Sacerdote e Verdadeira Matéria de Sacrifício, tem um Nome acima de todo nome e pode ser invocado agora por todos nós que O conhecemos.

E seu Nome é:

Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho Único de Deus Pai.

Ele é a Palavra Eterna de Deus. Verdadeira Palavra que pode ser invocada repetidamente, como oração contínua, oração do coração.

Todas as demais palavras, incluindo as mais nobres das línguas humanas, em seus significados religiosos e filosóficos, mesmo que invocadas ou evocadas com fervor intenso, não podem garantir que o fenômeno ou a experiência que disso se realiza, seja Sobrenatural.

E se a repetição contínua de mantras chegam a produzir algum fenômeno ou experiência distinta do natural, sem a garantida do Nome que rege os três mundos, será, então, preternatural. Neste caso, como Satanás é astucioso e sabe enganar vestindo-se de anjo de luz, não é difícil de imaginar o risco que se corre com tais experiências de interiorização.

Por tudo isto se pode afirmar com convicção: a espiritualidade do esvaziamento é compatível com a Fé Cristã. E não tem absolutamente nenhuma relação de correspondência com o espiritualismo do aniquilamento.

Ademais, o esvaziamento é um conceito completamente cristão pelo fato de propor o que é uma obrigação para o fiel: livrar-se do pecado desde sua raiz mais íntima, que é o consentimento. Ao passo que o aniquilamento é um conceito completamente pagão, por sugerir que, por força da mente e da vontade, o homem irá comprimir dentro de si as forças boas e más para equilibrá-las numa harmonia conciliadora. Ora, não há conciliação entre bem e mal. Esta idéia é, ao contrário, definitivamente anticristã.

Por último: os mantras não são compatíveis com a Fé cristã e podem conduzir a alma do fiel ao perigoso quietismo, predispondo-a para o orgulho espiritual e para cultos de preternaturalidade, por isto, devidamente condenado pelos Papas Inocêncio XI e Inocêncio XII, entre os séculos XVI e XVII.

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

[4] Qualidade essencial do mal: deformação do bem original.

[5] 1 Pd 5, 8.

[6] Jo 8, 44.

[7] 1 Tes 5, 23.

[8] 2 Cor 11, 14.

[9] Fil 2, 9-10.

[10] Estados mentais alterados – expressão acadêmica utilizada pelos estudiosos de várias áreas quando o objeto de suas pesquisas são os fenômenos colhidos das experiências místicas e religiosas.

[11] Abuna é uma palavra semita para designar aquele que está qualificado para fazer a mediação de paternidade espiritual no seguimento exclusivo de Nosso Senhor Jesus Cristo na vida interior.

[12] Fil 2, 6-8

[13] Texto retirado da nota "u" (Fil 2, 7) da Bíblia de Jerusalém - edição 1995.

[14] Ap 5, 9.

[15] Ex 3, 6.

[16] Jo 14, 9.

[17] Mt 26, 63b.

[18] Mc 14, 62.

[19] Mc14, 24-63-64.

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