Páginas


Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

sábado, 8 de janeiro de 2011

O lugar da auto piedade...

Entre as certezas que existem na vida, uma é peremptória para lá de qualquer opinião: o sofrimento humano.

Ninguém vive sem sofrer. Ninguém sofre sem viver... Absolutamente ninguém!

Isto não é poesia, nem elucubração filosófica: é fato!

Ninguém vem ao mundo sem passar pelo terrível choque entre dois mundos muito diferentes: o intra uterino (literalmente dentro da mãe) e o mundo extra ulterino (literalmente fora da mãe)... Eu, premiado desde esta primeira hora, entalei nas entranhas de minha mãe e quase a matei ... mas, providencialmente, a perícia da medicina salvou-nos – a mim e a mamãe – esmagando-me o crânio com a primeira ferramenta de flagelo-salvação: o fórceps...

Vou pular - para não violentar a consciência do leitor - as experiências que marcaram minha infância e adolescência com cicatrizes que ainda hoje, costumam inflamar e abrir-se em ferida, me fazendo escravo do querer involuntário (é possível isto? Querer contra vontade?)...

Hoje, Graças a Deus, não há mais escravidão de castas sociais... ao menos não há do modo animalesco como já houve num passado não muito distante da história ocidental (o Brasil dos negros que o diga, pobres coitados). Muito para além deste flagelo social, nem todos poderão compreender a dor e o pavor de ser subjugado pela própria impotência da vontade, reduzida ao pó pelo maior gigante existente dentro do ser humano: o inconsciente...

A sensação de ser escravo de si mesmo é algo de inenarrável descrição. E exige a cada escolha, a cada atitude, a cada pensamento, um novo fórceps, igualmente doloroso e igualmente traumático...

Após atingir a idade razoável para agir com a sensatez da maturidade, o nascimento de uma vida mais responsável exigiu novo e difícil parto para um projeto comprometido com o futuro, livre do passado e coerente com o presente...

Adivinhe: os fatos que produziram o nascimento dessa nova fase seriam correspondentes a qual instrumento usado como recurso para horas difíceis na sala de partos???...

À revelia do meu não pequeno esforço para sustentar todas as conseqüências das escolhas correspondentes ao novo projeto de vida recém nascido - após a morte sofrida de muitos desajustes comportamentais - ele não vingou... Morreu, também! E como toda morte, trouxe luto... e que luto!

Mas a vida não se esvaiu de todo... sobraram as funções básicas: comer, trabalhar, dormir, respirar... E o mais difícil: usando o fórceps da liberdade de escolha, fazer nascer - do pó - novo sentido para vida, novo projeto, que fosse capaz de, além do que, vencer os fantasmas acumulados pela memória latente da sucessão ininterrupta de... deixa pra lá...

Quando, então, esse novo projeto de vida, gestado no ventre da teimosia de viver, mesmo sem contar com muita credibilidade dentro e fora da minha existência, numa dramática geração dentro do contexto de uma nova e arriscada gestação, atingiu a época de vir à luz... bem...

Ganha um doce quem acertar como se deu este novo nascimento...

Parabéns! Pode me cobrar o doce prometido você que não titubeou e arriscou: fórceps!

E este foi especial... especialíssimo... tiveram que recorrer a um centro cirúrgico romano para depois depositá-lo numa incubadora bizantina... para ver se vingava... e... vingou! Ou melhor, poucos meses depois, foi vingado... vingado pelas razões mais estúpidas da vaidade humana... apesar de nascer com problemas para respirar com os dois pulmões, o novo recém nascido foi deixado ao léu da história, sem colo, sem cuidado, sem medidas adequadas para um neo natal...

Viva a vida feita de muitas mortes e sofrimentos experimentados... único meio para se atingir as necessárias ressurreições...

No momento, a criança de 42 anos sobrevive... ficou, devido ao problema respiratório do parto feito com má vontade pela “maternidade” local – com exceção do obstetra que veio do oriente e da enfermeira assistente que veio do nordeste - com os dois pulmões atrofiados, devido a exposição ao calor dos dias difíceis do questionamento alheio e ao frio das noites geladas da indiferença e do abandono...

Mas, o neófito não se rende... sobrevivente é sobrevivente... não espera piedade... rasga as narinas e insufla os dois pulmões atrofiados vencendo a dor a cada inspiração... a cada expiração...

Que volte a chorar... que volte a chorar... Será, o choro, não um lamento revoltado com a situação... Será, o choro, o remédio natural que reabilitará a plena capacidade para se respirar a plenos pulmões... O choro infla os pulmões, obrigando-os a dilatar e salvando-os da atrofia...

À maneira da iconografia bizantina, a nova vida que chegou - contra a vontade de muitos Herodes e companhia ltda - se entende envolta desde a natividade numa mortalha. Já compreende o seu futuro a partir do seu passado. É para isto que veio: para morrer a fim de ressuscitar...

Não sabe quando virá a última Cruz, a derradeira. Mas sabe que virá. Sabe também que virão outras intermediárias. Por isto não se ilude nem se desespera... apenas aguarda-as, cheio de esperanças...

A ilusão de que a dor e o sofrimento não sobrevirão está, finalmente, morta!

Vive a certeza do fato real, que ressuscitou após a crucificação do sonho... dos sonhos...

“Ó morte, onde está o seu aguilhão?”

Que não demore a sua hora última, derradeira, definitiva, em que destruirá a si mesma, sem ser capaz de destruir a vida!

Com a liberdade do meu ato eu a repudio, morte que me persegue...

Jamais, morte, você poderá me alcançar pela minha própria vontade, moribunda sim, mas consciente... vivamente consciente...

Repudio-a, morte, pelo ato próprio de mim mesmo, através de minha força para lutar e viver...

Repudio-a, morte, cada vez que chegar pelo ato alheio que se opõe à Vontade de Deus...

Acolho-a, contudo, querida prima morte que um dia irá desposar-me com doçura, acolho-a com generosidade e braços abertos cada vez que for autorizada pela Vontade dAquele que pode fazer-me voltar à vida, como tantas vezes o fez... como tantas vezes o fará!

Ó sofrimento mortal... você foi vencido e morto por si mesmo quando matou Aquele que Vive!

Ó sofrimento mortal... estamos mortos um para o outro... você está morto para mim e eu sou como um cadáver inerte e gelado para você... beba seu próprio veneno!

Depois de sorver do seu próprio cálice, sofrimento infernal, assista embriagado a lucidez da minha vitória consciente e sóbria sobre sua vacilante e patética tentativa de demover-me da resignação de viver!

E só para lhe devolver, desde agora, a dor que é de sua propriedade - por que veio de você mesma, ó angústia mortal – saiba: já que o aguilhão é seu, ó morte, eu o devolverei quando finalmente você pensar que me abateu pela última vez! Assim, por justiça, você, morte, será presa pela perpetuidade com o próprio aguilhão que lhe pertence... e sequer de ladrão poderá me acusar, pois, o aguilhão é seu!

O último sofrimento, na passagem final e definitiva dessa vida para lá de boa em meio a tanto dor, para outra vida para lá de melhor sem nenhuma dor, eu o aguardo na forma do último e mais nobre dos fórceps de minha história. Que venha em formato de Cruz, para crucificar desde já a auto piedade, a auto compaixão e mesmo o sentimento de pena de quem não move uma palha para mudar aquilo que, com ajuda, poderia ter sido mudado (não para o meu bem, mas para o bem da Obra de Deus, há coisas ainda possíveis de, com ajuda, serem modificadas)...

Eis o lugar da auto piedade: pregada, bem pregada na Cruz!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

2 comentários:

  1. Nossa!!! Que belo texto,de uma profundidade incrivel.Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. eu tb, é para isto que vim: para morrer a fim de ressuscitar.Só que eu não morro como um cordeiro manso, plenamente conformada com a Vontade do Pai...não, eu esperneio, e, então morro de novo, e de novo esperneio, e morro de novo, e esperneio cada vez menos, até me conformar...até me conformar inteiramente totalmente pregada na Cruz.

    ResponderExcluir