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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Providência Divina nos prega peças assustadoras...

No dia 5 de janeiro de 2010 concluí e publiquei a provocação reflexiva intitulada Crise de Fé: minha ou do cristianismo atual (é imprecindível ler para se compreender o que vai ser tratado aqui).

E o que pode ser associado a este fato como sendo uma peça assustadora pregada, por assim dizer, pela Providência Divina?

Ao longo deste necessário esclarecimento que passo a fazer e, especialmente, ao final desta postagem de hoje, 7 de janeiro, cujo objetivo é puramente antecipar precavidamente certas inferências indevidas, esta pergunta estará respondida.

Antes, contudo, será preciso exaurir-me num esforço enorme, que espero não seja vão, para esclarecer as razões que podem fazer-me refém de um mau entendimento do que eu disse naquela reflexão.

Isto pode acontecer, especialmente se ela for tomada isolada do conjunto de minhas reflexões anteriores e do todo do meu pensamento, apresentado somente em partes, até aqui.

O que pode fazer-me refém do que eu disse, distorcendo ou entendendo equivocadamente o que eu realmente penso?

A má fé, a denúncia invejosa, a pura ignorância, a vaidade intelectual, a mera e inconseqüente vontade de se “ver o circo pegar fogo”, mesmo o receio de ser implicado pelas conseqüências que podem advir de uma má compreensão da análise crítica das minhas reflexões ou, ainda, até mesmo a simples ingenuidade entusiasta, enfim, tudo isto pode dar às minhas idéias um sentido que elas não possuem.

Mas, fazer o que? Estamos na era da hermenêutica, onde cada um interpreta como quer, não é mesmo? Também neste aspecto somos vítimas da época...

As razões acima ou outras ainda mais levianas ou até mesmo outras razões mais honestas do ponto de vista da boa fé, podem armar-me uma arapuca, no sentido de ler-me para além do que eu quis dizer, entendendo-me contra o que de fato eu defendo, a saber: a Santa Igreja.

Basta pegar minha angústia reflexiva sobre o “cristianismo atual”, vítima do paradigma de uma época, e apresentá-la, indevidamente, como oposição pura e simples às diretrizes pastorais e doutrinárias da Santa Igreja, a qual, num esforço legítimo de atualização do Anúncio da Boa Nova, estimula o que Ela própria chama de Nova Evangelização.

Preciso fazer registro desta possibilidade, especialmente pela constrangedora coincidência - que prefiro chamar de assustadora peça pregada pela Divina Providência - presente no fato de que eu publiquei severo questionamento e admitida angustia em relação à chamada “nova evangelização”, justo no dia 5 de janeiro de 2010.

E que fato tão especial ocorreu nesta data que torna esse questionamento tão marcado pela coincidência ou Providência?

Pois foi justamente no dia em que publiquei o texto ponderando sobre a influência sofrida na chamada “nova evangelização” por parte dos elementos questionáveis do “paradigma de época”, que Sua Santidade o Papa Bento XVI, nomeou o Cardeal Scherer da Arquidiocese de São Paulo, membro do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização.

Bastaria o indevido confronto direto da minha abordagem crítica epistemológica à “nova evangelização”, desconsiderando-a de seu objeto (o paradigma da época), com o fato da existência de um Conselho Pontifício para a Nova Evangelização, para que minha reverência à Santa Igreja pudesse ser lançada em terra de acordo com as motivações apresentadas acima...

E o fato da nomeação do Cardeal de São Paulo como membro desta Comissão Pontifícia coincidir com a publicação da minha análise crítica, ambas, publicadas no mesmo dia (só vi a notícia um dia depois, 06/01), só contribuiria para que se concluir, ERRONEAMENTE, que eu me posiciono contra o Múnus Pastoral da Igreja no seu conjunto Particular e Universal.

É claro que não estou contestando a Igreja no seu Governo Pastoral. Nem quero e nem posso.

E como disse lá, repito aqui, nem tenho qualificação ou autoridade para tal e sequer creio que alguém possa supor que possua condição para isto sem incorrer em grave erro.

A análise de minha reflexão, se tomada no conjunto de meu pensamento, aponta para a percepção de que todos nós, sem exceção, dentro e fora da Igreja, somos vítimas do que costumeiramente chamo de "paradigma de época".

E neste "paradigma de época", o "cristianismo atual" parece subjugado pela pujança do modelo mental predominante, o qual estabelece vínculos associativos entre as antropologias psicológicas e sociológicas e as antropologias teológicas.

Ora, se há erro naquelas (por falta de fundamentação ontológica) que influenciam estas, pode haver incoerências nestas que se deixam influenciar por aquelas.

Esta é a premissa da minha analise de conjuntura, que introduz o “cristianismo atual” numa crise estupenda, causada por tal conjunto intrínseco de relatividades que tanto caracterizam nosso tempo.

O Papa Bento XVI tem alertado insistentemente em seus documentos sobre o problema do relativismo. É por isto que afirmo que somos todos – inclusive a Igreja – vítimas desse “paradigma de época”.

É este o território mais abrangente e complexo de minha análise. Não se trata, portanto, definitiva e absolutamente, de uma crítica à Santa Igreja ou ao seu Governo Pastoral.

De resto, que razão haveria para eu fazer um quarto voto especial, de amor à Igreja e sua hierarquia - sem limites e sem julgamentos (S. Fco Assis) - se fosse minha intenção opor-me a ela? Não seria sensato nem coerente.

Minha reflexão é uma crítica epistemológica ao paradigma de uma época que abarca, inclusive, a Igreja.

O que for dito ou entendido diferente disto, colocando-me em franca e direta oposição à Madre Igreja é para lá de temerário. Será mera especulação de quem não é capaz de alcançar o universo do meu questionamento angustiado e de minha analise de conjuntura, apresentada neste blog, por partes.

Sem se levar em conta isto, é fato que minhas considerações serão impropriamente julgadas e erroneamente interpretadas, armando-me uma arapuca construída com fragmentos retirados indebitamente de minha própria fala.

Sendo assim, para lançar luz sobre a verdade, antes que sombras pairem sobre a questão, devo insistir que, na referida “provocação reflexiva” do dia 05 de janeiro, o que fiz foi mergulhar uma vez mais na minha dramática, angustiante e padecente análise do contexto do “cristianismo atual”.

Não é uma crítica à Igreja, mas, ao contexto da época que abarca a Igreja.

Ora, pode a barca cruzar os mares em enormes tempestades sem balançar de um lado a outro quase a ponto de ir a pique?

Dom Bosco que o diga... E o Papa Bento XVI também, citando São Basílio para mostrar com arguta discrição suas impressões sobre o Concílio Vaticano II, ele que foi perito conciliar...

Melhor ver o que disse o Próprio Papa Bento XVI:

“O último acontecimento deste ano, sobre o qual gostaria de me deter nesta ocasião, é a celebração do encerramento do Concílio Vaticano II, há quarenta anos. Tal memória suscita a interrogação: qual foi o resultado do Concílio? Foi recebido de modo correto? O que, na recepção do Concílio, foi bom, o que foi insuficiente ou errado? O que ainda deve ser feito? Ninguém pode negar que, em vastas partes da Igreja, a recepção do Concílio teve lugar de modo bastante difícil, mesmo que não se deseje aplicar àquilo que aconteceu nestes anos a descrição que o grande Doutor da Igreja, São Basílio, faz da situação da Igreja depois do Concílio de Niceia: ele compara-a com uma batalha naval na escuridão da tempestade, dizendo entre outras coisas: "O grito rouco daqueles que, pela discórdia, se levantam uns contra os outros, os palavreados incompreensíveis e o ruído confuso dos clamores ininterruptos já encheram quase toda a Igreja falsificando, por excesso ou por defeito, a reta doutrina da fé..." (De Spiritu Sancto, XXX, 77; PG 32, 213 A; Sch 17 bis, pág. 524).”[1]

Logo, nossa análise reflexiva lança o olhar angustiado para um cristianismo profundamente marcado pelo matiz dos postulados antropocêntricos dos últimos 5 séculos. Postulados estes devedores de modelos antropológicos carentes de maior coerência ou mesmo honesta fundamentação ontológica.

É, portanto, no campo dos postulados e premissas filosóficas que devem ser lidas, entendidas e discutidas as minhas “provocações reflexivas” e não no campo pastoral que é, estrito senso, de competência da Igreja. Roma locuta, causa finita est (Roma falou a causa está encerrada).

Por isto, é deveras impossível perceber o conjunto do meu pensamento sem considerar a unidade de todas as reflexões que tenho desenvolvido em textos variados, os quais, na medida do possível, vão sendo postados neste blog na forma do que chamo de “provocações reflexivas”.

E mesmo a unidade desse conjunto deve ser compreendida como parte processual de um todo não acabado e tampouco pretendido perfeito e incorrigível (Sobre a correção, há que se dizer: só serão levadas em conta, caso se façam necessárias, somente as correções realizadas exclusivamente por Autoridade propriamente constituída para tal fim, na forma da lei).

De outra ocasião disse o que reitero agora: não sou um livre pensador (que conclui suas idéias como soberanas e não as submete ao juízo da Igreja); sou um pensador livre (que apenas levanta questões e ensaia conclusões para serem submetidas ao juízo da Igreja).

Reconheço o arrojo e a contundência de algumas idéias, razão pela qual quis chamar tais textos propositalmente de PROVOCAÇÕES reflexivas. Bem entendido, não se trata de provocar no sentido popular do termo de irritar, mas, no sentido filosófico de levar a pensar com maior e melhor juízo crítico sobre as coisas. Este é tão somente o intuito.

Recorro comumente aos recursos da maiêutica e da ironia filosóficas para exprimir minhas próprias angústias, na parca – mas não acomodada preguiça intelectual - visão panorâmica que tenho da história recente do conhecimento, e seus desdobramentos práticos na vida individual e coletiva da sociedade moderna.

Contudo, como já o admiti antes, não posso negar que tanto a contundência de certas questões que levanto, quanto o apontamento de certas conclusões que faço, tende a incomodar ou - como costumo dizer - “fazer trincar até os ossos”, a consciência de muitos.

Já dissemos também, noutras ocasiões, sobre o fenômeno contemporâneo da conformidade universal, causada pela conveniência das posturas que, ao se fazerem públicas, adotam o discurso “politicamente correto”.

É compreensível que as pessoas têm muito a perder se arriscam manifestar com clareza o que de fato pensam sobre as coisas.

Em geral, o “mal estar” causado pela exposição clara e direta, sem rodeios e sem desculpas, dos valores mais íntimos e caros da consciência, podem se tornar com facilidade causa de tropeço para quem, com grande esforço, se aninha nas frestas seguras das estruturas de poder.

Não sou insensível a ponto de não perceber que consciências nobres sofrem enormemente ao precisarem guardar - no ostracismo de suas almas - a dor que sentem por não conseguirem exprimir, com toda força que elas gostariam, o grito silencioso de suas retas opiniões face ao desmando prático das idéias dominantes.

Eu compreendo isto. Mas não tenho força para emudecer minha consciência diante do mesmo drama e da mesma angústia que compartilho com estas pessoas.

Não me sinto melhor que aqueles que padecem emudecidos esta angústia.

Ao contrário, sinto-me pior, tanto quanto eles devem se sentir pior com o “atrevimento” das minhas reflexões.

Elas sofrem por fazerem violência contra suas consciências ao não exprimirem toda angústia que sentem diante da realidade instalada, a fim de não atrair contra as conquistas feitas - e as conquistas por fazer - o peso massacrante das estruturas de poder.

Eu sofro as mesmas angústias, mas, sofro conseqüências diferentes, por não conseguir calar a voz da minha consciência e exprimir de modo impactante toda angústia que igualmente padeço com a realidade instalada.

Se, de um lado, a minha reflexão contundente coincide com o pensamento de foro íntimo de muitos que padecem a mesma pressão contra os valores que acreditam; por outro, a transparência absoluta e sem tréguas ou negociações diplomáticas com a realidade posta, pode fazer com que estes mesmos que concordam com o que penso e digo, sintam-se ameaçados em decorrência das conseqüências que podem advir da minha postura.

Seja como for, cada qual deve ser leal à força de sua coerência...

Não bastasse isto, há a eminência da rejeição obtusa daqueles que sem nenhum pudor renunciam, na prática, aos valores mais intrínsecos de sua consciência para serem “politicamente corretos” com as estruturas de poder.

O Poder é legítimo e deve ser respeitado. Mas o legítimo Poder não exige da consciência reta que ela esteja obrigada a errar junto, quando o erro tumultua as estruturas mais nobres com a poeira levantada pelas tempestades.

Santa Clara dizia que estava obrigada a obedecer em tudo, exceto contra a própria consciência. Importante salientar que obedecer a consciência sem chances de erro supõe colocar o Mandamento Divino acima de todos os patamares hierárquicos. E a Igreja não pede o contrário de seus fiéis...

Também as própria estruturas de poder seculares e religiosas lutam entre si, recorrendo muitas vezes, por força das contingências e em nome da “concórdia”, ao recurso do “politicamente correto”, desde que isto garanta-lhes os espaços conquistados e possibilidades de novas conquistas.

Enfim, todos lutam, nesta geração, para serem “politicamente corretos” no exigente esforço de alcançar e/ou manter o que lhes é de direito.

Com ou sem maior consciência do que resulta disto, fato é que esta luta entre diferentes na perspectiva do “politicamente correto” acaba mascarando uma igualdade que inexiste na real e necessária diversidade das coisas, tais quais criadas.

E tudo vai se engendrando num grande fenômeno global, conspirando na perspectiva de uma Nova Ordem Mundial que se levanta no horizonte, como aquela “enorme estátua [que] erguia-se diante de ti; era de um magnífico esplendor, mas de aspecto aterrador” (Dn 2, 31), sustentadas por “pés metade de ferro” (o que poderia corresponder, hoje, à fortaleza do conhecimento científico e tecnológico) e “metade de barro” (que aludiríamos à mistura pueril do chamado ecumenismo planetário, que inclui numa mesma massa todos os credos em nome da concórdia religiosa, ao preço que se negue que só haja um Único Salvador).

Não acredito nem espero que estes maiores esclarecimentos feitos neste texto complementar, possam livrar-me das acusações contra minha análise sobre a crise do cristianismo contemporâneo e sua influência na chamada “nova evangelização”. Com tudo isto há quem irá insistir - por conta própria e equivocadamente - apresentar meu pensamento colocando-o em oposição quer à Comissão Pontifícia para a Nova Evangelização quer contra qualquer outra orientação Doutrinária ou Pastoral da Igreja.

Como disse, será por conta própria de quem o fizer. Assim como também será por conta própria do julgamento impróprio que for emitido, que os que julgam mal as minhas angústias reflexivas terão julgadas as suas pretensões conclusivas. Esta regra não é minha, mas do Evangelho.

O fato é: minhas críticas não são contra a Venerável Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas contra a tempestade que se aplaca contra a Nau de Pedro.

Parabenizo S. Emcia. Cardeal Scherer pela nomeação. Aliás, ele é do grupo de bispos amigos de Dom Gil Antônio Moreira, recém nomeado pela CNBB coordenador Nacional para comemoração dos 50 anos do Concílio Vaticano II. Ofereço a ambos minha mais honesta adesão através das minhas insignificantes, mas, muito sinceras, orações pelo bom êxito no desafio de ajudar o Sucessor de Pedro a navegar nesta pavorosa tempestade secular que se aplaca contra a Barca da Igreja e encharca a “nova evangelização”.

Minha adesão, reverência e submissão ao egrégio ofício destes bons prelados e suas coerências no devido cumprimento com o Múnus Pastoral que lhes cabe, não se chocam com a visão que tenho do conjunto dos últimos 5 séculos na história do conhecimento.

E é esta visão de conjuntura que me permite perceber a sutil deformidade na forma mentis, como diria Santo Tomás de Aquino, em todas as áreas do conhecimento moderno, amplo na diversidade antropológica, escasso em fundamentos ontológicos.

E se, de tudo, a manifestação submissa e reverente das minhas angústias merecerem consideração suficiente para qualquer tipo de admoestação cabível por parte das Autoridades devidamente constituídas, então, restar-me-á agradecer a Deus por conceder-me a Graça de purgar meus pecados em vida, caso Ele considere, neste caso, insuficiente o pavoroso ostracismo em que me encontro no Seio Imaculado de Sua Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica...

Eis a peça assustadora que a Providência Divina me pregou no quinto dia de 2011...

Senhor, perdoai-me porque sou pecador e tende piedade!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN



[1] DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS CARDEAIS, ARCEBISPOS E PRELADOS DA CÚRIA ROMANA NA APRESENTAÇÃO DOS VOTOS DE NATAL, quinta-feira, 22 de Dezembro de 2005

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