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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Crise de Fé: minha ou do cristianismo atual?!

Ando pensativo... quer dizer, mais pensativo que de costume... E olha que costumeiramente penso muito...

Não tenho preguiça de pensar, nem de escrever parte do que penso.

Sendo assim, escrevo para quem, de igual modo, não é refém da preguiça mental.

Todavia, entre tantos outros, reconheço um limite patente de meus textos: não são adequados para quem não gosta de exercitar o pensamento.

Refletir sobre a realidade, a existência, os dramas e as questões próprias da vida humana e suas implicações - naquilo que é próprio da Fé ou da Razão ou de ambas - é uma dádiva da humanidade.

É e torno das idéias bem pensadas dos que não têm preguiça mental, incluindo a opinião bem formada que emitem sobre as idéias pueris e mal elaboradas dos que padecem de tal má vontade do raciocínio, que o mundo dos sentidos gira.

Há construtores ou fabricantes de idéias porque há consumidores delas.

De tal modo o mundo gira em torno das idéias que o grande filósofo Platão atreveu-se a lançá-las no plano metafísico da perfeição: o famoso mundo das Idéias. É lá, no mundo das idéias, segundo o Grande Filósofo Grego, que a perfeição existe em si mesma, como essência do Divino, servindo de farol para a vida prática de nossa falência existencial.

Não entrarei no mérito dessa discussão metafísica de Platão. Apenas fiz menção para acentuar o quanto o pensamento é importante como fabricante de idéias e o quanto as idéias são importantes na geração de sentidos da sociedade humana. Assim como também os pensamentos – e as idéias por eles geradas – são capazes de patrocinar em grande escala a desconstrução dos sentidos individuais e coletivos, gerando crises: de sentido, de fé, etc.

Mas, não é meu propósito discorrer sobre a excelência do pensamento reflexivo, que faz do homem o principal ser no mundo natural, como já o fizemos em outras reflexões deste blog.

Meu objetivo nesta provocação reflexiva é levantar uma série de questões intrigantes – ao menos para mim – a respeito da crise de Fé...

Tentaremos refletir sobre a crise de Fé multiplicando o quanto possível as questões e comentado uma ou outra com o fito de suscitar mais e novas questões em torno do tema.

Há crise de Fé? Quem está em crise de Fé? Onde? Quando? Por quê?

Como se desenrola esta crise, caso ela se apresente?

Estas perguntas muito diretas e primárias acontecem no fervilhar de questões mais complexas, contundentes, incomodas, enfim, indesejáveis para aqueles que pensam a Fé na estreiteza de um horizonte de interesses próprios ou na perspectiva de um comodismo amalgamado ao ateísmo prático da civilização secularizada.

Se eu for considerar o modelo de fé predominante no cristianismo atual, na esteira de uma chamada “nova evangelização”, então, quem está em crise de Fé sou eu e, deste modo, ficam respondidas em parte as primeiras perguntas diretas e simples a cerca da(s) crise(s) de Fé.

Se, contudo, eu for considerar a Fé cristã dos Apóstolos, dos Mártires, dos Santos, enfim, da Igreja que subsiste não obstante o circunstacialismo NA(s) Igreja(s) e, sobretudo, da parte dos crentes, então, eu poderei concluir que quem está em crise é a fé do cristianismo atual, não obstante todos os esforços da “nova evangelização”...

O que me permite raciocinar deste modo?

A “nova evangelização”, apesar de exceções isoladas e raramente encontradas, configura-se, via de regra, segundo a lógica do mundo moderno. E o mundo moderno promete, ou melhor, vende a idéia de que tudo tem que ser feito para se atingir a plena felicidade nesta vida.

A tecnologia e a capacidade inventiva dos homens são os meios incontidos através dos quais se podem atingir as realizações máximas aqui e agora. E como o homem é o protagonista deste modelo evolutivo, então, ele pode, por sua própria força, atingir os níveis mais elevados de gozo na vida. Ele é o grande protagonista da própria felicidade, donde se fala tanto de AUTO estima, AUTO realização, etc.

O cristianismo moderno dobra os joelhos diante deste modelo mental prevalecente.

De um lado, prestam reverência a este modelo antropocêntrico as quase diabólicas teologias do materialismo histórico a la Marx, que divinizam a defesa do pobre protagonizando um reino em nome de um cristo que, hoje, na falta de um Barrabás, seria ‘companheiro’ ideológico de um Che Guevara.

Tal teologia possui teses doutorais que valem grande crédito de sapiência junto à sociedade organizada, ainda que ao preço das rentáveis moedas de prata que recebem seus autores ao acusarem a Igreja de ser a única culpada por conservar intocável ao longo dos séculos a Verdadeira Fé em Cristo, através das Santas Liturgias e da vida ilibada dos Mártires e Santos.

De outro lado, as quase gnósticas teologias da prosperidade do espiritualismo neo capitalista, prestam cultos à fé que possuem no interesse temporal do Poder de Cristo, acreditando e aceitando em suas vidas cada hora um jesus diferente (cada vez que o “cristão” de ocasião muda de denominação, ele tem que aceitar o jesus que ali é anunciado e barganhado na relação espúria: milagres/dízimo).

Desde que seja um jesus que opere milagres e realize vitórias aqui e agora, tudo bem, com a condição de não se aceitar – nem como amor sacrifical – o Mistério da Cruz, a comunhão com os Verdadeiros seguidores de Cristo, e a Sua Santíssima e Sempre Pura Virgem Mãe. Resta perguntar: quem são estes 'jesus'?

Mas este modelo de fé invadiu também as paragens do catolicismo. Com a diferença que a Cruz, os Santos e a Virgem Maria devem se curvar igualmente ao utilitarismo da fé que os católicos da "nova evangelização" buscam e professam. E se os resultados não são atingidos, tais cristãos de conveniência têm a possibilidade de mudar de grupo, de paróquia ou mesmo de denominação.

Se, ainda, tudo isto não resultar em nada, poder-se-á, ainda, mudar de religião ou mesmo estabelecer um link direto com deus (em minúsculo mesmo, por não se saber o quanto a preternaturalidade poderá se aproveitar disto). Por último, o desfecho desta crise, poderá culminar no abandono total da Fé.

Pois bem, estes dois modelos predominantes da “nova evangelização”, que exigem como elemento de fé, de um lado, a AUTO estima e AUTO realização dos pobres materiais, dando-lhes um céu de bens materiais; de outro, a AUTO estima e AUTO realização dos pobres espirituais, dando-lhes um céu passageiro de vitórias sobre o sofrimento, forjam o espírito, em larga medida, do cristianismo contemporâneo.

Quantos não são aqueles que depois de terem recebido em parte significativa tudo que exigiram de Deus em Nome de Cristo, abandonaram a fé tão logo a recorrência histórica tenha repetido seu natural e contínuo feito de servir novos cálices com infortúnios, dificuldades materiais e sofrimentos no corpo e na alma?

Ou, quantos não são os que trocam de “igreja” em busca de conhecer um outro jesus mais verdadeiro, já que o daquela igreja anterior não é mais tão verdadeiro na medida em que deixou de corresponder às expectativas da fé?

O cristianismo atual, com facilidade, aceita como dignos de fé os postulados do bem estar social, econômico, psicológico (como se o bem estar psicológico fosse patrimônio da alma e não do corpo).

Isto nos leva a uma sequência de novas perguntas, agora mais complexas.

Se esta fé realizadora do reino na terra é a fé que Cristo pediu que vivêssemos e seguíssemos, o que pensar da vida pavorosa que viveram os Apóstolos?

Será que eles entenderam tudo errado e distorceram desde os primeiros anos de seguimento a mensagem de Cristo?

E se eles, que conheceram Cristo na Carne e na História, erraram, que razão eu tenho para crer que quem acertou foi Lutero, Calvino, John Wesley, Edir Macedo ou qualquer pregador inflamado que é orgulhoso até o sovaco, só porque coloca lá a Palavra de Deus?

Mas se eles, os Apóstolos, entenderam certo, então, por que razão eu - que sequer sou digno de ler os Evangelhos, as Epístolas e os primeiros Santos Documentos da Igreja (como a Didaquè), que eles deixaram como Patrimônio da Verdadeira Fé ao preço do próprio sangue - tenho o direito de exigir de Deus para minha vida as tais vitórias que eles não exigiram para suas?

Ora, se os mártires e santos, sempre se sentindo indignos, tiveram a humildade de aceitar seguir Nosso Senhor – “se alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8, 34b) – quem sou eu para pretender ser mais digno que eles e exigir de Deus o que Deus não lhes concedeu nesta vida?

Que rumo estranho é este que toma a “nova evangelização” que sugere que os “santos” devem usar calças jeans enterradas até o cós, estimulando a libido para além do forte apelo da natureza e se atreve chamar a isto de seguimento de Cristo?

Que rumo estranho é este que toma a “nova evangelização” – e chama de caminho para Jesus - que associa em programas televisivos a total incompatibilidade entre Jesus e o conceito de revolução (Revolução Jesus - sic!)?

Ora, toda revolução parte de um estado de rebeldia ou revolta, interior ou exterior. Lúcifer se rebelou contra Deus. Judas queria que Cristo se rebelasse contra o Império Romano. O marxismo "cristão" rebela-se dia e noite contra a Igreja, vivendo dela...

Mas o Filho de Deus, bem ao contrário, não Se resignou?: “Pai... faça-se segundo a Vossa Vontade!?

Que rumo estranho é este que toma a “nova evangelização” que faz crer que a busca pela santidade é um feito ideológico, onde, sobretudo aqueles fiéis, que incapazes de dar um passo mais honesto no seguimento de uma vida consagrada a Deus - na Igreja - vomitam sua arrogância opinativa como se fossem conselheiros excelsos dos pobres servos de Deus, numa larga e ampla rede de fofocas “doutrinárias” para colocar um pedestal diante da cátedra episcopal e lá empinar a plumagem - petulante, sim, e de indevida ingerência também -, de suas vaidades pseudo intelectuais?

Que rumo estranho é este da “nova evangelização” que toma indevidamente um SACROSSANTO Concílio Pastoral como se ele fosse um Super Concílio Dogmático (sem que o seja), penalizando a reta consciência de quem tão somente obedece ao Magistério do único Papa que governa a Igreja – aquele que está vivo e, portanto, a quem se deve obedecer no tempo e no espaço – o qual pede que se “critique construtivamente” (isto é, proceda-se a necessária crítica epistemológica) os textos dúbios do mesmo e se refute tenazmente a péssima “hermenêutica da ruptura”, tão visível nas questões anteriores?

É claro que tais espíritos dominados pela má fé - que brota do orgulho ferido - quererão dizer que nossa reflexão neste ponto está criticando o Concílio, por não aceitarem o erro na leitura que dele fazem. Minha posição se mantém: ninguém pode antecipar-se ao juízo da Igreja, conforme decreto do Papa Urbano VIII. Logo, em sã consciência, não sou, não posso e nem quero ser contra o Concílio.

Aliás, quem é que poderia sem incorrer em grave erro?

Mesmo que seja claramente esta a minha mais honesta posição, não faltarão entre os adoradores dos muitos cristos da “nova evangelização”, aqueles que provavelmente imputar-me-ão o falso rótulo de que sou anticonciliar ou coisa que o valha. De antemão, contra a falsa acusação, invoco em minha defesa o Juízo Divino, Único capaz de julgar sem equívoco. O resto é temeridade de gente comprometida com a própria causa de se fazer acreditado santo.

Sigo o Magistério do único Papa vivo e governante: Bento XVI. É o Papa Bento XVI, em seu Magistério profícuo, que no discurso proferido à Cúria Romana por ocasião do Natal de 2005, denuncia a prodigalidade multiplicada da “hermenêutica da ruptura” e reivindica uma “hermenêutica de continuidade” à Luz da Sagrada Tradição, para que o Santo Concílio - que continua sendo Pastoral apesar de Santo - seja devidamente conformado aos demais Concílios em sua unidade dogmática.

Sigamos, pois, mergulhando nas águas mais profundas dos questionamentos sobre a fé desse modelo de cristianismo atual, que exalta a “nova evangelização” como se as precedentes fossem velhas, retrógradas (sei da boa intenção hermenêutica da expressão, mas, diz o adágio popular, que “de ‘boas intenções’ o inferno está cheio”, o que indica que tais intenções não são tão boas assim, não é verdade?!).

Sou ainda consciente de que não sou ninguém e não significo nada para exprimir opinião em questão tão elevada e demasiadamente complexa. Não pretendo “ensinar padre a rezar Missa”, mas não posso deixar de exprimir com simplicidade a contundência da angústia que me assola diuturnamente.

E este espaço é para isto.

Ou será que há liberdade – e espaço televisivo - para se ensinar todo tipo de heresia sensual do tipo retiros de afetividade e sexualidade (como se a vida espiritual reta – e sobretudo a vida consagrada - não exigisse a renúncia/oferta dessas dimensões de nossa humanidade), e não há espaço e liberdade para, a duríssimas penas, exprimir as angústias de uma alma sacerdotal moribunda?

Exprimirei, portanto...

Que rumo estranho é este, acreditado como caminho de seguimento, que toma a “nova evangelização”, ao ir substituindo disfarçadamente – como lobo em pele de cordeiro - o Sacrifício Perpétuo de Cristo por uma ceia que tem de bateria à histeria coletiva num show interminável de profanações por vezes sacrílegas, fazendo diminuir Cristo enquanto faz crescer a vaidade de toda equipe que serve em redor do altar?

Que rumo estranho é este que toma a “nova evangelização”, que se pensa como caminho de seguimento, a qual se acredita tão nova a ponto de julgar obsoletas e retrógradas a Evangelização protagonizada por verdadeiros Arautos do Evangelho, homens e mulheres que colocaram acento não nos seus feitos, mas na retíssima consciência de duvidarem de si mesmos e acreditarem não possuírem vida digna e santa, sentindo verdadeiro horror só de imaginar que assim poderiam ser acreditados?

Hoje, se a Igreja abrir um concurso de santidade, suspeito que não faltarão candidatos que, com a palavra fácil ou com a pena pedante, inscreverão seus nomes para serem democraticamente votados porque querem ser santos...

Há que se compreender, afinal, parece existir certa relação lógica entre AUTO estima e AUTO santificação...

Eu, contudo, continuo afeito à imagem do oleiro do profeta Jeremias, arrastado para santidade contra vontade, quebrado até o pó do próprio querer, assim como os santos e místicos, que jamais presumiram sua condição ou mesmo qualidade para a santidade...

Que rumo estranho, que chamam de caminho de seguimento de cristo na “nova evangelização”, em que se admite que o cristão deve buscar a própria glória sob a desculpa esfarrapada de que deseja ser santo (quem sou eu para acreditar que busque a santidade como convém), mas não se admite que os fiéis tenham a ‘honra’ de sua dignidade intelectual arranhada por uma exortação sacerdotal, não obstante faça qualquer cristão acreditar-se digno o bastante para exortar os Ministros de Cristo, sem supor que se lhe será aplicado - da parte de Deus - a exortação do Apóstolo Paulo em Romanos 13? (O mesmo vale para os Ministros Ordenados e Almas Consagrada em relação à Santa Hierarquia e ao Sagrado Magistério).

Que rumo estranho, chamado de caminho de seguimento de Cristo (ou cristo, já nem sei) é tudo isto, na esteira de uma mega era anticristã, que progride há V séculos diluindo nas teologias vigentes – através dos novos modelos antropocêntricos - os absurdos de uma reforma de rebeldes cheios de protesto na carne e no espírito?

Bem, poder-se-ia listar ad infinitum uma questão após a outra que faça trincar de pavor ou a minha Fé, na linha ininterrupta dos Verdadeiros Santos aos quais só me resta reconhecer a inatingível distância e a minha necessária veneração à Fé deles, ou há de fazer trincar a Fé cheia de AUTO estima deste cristianismo atual, na linha fragmentada dos verdadeiros opositores de Cristo, isto é, os lobos em pele de cordeiro, que protestam contra tudo e contra todos...

Qual Fé está em crise afinal? A minha? Ou a desse cristianismo de ocasião?

Para ser verdadeiro e sensato, diria que ambas...

A minha Fé, caso eu, que não tenho onde recostar a cabeça na Igreja, não tiver o auxílio da Graça de Deus para suportar a truculência de todos que estão bem arranjados nos ninhos confortáveis da “nova evangelização”.

A Fé desse cristianismo atual, caso a Graça de Deus resolva continuar escalpelando a consciência de gente indigna como eu, esburilando-a até os fundamentos dessa era em que o anticristo ruge como leão, procurando a quem devorar num tempo em que “primeiro deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniqüidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus” (Ts 2, 3b-4).

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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