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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

esvaziamento X aniquilamento (Parte I)

A espiritualidade do esvaziamento (oriente cristão)

X

o espiritualismo do aniquilamento (oriente não cristão)

Muitos pretendem que a espiritualidade cristã do esvaziamento e o espiritualismo não cristão do aniquilamento,[1] se encontrem, amistosamente, como se fossem duas faces de uma mesma “moeda”. Bem ao contrário, elas se chocam, antagonicamente. São distintas por natureza de conteúdo. E é preciso que se diga isto de modo claro e afirmativo.

Tão estreita é esta equivocada confusão entre realidades distintas que muitos cristãos, inclusive consagrados a Deus, recorrem a “mantras” pretendendo cristianizar o que não apenas diverge do autêntico cristianismo, mas se lhe opõe efetivamente, como demonstraremos nesta reflexão.

Entre os que postulam essa falsa correlação, há dois grupos que consideramos principais.

Um grupo tenta aproximar estas realidades - que demonstraremos contraditórias - tendo em vista um desejo de “sentir”, ecumenicamente, a “experiência” do sagrado. Assim aproximam, equivocadamente, a espiritualidade cristã do esvaziamento – autenticamente hesicasta - do espiritualismo promotor do aniquilamento (que tem origem nas tradições religiosas não cristãs como budismo, etc).

O outro grupo, numa posição diametralmente oposta ao primeiro, postula “compreender”, pela reflexão objetiva, que a espiritualidade cristã do esvaziamento conduz necessária e invariavelmente ao quietismo, o qual

atingiu, ao longo dos séculos, várias correntes espirituais na Igreja, especialmente nos sécs. XVI-XVII. Os Papas Inocêncio XI e Inocêncio XII condenaram os erros quietistas.[2]

Refutaremos ambas tentativas de relacionar esvaziamento, que é uma espiritualidade cristã original genuína (estrito senso dentro da Verdadeira Tradição do Oriente Cristão), sadia e distinta dessas duas errôneas tentativas de aproximação com o aniquilamento.

O aniquilamento sim é uma forma de espiritualismo e misticismo não cristão, pois a repetição de mantras leva ao aniquilamento e este ao quietismo. E tudo isto conduz a interioridade do indivíduo ou a adoração de si mesmo ou ao culto esotérico, aos quais se aplicam devidamente as condenações supracitadas dos Papas e da Igreja.

Comecemos por abordar uma aparente semelhança entre duas práticas orantes que tentam fazer coincidir: o hesicasmo (oração dos Padres do Deserto) e o mantra (oração dos monges não cristãos).

A regra adotada, em geral, para estabelecer uma correlação é o método empregado por ambas formas de rezar: repetição contínua.

Lânguida ingenuidade, pensar que a forma constrói os conteúdos e não o contrário. Como se a forma definisse a substância e não o inverso.

Como isso seria factível se é a substância o suporte (do grego substare) que permite que algo possua forma?

É inconsistente o argumento de que a simples mecânica do método leve ao mesmo resultado. Ora, a técnica é apenas a ferramenta. E, ferramenta, não define o resultado do plantio nem o fruto que dele se colherá.

Antes, não é a semente plantada que define o que se vai colher?

E não é qualidade da terra que determina o resultado da colheita?

A ferramenta, portanto, é tão somente o instrumento para preparar a terra e introduzir nela a semente. Não define nem o que se colherá nem quanto se colherá. É a semente, introduzida na terra pela ferramenta que carrega consigo em potência o fruto que na colheita se terá em ato.

O que determina, portanto, o fruto espiritual que se colherá da repetição contínua não é pura e simplesmente o mecanismo de se repetir, mas aquilo que é repetido continuamente.

A repetição contínua sulca o âmago do ser, predispondo as forças interiores a um estado mental que abre a interioridade do indivíduo para relacionar-se com outros mundos, dos quais falaremos mais adiante.

Neste estado mental privilegiado, complexo e de muito pouco domínio do homem em relação à sua própria natureza, forças adversas (como as chama a Tradição Bizantina), tangem a experiência íntima do ser. Daí o risco e a temeridade do quietismo, que é o estado mental predisposto para conexões impróprias e perigosas para a alma humana.

Neste sentido, a justa condenação da Igreja tem em vista não o cerceamento da liberdade que os homens possuem para fazerem o que quiserem com as suas almas. O homem é livre. Nem Deus os obriga à Salvação. Tampouco deixou a Salvação a cargo do próprio homem, incapaz de explorar estas forças por si mesmo sem perder-se na busca.

A condenação da Igreja visa proteger as almas - que aceitam ser conduzidas à Salvação - do engodo de salvarem-se a si mesmas através do pretensioso encontro com o próprio EU. Ou, ainda, de convocarem para esta tarefa forças adversas na forma de “mestres interiores”, como ensina as tradições religiosas e filosóficas do oriente não cristão.

Logo, o método da repetição contínua, em si mesmo, não é bom nem ruim, dado que depende - estrito senso - do conteúdo que leva ao fim último resultante da prática interior.

Sendo assim, a oração contínua, como método, não prova a semelhança falsamente pretendida entre esvaziamento e aniquilamento. Bem ao contrário, é exatamente o conteúdo aplicado ao método que determina a efetiva, clara e inequívoca distinção entre uma e outra coisa.

Bem longe desse falso argumento que pretende nivelar o hesicasmo e o mantra, o que ocorre, de fato, por conseqüência do antagonismo de seus conteúdos, é a perene incongruência entre um e outro.

Por isso podemos afirmar: hesicasmo X mantra... com “x” de oposição bem grande e visível.

E se, por causa do antagonismo dos conteúdos, podemos concluir que hesicasmo é contrário a mantra, logo, a aplicação de conteúdos distintos não obstante o mesmo método levará, necessariamente, a resultados igualmente diferentes, o que nos permitirá reforçar a afirmação: esvaziamento (conseqüência da relação técnica/conteúdo no hesicasmo) X aniquilamento (conseqüência da relação técnica/conteúdo no mantra).

...continua (Parte II - obs.: estou seguro que a segunda parte está incomparavelmente mais embasada que esta introdução ao tema)

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN



[1] O aniquilamento pertence ao contexto religioso do extremo oriente (ou oriente não cristão), cujo matiz está fundado em princípios monistas (que postula a idéia de que a substância divina e humana tenham origem comum) e panteístas (que entende a criação como parte substancial dessa mônada).

[3] Atributo qualitativo da Essência Divina: substancialmente Bom em Si mesmo.

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