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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

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*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

sábado, 22 de janeiro de 2011

A fonte da amargura...

A amargura é um estado emocional indesejável. Quanto mais alguém é reconhecido pela amargura que carrega, tanto mais este estado emocional indesejável parece multiplicar.

De onde vem a amargura? Quais as suas causas? Há um antídoto contra esta triste disposição interior? O que poderia ser feito para evitá-la?

Encontrando respostas para questões como estas, talvez, aumentem as nossas chances de nos livrarmos de estados emocionais indesejáveis, como este e outros correlatos.

Aqui e acolá, nestas reflexões que fazemos com o intuito de provocar o pensamento, esbarramos com a tenacidade dos questionamentos que, quando mal compreendidos, asseveram más disposições interiores.

O modo como vemos as coisas é determinante para estabelecer nosso estado interior. É pelo olhar que entra o bem ou o mal. A maneira como olhamos tudo em nosso redor faz enorme diferença na definição de nossos estados emocionais.

A forma como escolhemos, racionalmente, escutar uma palavra, uma mensagem, enfim, um som, igualmente estabelece em nós as mesmas predisposições para estes estados interiores.

O mesmo se dá com relação aos demais sentidos, que captam o movimento molecular, por assim dizer, do mundo externo dos significados, carregando-os para o mundo interior de significados.

Sim, isto se dá deste modo por mais que a vida, a responsabilidade e o necessário uso da razão exijam de nós um devido e austero domínio sobre nossos sentimentos e emoções.

É desta maneira porque assim é constituída a nossa natureza humana, tripartida em corpo (sentidos instintivos), alma (sentidos sensitivos ou emocionais) e espírito (sentidos racionais).

Que somos, portanto, também seres psiquicamente habilitados para experimentar e exprimir tais estados interiores, não resta dúvida. A questão é o ordenamento desta complexa natureza, com vias e aptidões triplas (instintivas, emocionais e racionais).

Ora, a própria palavra ordenamento supõe, na relação de verdade entre estes componentes variáveis e múltiplos, a idéia de hierarquia.

Claro, se neste choque intra-relacional entre tamanha gama de possibilidades, o sentido mais fraco – mais primário – reger o livre arbítrio, então, o caos se instalará no íntimo da pessoa.

Para perceber isto sem grande ginástica argumentativa, basta usar a simplicidade lógica. O que acontece se: colocarmos uma carga de mil quilos sobre uma coluna que suporta um terço deste peso? Ou se pedirmos a uma criança para manusear uma metralhadora? Ou se esperarmos que um leão tome conta do bebê enquanto compramos um sorvete?

É notório que todos estes atos vão terminar em um inevitável e trágico acidente.

E o que há de comum em todos eles? São todos irracionais, isto é, seriam escolhas feitas invertendo-se a ordem dos valores: (– 10 + 2) não é a mesma coisa que (+10 + 2). As quantidades numéricas são as mesmas, mas a convenção (sentido) dos sinais é diferente. Logo, o resultado será invariavelmente diferente.

Somos, sim, animais emocionais também. Mas, não só. Além de capacidade emocional, temos capacidade instintiva e capacidade racional. Se a emoção seguir o instinto, o estrago está feito. Se a emoção seguir a razão, o êxito está assegurado, se esta for aplicada corretamente, é claro.

Donde se pode concluir: em ambos os casos anteriores, os sentidos emocionais, que são um estágio intermediário entre o instinto bruto e a razão pura, são meros seguidores de um ou de outro.

Por mais que se diga que se segue o “coração”, na verdade nua e crua dos fatos, ou as emoções estarão alinhadas com as aptidões mais instintivas ou com as aptidões mais racionais. Servindo-as - com ou sem - gosto, satisfação, prazer...

Logo, em ambos os casos, pode-se dizer:

  • ou a emoção é operária do instinto e, neste caso, desenvolve uma humanidade primata, que segue a condição primária (estágio inferior) da carnalidade;
  • ou a emoção é primeira ministra da razão e, neste caso, desenvolve uma humanidade real (no duplo sentido: compatível com a realidade e a nobreza humanas), que segue a condição secundária (estágio superior).

A amargura, portanto, é um estado emocional de insatisfação com relação ao vão desejo de fazer dos sentimentos – isto é: do coração – o capitão da barca da vida.

A barca da vida navega bem, em todos os mares e em quaisquer circunstâncias adversas, somente com a tripulação completa. Só com o capitão, vai naufragar. Só com o timoneiro, perderá o curso. E só com o marujo, ficará à deriva. Os três devem velejar obedecendo-se a hierarquia. O capitão é a razão. O timoneiro é a emoção. O marujo, o instinto. Um deve obedecer ao outro, numa relação amistosa, de confiança e de respeito aos limites e forças de cada patente.

Por isto que se diz popularmente que quem segue o coração “quebra a cara”. E não só a “cara”... há quem quebre o “bolso”, as relações contraídas, a confiança... e por aí vai...

Por acaso tem alguém dizendo aqui que, em razão disto, deveríamos nos tornar um poste de insensibilidade?

Não, não tem.

Mas há quem dirá que isto esteja sendo sugerido.

Provavelmente alguém guiado pelos sentimentos despertados pela lógica desconcertante dos fatos, concluirá esta distorção. E, movido por sua paixão, que ofusca a lógica, causará em si mesmo a seguinte conseqüência: irá gerar dentro de si, quem assim o fizer, a amargura, ao rejeitar que a saúde interior do homem dependa desta relação hierárquica entre os sentidos: instintivos, psíquicos ou emocionais e racionais.

Eu não disse no começo que os estados emocionais dependem dos olhos de quem vê (ou lê) e dos ouvidos de quem ouve?

Pois bem. Aí está! Enxergue-se e conclua a seu próprio respeito, verificando quem o governa: se o operário das emoções-instintivas ou se o primeiro ministro das emoções-racionais...

Sendo a amargura uma conseqüência da decepção e da frustração, então, para evitá-la, é importante saber como ela surge em nossas vidas.

Ora, se a amargura nasce das decepções e frustrações que desenvolvemos em relação ao que nos escapa dentro e fora de nós, então, é só administrar mais racionalmente as emoções – sem se tornar um poste de insensibilidade – e evitar consentir com o simples apelo instintivo das emoções.

Isto requer treino, naturalmente. Mas, mesmo os adultos, do ponto de vista de Deus, são crianças em desenvolvimento. É sempre tempo de começar. E enquanto vivem nesta terra, são aprendizes... não há do que se envergonhar. Não começou antes, comece agora!

De resto, como os ventres da amargura são a decepção e a frustração, que experimentamos em relação ao desconhecimento de nós mesmos – ou ao conhecimento equivocado da realidade - vale outra dica importante: entender de onde vem e como nascem as decepções e as frustrações, que geram amargura. Ou seja, se a amargura é um ventre que gera novos problemas interiores, ela existe como ventre por ter sido gerada por outros ventres, no caso em questão: a decepção e a frustração (que também são geradas por outros ventres).

Indicar a origem dos ventres que geram a amargura será mais simples de fazer, na conclusão desta reflexão.

Costumo dizer que o ventre da decepção é a expectativa. E o que fecunda este ventre é o desejo.

Como o homem – especialmente o homem moderno – se ilude com o reino proletário da emoção-instintiva, ao invés da nobreza da emoção-racional, então, na maioria das vezes, este acasalamento entre o desejo e a expectativa vai dar com os “burros n’água”.

Em outras palavras: o desejo compatível com o instinto vai fecundar a expectativa de emoções intensas, a qual irá dar à luz a decepção, a frustração, o vazio (ou trigêmeos mesmo). E como netinhos, virão, mais tarde, a amargura, a infelicidade e toda prole dos maus sentimentos.

Esta é a fonte da amargura, da qual não bebo, visto que sei de onde procede...

Há, mesmo assim, quem lê minha angústia com o mundo – e ela existe, de fato, por causa da inversão prática desses valores inerentes à verdadeira humanidade – e pensa-me amargurado.

A minha percepção deixa-me angustiado, sim, mas não amargurado, pois, eu fecundo o ventre da angústia com o gameta da fé e, assim, arremeto toda minha esperança na nova criação segundo o Espírito e não segundo a carne.

Logo, o que parece infelicidade por parte do juízo alheio, o qual não me alcança a interioridade, é puro desconhecimento de causa, quando, na verdade, minha alma regozija em Deus o Caminho na direção do Homem Total – Cristo Jesus - Pleno de Suas Capacidades, que me configura a Si na medida em que me ajuda a morrer para mim.

Sendo assim, quem amarga a duras penas em mim mesmo o inevitável confronto desta realidade é: o homem carnal, guiado pela emoção-instintiva. Este, sim, amarga o veneno do próprio primitivismo. Mas, se posso dividir o banquete com o homem espiritual, guiado pela emoção-racional, por que vou me contentar em mendigar migalhas de má vontade no reino do livre arbítrio?

Se você vai pensar nisto com a seriedade que merece eu não sei, mas, eu penso nisto sempre, afinal, sou só um aprendiz neste Caminho interior de volta à Casa do Pai!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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