Hoje,
Sexta-Feira Santa do Ano do Senhor de 2013, preciso dar um desfecho conclusivo
às reflexões sobre o BURRICO DE DEUS...
tenho que concluir esta abordagem pontual, muito embora o tema em si há de
permanecer permeando tudo o que se pretende construir consoante com uma
consciência que seja verdadeiramente cristã.
Há
também uma lista interminável de questões e temas, igualmente relevantes, que
urgem serem desenvolvidos.
Sendo
assim, é duplamente a propósito que cumpramos esta finalização no contexto de
meditação da Paixão do Senhor.
Primeiro,
pelo fato de que o tema do burrico, sendo o fundamento para postura de uma reta
consciência cristã, é inesgotável, e, ter que reduzí-lo forçosamente a três
singelas partes amalgamadas aos parâmetros de um blog, convenhamos: é
cruciante!
Segundo
porque o que haveremos de abordar em seguida, como anunciado nas duas partes
anteriores, é de um desafio rigorosamente exigente para um compêndio, quiçá
para um post virtual. Logo, tudo o que dissermos poderá ser usado contra nós,
inserindo-nos efetivamente na Paixão de Cristo, não como meros observadores,
senão como atualizadores existenciais deste Mistério no tempo e no espaço...
Que
fazer diante deste arrojado desafio? Dizer ao Senhor, a quem me propus seguir, NÃO SERVIREI?!
Disto,
líbera
me, Dómine...
Antes,
não devo eu fazer repetir em minha insignificante vida de burrico, o trote na
mesma direção de percurso d'Aquele que livremente escolhi para carregar sobre
meus dias na terra, como meu Senhor e Mestre?
Não
devo também eu, apesar da compacta voz interior do meu amor próprio, dura como o
casco do animal ruminante, deixar lascar esse casco no choque contra o cascalho
da incompreensão alheia e, conscientemente, repetir com Ele, nesta ocasião
propícia?:
“Presentemente,
a minha alma está perturbada. Mas que direi? ... Pai, salva-me desta hora...Mas
é exatamente para isto que vim a esta hora.” (Jo 12, 27)
É...
um cristão forjado no amor a Deus maior que a si mesmo e maior que a qualquer
outra realidade criada, não poderá refutar-se a este pavoroso Mistério...
Então,
vamos prosseguir com a conclusão destas sequências de “provocações” sobre o
tema do BURRICO DE DEUS, nesta
Semana Santa de 2013, revirando de vez as mesas dos cambistas do Templo Santo
do Senhor...
Antes,
ainda, um registro muito a propósito, afinadíssimo com a ‘linha do tempo’ do BURRICO DE DEUS.
Ontem,
na Missa da Unidade, na qual só participaram aqueles que, não obstante
diferenças multiplas, conservam-se humildemente integrados às exigências do
Corpo Místico de Cristo, o presbitério de Juiz de Fora reuniu-se para renovar
seu compromisso sacerdotal de serviço e obediência à Santa Igreja, através da
Autoridade Episcopal.
Diferenças
litúrgicas (a liturgia é variada na Igreja: são 23 Ritos Católicos diferentes,
cada qual segundo sua própria Tradição); diferenças pastorais; acentos
diferentes dos Carismas; enfim, nada disto pode rasgar o Manto Uno de Cristo...
A
humildade é a linha sem ememda que tece, ponto a ponto, a Túnica Inconsútil do
Cordeiro Imolado!
Os
espíritos incautos, soberbos, adoecidos na vaidade e no amor próprio, ao
contrário da humildade requerida para o adequado serviço de Deus no Sacerdócio
Ordenado, rasgam entre si suas próprias túnicas, pensando estarem revestidos da
Túnica de Cristo... quão triste é esta duríssima realidade que guia o interior
de muitos que, não obstante a fachada de catolicidade, estão chafurdados no
âmago do protesto, que caracteriza o “espírito revoltoso”...
Contudo,
aqueles que vencendo - ainda que a duras penas - as contrariedades interiores,
manifestaram sua unidade com a Autoridade Eclesiástica local, puderam usufruir
da afortunada reflexão feita pelo Sr. Arcebispo Arquidiocesano, Dom Gil Antônio
Moreira, a cerca da humildade e seu papel no momento atual da Igreja.
Em
sua prédica, o Pastor de Juiz de Fora, fez da humildade a verdadeira protagonista
da transição papal.
De
suas meditações condivididas com os presentes, elegeu a humildade como sendo o
maior e o principal patrimônio magisterial do Papa Emérito Bento XVI, bem como
do novo Pontífice o Papa Francisco (que não por menos evocou como nome papal a
humildade de Francisco de Assis), e, por último, também patrimônio magisterial da
Igreja Católica como um todo, visto que ela adentra a Jerusalém epocal, por
assim dizer, montada humildemente no jumentinho a trotar sobre os fatos sui gêneris em dias modernos, a saber:
- a
renúncia incomum de um Papa que, apesar do seu vigor intelectual, foi achincalhado
desde o início do seu pontificado (insisto na sugestão de leitura – ou releitura
– das duas primeiras cartas abertas ao Papa publicadas neste blog a respeito
deste penoso fato);
-
um conclave sob severa pressão midiática (que torceu e distorceu, à valer, a
partir de escândalos e falhas dos filhos da Igreja);
- e,
claro, a eleição de um novo Francisco... desta feita Papa... e, pela primeira
vez, Jesuíta...
Tudo
isto corrobora a Providência Divina, que permanece sendo intrigante gestora da
História...
Agora
sim! Dito isto - e finalmente! - vamos ao encontro da cruz que nos está
reservada por conta desta “provocação” da verdade... a verdade que pode ser
extraída a partir da objetiva e concisa análise da falsa unidade de muitas
realidades internas à própria Igreja...
É
preciso - de pronto e antes de tudo - registrar em ótimo tom: OS CARISMAS, EM SUA DIVERSIDADE, SÃO OS
ELEMENTOS CONCATENANTES DA GRAÇA UNITIVA DE DEUS NA IGREJA!
Na
mesma medida anterior, sem aumentar ou diminuir o tom, registramos também: EM GERAL OS MOVIMENTOS REUNIDOS EM TORNO
DOS CARISMAS, INVERSAMENTE AO QUE REALIZAM OS CARISMAS, SÃO DOLOROSAMENTE OS
ELEMENTOS QUE FEREM A UNIDADE INDEFECTÍVEL DE CRISTO NA IGREJA, PELA IGREJA E
COM A IGREJA!
Isto
é tão duro quanto verdadeiro. Tão historicamente repetitivo quanto o é misteriosa
e aparentemente contraditório. É a base mais submersa do ice berg do “espírito da divisão”, sobre o qual São João versou
doutoralmente em sua epístola:
“Filhinhos,
esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o anticristo vem. Eis que já há
muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre
nós, mas não eram dos nossos. Se tivesse sido dos nossos, ficariam certamente
conosco. Mas isto se dá para que se conheça que nem todos são nossos.” (1
Jo 2, 18-19).
Que
constatação dramática, penosa, quase inenarrável...
Se,
por um lado, os Carismas são Graças autênticas distribuídas por Cristo através
do Espírito em toda a Igreja, por outro, a gênese da divisão (que caracteriza o
anticristianismo) dá-se a partir da apropriação indébita dos Carismas,
acrisoladas na conveniência de quem quer que integre esta ou aquela corrente do
catolicismo.
Em
outras palavras, sem profunda e perfeita união com a Autoridade Instituída por
Cristo, todo Carisma legítimo tende a se corromper. Note-se que é exatamente
assim que surgem os cismas, as heresias e as apostasias. Em verdade:
-
nenhum cismático feriu a unidade pelo desejo perverso de partir institucionalmente
aquilo que sacramentalmente continua unido, apesar de separado eclesialmente;
- nenhum
herege dividiu a assembleia, separando-se do Corpo Místico de Cristo, ao
torcer, contorcer e distorcer a doutrina de Cristo em favor do casuísmo do
livre arbítrio, pelo simples gosto em contradizer aquele que também ama o mesmo
e único Mestre;
- ou,
ainda, nenhum apóstata negou a fé recebida só pelo prazer de cultivar em si o
ódio gratuito contra Deus e Sua Igreja, mas pelo fato de que julga ser o
paradoxo da história refém de duas únicas possibilidades: ou porque Deus existe
e permite incompreensíveis desmandos (inclusive o da apostasia); ou porque Ele
não existe, o que ‘justificaria’ a renúncia da Fé recebida no Batismo;
Todas
estas situações são, todavia, o resultado final de dois movimentos internos à
consciência, os quais se estabelecem antes mesmo da separação eclesial, no
íntimo da alma católica, a saber: o “espírito revoltoso” e seu irmão de danação,
o “espírito da divisão”.
Estas
coisas se dão no foro íntimo da consciência, mesmo daquelas que se mantém “católicas”,
isto é, sem separar-se visível e efetivamente da Igreja, como acontece com
muitos indivíduos que acabam juntando-se a outra comunidade cristã ou “cristã”
(posto que há comunidades separadas que, embora cristãs deficitárias, são
cristãs em algum grau de verdade; e há comunidades divididas que são “cristãs”
entre aspas mesmo).
Como
não é nosso objetivo nesta “provocação do pensamento” discorrer sobre estas
separações formalizadas, voltemos à ‘vaca fria’ da natureza íntima da divisão,
que se dá internamente aos ambientes católicos, o que torna nossas observações
ainda mais delicadas...
Mas,
que tem o tema do BURRICO DE DEUS
que ver com tudo isto?
Ora,
o comportamento interior de um BURRICO
DE DEUS é o único meio capaz de transportar a Verdadeira Fé sem causar divisões
internas ou externas... este é o ponto!
Então,
fica o alerta: quem quer que não se separe formalmente da Igreja Católica, mas,
mantém-se nela dividido interiormente entre o que ela ensina e pratica e o que
julga ser o que ela deveria ensinar e praticar, está no rol - talvez sem que o
saiba conscientemente - daqueles que regam dentro de si, invés da perfeita
unidade, a imperfeita revolta ou imperfeita divisão, com a água contaminada do
amor próprio.
Não
ficou claro???
Desculpe-me
dizer assim, mas, leia de novo o parágrafo acima. E leia com atenção. Leia e
releia quantas vezes necessário.
E saiba:
- se
a sua consciência ficou de alguma maneira incomodada ou sentiu-se acusada, então,
fique em paz, pois isto é sinal de que você também é um BURRICO DE DEUS! Neste caso, basta reconhecer, confessar e
recomeçar o itinerário da sua consciência trotando humildemente rumo à entrada
da Jerusalém Celeste, exercitando a mudança das suas concepções de foro íntimo
e seus sentimentos presunçosos a respeito da Igreja, que não é minha nem sua
nem nossa: é de Cristo!
-
se, ao contrário, sua consciência não se sentiu acusada, ou muito pior, sentiu-se
exageradamente ofendida a ponto de fazer valer ao meu Ministério Sacerdotal alguns
“coices” de “cavalo de guerra batizado” - e ferrado com ideias próprias e
cravos do livre exame -, então, meu dolorido conselho: CUIDADO!
Cuidado
não comigo, pobre burrico de carga, acostumado a levar patadas de todo lado de
quem é mais forte e imponente... cuidado com a própria ferradura... pois se
você não se separou da Igreja Católica e está nela acusando o Sacerdócio que é
de Cristo (ou os sacerdotes, Filhos Prediletos da Mãe de Deus), que embora
exercido por gente indigna como eu, a ferradura pode viajar como um bumerangue
na história e voltar mortalmente contra sua própria cabeça.
Portanto,
se dentro da linha ou corrente católica a que sua consciência está filiada (‘libertadora’,
‘carismática’ ou ‘tradicionalista’), houver apropriação indébita dos Carismas
próprios de cada qual (Serviço, Graças Sobrenaturais ou Ensino, respectivamente
a cada uma), então, fique atento, pois, se neste caso não se pode atribuir os infelizes rótulos de apóstata, herege ou
cismático (em respectiva ordem às correntes apresentadas), caberá,
doloridamente, a evidência de uma forte inclinação semi-apóstata, semi-herética
ou semi-cismática (igualmente em
respectiva ordem), ainda que escondida no véu de uma ‘catolicidade’ nada
universal em termos de unidade, e bem particular em termos de divisão...
Meu
conselho de padre (que largou tudo para fazer o que você não faz por estar
preso a muitos amores ainda neste mundo), de monge (por querer continuar
renunciando permanentemente ao amor próprio, com o qual você pode encontrar-se vivendo
em plena lua de mel) e de frei sacerdote (irmão menor na Hierarquia Eclesiástica,
considerando que talvez nem dela por pura Graça de Deus você faça parte,
desprovido, portanto, de qualquer autoridade para assuntos eclesiásticos), mas,
sobretudo, meu conselho de BURRICO DEUS mesmo:
converta-se a Cristo e à Sua Verdadeira Igreja
UNA, SANTA, CATÓLICA E APOSTÓLICA, a qual atravessa a História, sim, com as
Autoridades que Deus se Dignou chamar e constituir para a Salvação dos que
elege!
...
a propósito, para que esta conversão seja mesmo honesta, ela deve ser humilde,
sem protestar interna ou externamente, capaz de sujeitar disciplinarmente a
consciência aos mediadores constituídos por Deus, a salvo do livre exame!
Do
contrário, por duro que seja dizer isto (para o que já anunciei desde a Parte I
desta ‘provocação do pensamento’, esperar duras retaliações), corre-se o risco
de conservar-se – invés de converter-se – num ‘catolicismo’ semi-apóstata,
semi-herético ou semi-cismático (sempre na mesma ordem de relação com o ‘libertacionismo’,
com o ‘carismatismo’ e com o ‘tradicionalismo’).
Por
fim, para aliviar um pouco o impacto contundente deste post, e já que citei o apresentador televisivo na Parte II, uma
exortação final a la Tadeu Schmidt: “que
isso rapaz! Deixa disso!” (serve para as moças também...rsrs).
Nesta
Santa Sexta-Feira da Paixão, desejo-lhe uma boa morte para o seu si mesmo,
a fim de que Cristo, nesta Páscoa, ressuscite verdadeiramente em sua
consciência para que ela seja verdadeiramente cristã, e, humildemente, possa
permitir livremente que o Cristo Deus
esteja, na terra, montada nela como se ela fora um jumentinho, “filho de uma
jumenta”!
BOA PÁSCOA!!!
Pe.
Frei Flávio Henrique, pmPN