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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

sexta-feira, 29 de março de 2013

O BURRICO DE DEUS... PARTE FINAL



Hoje, Sexta-Feira Santa do Ano do Senhor de 2013, preciso dar um desfecho conclusivo às reflexões sobre o BURRICO DE DEUS... tenho que concluir esta abordagem pontual, muito embora o tema em si há de permanecer permeando tudo o que se pretende construir consoante com uma consciência que seja verdadeiramente cristã.

Há também uma lista interminável de questões e temas, igualmente relevantes, que urgem serem desenvolvidos.

Sendo assim, é duplamente a propósito que cumpramos esta finalização no contexto de meditação da Paixão do Senhor.

Primeiro, pelo fato de que o tema do burrico, sendo o fundamento para postura de uma reta consciência cristã, é inesgotável, e, ter que reduzí-lo forçosamente a três singelas partes amalgamadas aos parâmetros de um blog, convenhamos: é cruciante!

Segundo porque o que haveremos de abordar em seguida, como anunciado nas duas partes anteriores, é de um desafio rigorosamente exigente para um compêndio, quiçá para um post virtual. Logo, tudo o que dissermos poderá ser usado contra nós, inserindo-nos efetivamente na Paixão de Cristo, não como meros observadores, senão como atualizadores existenciais deste Mistério no tempo e no espaço...

Que fazer diante deste arrojado desafio? Dizer ao Senhor, a quem me propus seguir, NÃO SERVIREI?!

Disto, líbera me, Dómine...

Antes, não devo eu fazer repetir em minha insignificante vida de burrico, o trote na mesma direção de percurso d'Aquele que livremente escolhi para carregar sobre meus dias na terra, como meu Senhor e Mestre?

Não devo também eu, apesar da compacta voz interior do meu amor próprio, dura como o casco do animal ruminante, deixar lascar esse casco no choque contra o cascalho da incompreensão alheia e, conscientemente, repetir com Ele, nesta ocasião propícia?:

“Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi? ... Pai, salva-me desta hora...Mas é exatamente para isto que vim a esta hora.” (Jo 12, 27)

É... um cristão forjado no amor a Deus maior que a si mesmo e maior que a qualquer outra realidade criada, não poderá refutar-se a este pavoroso Mistério...

Então, vamos prosseguir com a conclusão destas sequências de “provocações” sobre o tema do BURRICO DE DEUS, nesta Semana Santa de 2013, revirando de vez as mesas dos cambistas do Templo Santo do Senhor...

Antes, ainda, um registro muito a propósito, afinadíssimo com a ‘linha do tempo’ do BURRICO DE DEUS.

Ontem, na Missa da Unidade, na qual só participaram aqueles que, não obstante diferenças multiplas, conservam-se humildemente integrados às exigências do Corpo Místico de Cristo, o presbitério de Juiz de Fora reuniu-se para renovar seu compromisso sacerdotal de serviço e obediência à Santa Igreja, através da Autoridade Episcopal.

Diferenças litúrgicas (a liturgia é variada na Igreja: são 23 Ritos Católicos diferentes, cada qual segundo sua própria Tradição); diferenças pastorais; acentos diferentes dos Carismas; enfim, nada disto pode rasgar o Manto Uno de Cristo...

A humildade é a linha sem ememda que tece, ponto a ponto, a Túnica Inconsútil do Cordeiro Imolado!

Os espíritos incautos, soberbos, adoecidos na vaidade e no amor próprio, ao contrário da humildade requerida para o adequado serviço de Deus no Sacerdócio Ordenado, rasgam entre si suas próprias túnicas, pensando estarem revestidos da Túnica de Cristo... quão triste é esta duríssima realidade que guia o interior de muitos que, não obstante a fachada de catolicidade, estão chafurdados no âmago do protesto, que caracteriza o “espírito revoltoso”...

Contudo, aqueles que vencendo - ainda que a duras penas - as contrariedades interiores, manifestaram sua unidade com a Autoridade Eclesiástica local, puderam usufruir da afortunada reflexão feita pelo Sr. Arcebispo Arquidiocesano, Dom Gil Antônio Moreira, a cerca da humildade e seu papel no momento atual da Igreja.

Em sua prédica, o Pastor de Juiz de Fora, fez da humildade a verdadeira protagonista da transição papal.

De suas meditações condivididas com os presentes, elegeu a humildade como sendo o maior e o principal patrimônio magisterial do Papa Emérito Bento XVI, bem como do novo Pontífice o Papa Francisco (que não por menos evocou como nome papal a humildade de Francisco de Assis), e, por último, também patrimônio magisterial da Igreja Católica como um todo, visto que ela adentra a Jerusalém epocal, por assim dizer, montada humildemente no jumentinho a trotar sobre os fatos sui gêneris em dias modernos, a saber:

- a renúncia incomum de um Papa que, apesar do seu vigor intelectual, foi achincalhado desde o início do seu pontificado (insisto na sugestão de leitura – ou releitura – das duas primeiras cartas abertas ao Papa publicadas neste blog a respeito deste penoso fato);

- um conclave sob severa pressão midiática (que torceu e distorceu, à valer, a partir de escândalos e falhas dos filhos da Igreja);

- e, claro, a eleição de um novo Francisco... desta feita Papa... e, pela primeira vez, Jesuíta...

Tudo isto corrobora a Providência Divina, que permanece sendo intrigante gestora da História...

Agora sim! Dito isto - e finalmente! - vamos ao encontro da cruz que nos está reservada por conta desta “provocação” da verdade... a verdade que pode ser extraída a partir da objetiva e concisa análise da falsa unidade de muitas realidades internas à própria Igreja...

É preciso - de pronto e antes de tudo - registrar em ótimo tom: OS CARISMAS, EM SUA DIVERSIDADE, SÃO OS ELEMENTOS CONCATENANTES DA GRAÇA UNITIVA DE DEUS NA IGREJA!

Na mesma medida anterior, sem aumentar ou diminuir o tom, registramos também: EM GERAL OS MOVIMENTOS REUNIDOS EM TORNO DOS CARISMAS, INVERSAMENTE AO QUE REALIZAM OS CARISMAS, SÃO DOLOROSAMENTE OS ELEMENTOS QUE FEREM A UNIDADE INDEFECTÍVEL DE CRISTO NA IGREJA, PELA IGREJA E COM A IGREJA!

Isto é tão duro quanto verdadeiro. Tão historicamente repetitivo quanto o é misteriosa e aparentemente contraditório. É a base mais submersa do ice berg do “espírito da divisão”, sobre o qual São João versou doutoralmente em sua epístola:

“Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivesse sido dos nossos, ficariam certamente conosco. Mas isto se dá para que se conheça que nem todos são nossos.” (1 Jo 2, 18-19).

Que constatação dramática, penosa, quase inenarrável...

Se, por um lado, os Carismas são Graças autênticas distribuídas por Cristo através do Espírito em toda a Igreja, por outro, a gênese da divisão (que caracteriza o anticristianismo) dá-se a partir da apropriação indébita dos Carismas, acrisoladas na conveniência de quem quer que integre esta ou aquela corrente do catolicismo.

Em outras palavras, sem profunda e perfeita união com a Autoridade Instituída por Cristo, todo Carisma legítimo tende a se corromper. Note-se que é exatamente assim que surgem os cismas, as heresias e as apostasias. Em verdade:

- nenhum cismático feriu a unidade pelo desejo perverso de partir institucionalmente aquilo que sacramentalmente continua unido, apesar de separado eclesialmente;

- nenhum herege dividiu a assembleia, separando-se do Corpo Místico de Cristo, ao torcer, contorcer e distorcer a doutrina de Cristo em favor do casuísmo do livre arbítrio, pelo simples gosto em contradizer aquele que também ama o mesmo e único Mestre;

- ou, ainda, nenhum apóstata negou a fé recebida só pelo prazer de cultivar em si o ódio gratuito contra Deus e Sua Igreja, mas pelo fato de que julga ser o paradoxo da história refém de duas únicas possibilidades: ou porque Deus existe e permite incompreensíveis desmandos (inclusive o da apostasia); ou porque Ele não existe, o que ‘justificaria’ a renúncia da Fé recebida no Batismo;

Todas estas situações são, todavia, o resultado final de dois movimentos internos à consciência, os quais se estabelecem antes mesmo da separação eclesial, no íntimo da alma católica, a saber: o “espírito revoltoso” e seu irmão de danação, o “espírito da divisão”.

Estas coisas se dão no foro íntimo da consciência, mesmo daquelas que se mantém “católicas”, isto é, sem separar-se visível e efetivamente da Igreja, como acontece com muitos indivíduos que acabam juntando-se a outra comunidade cristã ou “cristã” (posto que há comunidades separadas que, embora cristãs deficitárias, são cristãs em algum grau de verdade; e há comunidades divididas que são “cristãs” entre aspas mesmo).

Como não é nosso objetivo nesta “provocação do pensamento” discorrer sobre estas separações formalizadas, voltemos à ‘vaca fria’ da natureza íntima da divisão, que se dá internamente aos ambientes católicos, o que torna nossas observações ainda mais delicadas...

Mas, que tem o tema do BURRICO DE DEUS que ver com tudo isto?

Ora, o comportamento interior de um BURRICO DE DEUS é o único meio capaz de transportar a Verdadeira Fé sem causar divisões internas ou externas... este é o ponto!

Então, fica o alerta: quem quer que não se separe formalmente da Igreja Católica, mas, mantém-se nela dividido interiormente entre o que ela ensina e pratica e o que julga ser o que ela deveria ensinar e praticar, está no rol - talvez sem que o saiba conscientemente - daqueles que regam dentro de si, invés da perfeita unidade, a imperfeita revolta ou imperfeita divisão, com a água contaminada do amor próprio.

Não ficou claro???

Desculpe-me dizer assim, mas, leia de novo o parágrafo acima. E leia com atenção. Leia e releia quantas vezes necessário.

E saiba:

- se a sua consciência ficou de alguma maneira incomodada ou sentiu-se acusada, então, fique em paz, pois isto é sinal de que você também é um BURRICO DE DEUS! Neste caso, basta reconhecer, confessar e recomeçar o itinerário da sua consciência trotando humildemente rumo à entrada da Jerusalém Celeste, exercitando a mudança das suas concepções de foro íntimo e seus sentimentos presunçosos a respeito da Igreja, que não é minha nem sua nem nossa: é de Cristo!

- se, ao contrário, sua consciência não se sentiu acusada, ou muito pior, sentiu-se exageradamente ofendida a ponto de fazer valer ao meu Ministério Sacerdotal alguns “coices” de “cavalo de guerra batizado” - e ferrado com ideias próprias e cravos do livre exame -, então, meu dolorido conselho: CUIDADO!

Cuidado não comigo, pobre burrico de carga, acostumado a levar patadas de todo lado de quem é mais forte e imponente... cuidado com a própria ferradura... pois se você não se separou da Igreja Católica e está nela acusando o Sacerdócio que é de Cristo (ou os sacerdotes, Filhos Prediletos da Mãe de Deus), que embora exercido por gente indigna como eu, a ferradura pode viajar como um bumerangue na história e voltar mortalmente contra sua própria cabeça.

Portanto, se dentro da linha ou corrente católica a que sua consciência está filiada (‘libertadora’, ‘carismática’ ou ‘tradicionalista’), houver apropriação indébita dos Carismas próprios de cada qual (Serviço, Graças Sobrenaturais ou Ensino, respectivamente a cada uma), então, fique atento, pois, se neste caso não se pode atribuir os infelizes rótulos de apóstata, herege ou cismático (em respectiva ordem às correntes apresentadas), caberá, doloridamente, a evidência de uma forte inclinação semi-apóstata, semi-herética ou semi-cismática (igualmente em respectiva ordem), ainda que escondida no véu de uma ‘catolicidade’ nada universal em termos de unidade, e bem particular em termos de divisão...

Meu conselho de padre (que largou tudo para fazer o que você não faz por estar preso a muitos amores ainda neste mundo), de monge (por querer continuar renunciando permanentemente ao amor próprio, com o qual você pode encontrar-se vivendo em plena lua de mel) e de frei sacerdote (irmão menor na Hierarquia Eclesiástica, considerando que talvez nem dela por pura Graça de Deus você faça parte, desprovido, portanto, de qualquer autoridade para assuntos eclesiásticos), mas, sobretudo, meu conselho de BURRICO DEUS mesmo: converta-se a Cristo e à Sua Verdadeira Igreja UNA, SANTA, CATÓLICA E APOSTÓLICA, a qual atravessa a História, sim, com as Autoridades que Deus se Dignou chamar e constituir para a Salvação dos que elege!

... a propósito, para que esta conversão seja mesmo honesta, ela deve ser humilde, sem protestar interna ou externamente, capaz de sujeitar disciplinarmente a consciência aos mediadores constituídos por Deus, a salvo do livre exame!

Do contrário, por duro que seja dizer isto (para o que já anunciei desde a Parte I desta ‘provocação do pensamento’, esperar duras retaliações), corre-se o risco de conservar-se – invés de converter-se – num ‘catolicismo’ semi-apóstata, semi-herético ou semi-cismático (sempre na mesma ordem de relação com o ‘libertacionismo’, com o ‘carismatismo’ e com o ‘tradicionalismo’).

Por fim, para aliviar um pouco o impacto contundente deste post, e já que citei o apresentador televisivo na Parte II, uma exortação final a la Tadeu Schmidt: “que isso rapaz! Deixa disso!” (serve para as moças também...rsrs).

Nesta Santa Sexta-Feira da Paixão, desejo-lhe uma boa morte para o seu si mesmo, a fim de que Cristo, nesta Páscoa, ressuscite verdadeiramente em sua consciência para que ela seja verdadeiramente cristã, e, humildemente, possa permitir livremente que o Cristo Deus esteja, na terra, montada nela como se ela fora um jumentinho, “filho de uma jumenta”!

BOA PÁSCOA!!!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN


terça-feira, 26 de março de 2013

O BURRICO DE DEUS! - PARTE II



Antes de prosseguir com a sequência prometida às reflexões iniciadas na Parte I desta reflexão, a qual considera um importante aspecto a cerca do Domingo de Ramos, gostaria de registrar minha mais profunda gratidão a Deus:

- Obrigado, Senhor, pelo fato de escolher um jumentinho para transportá-Lo, quer para haver entrado triunfalmente em Jerusalém quer para atravessar a história em todas as épocas, afinal, de que outro modo também este "jumentinho" indigno e pecador que, aqui neste blog, se atreve a rabiscar seus pensamentos, poderia estar junto de Vós?!

E agradecendo a Deus por uma parte, por outra, aproveito para antecipar aos caríssimos leitores minhas sinceras desculpas pelas necessárias contundências que nos vemos obrigados a abordar na sequência desta “provocação do pensamento”.

Por que me antecipo em desculpar-me?!

Alguns motivos:

- Porque esta “provocação do pensamento” vai, de muitos modos, na contra mão dos sentimentos modernos, os quais desejam relativizar a autoridade na Igreja – e da Igreja – supondo que ela seria mais “justa” e mais “humana”, se mais democrática... talvez, os donos destes sentimentos suponham que Deus também deveria ter sido mais democrático com Lúcifer, antes que este Ser de luz e inteligência inigualáveis viesse a se transformar no chefe dos demônios. Quem sabe estes mesmos palpiteiros de uma superdemocracia religiosa pensem, sem que tenham ainda percebido, que deveria Deus com muito maior razão ser mais democrático ainda depois que o anjo quedado resolveu, por conta da sua liberdade de escolher, fazer odiosa oposição à Bondade Divina Infinita, pondo-se a desgraçar a vida no mundo para fazer Deus, Único Inocente, parecer culpado...

- Preciso me desculpar porque, para fisgar no fundo da alma humana a gratidão pela Verdade que só pode vir dAquele que é Verdadeiro, é preciso usar o “anzol” da palavra franca, isto é, nada “politicamente correta”... e, o anzol, penetra, fura, enfim, machuca a carne...

- a lista de motivos geraria uma biblioteca de razões bem fundamentadas, todavia, apesar de ser impossível registrá-las aqui, uma é crucial e não pode deixar de ser apresentada. Preciso me desculpar porque, para ser coerente com a Autoridade do Cristo Deus - que eu como um jumentinho sacerdotal devo carregar até a entrada na Jerusalém Celeste – terei que usar minha palavra pobre e insignificante para cortar na própria carne... na carne da catolicidade... e isto será difícil... e isto vai doer!

Por mais que o faça com caridade. Por mais que explique se tratar de uma análise com o fim estrito de chamar a atenção para os riscos embutidos nos comportamentos das linhas de pensamento internas à própria Igreja, sem, contudo, absolutamente condenar essas correntes em si, as quais caracterizam belamente a diversidade da Igreja para construir sua unidade, ficarei exposto à incompreensão dos integrantes dessas correntes, ou pelo menos, de todos aqueles que pertencendo a elas, sentirem-se feridos no modo por vezes idolátrico com que estão a elas ligados...

Que posso fazer?! Afinal, sou só um jumentinho sacerdotal de Cristo Deus!

E se eu não mais servir ao propósito de carregar Deus numa consciência intrépida, na opinião dos que compartilham comigo a Fé cristã, então, restar-me-á o bom chicote da língua alheia e, em última instância, a partir da intolerância dos que pretendem tudo tolerar – menos o que penso sobre a legitimidade das Autoridades constituídas por Deus na Igreja – restar-me-á ser conduzido a um matadouro qualquer do julgamento humano, como apraz a qualquer jumento que não tem mais serventia no campo...

Como de nada irá adiantar antecipar minha defesa em favor da minha justificação sobre a contundência desta “provocação do pensamento”, passo logo a desenvolver o tema proposto, dando sequência à Parte I.

Terminei a Parte I de Burrico de Deus recordando o fato de que, segundo o Evangelho de Mateus, o povo estendeu seus mantos para o Cristo Deus entrar em Jerusalém montado num jumentinho, “filho de uma jumenta”.

Mas, asseverei, propositalmente, o destaque feito pelo próprio Evangelho de que o Corpo Santo de Cristo não tocou nenhum destes mantos estendidos pelo povo que, como disse, ao longo da mesma semana que se tornou para sempre Santa, “não mudou de manto” para mudar de grito: de “Hosana ao Filho de Davi”, para “Crucifica-O! Crucifica-O!”.

Fiz realçar com maior relevância ainda o fato de que fora o manto dos Apóstolos os únicos que neste contexto teológico tocaram o Santo Corpo de Cristo: “Trouxeram a jumenta e o jumentinho, cobriram-nos com seus mantos e fizeram-no montar.” (Mt 21, 7).

Que isto significa?!

Se este texto fosse escrito pelo Tadeu Schmidt, talvez respondesse: NADA! ISTO NÃO SIGNIFICA ABSOLUTAMENTE NADA!

Mas, não é só para comentarista de futebol que talvez isto não significa nada. Suponho que qualquer exegeta douto concordaria facilmente com o apresentador do Fantástico...

Para mim, contudo, que não sou nem apresentador do fantástico nem exegeta, pois que não passo de um jumentinho sacerdotal de Cristo Deus, então, significa TUDO! ABSOLUTAMENTE TUDO!

O manto dos Apóstolos está teologicamente estendido intermediariamente sob o Corpo Santo de Cristo e sobre o “lombo” do jumentinho que, aqui, significa por primeiro o Ministério Ordenado, Sacerdócio de Cristo.

Ou será por outra razão que a Liturgia Bizantina incluiu no Condaquion aquela oração que deu origem à primeira parte desta reflexão:

“Ó Cristo Deus, que no céu ESTAIS sentado num trono, e na terra montado num jumentinho...”

O Cristo Deus ESTÁ, na terra, montado num jumentinho. Ele está, de fato, presente no Sacerdócio: que perpetua o Batismo, que absolve os pecados, que distribui o Único Alimento para a Vida Eterna, que deixa tudo para servir a Deus e aos homens. É aí que o Cristo Deus está como primícias em cada época da Nova Aliança, para a partir daí – do sacerdócio – estar em todas as outras realidades temporais que escolheu estar: no pobre, no enfermo, no injustiçado, etc, etc, etc.

Que aqueles que não creem tenham o direito natural – visto que a própria Fé é um Dom Sobrenatural – de afirmar que estes argumentos são meras justificativas para autoafirmação da religião e dos religiosos, isto é plausível.

Que aqueles que dizem crer tenham a ousadia de compartir da mesma opinião cética acima, isto é lamentável, senão, anatemático, sim!

Ora, quem assim o decidiu que fosse foi o próprio Cristo Deus. Foi ele quem escolheu para si Apóstolos. Foi Ele quem deu a estes Apóstolos a Autoridade de “ligar e desligar” coisas entre o Céu e a Terra. Foi Ele quem ORDENOU que assim o fizessem em memória d’Ele até o Último Dia! Por isto as portas do inferno jamais prevalecem contra a Igreja. Por isto há mais de dois milênios todas as instituições humanas, em todas as épocas, sem exceção alguma, odiando a Igreja Católica e perseguindo-a, passaram e deixaram de existir, fortalecendo ainda mais a Instituição Divina deixada por Cristo, que permanece atravessando a História da Humanidade rumo ao Último dia.

Isto pode não ser nada fácil de admitir para os incautos inimigos de Cristo e da Igreja, mas, que é simplesmente impossível de provar o contrário, é! Doa em quem doer!

Eu não avisei no princípio que tamanha contundência haveria de incomodar?

Mas, se para um não católico - ou para um mal católico - estas palavras podem até mesmo ser detestáveis, onde estaria em tudo isto, o prenunciado doloroso “corte na carne”, visto que para o bom leitor católico, tudo o que foi dito até aqui é puro regozijo?

Tomemos fôlego! Afinal, o “burrico de Deus”, sendo só um jumentinho, avança e para na medida de seus limites e na medida de quem o comanda.

Na Parte III, tentaremos abordar com os necessários melindres da caridade, a velada – e geralmente despercebida – insurreição contra a Autoridade de Cristo Deus, que permanece atualizada século por século através do Sacerdócio Ordenado, para: horror do demônio, desespero dos céticos, mal estar dos falsos crentes, regozijo dos verdadeiros cristãos e, definitivamente, para a Glória de Deus!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

domingo, 24 de março de 2013

O BURRICO DE DEUS! - PARTE I




“Ó Cristo Deus, que no céu ESTAIS sentado num trono, e na terra montado num jumentinho...”

Assim inicia o condaquion (Poema Litúrgico Bizantino), previsto no calendário para o Domingo de Ramos.

Nosso primeiro destaque é para o uso do verbo de ligação apresentado no presente do indicativo.

A Liturgia está consciente do fato de que, mais do que indicar o lugar onde Cristo Deus esteve desde  a eternidade (no Céu) e mais do confirmar o lugar onde para todo o sempre ESTARÁ (no Céu), ela enfatiza de um modo muito peculiar o lugar onde o Cristo Deus ESTÁ, de modo permanente no presente...

Onde ESTÁ, hoje, no presente, o Cristo Deus?

A Santa e Divina Liturgia responde, inequívoca. ESTÁ em dois lugares, não alternadamente, mas a um só tempo: no céu, "sentado num trono"; na terra, "montado num burrinho".

Aqui está algo digno de destaque.

Que o Cristo Deus está no céu, num Trono de Glória, isto todo cristão sabe, mesmo aqueles que protestam contra o Credo Apostólico, o qual afirma peremptoriamente o que cremos: “e subiu ao Céu, onde está a direita de Deus Pai”...

Todavia, nem todo cristão – seja entre os que protestam contra ou entre os que aceitam, na íntegra, o Credo dos Apóstolos – sabe, efetivamente, onde o Cristo Deus ESTÁ, de fato, na terra, hoje, dois milênios depois da entrada triunfal em Jerusalém...

E onde está, então???

“... na terra montado num jumentinho” ... “montado num filho de jumenta” (Jo 21, 15)

Ora, a Liturgia Católica, que atualiza ano após ano o Domingo de Ramos, não se reduz a uma cena histórica cristalizada no passado, na qual Deus Homem montara um animal do campo para seguir em procissão entrando triunfante em Jerusalém, dignificando Sua própria Glória Divina. Não, não reduz nem exclui isto. Descritivamente inclui a primeira coisa introduzindo teologicamente a segunda. 

A Santa e Divina Liturgia Católica dá um preciso salto teológico do fato histórico ocorrido no passado para a história permanentemente atualizada no presente.

Então, onde está, hoje, em cada dia destes dois milênios depois da Morte e Ressurreição, na terra, o Cristo Deus?!

Responde, preciso, o condaquion:  “...na terra montado num jumentinho”...

ESTÁ “montado num jumentinho”???????????????????????????????????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Que significa isto?!

 A Santa e Divina Liturgia, por um lado, nos oferece sua força Divina, única capaz de impedir que a dinâmica da história - no curso dos milênios - apague as pegadas do verdadeiro seguimento a Cristo Deus. Por outro, nos interpela com a contundência dessa atualização da presença de Cristo Deus na terra... “montado num jumentinho”???!!!...

Já que o Ato Litúrgico nos propõe a questão de maneira tão teológica, recorramos, para tanger uma resposta compatível com a grandeza deste Santo Mistério, a muito expressiva teologia do Ícone enquanto Elemento Litúrgico:



Não iremos aqui destrinchar a explicação do Ícone, o que seria uma riqueza, sem dúvidas.

Todavia, o objeto desta reflexão é outro. E serve-nos, de princípio, a particularidade indicativa de comportamento que se pode extrair da postura pictórica do jumentinho.

Antes, devemos frisar que na Tradição Ocidental do Presépio, devedora da Tradição Oriental do Ícone da Natividade, o burrinho representa o povo cristão, herdeiro da Nova e Eterna Aliança, assim como o boi representa o povo judeu, herdeiro da Primeira Aliança.




Por isto o Ícone da Natividade encerra no conjunto da cena do Nascimento do Menino Deus, a presença do burro e do boi, tendo oferecido a São Francisco de Assis os elementos teológicos suficientes para que desenvolvesse a mística em torno da espiritualidade do Presépio, que inclui ambos os animais do campo.

Portanto, no curso da história, o burro ou jumento representa todo aquele que deve carregar em si, na própria vida, o Cristo Deus.

E por que o burro ou o jumento servem a este propósito de representação?

Por que o Cristo Deus, fazendo cumprir o que dissera a esse respeito o antigo Profeta (cf. Zacarias 9,9), escolhe para sua entrada triunfal em Jerusalém, ao invés de um pomposo ginete de guerra - como convinha aos maiores reis da história antiga - esse animal pacato e empacador do campo?

A esse respeito, já escrevemos um pouco em outra ocasião, inclusive, associando com justiça a atitude de Bento XVI ao longo de seu pontificado a esse legítimo seguimento de Cristo.

Seguimento este que o Papa Emérito faz reluzir agora ainda mais nobremente com sua renúncia, saindo da visibilidade vicária de Cristo para obedecer seu Sucessor na Cátedra que é de Pedro, o discípulo escolhido pelo Rei para ser Príncipe responsável pela unidade dos verdadeiros Apóstolos.

Seguimento - por conseguinte necessário - na humildade do Cristo Deus, que igualmente dá sinais reluzentes também este novo pontificado do Papa Francisco, que invoca o Pobrezinho de Assis, que fora no primeiro milênio o grande arranjador e promotor do presépio no ocidente.

Para conferir mais amiúde o vigor deste seguimento, tal qual deve acontecer na vida de um autêntico cristão, ou seja, não mais que um jumentinho a carregar o Cristo Deus, sugiro a leitura da primeira carta aberta ao Papa, publicada neste blog.

Aqui vale lembrar pontualmente que o modelo de Reinado do Cristo Deus, realmente contrasta e confunde o modelo de reinado dos homens. Assim, o comportamento do jumentinho treinado para o trabalho campal, realizado com orelhas e servis baixas e com "rabo entre as pernas" (a indicar como deve estar a nossa vontade inclinada ao pecado diante da Vontade de Deus que nos santifica), contrasta com a postura do potro adestrado para guerra e para o desfile de poder, altivo e lépido, bufante e imponente.

Ademais, vale também aproveitar a ocasião para desmistificar as pejorativas conotações dadas ao pobre animal doméstico, tão útil que sempre foi à vida das gentes, pelo grande serviço que, antes das modernas máquinas de transporte, prestou na carga das mais diversas caravanas - de mercadores a reis.

Na cultura popular de muitos povos, desde pequena, se a criança responde com alguma morosidade à cobrança de aprendizagem feita pelos adultos, ainda que por pura timidez invés de ignorância, é logo taxada de “burra” (sic!)... querendo, com isto, o mestre educador, transmitir ao educando a ideia ofensiva de inculto, ignorante, incapaz, etc...

Famosa é a exclamação: que burrice!

Qual de nós já não ouviu ou disse isto muitas vezes?

E observe-se que, embora o léxico admita a palavra “burra” como feminino de burro, jamais se ouviu dizer no campo existir tal animal, uma vez que sempre nos referimos aos parentes fêmeas do burro como  “jumenta”, “mula”, “besta”... Enfim, em matéria de zoologia não existe o animal burra - fêmea do burro - embora o léxico inclua esta forma por sua vasta e corriqueira aplicação usual.

E, depois, a ignorante é a pobre da criança que, neste caso, injustiçada pela “inteligência” adulta, segue humilhada carregando Cristo na sua inocência infantil... santas jumentinhas, as crianças, que recebendo humilhadas uma repreensão duplamente injusta (pela falta de caridade e pelo significado invertido que se aplica ao simbolismo de burro), carregam desde pequenas, em sua história de vida, uma verdadeira imitação de Cristo Deus!

Outro uso curioso do simbolismo distorcido do animal simples, serviçal e trabalhador (muito trabalhador por sinal, diga-se de passagem, visto que no campo está entre os mais fortes e resistentes), vem da expressão popular: “fulano fechou o Belém!”, quando se quer referir a uma pessoa que ficou “emburrada”, isto é, que mudou de humor negativamente, fechando-se no egoísmo do amor próprio contrariado.

No exemplo acima temos duas coisas a explorar.

A primeira diz respeito à depreciação do comportamento reprovável de quem se tranca em seu egoísmo, ficando "emburrado", como se diz, de maneira a associar - uma vez mais - a carga pejorativa ao pobre bichano, acostumado que está a carregar o peso de alimentos, iguarias, tesouros e... ofensas!

A segunda é ainda mais curiosa pelo seu significado, cunhando a expressão do povo: “fechar o Belém”?!

De onde vem esta curiosa e surpreendente conotação? Por que está significada pela ideia "emburrar",no sentido de empancar a abertura interior?

Penso que o imaginário popular, de algum modo, apreende o Mistério da Fé de uma maneira muito própria e afortunada.

Se Belém fora a cidade “porta” por onde adentrou na História o Rei da Criação, então, “fechar o Belém”, a partir do campo da espiritualidade cristã que se deveria praticar, significa obstruir na vida interior a presença d’Aquele que deve reinar no coração do homem.

“Fechar o Belém” significa, sobretudo, fechar as portas do coração para o Cristo Deus!

E o que o burrinho tem que ver com essa discussão acima? Por que “fechar o Belém” significa, também, “emburrar”? Ou em outra expressão ainda mais forte: “amarrar o burro”?

Ao contrário dessa inversão conotativa, nos questionamos: não fora justamente o burro o animal que carregou - humilde e serviçal - o Majestoso Cristo Deus, Herdeiro do Criador do Céu e da Terra, para Belém, quando este experimentava os primórdios da Sua Vida na Carne, ainda no ventre de Sua Santíssima Mãe?

E não fora justamente esse mesmo animal que teve a dignidade de carregar o recém nascido Unigênito de Deus em fuga para o Egito, assegurando-Lhe - trote a trote - a sobrevivência na austera travessia do deserto contra a truculência galopante dos cavalos bufantes de Herodes?

Não fora, ainda, justamente esse mesmo animal - aqui para nós burro, lá para os semitas hebreus jumento – aquele que serviu de trono para entrada triunfante do Cristo Deus em Jerusalém?

Não fora a queixada dos restos mortais deste animal que, na mão do homem de Deus, derrubou ao solo uma enorme tropa de cavalariços vivos, como nos narra a vitória de Sansão sobre o exército filisteu?

Então, por que para o cristão, ser chamado de burro ou jumento soa tão ofensivo?

Não deveria, antes, significar um dos mais belos elogios, senão um verdadeiro título honorífico?

E, teologicamente, o é. Não obstante a marcha pomposa dos teólogos atuais não o enalteça devidamente. Pois que preferem o galope às vezes ensandecidos de “novas evangelizações” (com objetivos práticos mais proselitistas que salvíficos), à cadência constante – trote a trote - da alegria cristã da Ação de Graças nos altos e baixos da vida.

Que cristão em nossos dias se presta a servir verdadeiramente a Cristo Deus, carregando-O humildemente nos revezes de sua própria história, sobretudo, quando tudo parece dar errado?

Quando a Cruz bate à porta, na esteira de um famigerado protesto que parece não ter fim, os "cristãos" de hoje "fecham o Belém"...

Ou Deus, de Senhor passa a servidor, garantindo ao atrevimento do "cristianismo" insurreto desses dias, distribui sua Glória Divina para que aqueles que deveriam segui-Lo as desperdicem em fanfarras espirituais de vaidade, presunção e culto ao próprio ego ou... os "cristãos" dessa geração iram ficar "emburrados"... 

Infelizmente, os “cristãos” da era digital, nem mesmo escondem sua insurreição ao não desejarem ser selados pela renuncia de si mesmos a fim de serem montados pela Soberana Vontade de Deus na humildade de Cristo Jesus.

Ao invés, querem esses “cristãos” de palcos teatrais montarem eles próprios na Glória de Deus, para domar o Cristo a fim de fazer-Lhe Servo dos seus interesses mundanos...

Me desculpem... mas isto é o cúmulo da “burrice” no mais profundo e pejorativo sentido pagão, oposta à "burrice" santa e cheia de virtude do Evangelho!

Ainda bem que Deus é Pai Misericordioso de filhos pródigos... embora, tristemente, nem todos filhos sejam pródigos de Pai tão Misericordioso!

Donde resta lamentar o real e efetivo risco de danação a que se expõe, o "cristão" de hoje, seguindo essa espécie de "cristianismo"...

A "santa burrice", legitimamente compatível com a alegoria teológica do Evangelho (no sentido de humildade serviçal), bem ao contrário dessa abominável prática que toma o Nome de Deus em vão, levaria o bom cristão, "burrico de Deus", a proceder como aquele outro burro da idade média, aquele que Santo Antônio mandou deixar três dias sem comer, o qual, mesmo com fome de animal irracional, preferira ajoelhar-se diante do Santíssimo Sacramento a comer feno...

Por último, uma importante consideração a ser feita sobre o Evangelho do Domingo de Ramos, segundo o texto grego seguido pela Tradição Bizantina.

Se a postura crítica desta “provocação” – sempre no sentido de motivar o melhor da reflexão – parecer demasiadamente retórica para os brios das pessoas “politicamente corretas”, então, nada melhor que o versículo 18 do Evangelho do Domingo de Ramos, que conclui a proclamação do Evangelho de São João capítulo XII:

“Por isso o povo lhe saía ao encontro, porque tinha ouvido que Jesus fizera aquele sinal.” (Jo XII, 18)

Que sinal?!

A ressurreição de Lázaro!

Foi só por causa da medíocre necessidade de sinais, e não por outra razão mais egrégia, que lhe estenderam mantos a fim de forrar - ao menos - as patas do jumentinho, "filho de uma jumenta", que O carregava montado...

Note-se que o Corpo Santo de Cristo não tocou o manto desta gente (tais mantos foram tocados tão somente pelos cascos do jumentinho).

Os donos de todos aqueles mantos estendidos na entrada de Jerusalém, tendo gritado hosana na euforia de “fazer” do Cristo Deus um rei com os parâmetros deste mundo, tão logo não obtiveram êxito no correr da mesma semana, não “mudaram de manto” para mudar de grito: “Crucifica-O! Crucifica-O”!

Em verdade, em verdade, os únicos mantos que tocaram o Santo Corpo de Cristo Deus foram os dos Apóstolos: “Trouxeram a jumenta e o jumentinho, cobriram-nos com seus mantos e fizeram-no montar.” (Mt 21, 7).

O que isto significa?

Para saber qual a “provocação” advirá desta outra questão, a da distinção entre os mantos estendidos ao Cristo Deus no Domingo de Ramos, aguarde a Parte II desta publicação, quando também discorreremos sobre as 3 "burrices" (no sentido popular pagão e pejorativo) não compatíveis com a "santa burrice" do Evangelho (no sentido de reta superveniência à Vontade Divina), as quais pretendendo-se “cristãs” se insurgem contra a Ordem Divina no âmago da Igreja do Cristo Deus...

Até lá, reconheçamos humildemente a cavalgadura hostil da nossa Fé em Cristo Deus e peçamos-Lhe a Graça de nos convertermos em verdadeiros cristãos, isto é: jumentinhos despojados da vontade própria e prontos para carregar em si a Vontade de Deus!

Fazei de mim, Senhor, um "burrico de Deus"!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

sábado, 16 de março de 2013

DIAS DIFÍCEIS???


Em todas as épocas pessoas de fé e boa vontade tem lá suas honestas razões para exclamar: VIVEMOS TEMPOS DIFÍCEIS! DIFICÍLIMOS!!!

E o fazem com justa medida de coerência e verdade!

Cada época, referenciada a partir de tempos que passaram e que construíram tradições louváveis, cumpre esta sina que é, a um só instante e sem ambiguidades: de um lado cíclica, na medida em que se repete de tempos em tempos, e, de outro, com sua linearidade, na medida em que tudo caminha para uma causa final...

Que isto quer dizer em termos práticos?

Parece-nos que as contradições entre épocas fazem variar com maior ou menor acento a percepção do que não pode jamais mudar, isto é, aquilo que Ireneu de Lion chamava de dogmas imutáveis da verdade (não se trata aqui, estrito senso, de dogmas religiosos, mas da verdade sobre o que quer que seja em sua indefectibilidade, como, por exemplo, o fato de que sempre será dia no ocidente quando noite no oriente - e vice-e-versa -, enquanto houver como tal o sistema solar).

Este fenômeno da história, ou seja, a contradição entre momentos e épocas, distribuem seus acentos de modo diverso. Ora fazem brilhar a força luminosa da verdade com a pujança de seus dogmas imutáveis, ora fazem turvar as sombras escurecidas da dúvida com a truculência de relatividades ditatoriais.

Assim parece perpetuar-se a história rumo a um momento que possa ser derradeiro... com a explosão do sol e o fim do sistema solar por simples mecânica do universo, para os céticos; ou com a intervenção Divina no aguardado do Último Dia, para os que creem.

Importa que a história continua prosseguindo seu rumo, numa direção linear cheia de, por assim dizer, “circunvoluções”...

E se esta dinâmica, por si só, permite a cada época e aos seus interpretes, realizar as devidas hermenêuticas (de ruptura ou de continuidade) com épocas anteriores e tendo em vista as épocas do porvir, então, podemos constatar que as hermenêuticas da história, sobre quaisquer temas - da ciência à religião - têm dois movimentos básicos possíveis: ou se aproximam da  clareza luminosa da verdade ou se distanciam dela adentrando a nebulosidade opaca da dúvida e do anacronismo...

Num ou noutro caso se segue um tremendo fato: a caridade esmorece na medida da grande maioria dos intérpretes e julgadores da história (ou por vezes, maioria absoluta).

A caridade não esmorece apenas quando a força truculenta do relativismo ditatorial quer impor a todos – e a todo custo – uma permissividade liberal que não respeita o direito de se eleger critérios morais que regulem com justiça – humana ou Divina – as condutas dos indivíduos e das coletividades.

A caridade esmorece também quando, em nome da verdade, se quer impor sob pena capital uma conduta única, que prescinda ao direito nato do homem de permitir-se não guiar por condutas morais, ainda que estas sejam inequivocamente nobres. E respeitar este critério de individualidade não supõe fazer apologia a qualquer tipo de anarquismo...

Em outras palavras, valendo-nos do discurso religioso: o Céu existe e é oferecido a todos que o queiram (que são muitos, mas não todos! Eis a razão do pro multis no Ato Litúrgico).

Manter um ser livre, contra vontade, “acorrentado” no Céu, seria mais um inferno para os santos (que aderem livremente às regras do Céu sem protesto e, portanto, não merecem o inferno de nenhum modo) do que para o próprio ente revoltoso, mesmo que o inferno da perfeita ausência de Deus, fora do lugar de comunhão com todos, seja muito, muito, indizivelmente, pior que esta impensável situação...

A Perfeita Caridade arde num infinito amor desejosa de que todos possam chegar livremente ao Dom Total da Salvação livremente oferecido. Mas, arde também numa infinita dor pelo fato de que é possível, sim, que nem todos, embora, muitos, acolham em sua vontade, sua inteligência e em seu livre arbítrio este Dom Gratuito da Misericórdia Infinita de Deus, como Ele estabeleceu, e não como se quer ou se supõe poder usufruir de tamanha Graça.

De fato, para adentrar livremente o Paraíso de Paz que tanto aspira o homem – crente ou cético – há uma Porta! E não se pode entrar pela janela sem ser confundido como assaltante e, por conseguinte, precisa ser devidamente retirado da Casa do Pai por três justas razões: por respeito à Vontade do Pai que foi desobedecida; por respeito aos santos que não podem ser obrigados a suportar perpetuamente junto de si os que odiosamente transgridem a Vontade do Pai; e, por último, por respeito à livre escolha dos próprios entes desobedientes, que não queiram curvar sua vontade de limitada criatura, errante e falível, à Vontade Criadora de Deus, Perfeita, Indefectível e Infalível.

Se ninguém pode ficar perpetuamente obrigado onde não quer - enquanto pode decidir-se antes do fim da história -, por mais infinita que seja a Misericórdia de Deus, a qual não irá acrisolar ninguém junto de si contra a vontade do ente, também ninguém poderá permanecer onde não lhe pertence, agindo à revelia do que fora estabelecido na Casa do Verdadeiro Outro, como se lá lhe pertencesse... 

Ora, o inferno nada mais é do que a casa própria de quem não aceita os costumes da Casa Alheia e comum a todos, na qual ele é só – e tão somente - um convidado...

Se o Céu é a Casa do Pai, que tem o Direito Divino de estabelecer Sua Própria Vontade como costumes para seus filhos, o inferno é a casa de quem tem o direito de, rejeitando os costumes do Céu, edificar para si uma gruta interior segundo os desmandos anárquicos de não observância de regras coletivas, estabelecidas para o bem de todos e não para o bem de "cada si mesmo"...

Portanto, o Céu tem muitas moradas, cada qual na medita da capacidade objetiva e subjetiva de obedecer tais regras que garantem a caridade perpétua entre os que se deixam santificar, quer por via objetiva quer por via subjetiva de obediência...

E o que é o inferno, então, se não um gueto frio, isolado e solitário, edificado pela incapacidade de obediência objetiva ou subjetiva àquilo que de per si transcende o Ser?

Que é o inferno, senão um amontoado de desculpas, objetivas ou subjetivas, seja em defesa do que é certo ou em defesa do que não é, para não submeter a vontade a uma razão nobre ou deficiente que venha totalmente de fora do próprio eu (onde reina absoluto o amor próprio)???

Há quem “virtuosamente” defenda “com unhas e dentes” o que se deve obedecer sem considerar também como se deve obedecer. 

Acaso foi o conteúdo do “fruto do conhecimento do bem e do mal” que causou a ruptura (desligamento, daí a necessidade de religare=religião) entre a amizade íntima do homem com Deus ou, antes, fora o simples fato de não cumprir a regra da Casa, da Casa do Pai, que fez o homem abandonar-se à perdição da própria sorte?

Portanto, para confusão dos que supõem que basta obedecer à verdade sem levar em conta critério da caridade, tanto quanto para tumulto interior dos que acreditam que basta “viver” a caridade sem obedecer à verdade, uma exortação da parte de Deus: o inferno é a casa tanto daqueles que negligenciam a verdade em nome da caridade segundo regras próprias e particulares, quanto daqueles que ignoram (no sentido de não conhecer, embora sejam capazes de saber) a caridade em nome da verdade que supõe conhecer, quando de fato, apenas dela sabem por acumulada erudição conceitual.

Será que para ser um bom católico, ao aplicar a verdade sem caridade - ou com critério próprio de caridade -, basta obedecer o que corretamente se crê, contra tudo e contra todos, em nome de Deus, prescindindo objetivamente da indefectibilidade visível que este próprio tipo de cristão afirma existir na Igreja de Cristo através do conjunto da Fé, a saber: Escritura, Tradição, Dogmas, Hierarquia que inclui a visibilidade de um Ministério Petrino de Unidade, que serve à Providência Divina, mesmo agindo aparentemente em equívoco?

Será adequado a um cristão legítimo a postura de “assentar-se no trono” da verdade, ocupando o lugar que só cabe a Deus, para julgar moral e doutrinariamente aqueles que possuem Ministerial Autoridade Eclesiástica, valendo-se de critérios sutilmente dissimulados, do tipo: não cumpro objetivamente obediência à tal Autoridade Constituída, porque ela não cumpre obediência à linha ininterrupta de Autoridades a quem sucede? 

Isto não será simplesmente um subterfúgio da alma que não se enxerga protestando na parte mais escondida de seu próprio ser???

Na prática isso soa assim: obedeço objetivamente a tal Autoridade constituída sobre mim, somente se ela obedecer tal e tal Autoridade da linhagem de sempre a que ela está obrigada a suceder...

Ora, isto não é uma maneira subjetiva e dissimulada de, no fundo no fundo, dizer “não servirei” no exercício objetivo da obediência que todos devemos praticar para entrar pela porta na Casa do Pai, cuja regra de comunhão entre filhos santos é obedecer para sempre tudo o que Deus pode decidir sem deliberar com quem quer que seja e sem contradizer a Si mesmo, ainda que providencialmente permita o mal para confundir os dois tipos de espíritos orgulhosos?

Quais tipos de espíritos orgulhosos?

O primeiro tipo: aqueles que ao extremo da esquerda de Deus, contestam objetivamente a Deus - e ao que Ele instituiu em favor dos homens - supondo estar, assim, obedecendo a algum tipo pretenso e irreal, por assim dizer, de união hipostática imanente (uma espécie de pretensa união íntima e substancial da natureza pessoal do ente individual com a natureza Verdadeiramente Humana Jesus Cristo).

O segundo tipo: aqueles que à extrema direita de Deus, contestam subjetivamente a Deus – e às Autoridades por Ele constituídas – acreditando veementemente estar, deste modo, obedecendo a algum tipo, igualmente falso e irreal, de pretensa união hipostática transcendente (união íntima e substancial da natureza pessoal do entre individual com a Natureza Verdadeiramente Divina de Jesus Cristo).

O primeiro caso favorece a heresia, que separa o crente do Corpo de Cristo, por acreditar numa interpretação diferente e mais adequada da doutrina oferecida pela Igreja.

O segundo caso favorece o cisma, que separa o crente do Espírito de Cristo, por acreditar numa interpretação tão inamovivelmente estática da Tradição oferecida pelos Magistérios anteriores, a ponto de justificar a não obediência objetiva do Magistério atual, sob a pretensão de certeza de foro íntimo de que este não dá continuidade àquele. 

Todavia, reserva-se à consciência, desde que com discrição e devida veneração às autoridades constituídas, não obedecer ensinamento moral e doutrinário diverso do Magistério Imutável da Igreja. 

Mas, registre-se: NÃO SE DISPENSA EM NENHUM CASO, A OBEDIÊNCIA DISCIPLINAR BEM COMO A REVERÊNCIA PÚBLICA E PRIVADA À AUTORIDADE CONSTITUÍDA. Do contrário, aplique-se a regra Paulina imprecada em Romanos 13. 

Considerando os dois casos anteriores no que diz respeito ao orgulho espiritual, vejamos, pois, o que segue: 

- no primeiro caso temos um protesto explícito contra a Autoridade Constituída, embora se conservem os vínculos eclesiais. Aqui, onde ainda que não haja uma ruptura visível, este mecanismo interno faz o indivíduo ou o grupo tender para heresia; 

- no segundo caso do espírito orgulhoso temos um protesto implícito contra a Autoridade Constituída, ainda que se pareça lutar em favor dela ao se reclamar a legítima continuidade histórica, justificando-se aqui e acolá a ruptura dos vínculos externos visíveis pela manutenção daqueles vínculos invisíveis da unidade. Este mecanismo interno faz o indivíduo ou o grupo tender para o cisma.

Em ambas as dinâmicas da consciência, o que sucede de fato é uma divisão interior, que faz supor que a própria lógica e clareza analíticas do indivíduo - ou da pequena coletividade inclinada às tais modalidades de protesto - são o parâmetro mais seguro para testificar a verdade...

Ao centro, dos dois extremos de desobediência humana elencados acima, está a Reta Obediência de Cristo, Única Pessoa que possui em Si mesmo a Perfeita União Hipostática entre duas Naturezas que lhe são próprias: uma, a Verdadeiramente Divina, que recebeu do Pai por geração consubstancial, na Unidade de Espírito com o Santo Espírito; e outra, a verdadeiramente Humana, que tomou para Si, por Vontade do Pai e por Obra do Espírito Santo, no Seio da Santíssima Virgem Maria.

Misticamente unidos - por participação - nesta Vida Divina do Filho Unigênito de Deus, de modo verdadeiro e pleno em caridade, estão os santos, isto é: nem aqueles que ficaram “caridosamente” (por algum tipo qualquer de idolatria) à esquerda da Verdade, contra a Vontade de Deus em favor das criaturas; nem aqueles que ficaram “verdadeiramente” (embora de alguma forma misteriosamente mentirosa) à extrema direita da Caridade, contra a Vontade de Deus em favor da Lei aplicada com empáfia puritana contra as criaturas...

Duras estas palavras?

Mais que duras elas são intoleráveis para quaisquer dos dois espíritos incautos elencados acima.

Todavia, para os que retamente obedecem no íntimo de suas almas, mesmo que às vezes pareçam desobedecer, sujeitos que estão à terrível pujança da força do pecado, cuja recorrência é diuturna na alma humana em razão da concupiscência que permanece mesmo depois do batismo e de sucessivas confissões sacramentais, tudo isto, ao contrário de ser intolerável, é refrigério legítimo, pois que estes que acolhem o Consolo Divino e a Graça Santificante, pecadores como todos os demais, não fiam somente em si próprios e na presunção lógica de suas próprias inteligências, vontades e livres exames de consciência... 

Estes últimos, que sem quebrar por nenhuma modalidade de desobediência, direta ou indireta, objetiva ou subjetiva, submetem-se, sem reservas, às mediações estabelecidas por Deus, ainda que sejam ministradas por outros pecadores vacilantes e falíveis, quer em matéria moral, quer em matéria doutrinária, habitam já, hoje, agora, na peregrinação terrestre as primícias do Céu... 

Afinal, os Sacramentos por estes homens transmitidos, não trasportam a opinião concordante ou discordante daqueles que as transmitem, antes, transportam a Graça oferecida por Deus em favor de todos quantos queiram, ou seja, muitos que obedientemente aceitam...

Os que sentirem paz em seu espírito com o impacto destas palavras, são aqueles que apropriadamente desconfiam de si próprios em medida justa o suficiente para fazerem-se obrigar-se à Igreja e às Suas Autoridades constituídas. 

E isto vale mesmo para TEMPOS DIFÍCEIS em que a Providência Divina, por Desígnio de Deus, faz este Mistério escapar aos mais doutos e santos homens... quanto mais escapa primorosamente à multidão incontável de "camundongos" de sacristia, os quais sem assistência da Graça Ministerial, ajudam a roer - pensando ter habilidade para costurar - o que resta das vestes litúrgicas carcomidas pela geração do elevado amor próprio...

Pois é Deus, e somente Deus, que servindo-se dos males que permite que invadam o mundo a ponto de adentrar como fumaça às Portas da Igreja (cf. Paulo VI), pode permitir a temporária agonia da Cruz, com o fito de fazer brilhar, na sequência dos fatos que se seguirão linearmente na história, a inconfundível Glória de Deus, e somente de Deus, que faz da Ressurreição a Devida e Justa exaltação de Sua Própria Glória!

Quem pensa que poderá tirar uma casquinha desta glória para si, fazendo uso em defesa veemente quer do Carisma quer da Tradição, ambos pertencentes não aos entes, mas à Igreja de Cristo, pode "tirar o cavalinho da chuva", pois do contrário, irá escorregar na sela molhada pela chuva de contradições e, no final, cairá dele... tomara Deus, caia para finalmente se converter à Verdade na Caridade!

Àqueles que, ao contrário de sentirem paz em suas almas, ficarem perturbados ou incomodados com a “violência” destas palavras, aconselho que procurem um Sacerdote de Jesus Cristo, validamente ordenado por qualquer Rito Católico (se for fiel católico) ou Ortodoxo (se for fiel ortodoxo) para que possam com sinceridade interior reconhecer e confessar sua presunção intelectual ou, ainda mais grave, sua presunção espiritual.

E digo mais...

Pode procurar mesmo o pior padre da terra, quer em matéria moral, quer em matéria de doutrina, pois, o pior dos padres poderá absolver sacramentalmente todos os mais puritanos "defensores da fé" de seu orgulho espiritual, que está entre os maiores pecados que se pode cometer contra Cristo e Sua Igreja; e, por outro lado, a oração mais fervorosa, dirigida em conjunto pelos mais puritanos "defensores da fé", jamais poderá absolver sacramentalmente um único pecado, nem mesmo o menor pecado. 

E tudo isto considerando que Deus permitiu a sombra da Apostasia varrer a face da terra nos últimos cinco séculos da história, em que o protesto contra Deus e contra o que Ele instituiu, já não é mais exclusividade dos que se separam visivelmente da Igreja (cismáticos e hereges), mas, sobretudo, dos que se mantém no interior dela, com grave dose de ignorância da Verdadeira Caridade e da Caridosa Verdade, adoecidos na alma com as certezas de seus livres exames sem se perceberem intimamente revoltosos como semi-cismáticos e semi-hereges, ainda que ligados sacramentalmente à Igreja de Cristo pelo lado esquerdo ou pelo lado direito de Sua Divina Chaga Aberta pela presunção do homem, orgulhoso e desobediente.

Digo assim porque, embora tudo pareça ruir e desmoronar diante dos nossos olhos, em tempos TÃO DIFÍCEIS como jamais parece ter havido antes ou haverá depois (cf. capítulo 13 de São Marcos), uma certeza permanece: “no final, o Meu Coração Triunfará”, prometeu-nos a Virgem em Fátima, referindo-se a alegria de ver finalmente a derradeira Vitória Gloriosa de Seu Filho sobre a história da humanidade, recorrentemente repleta de incautos "seguidores" mais à esquerda ou mais à direita, velados ou explícitos.

Para os que creem verdadeiramente, este Triunfo não é um fato do por vir tão unicamente. Como não é um fato que já veio, derradeiramente... é um fato que continua vindo, todos os dias, até o último, continuadamente!

Razão pela qual nada lhes rouba a Paz que vem de Deus!

Razão pela qual obedecem – com disciplina e na disciplina - as Autoridades Constituídas, mesmo que elas aqui e acolá teimem e desobedecer o que sempre foi obedecido, ainda que à força do martírio sofrido, jamais provocado...

Razão pela qual amam a Deus, não obstante o silêncio tremendo de Deus, em TEMPOS TÃO DIFÍCEIS...

Razão pela qual seguem amando os homens, não obstante deles recebam tão odiosa rejeição a este “amor sem limites e sem julgamentos”!

Razão pela qual amam os Papas e os Hierarcas da Santa Igreja de Jesus Cristo, não obstantes eles possam tropeçar na própria concupiscência moral ou doutrinária, redundando no pecado movido por uma apostasia que só faz crescer na sequência dos séculos, até o ponto em que, a Igreja, embora permanecendo indestrutível e indefectível, seguirá Seu Senhor em Sua Paixão, Morte e Ressurreição!
Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN