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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Carisma, Poder... e Obediência! – Parte I

Agora sim... a partir desta “provocação” reflexiva, começaremos a colocar - para valer - o “dedo na ferida”, como diz o povo...

Se já havia grande chance de nossas “provocações” causarem mal estar, haja vista a postura da atitude “politicamente correta”, que procura evitar polêmicas e textos cujos conteúdos possam parecer “irritantes”, doravante, com esta “provocação” - Carisma, Poder... e obediência! - dificilmente retornarei ao lugar de sossego, para ter onde recostar a cabeça...

Antes de mergulhar no âmago da polêmica, vamos a um mínimo de eventos históricos. Não se pode compreender com propriedade a realidade de um fato - ou mesmo de um pensamento - sem conhecer o contexto histórico em que ele existe.

Nasci em 1968. Na primavera. Ano em que faleceu um dos últimos grandes santos da Igreja de nossos dias: São Pe. Pio de Pietrelcina.

Exatos quarenta anos depois de atravessar um longo deserto existencial, e após completar o primeiro ano de sacerdócio, eu alcancei, em 2008, a jamais imaginada Graça de visitar Roma, a Terra Santa e Pietrelcina, dentre outros importantes lugares Santos.

Olhando agora para aquele roteiro, é que percebo como fui congratulado pela mercê Divina. De fato, ele contemplara todos os lugares que me são muitíssimo caros, além dos acima mencionados (Fátima, Cássia, Assis, etc), por uma série de importantíssimas “notas de rodapé” que dão algum sentido efetivo à minha insignificante - e intrigante (para mim e para tantos outros) - história de vida.

Como dizia, em outubro, primavera, vim ao mundo num difícil parto por fórceps (cf.: O lugar da auto piedade...).

Foi na maternidade de Santa Terezinha que, pela primeira vez, abri os olhos para o mundo, após ter enfrentado aquela necessária sessão de tortura existencial, que considero como sendo a número um, de muitas outras que se seguiriam ao longo dessas quatro décadas... todas, naturalmente, patrocinadas pelas circunstâncias históricas, numa formidável guerra entre a Providência Divina e o Mistério da Iniqüidade.

Não sou o único a viver este drama, a ponto de considerá-lo em tão intensas medidas metafísicas...

Aliás, penso que todos estão inseridos neste processo, todavia, são pouquíssimos que consideram a vida suficientemente importante, para fazer seu significado ultrapassar as fronteiras do próprio umbigo... ou do estômago... ou do bolso... ou das genitálias... enfim...

A vida é um Dom que transcende aos limites da própria história, mas é preciso amá-la como sendo este Dom sublime, excelso, inebriante...

Mesmo que se atravesse a história tão mediocremente como eu, juntando respigas que caem da mesa alheia, a vida não perde seu brilho... e sendo assim, a gratidão pelo existir é sumariamente maior que os infortúnios cotidianos...

Mas tudo isto começou no coração de Santa Helena (cf. Uma visita de Santa Helena), ou melhor, do Santa Helena, bairro onde nasci e cresci. O Santa Helena fica cravado ao sopé do morro do Cristo, num município imbricado nas montanhas mineiras chamado Juiz de Fora, a seiscentos e poucos metros acima do nível do mar, e que dista menos de 200 km das praias cariocas...

Talvez seja, por conta desta localização semi litorânea, que, aqueles que estão localizados no semi sertão do Estado (nada contra o sertão. Bem ao contrário: impacto-me com a diversidade que foge ao domínio do meu habitat), há quem (por despeito?!) diga que somos “cariocas do brejo”...

Ops! Desculpem. Na verdade não sou tão bairrista como meus conterrâneos... mas, escapou... nós mineiros somos cheios de adágios... e não é verdade que o “costume do cachimbo entorta a boca”?!...

Meu berço é terra com peculiaridades históricas que lhe valeram o nome Juiz de Fora, devido a um Magistrado nomeado pela corte para resolver as querelas locais à época do Império.

Creio que herdei essa mania de colocar o juízo de fora para convocar o Verdadeiro Juiz de Fora. No caso em questão, não magistrados civis, militares ou eclesiásticos... Mas a própria Magistratura Divina, confiando tão somente a Ela os desdobramentos dos meus pequenos esforços de existência...

Vamos ver no que isso vai dar...

Essa terra conta também com proezas políticas que, até hoje, deixam de “orelha em pé” ou “queixo caído” – como queiram - os mestres articuladores responsáveis pelos bastidores da política no cenário nacional.

Isto acontece por estas bandas desde aquelas antiqüíssimas manobras e articulações dos inconfidentes, feitas à surdina, e cujos únicos sobreviventes fundaram o município de Piau, a 42 km de Juiz de Fora.

Além do que, o famoso “bode expiatório” da Inconfidência Mineira, o “boquerroto” Tiradentes, possuía uma sesmaria no entorno do então município de Santo Antônio do Paraibuna (primeiro nome do vilarejo que veio a se chamar mais tarde Juiz de Fora), há menos de 50 km do centro da cidade.

Este tenente, ao invés de grande herói, é conhecido por versão não oficial da história regional como bêbado que falava demais, colocando em risco as conspirações maquinadas por certos dignitários ilustres do Poder. Não nos esqueçamos que nesta época o Poder e o Carisma estavam amalgamados às sociedades maçônicas. Desde eclesiásticos até o próprio Imperador, quase todos participavam de alguma sociedade burguesa com vínculos, em alguma medida, secretos.

Depois de morto, esquartejado e de ter seus pedaços pendurados em postes como advertência, para sufocar o movimento inconfidente – ou para esconder os verdadeiros articuladores da causa que, do ponto de vista da coroa, era alta traição - os partidários sobreviventes fugiram para as margens do rio Piau...

Papai nasceu lá, em Piau... será que tenho sangue de “boquerroto”?!...

Seja como for, verdade, uma vez mais, seja dita: não será por poucas proezas que Juiz de Fora haveria de se tornar - poucas décadas depois de começar a colocar o “juízo de fora” com seus feitos peculiares - o principal município da Zona da Mata do Estado.

Não é conto da carochinha – Monteiro Lobato não é daqui, é de Taubaté-SP. Aqui é terra de Murilo Mendes – mas, a trilha de rastros nos feitos épicos de Juiz de Fora, não é pequena...

Antes do Império terminar seus dias, questões como a inconfidência, bem como os bastidores do ideal republicano, eram discutidos cá, vértice de dois importantes escoadouros da riqueza extraída pela coroa portuguesa, num momento em que o Estado de Minas Gerais era peça chave na política econômica.

Do sul de Minas vinha, para tomar o Caminho Novo, o café para exportação. E do circuito do ouro vinham cargas de pedras preciosas para abastecer a Coroa portuguesa. De modo que os principais produtos da economia nacional neste período passavam às margens de Juiz de Fora, através da nova Estrada Real, chamada Caminho Novo.

O café e o ouro – duas das principais fontes de riqueza deste período - encontravam-se, por assim dizer, num entroncamento às margens do município, onde passava a Estrada Real. E, por aqui, seguramente, a burguesia dos dois caminhos de riqueza, não satisfeita com os rumos do poder imperial, devia “cochichar” idéias conspiratórias, já que elas existem em todas as épocas e em todos os lugares. Aqui era só um desses lugares privilegiados pela geografia vicinal.

A falta de maior pesquisa ou evidência de registros históricos pode ser largamente compensada, em boa medida de sensatez, pelos feitos singulares que a “casualidade” forneceu ao município.

Depois da desapropriação das sesmarias de Tiradentes e da fuga do restante dos inconfidentes para o que hoje é Piau, as caçadas promovidas pelo Imperador Pedro II, aqui em nossas montanhas, deviam manter aceso o fogo das conversas de bastidores sobre novos rumos que a grande “ex”-colônia portuguesa precisava tomar.

Os resquícios desta freqüência imperial às margens do Paraibuna se encontram, hoje, num amplo acervo no Museu Mariano Procópio. Alguns autores referem-se a este período regencial de Dom Pedro II como sendo a primeira experiência republicana do Brasil, visto que os governadores dos Estados já eram eleitos.

Não é objetivo nosso adentrar os porões da história para trazê-la à baila aqui, neste contexto de “provocações” do pensamento.

Contudo, fato é: a República emplacou e o Império sucumbiu, tudo sob as barbas da Casa Imperial. Enquanto nos bastidores da República, os seus mentores, aguardavam época oportuna para fazer valer seus intentos, o município de Santo Antônio do Paraibuna, emancipado de Barbacena em 1850, já iniciava sua carreira de pioneirismos fazendo uma curiosa síntese prática entre o espírito sociológico da revolução francesa e o espírito capitalista da revolução inglesa.

Às margens do caudaloso rio de águas republicanas, ainda não desaguadas no oceano da formalidade federativa, Juiz de Fora vai se tornando centro de referência industrial e uma das primeiras cidades a importar máquinas inglesas, instalando a primeira Multinacional do Estado de Minas Gerais, o que lhe conferiu o título de “Manchester Mineira”.

Curioso destacar a “coincidência” de que no mesmo ano de 1889, em que a República fora proclamada no Rio de Janeiro, aqui, os “cariocas do brejo”, inauguravam a primeira grande Usina Hidrelétrica da América do Sul (Usina de Marmelos).

Antes deste portentoso feito, outro não menor fora patrocinado pelo Engenheiro Mariano Procópio, em 1961: a construção da primeira rodovia asfaltada do País, a estrada União Indústria, que com seus 144 km de extensão ligara Juiz de Fora, Petrópolis (sede do Império decadente) e Rio de Janeiro (sede da Nova República emergente).

Também aqui aportaram os primeiros protestantes de Minas Gerais, com a chegada dos imigrantes alemães em 1858.

Tudo isto demonstra a participação de Juiz de Fora na ponta de lança do novo processo político-econômico, em vias de plenificação com a consolidação da República. Desde a emancipação, portanto, o município é pró ativo no espírito do desenvolvimentismo, fruto da revolução industrial de acordo com o modo de produção, apontado por Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo.

Mas, se de um lado, o pioneirismo juizforano caiu nas graças do modelo revolucionário industrial inglês, emergente da segunda metade do século XVIII e que encontrou solo fértil no Brasil com a Proclamação da República no século XIX (mesmo período da ascensão municipal); de outro, fica certa impressão de que alguns setores expressivos da comunidade local sempre se alinharam e pareciam se pautar pelos galanteios ideológicos do modelo revolucionário social francês.

Bem... ao menos os anais da história eclesiástica não nos deixam mentir, especialmente quando o assunto é o antigo movimento da anti-romanização.

Que, todavia, a cidade tem um perfil iluminista, ninguém que tenha o juízo intelectual no lugar (mesmo que estando de fora do nosso contexto), pode negar...

Recordemos, ainda, a força política de bastidores exercida no cenário nacional, enquanto a cidade ia de vento em polpa nos negócios da economia industrial e do ciclo do café, visto que aqui fora um importante pólo de manufatura e distribuição cafeeira. Isto até chegar a crise de 1929...

Indo direto ao assunto: quem foi um dos principais líderes da revolução de 1930 e grande responsável por colocar no poder Getúlio Vargas?

Foi um personagem que sedimentou sua carreira política primeiramente como vereador e depois como prefeito de Juiz de Fora, onde fora professor da Academia de Comércio e fundador do importante jornal da época (Diário Mercantil). Estamos falando de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Tudo isto antes de ser Presidente do Estado de Minas Gerais e um dos principais articuladores do golpe de 1930, que levou Getúlio Vargas a Chefe de Estado.

Anos mais tarde, com o golpe do Estado Novo, este político de Juiz de Fora, nascido em Barbacena, decepcionado, abandonou a política. Esta crise política somada à grande crise econômica de 1929 e às dificuldades internacionais de um período entre guerras mundiais, entre tantos outros fatores abrangentes e localizados, trouxeram para Juiz de Fora, com a terrível crise do café, um baque primoroso no seu processo desenvolvimentista.

Só a partir dos anos cinqüenta (séc. XX) é que Juiz de Fora volta, pouco a pouco, a se desenvolver.

Mas, a vocação para participar das grandes mudanças de paradigma na política nacional, não desaparecera com os anos de dificuldade. Apenas hibernara com a retração econômica. De fato, o urso entra para caverna e hiberna no inverno, para poupar energia em período de escassez.

Sem perder o traquejo político nas grandes questões nacionais, e de novo nos bastidores dos ânimos acirrados, a Ação Católica e os frades dominicanos residentes em Juiz de Fora, se alinhavam na perspectiva à esquerda, em pleno auge da guerra fria, quando falar em Paz, segundo Thomas Merton, correspondia a ser tachado de comuna.

E isto era compreensível, afinal, o mundo inteiro saíra derrotado com a destruição da Europa causada pela segunda guerra. O planeta de então, dividido em dois eixos, comportou-se esquizofrenicamente: o ocidente capitalista isolou Cuba como inimigo em território amigo; e o oriente comunista isolou o Japão em igual medida.

Enquanto grupos intelectuais em Juiz de Fora cultivavam sonhos libertadores em medida revolucionária, o que acontecia na outra ponta do cipó?

Isto mesmo... a 4ª Região Militar coloca os tanques nas ruas e, da Praça Antônio Carlos, parte para tomar o Palácio da Guanabara, cruzando aquela que fora a primeira rodovia asfaltada no País... a Estrada União Industria.

Uma vez mais a cidade ficou marcada com sua participação ativa na mudança da cena do Poder nacional.

Novas décadas de marginalidade pairavam sobre o Morro do Cristo, devido ao fato, talvez, de ter colaborado de alguma maneira – mais uma vez - num golpe de Estado em nível nacional. Juiz de Fora retornara com isto, nos anos que se seguiram, ao seu corriqueiro ostracismo sem, contudo, perder sua pompa, garantida na nova fase - a partir da década de 70 - como pólo estudantil. Atualmente Juiz de Fora conta com mais de 12 Universidades e Centros de Ensino Superior, além da Universidade Federal de Juiz de Fora, com uma população de universitários na casa de 50 mil estudantes.

Também, apesar do mal estar deixado pelo golpe de 64, Juiz de Fora conseguiu transformar-se num modelo padrão de cidade grande com excelentes níveis de segurança pública. Apesar de grande é uma cidade tranqüila, pacata.

Vanguardista e metropolitana no espírito. Conservadora e interiorana nas tradições.

O juizforano, como todo bom mineiro, é desconfiado, mas acolhedor como bom carioca da gema, apesar de ser tido do “brejo”. Esta é minha parca opinião como juizforano.

Para encerrar este cenário introdutório sobre as nuanças de Carisma e Poder... e obediência!, saltemos rapidamente para a nova virada radical no cenário político do País.

Em 1988 promulga-se a Carta Magna na Assembléia Constituinte Nacional, e o regime militar é banido do Palácio do Planalto com carnaval e júbilo de toda nação aos gritos de diretas já! Quem não se lembra?! Ou não tendo idade para tanto, não ouviu falar?!

Após o governo de transição do Sarney, numa mega campanha nacional pela moralização do País, quem foi que deu lastro político para eleição collorida?

O topete de um mineiro - uma vez mais não nascido em Juiz de Fora - mas, juizforano na alma: Itamar Franco.

A desconfiança levantada pelo garotão esportista Fernando Collor, candidato à Presidente da República, foi resolvida pela credibilidade sóbria de um Mineiro respeitado por sua coerência política e probidade na vida pública, apesar do topete que serve de anedota para a imprensa em geral.

E foi ele quem, muito mineiramente, assistiu seu presidente ser caçado pela nação verde-amarela, para tomar posse e presidir por dois anos o Brasil, em nova transição, desta vez, através de um golpe midiático contra o Presidente global que ia caçar marajás... se não fosse, antes, cassado como marajá...

E entre todos os grandes marajás que o Brasil inteiro acreditou que seriam punidos, foi caçado o menor... por causa de um Fiat Elba e uma sobra de campanha de 5 milhões (se não me falha a memória)...

Valor este que não serve nem para gorjeta se forem considerados cada um dos mais de 165 (CENTO E SESSENTA E CINCO) escândalos oficiais registrados no Governo Federal após o Governo Collor... sendo os mais graves aqueles ocorridos entre os anos de governo dos companheiros da Teologia da Libertação...

... vai entender como isto funciona...

Mas, Juiz de Fora, sempre atingida pelos desdobramentos do Poder e do Carisma, não perdeu sua elegância...

Na linha desse vanguardismo, vou procurar apresentar, ainda, três últimas participações de Juiz de Fora que também podem ser consideradas pioneiras, dentro do enfoque que pretendo dar.

Em meados da década de 90, Juiz de Fora realizou um feito singular, esperando finalmente emplacar seu desenvolvimento iniciado um século antes, quando fora a primeira cidade mineira com Multinacional, Usina Hidrelétrica, rodovia asfaltada, etc. Antes de virar novo século, a antiga Manchester mineira resolveu se tornar a nova Stuttgart mineira e entrou para valer na competição do disputado mercado bilionário das montadoras de automóveis.

E o fez em grande estilo.

Conseguiu obter da gigante alemã, a montadora Mercedes Benz, o curioso feito de ter a primeira unidade de fabricação de automóveis de passeio, fora de solo germânico...

É... Juiz de Fora carrega a sina do pioneirismo, não há como negar...

Estamos quase chegando lá onde nos interessa... Carisma e Poder... e obediência!...

Para entrar adequadamente no miolo da questão, eu precisava, como disse nos primeiros parágrafos desta “provocação”, fazer uma rapidíssima análise de conjuntura dos ares de Juiz de Fora, a um só tempo desenvolvimentista e iluminista.

“Apertem os cintos” que deste parágrafo para diante o “caldo vai engrossar”...

E foi aqui, no ambiente recolhido e agradável de uma granja em Juiz de Fora, que nas décadas de 70 e 80 o famoso teólogo da libertação, compôs o seu mais reacionário livro contra a instituição Romana, intitulado Igreja: Carisma e Poder.

Será que por causa dos ares iluministas trazidos pelos ventos de Marselha? (Já ouvi dizer que uma corrente de ar “liga” Juiz de Fora, no Brasil, à Marselha, na França).

Seja como for, foi aqui que o teólogo tupiniquim “metido a boi de cem contos” veio compor seu hino teológico no estilo revolucionário a La Marseillaise... contra a Igreja Católica...

Os que lhe prestaram - e teimam em prestar-lhe - abrigo ideológico vão insistir em dizer que não foi contra a Igreja Católica que escrevera, mas, sim, contra a Igreja Romana...

Mas eu pergunto: há diferença entre Uma e Outra Coisa?

Que Juiz de Fora tenha culpa objetiva no pioneirismo que neste caso é pretendido pelo próprio autor, não nos cabe acusar. Até porque, apesar do autor demonstrar com tal conteúdo ser um frade com o juízo de fora, ele não é de Juiz de Fora. Só veio compor seu hino herético aqui, certamente junto a grupos solidários...

Há um Juiz do Alto, que estando de fora dessa problemática, julga tudo inequivocamente... e justifica também os injustiçados... pois que, uma vez mais, a comunidade eclesial daqui pode ter se tornado alvo de eventuais desconfianças, como se avalizasse uma nova anti romanização...

Que há certamente muita gente de expressão comprometida com toda esta perspectiva crítica inerente ao livro Igreja: Carisma e Poder, de Boff, isto é inegável. Basta considerar que a Universidade Federal de Juiz de Fora possuiu um respeitável Departamento de Ciência das Religiões alinhado na perspectiva do ecumenismo planetário (também pleiteado por Boff), que na verdade está mais para uma espécie de holismo ou sincretismo religioso, que qualquer outra coisa.

Vale lembrar que tal Departamento foi plantado pelo MEC como protótipo embrionário para desenvolver o modelo em Universidades Públicas, visto que este é o primeiro em Universidade Pública Federal do Brasil.

Não custa recordar também que todos os grandes ismos na história do conhecimento - que perseguiram terrivelmente a Igreja - nasceram, cresceram e se multiplicaram a partir das universidades. Se for este o caso, somente a história poderá se pronunciar, no futuro...

Mas isto não significa de maneira alguma que o corpo eclesiástico da Igreja Particular de Juiz de Fora esteja compactuado com isto. Absolutamente. Supor isto não seria justo nem verdadeiro. Mesmo que possa haver entre os membros do corpo eclesial aqueles que não negam engajamento nesta visão de Igreja e, outros, que embora neguem adesão, escondem sua simpatia.

Na variedade da Igreja há todo tipo de tendência. Desde as mais progressistas às mais ortodoxas. Não é necessário dizer com qual me alinho. Ou precisa?

Assim como a cidade de Juiz de Fora é provavelmente mais vítima das querelas da política nacional, por presença de alguns de seus expoentes (vindos de fora) nos momentos cruciais, como anteriormente apresentamos, que propriamente protagonista, talvez, assim o seja – creio - a Igreja Particular de Juiz de Fora em relação à tal impostura religiosa.

E é lançando um olhar nesta perspectiva de um lugar “injustiçado” pelos encontros e desencontros da história que, talvez, esta minha terra natal seja vítima, uma vez mais, de indivíduos que, vinculados às altas esferas de discussão, acabam se metendo no miolo do nó górdio... aí, já viu né... diz o adágio: “quem se mistura com porco, come lavagem!”... e depois, “até explicar que focinho de porco não é tomada”, pode ser que “a vaca já foi para o brejo”...

Mas, quem sabe o novo pioneirismo de Juiz de Fora, que emerge gradualmente a partir da primeira década do novo milênio, chega como semente de mostarda do oriente para mudar gradativamente esta história de pseudo iluminação vanguardista, a qual, no confronto com a Verdade Eterna, só embaça e ofusca a verdadeira visão que se pode ter do mundo?

Disto começaremos a falar na Parte II desta, que admito, é uma para lá de ousada “provocação” reflexiva...

Fazer o quê? Não me resta muito a perder, logo, pouco me resta a temer no desafio de encarar a verdade que vem à luz com toda sua potência para destruir o poder e o carisma das trevas...

Até a segunda parte, então...

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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