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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Colorindo a vida com canetinha hidrocor emprestada...

Caríssimos(as),

quem já leu alguma de minhas "provocações" do pensamento por inteiro, sabe o quanto costumo ser duro para comigo mesmo.

Por quê? Por gosto pela angústia, sofrimento, ou coisa que o valha?

Ora, isto seria masoquismo, uma doença, portanto.

Por deboche da realidade, às vezes implacável com todos e quase sempre comigo?

Isto seria escárnio e não ironia filosófica...

O que está por trás deste estilo e deste tema recorrente nas minhas medíocres “provocações” reflexivas? A presunção?

Talvez... mas, há presunção efetiva quando se confessa espontaneamente a culpa?

O que penso haver por trás disto é a consequência severíssima de uma oração que fiz com todo ardor da minha adolescência inocente, entre lágrimas quentes e abundantes (recordo-me vivamente até hoje do calor no rosto), de um autêntico desejo de ser atendido na prece:

_ "Senhor, meu Deus, não peço nada material para minha vida. Desejo do fundo do meu coração, com toda força que existe dentro de mim, apenas 5 coisas: honestidade, franqueza, sinceridade, senso de justiça e sabedoria! Concedei-me isto e serei feliz"...

Devia ter uns 13 ou 14 anos quando pedi isto com uma força íntima que não me lembro de ter experimentado – em igual intensidade - uma única outra vez em todos estes 42 anos de vida...

Na minha época de 14 anos, eu era uma verdadeira criança, no sentido de inocência sob muitos aspectos (não todos, devo ser sincero). Fui criado dentro de um apartamento, com o mínimo de contato com a molecagem da rua... molecagem?! Só observava da janela, quando podia acessá-la para fugir da bronca: “menino, sai da janela” (quando pequeno o horror de mamãe era o perigo da queda, quando maior, o horror, era devido a postura: “coisa feia ficar na janela tomando conta da vida dos outros”)...

Ou, a molecagem se resumia ao recreio da escola, nos 15 minutos entre um sinal e outro, em que eu mais observava que participava ativamente (embora fosse muito arteiro, mas, não desobediente, no dizer da mamãe), pois, para participar das molecagens havia um preço a pagar: o de ser sempre o culpado pelas consequências das artes, visto que a corda arrebentaria sempre para o meu lado mais fraco (eu sempre fui o “baixinho” da turma, invocado, mas, de nada adiantava... a corda só arrebenta para o lado fraco...)...

Ou, ainda, era possível fazer alguma molecagem nas férias, na roça, onde não havia moleques, numa fazenda de adultos...

Isto, contudo, não fora obstáculo para moleque arteiro como eu. Só não tinha as “malandragens” da molecada da rua (só algumas)... mas fazia minhas peraltices quebrando as coisas de casa com bolas de meia ou papel... ou chutando qualquer coisa que desse para meter o pé... Também gostava de brincar de rodeio, revezando a montaria com o Cacá (sou o primogênito de 5 filhos. O Cacá era o companheiro mais próximo. Hoje, também padre). Só, que nesta estripulia de hora um era o "cavalo" e outro o "cavaleiro", para convencê-lo de brincar, dava-lhe duas ou três “montadas” de dianteira... o que de nada costumava adiantar, pois que, nada bobo, ele dizia-se cansado da brincadeira após a sua vez de montar... quando chegava a minha vez, nada... mas, também ele devia ter suas provas comigo... tanto que ambos ficamos padres... (rsrs)

Isto para dizer que meu pedido, aos 14 anos, foi profundamente puro no desejo...

Hoje, olhando para o rastro de desencontros causados pelo embaraço da minha postura e das minhas palavras - ou mesmo pelo meu silêncio profundamente expressivo através da minha fisionomia por vezes compenetrada e reflexiva - bate a tentação de um sentimento de arrependimento... será que deveria ter pedido isto com tanta intensidade?

Não porque eu seja honesto, franco, sincero, justo e sábio como se fora alguém virtuoso... mas por haver uma força interna que me escapa à vontade consciente e mesmo o domínio sem fronteiras do inconsciente a me exigir isto sem parar, sem mesmo que eu o perceba... Só percebi agora por causa da extensão e dos desdobramentos das minhas "provocações" reflexivas ou do pensamento...

Estas virtudes, úmidas da Graça Divina, formam um brejo no pó da estrada humana... e se essa umidade é por demais generosa... vira um atoleiro desgramado (no duplo sentido: sem grama e de xigamento mesmo)...

Havia um desenho animado que tinha uma hiena que só fazia a mesma fala em todos os quadros em que aparecia:

_ Ó vida! Ó céus!... – sempre num tom de lamentação...

Ela devia ser uma hiena do Antigo Testamento... Vai ver que eu estou ainda preso a certo hebraísmo na leitura de minha própria história... Tenho mesmo alguma desconfiança de ter ascendência marrana, pelo pouco que pesquisei... O que me alivia é que se não a tinha de fato, por ascendência, a adquiri de algum modo, sorvendo o Cálice com o Sangue Santíssimo de um Deus Encarnado no ventre de uma judia...

O que faço? Uma nova oração – que jamais terá aquela mesma fé pura e ingênua de adolescente – para pedir a Deus de mudar a herança que clamei para minha vida terrena?

Lembro-me da primeira semana no curso de teologia... um desastre... a cada questão que eu levantava, parecia o início da terceira guerra mundial...

Depois de uma algumas semanas de aula, eu mesmo, incomodado por incomodar tanto ao levantar questões que se batiam contra as “certezas” de meras teorias, e cansado de parecer um estorvo pela atipicidade do hábito monástico e pelo vigor das questões levantadas, tomei uma decisão: calar-me, profundamente, num silêncio torpe e oracional...

Solução perfeita?!

Que nada... aquela guerra que já estava por terminar como reação à minha presença, postura e questionamentos sinceros, se desdobrou numa verdadeira confusão quando resolvi me calar tenazmente... já não podiam suportar o meu silêncio... lembro-me que outra aula fora interrompida com todos reclamando de novo... agora, reclamando do meu silêncio...

_ Afinal... o que há de errado comigo?! Respondi – perguntando - atônito... se falo, crio confusão... se calo, a coisa piora?!...

Ainda bem que tive uma verdadeira escola cristã para lidar com a estupidez quase insana da realidade neste mundo cheio de pecados...

Refiro-me à simplicidade da sabedoria do papai, que, ainda hoje, repete sempre:

_ Quero ser o último a ser lembrado e o primeiro a ser esquecido...

Não que eu deseje isto, apesar de ter escolhido o sobrenome onomástico do Último Lugar. Aliás, onomástico este que a poucos instantes renunciei depositando aos pés do meu Arcebispo, visto que reconheci, finalmente, a temeridade do que ingenuamente buscava com reta disposição de alma: ora, o Último Lugar é de Cristo e somente d’Ele... que presunção a minha pleitear uma espiritualidade do último lugar...

Seja como for, não que eu desejasse aquilo que o papai sempre repete com sua simplicidade de alma, mas é que eu apenas via isto acontecer sucessivamente ao longo de toda minha história de vida até aqui...

Quem sabe agora as coisas melhorem um pouco daqui para frente, afinal, ninguém precisa ser tão perfeccionista consigo mesmo e tão cruelmente carrasco com a própria consciência, não é mesmo?!

Vou voltar ao jardim de infância para pegar aquelas adoráveis canetinhas hidrocor e os lápis de 24 cores que eu nunca podia ter, para pintar imaginariamente a realidade com tons chocantes de ilusão e construir um cenário de mentirinhas inocentes, para mim mesmo e para a consciência arco-íris de um paraíso terrestre, baseado na “verdade” dos meus direitos que nunca dantes exigira... até aqui...

Tudo isto é quase uma decisão definitiva. Entre mim e ela só uma coisa: a intervenção Divina!

Que chegue logo, senão, tudo não terá passado de um castelo em tons pastéis de grãos concretos de areia...

Mas, como eu disse, este esboço de rendição, iniciado a duríssimas penas em Fariseu ou Publicano, quem sou? é, ainda, só uma decisão quase definitiva, nos estertores das minhas forças. Pode ser que a intervenção Divina me valha e, neste caso, não haverá outra saída senão aceitar humildemente a Vontade de Deus na manutenção daquelas virtudes pedidas na oração de menino, oferecendo tudo a Deus, até que o último suspiro chegue como um prêmio pelas mãos da Divina Providência, visto que fora dela, ninguém, absolutamente ninguém, possui qualquer direito sobre a própria vida, a qual só é própria no sentido da responsabilidade que ela nos imputa, de resto ela pertence a Deus e somente a Ele!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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