Páginas


Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A crucifixão de um amigo!

Barbaridade... vamos ao núcleo mais forte – sem rodeios ou subterfúgios - da mensagem de Jesus Cristo, o Filho Único de Deus Pai.

Por que Deus desceu à terra para misturar-se ao barro de nossa existência?

Por que o Unigênito do Pai aceitou rebaixar-Se à natureza tão volúvel, incerta e pretensiosa quanto à do homem, especialmente porque o homem tende a crer que seja a sua natureza a única inteligente a existir?

Por que o Todo Justo padeceu na Carne, quando poderia – por capacidade para tal e não por ato de justiça plena – evitar o sofrimento?

Há uma Verdadeira Religião? Por quê?

Todas estas questões não são novas. São recorrentes na história, nas épocas e nas mais variadas circunstâncias do existir.

Mesmo em nossas vidas elas se repetem continuamente. Elas não nos ocorrem uma única vez. Razão pela qual elas serão levantadas mais de uma vez neste blog. E cada vez colocando em relevo um aspecto relativo ao que nos abarca.

Não há como duvidar que, não obstante a insondável multiplicidade dos seres existentes no macrocosmo e no microcosmo e, muito para além da naturalidade, o homem é, definitivamente, o centro do universo.

Não há como não ser.

Não é, todavia, o relato bíblico – crível de fato – pelo que nos diz da imagem e semelhança do homem a Deus (o que por si só seria suficiente para considerarmos a questão), aquilo, contudo, que nos convoca à tamanha interpelação sobre a centralidade do anthropos (homem) no universo.

Pois, para considerar por esta via o magnânimo aspecto da excelência e centralidade do ser humano, requerer-se-ia a Fé, que é um Dom, visto que Deus mantém velada Sua Existência para provar nossa inteligência e liberdade, a fim de verificar o pleno funcionamento de sua Obra Prima: constituída de razão e livre arbítrio.

E não só para prová-la, mas, sobretudo, para desenvolvê-la na perspectiva de uma divinização lícita sob os auspícios da Graça e não presunçosa sob o patrocínio da vaidade e da vanglória.

O que nos interpela à centralidade do anthropos entre o macrocosmo (as galáxias e eventuais formas de vida desconhecidas) e o microcosmo (um universo absurdamente enorme de partículas e seres microscópicos), é a sua tremenda complexidade, numa natureza composta pela soma, por assim dizer, das demais naturezas.

Vejamos o que pode significar esta analogia do homem como soma das demais naturezas...

De fato, assim como todos os demais animais, o homem possui instinto. E, como todos eles, todas as faculdades e aptidões próprias do instinto, com a diferença que mais elaboradas pela influência que o instinto humano recebe de sua própria dimensão psíquica e espiritual.

Noutro aspecto de sua natureza, o homem, como os anjos, possui uma dimensão espiritual dotada de vontade, razão e liberdade, com a diferença que a dimensão espiritual do homem é ontolologicamente condicionada à sua dimensão material, sujeita aos instintos e aos sentidos.

Os anjos, espíritos puros (logos na totalidade de sua natureza espiritual sem matéria física), não possuem a complexidade existencial de um homem. Este, por sua vez, além de possuir faculdade tão excelsa e sublime - que lhe permite conhecer, ter vontade e livre arbítrio – a tem infusa na matéria com toda a complexidade de suas ações e reações físicas, químicas, etc.

Este é um conjunto organizacional tão múltiplo e complexo que a simples fusão da natureza espiritual com a natureza material já seria o suficiente para fazer do homem um ser de excelência na criação. E, ademais, com o toque de individualidade, fazendo de cada pessoa única e sem repetição.

Mas, algo ainda mais complexo abarca a natureza do ente humano...

Como Deus – em medida de imagem e semelhança – o homem é capaz de amar sensivelmente. A alma humana (psiquè) é o elo unitivo entre sua dimensão instintiva carnal e sua dimensão espiritual racional. Propiciando, com isto: às necessidades do instinto, uma dimensão de amor Eros; às necessidades do próprio psiquismo, uma dimensão de amor Ágape; e às necessidades da razão, uma dimensão de amor Cáritas.

Esta é uma síntese perfeita da Criação!

Uma verdadeira Obra Prima!

Certamente alguém levantará a questão: mas sendo que Deus é Espírito - o Logos Criador - como é possível dizer que o homem, que possuindo tão complexa natureza com capacidades instintivas, psíquicas e racionais seja capaz de amar - à Imagem e Semelhança - como Deus?

Ou, por outro lado, como é possível que sendo Deus Espírito possa ser Amor Sensível?

Afinal, não são os anjos também espíritos puros e incapazes de conhecer a dimensão instintiva (eros) e psíquica (ágape) do amor?

Fantástico... esta é justamente a prova de que a natureza Espiritual de Deus é distinta e diferente da natureza espiritual dos anjos. A substância da Natureza Divina é totalmente outra de toda e qualquer coisa existente na criação, quer no mundo natural, quer no mundo sobrenatural.

E não obstante Deus seja Espírito – único capaz de existir antes da criação quando o nada era tudo o que havia (não havendo, portanto) – Ele, no Seio de Si mesmo, no Mistério da Trindade, pôde conceber o sensível que viria a criar, ainda que sendo Logos em Plenitude!

E mais: não só concebeu tal natureza sensível para formatar o gênero humano distinto de todas as demais coisas criadas... decidiu no Conselho Eterno da Trindade assumir para Si, na Pessoa de Seu Unigênito, a Natureza de Homem, para, feito Verdadeiro Homem, elevar todo o gênero humano à condição Divina, por participação.

Ressuscitando com Cristo, o homem participa com Cristo de Sua Natureza Divina, porque Cristo participou verdadeiramente da natureza humana, com o homem e como Homem.

Os animais não podem conhecer o amor sensível porque não possuem psique-racional ou razão-emocional, mas, apenas instinto.

Os anjos não podem conhecer empiricamente (por experiência própria) tal modalidade de amor porque são espíritos puros, não dotados de matéria sensível, sujeita às ações e reações físicas, químicas e seus desdobramentos, efeitos, causas, consequências, etc...

O homem, porque possui essa complexidade tríade - corpo, alma e espírito - não como compartimentos estanques e distintos, mas de modo infuso e uno, conquistou nos mundos e universos a centralidade da existência.

Mesmo que distorça esta magnânimo lugar de ocupação na criação, destruindo sua própria natureza ao opor-se à ela de muitos modos ou destruindo tudo que o cerca, o homem continua sendo o centro pensante de tudo aquilo que pode e chega a conhecer. Mas o é por um Desígnio que se lhe escapa, que ele põe a perder quando pensa-se maior que tudo e que todos.

E quando assim age, por possuir inteligência tão singular, distinta e complexa, construída pela mais simbiótica mistura das naturezas com capacidade instintiva, psíquica e racional numa só existência material e espiritual, ele se torna deliberadamente o mais estúpido ser inteligente.

Nisto ofende efetivamente a Deus, que fê-lo semelhante a Si e, depois de formar a natureza humana na matéria com as aptidões inferiores (o instinto animal), as aptidões angélicas (a razão) e a própria aptidão Divina (a sensibilidade), tomou para Si próprio, na Matéria do Verbo Encarnado, a experiência da humanidade!

Como, depois de tão nobre razão lógica a despeito das evidências cognitivas, aceitar qualquer doutrina religiosa que pretende que a “evolução” do homem se dará com a “libertação” da matéria?

Há uma só coisa no homem: nascido na matéria carrega, em germe, desde as primeiras fases de seu desenvolvimento embrionário, as faculdades do espírito, infusas de modo ontológico àquela matéria; morto na matéria continua a carregar, em germe, no espírito, as propriedades da matéria, até que se complete a perfeição lógica do juízo criacional, na ressurreição do último dia.

Se isto não for assim, que sentido há para que o homem seja um ser tão único, tão complexo, tão intrigante?

Seria tão mediocremente um mero acidente fortuito do acaso, brindado com a excelência de ter sentido para si e capaz de dar sentido a todo o resto?

Que sentido há nisto?

Ou melhor, qual o sentido de usar a capacidade de dar sentido às coisas para inventar uma lógica tão sem sentido quanto a de não ver sentido em nada antes e depois da passagem pela vida temporal?

Agora, se há sentido em dar sentido à vida - antes e depois de sua passagem na temporalidade, com efeitos e causas na espacialidade da existência - então, faz sentido também responder às questões iniciais...

Por que Deus desceu à terra para misturar-se ao barro de nossa existência?

Deus desceu à terra para misturar-se ao barro de nossa existência a fim de experimentar numa natureza que fosse também Sua, a fantástica complexidade da natureza que criou, mista - em certa medida - das demais naturezas criadas.

Por que o Unigênito do Pai aceitou rebaixar-Se à natureza tão volúvel, incerta e pretensiosa quanto à do homem – criada nem perfeita nem imperfeita, mas em vista de seu desenvolvimento (Stº Ireneu de Lyon) - especialmente porque o homem tende a crer que seja a sua natureza a única inteligente a existir?

Para qualificá-la. Para aperfeiçoá-la. Para elevá-la à Glória inefável por mérito próprio de um Unigênito igual ao Pai em Natureza, a fim de que uma vez divinizada a natureza humana - feita para desenvolver-se - ela não repetisse a desgraça da perdição perpétua causada pela oposição obtusa de naturezas criadas perfeitas em inteligência, vontade e escolha, como a dos anjos...

Enfim, como disse o primeiro Grande Doutor da Igreja, Santo Ireneu de Lyon: para desenvolver o homem até atingir a estatura de Cristo, o Homem Verdadeiro, Pleno, Justo, Perfeito, Santo...

Por que o Todo Justo padeceu na Carne, quando poderia – por capacidade para tal e não por ato de justiça plena – evitar o sofrimento?

Para “tomar sobre si as nossas dores, as nossas enfermidades”, conforme anunciara séculos antes da Encarnação, o Profeta Isaías, a respeito do Messias que deveria vir...

Para ser Justo e Misericordioso - a um só tempo - e saudar a impagável conta da ofensa da criatura semelhante ao Divino Criador – exceto no pecado - com numerário Divino...

Para oferecer aos que já haviam morrido quando veio ao mundo para Encarnar-se séculos mais tarde, o mesmo benefício da salvação que garantiu para aqueles que viriam a nascer séculos no futuro...

Enfim, para ensinar-nos a lidar com a complexidade na nossa natureza tripartida, pois, para ordenamento de uma realidade interior tão potentemente complexa, é preciso fazer um caminho de renúncias. E isto custa. Isto dói. Isto exige e não exige pouco... Exige a Cruz!

A Cruz é mais que um símbolo terrível da ignomínia do homem, razão pela qual todo pseudo cristianismo a abomina.

A Cruz é o sinal eficaz da verdadeira reforma: a reforma interna do homem, que passa a crucificar as loucuras do instinto animal para considerar os apelos justos dos sentidos afetivos; e que crucifica a insanidade afetiva das paixões para escolher sobriamente segundo a clarividência da razão.

Ora, este é o amigo interno que deve ser crucificado sempre que inverter o ordenamento que permite o desenvolvimento adequado do ser humano.

E a cada vez que esta desordem interior do “homem velho”, como dizia São Paulo, é crucificada, a nova ordem interna ressuscita o “novo homem”, configurado a Cristo, Verdadeiro Homem.

Este é o meu amigo mais íntimo crucificado: o “homem velho”!

Este é o meu amigo mais íntimo ressuscitado: o “homem novo”!

Quem faz com honestidade esta experiência, com amizade interior ao seu próximo mais próximo - o próprio eu - é capaz de ser muito sensível e compadecido dos demais amigos, especialmente os que também são mais próximos.

Contudo, se, na crucifixão no nosso “eu” nós participamos do calvário como protagonistas de nossa própria morte e ressurreição – com auxílio da Graça, naturalmente – no calvário de nossos amigos mais próximos, nós participamos como jovens assustados e impotentes, à imagem do Apóstolo João.

Sendo assim, na crucifixão de um amigo valoroso, sinto-me incapaz de falar, de agir, de fazer qualquer coisa que possa ser-lhe útil. Apenas empresto minha presença como apoio para que ele vença a prova que lhe fará mais configurado a Cristo, Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus!

Dito isto, há necessidade de responder se há uma verdadeira religião?

Ela há porque na crucifixão de um amigo, sou o apóstolo do único Cristo que morre e vive no meu amigo que morre e ressuscita, para ensiná-lo a morrer para si e a viver para Deus e tão somente para Deus!

Esse amor sensível e devidamente ordenado é tão divino que não pode ser simplesmente humano!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

Nenhum comentário:

Postar um comentário