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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Carisma, Poder... e Obediência! – Parte II

“A Igreja Romano-Católica, em termos institucionais, é um fóssil medieval, autoritário, patriarcal, não mais adequado às conquistas modernas dos direitos das pessoas e do espírito democrático e da cidadania”

Tenho quase por certo que muita gente considerou a parte I desta reflexão incomoda, irritante ou mesmo agressiva...

No final das contas, tenho que achar graça – o que pode tornar, para estes, ainda mais irritante minha postura – mas, não é curiosamente engraçado que quase ninguém considere incomodo, irritante e agressivo o trecho acima?!

E de onde foi tirado?

Faz parte do novo apêndice da edição de relançamento do livro Igreja: Carisma e Poder, do ex-frei Leonardo Boff.

Quanto a mim, não direi que me irrita ou agride, mas que me deixa perplexo o fato de que há quase uma aprovação velada – por parte de muitos eclesiásticos – de textos como estes, que são considerados epistemologicamente tão clarividentes no que diz respeito à análise de conjuntura.

Estou acusando a estrutura eclesiástica de omissão?

Naturalmente que não. Até porque o ex-frade é livre e faz o que quer com o que pensa. E depois, vende. E vende “à beça”. Não é por menos, pois que há numerosa massa que cerra fileiras contra o verdadeiro seguimento. Sempre foi assim. Sempre será. Até o último dia...

Basta vermos a exígua lista de santos que sofreram e padeceram resignados, especialmente se comparada à incontável massa dos que, na falta de equilíbrio de suas disposições de serviço e amor a Deus e à Sua Santa Igreja gritam, numa esquina: “Senhor, tem piedade de mim!”; noutra: “Crucifica-O! Crucifica-O!”

O amor tem um poder severamente assustador.

E onde está o nosso coração, de fato está o tesouro (cf. MT 6, 21). Não é por menos que o ordenamento da Lei Divina supõe o amor a Deus como o “primeiro e maior mandamento” e com a seguinte intensidade e exclusividade:

Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).” (MT 22, 37) (grifos nossos)

Claro que seremos mentirosos e hipócritas se dissermos amar a Deus e sentirmos ódio pelo resto, como ensina São João em sua Epístola. Mas, também, seremos rebeldes – com ou sem consciência disto – se invertermos esta ordem hierárquica do amor ou mesmo nivelá-la com o amor a Deus:

“Este é o maior e o primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).” (MT 22, 38-39)

O amor ao próximo só pode – e deve - ser nivelado ao amor de si mesmo, jamais ao amor que se deve ter a Deus.

Quaisquer disposições de amor a si mesmo, à própria consciência, ou ao que for, ou a quem quer que seja em pé de igualdade com o amor que se tem por Deus, invertem a ordem do amor que se deve dedicar com intensidade e exclusividade única a Deus.

Ninguém pode amar mais o conhecimento que acumula, julgando odiosamente a Instituição Divina, sem estar tristemente adoecido na alma. De fato, a presunção é uma doença espiritual tão grave que destrói no homem a visão, a audição, o entendimento:

“Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis, porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e eu os sare (Is 6,9s).” (MT 13, 14-14)

Sare-os, Senhor! Sare-nos, Senhor!

Sem a Vossa Benevolente ajuda quem pode enxergar a Verdadeira Face do Amor?

Sem o Vosso Condescendente Auxílio quem conseguirá distinguir a Vossa Palavra Amorosa do amor próprio, do apego às criaturas ou das paixões fúteis?

Sem a Vossa visita Sacramental – porque assim escolheu visitar os homens de todas as épocas depois de Vossa Encarnação - quem poderá salvar-se de si mesmo e amolecer o coração endurecido pela vaidade, pelo orgulho, pela mágoa, pelo rancor, pela decepção, pela traição, pela mentira, pelo ódio, pelo egoísmo, enfim, pelo pecado?

Se devemos amar a Deus sobre todas as coisas e com todo coração (nosso instinto), com toda alma (nossos sentidos) e todo nosso espírito (nossa razão), como se é possível admitir que se compare – ainda que num contexto antropológico de analogia - a Presença de Deus no Sacramento de Amor com “bingas de cigarro” usadas por quem amamos, como o fez, num ato profundo de infelicidade, o referido autor noutro livro (Mínima Sacramentalia)?

E este opúsculo de infelicidade no que se refere à Teologia dos Sacramentos, tanto quanto esse tratado de acusações desastrosas reunidas num único livro - Igreja: Carisma e Poder – exprimem a triste realidade do catolicismo atual. Há uma protestantização velada em curso, que o livro trouxe para fora na forma mais perversa e escandalosa possível.

E a dupla dinâmica (bate-me e roube-me) - o “politicamente correto” e o “silêncio dos bons” – fazem o papel canastrão do heroísmo maquiavélico. O “politicamente correto” bate-me duro cada vez que manifesto minha indignação contra os desmandos em quase tudo na modernidade. O “silêncio dos bons” rouba-me diuturnamente a coragem de falar a verdade contra as sandices de nossa época.

Francamente... não vou nem mesmo me exigir - nesta “provocação” que dirijo em primeiro lugar a mim mesmo, contra minha própria consciência de fé e sentimento de compaixão -permitir-me mergulhar nas linhas e entrelinhas da infelicidade do autor de Igreja: Carisma e Poder.

Como alguém, que livremente se consagra a Deus na Única Igreja Fundada por Seu Filho Unigênito, pode julgar estar obedecendo sua consciência na perspectiva do Mandamento Divino – pois quem diz obedecer a Deus contrapondo-se ao Mandamento Divino, desobedece-O – coloca a paixão que humanamente tem pela humanidade acima da própria Compaixão de Cristo por cada ser humano?

Sim, porque colocar o amor ideológico pelos pobres em contraposição à Igreja - que sempre sofreu e sofre no tempo presente exatamente por se posicionar ao lado dos mais oprimidos - é, no mínimo, amar mais o próprio sentimento pelos pobres que aos pobres mesmo...

E isto é paixão, não compaixão!

Certo dia, visitando um Bispo amigo – amigo aqui é aquele que presta benefício à alma penitente, mesmo que não o saiba – ele mostrou-me um belo quadro sobre o sentido verdadeiro da obediência. Na tela aparecia o perfil de um ser inteligente (homem ou anjo) com um dos ouvidos inclinados para o Alto, em posição de escuta. O detalhe expressivo era que o ouvido se desenvolvia numa forma e tamanho muito desproporcionais à cabeça, como se fosse um megafone...

Perguntou-me o Bispo:

_ Você sabe por que um ouvido tão grande?

Num primeiro momento, desejando ser amistoso e brincalhão, pensei na estória do Chapeuzinho Vermelho... mas respondi compenetrado e analítico:

_ Para escutar Deus!

Ele corrigiu:

_ Não. Para obedecer a Deus. Precisamos ter ouvidos dilatados para obedecer a Deus. Pois ouvi-Lo, todos costumam ouvir, mas não O escutam...

Não me perguntem quem foi esse Bispo que não direi. Ele, ao ler esta reflexão, talvez se lembre do fato, ocorrido há mais de 12 anos...

E passou a explicar-me o significado de obediência, que vem do latim composto obeodire: sufixo ob anteposto a audire (ouvir). Obedecer significa, portanto, ouvir a Deus e colocar em prática a Sua Vontade:

“Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor.” (Jo 15, 10)

E qual é o mandamento do Pai, para que obedeçamos? Salvar os pobres da fome de pão no tempo presente?

“Pobres vós tereis sempre convosco. A mim, porém, nem sempre me tereis.” (Mt, 26, 11)

Então a Vontade do Pai é que ignoremos completamente os pobres em suas necessidades?

“Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. (Mt 25, 34-40)

Portanto a Vontade de Deus tem um ordenamento hierárquico. Cuidar do seu semelhante é um dever natural do homem, que não pode ser tornado uma lei positiva que se coloque acima do Mandamento Divino:

“Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à tradição dos homens.” (Mc 7, 8)

E é mandamento Divino - o quarto na hierarquia - guardar as Coisas Santas. E a Igreja é Coisa Santa de Deus. Os Sacramentos são Coisas Santas. Ou não?!

Na Santa e Divina Liturgia de São João Crisóstomo, quando o Augusto Sacramento é levantado para adoração dos fiéis antes de partir o Pão do Céu (não o pão material) para distribuir a Santa Comunhão, o sacerdote proclama:

“Fiquemos atentos! As coisas santas aos santos!” (Liturgicon Bizantino – grifo nosso)

Ao que a assembléia responde:

Um só é Santo, um só é o Senhor, Jesus Cristo, para a glória de Deus Pai. Amém”! (Liturgicon Bizantino – grifo nosso)

Quem compôs esta Santa e Divina Liturgia foi ninguém menos que o grande defensor dos pobres, São João Crisóstomo. Que sabia dar aos pobres, o que é dos pobres (também o pão material, mas, principalmente, o Pão Vivo do Céu, que dá a Vida Eterna) e a Deus o que é de Deus (a Glória de Seu Unigênito: “o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo” – Jo 6, 32b-33).

Antes de odiar ideologicamente a pobreza material é preciso amar, na medida do Evangelho, a pobreza do coração, despojado da pretensão de querer reduzir o Reino de Deus às meras conquistas modernas dos direitos das pessoas e do espírito democrático e da cidadania”, como insiste em teimar o autor no novo apêndice da reedição de Igreja: Carisma e Poder.

Creio que não é razão menor que esta o motivo explicito da bendição de Nosso Senhor Jesus Cristo no famoso e mais belos dos sermões:

“Então ele ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6, 20)

Sem dizer que, a muitos que desejaram segui-Lo, recomendou que vendessem tudo para dividir entre os pobres, para depois, pobre como os pobres, pudessem segui-Lo despojados de apego às coisas que passam.

“Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (Mt 19, 21)

Usando a lógica da práxis marxista – na qual se escora o autor – se todos fizessem literalmente isto, o que aconteceria, na prática? Não se tornariam todos iguais, isto é, igualmente pobres? Logo, a pobreza não diminuiria, mas, aumentaria.

Basta olhar para a miséria do povo russo e do povo cubano para ver que nossa conclusão não está pautada fora da realidade. Fora da realidade está o idealismo da teologia dos pobres.

A Verdadeira Teologia é do Pobre, Salvador de todos os pobres, em todos os tipos de pobreza, mas, especialmente, a pobreza de Vida Eterna, posto que todos têm sede e fome de Vida Eterna.

Ora, não há fim para pobreza nesta terra, visto que ela é também um meio para que os eleitos possam se tornar ricos da Graça Divina, que é Bem muito superior aos bens materiais que os ladrões roubam, as chuvas carregam, o fogo destrói, e até mesmo a renda levantada com o comércio das ideologias pró pobres fazem desaparecer, dentre outros.

Como alguém afortunado na paixão pelo saber que acumulou poderá entrar e permanecer na verdadeira compreensão deste Reino que exige tão honesta renúncia?

“Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.” (MT 19, 24)

Não fora isto que compreendera também o seráfico pai São Francisco, Fundador da Ordem do Frei que odeia tanto a pobreza que havia livremente desposado por voto, preferindo abandoná-la para cobrar bons dividendos pelas palestras que faz... em “favor” dos pobres?!

Hei de concordar: a causa ideológica da pobreza é bem mais interessante que a pobreza em si mesma...

Mas não posso julgar as disposições alheias. Cada um de nós há de responder a Deus por seus atos e escolhas. Todavia, este modelo mental não me parece consoante com o chamado de Deus para minha não apenas pobre, mas miserável vida religiosa.

Se estiver errado, sou só o último da fila. Antes de mim há uma multidão de santos, com a fragorosa diferença que eles foram mais nobres no mergulho que fizeram na pobreza, enquanto eu ainda arrasto asas atrás de muitas necessidades materiais...

Não estou recorrendo a este magnífico testamento de herança deixado por Cristo – a Bem-aventurança dos pobres - para justificar e avalizar as injustiças dos homens contra o homem. Mas para obedecer à hierarquia das Coisas Santas, a fim de deixar claro que o Amor dedicado a Deus deve preceder em tudo aos nossos demais sentimentos de amor.

Toda inversão disto é uma espécie de idolatria.

É paixão pelos próprios sentimentos e conhecimentos.

Não é amor à verdadeira alteridade - do Outro e dos outros.

É apego aos próprios sentidos, sensações, emoções, idéias, inconformidades, penas, etc.

O amor a Deus sobre todas as coisas é a única via de ordenamento dos demais amores em medida saudável.

Do contrário, é apenas práxis da própria vontade em nome de Deus, o que, de per si, constitui ainda outra desobediência: a falta contra o segundo mandamento, que nos pede não usar em vão o Nome Santo de Deus!

Idealizar um grande bem temporal, que possui alguma relatividade, ignorando a Verdadeira Hierarquia do Bem Total, que é Absoluto em Si Mesmo, é altercar com critérios de ciência humana a Ordem estabelecida segundo a Ciência Divina.

É postular que a ciência humana seja a conselheira inerrante das “possíveis falhas” da Ciência Divina. É, no final das contas, uma insensatez sem parâmetros. Uma cegueira metafísica causada pelo orgulho e pela presunção. É uma doença terminal da alma...

Salva-nos, Senhor, desta doença que mata o espírito, mesmo que dê pão para salvar o corpo!

Cura-nos, Senhor, desta cegueira atrofiante da alma, mesmo que tenhamos olhos para enxergar a fome dos pobres!

Tende piedade de nós, Senhor, que somos pecadores e nos acreditamos deuses salvadores de nós mesmos e daqueles que têm fome de pão e sede de justiça!

Ajuda-nos, Senhor, a obedecer (ob-audire), isto é, ouvir e por em prática os Seus Divinos e Santos Mandamentos!

E faze-nos, Senhor, entender, amar e respeitar as Coisas Santas, entre elas a Igreja, Vossa Imaculada Esposa, que purifica em Seu Ventre Virginal, por Obra do Espírito Santo e Santificador, todos nós, homens e mulheres pecadores... Mas Ela, a Igreja, a Divina Esposa de Cristo, permanece incólume e somente Divina como Instituição, mesmo que composta por gente santa e pecadora, como todos nós!

E, por último, dá-me, Senhor, coragem para continuar escrevendo aquilo que os olhos, os ouvidos e os corações empedernidos gostariam de continuar não vendo, não ouvindo e não compreendendo, a fim de serem curados por Vós!

Se eu receber de Nosso Senhor a devida força para falar do que penso ser – no Plano da Graça – aquele terceiro vanguardismo embrionário do pioneirismo juizforano, escreverei a terceira parte desta “provocação”. Do contrário, elas permanecerão contidas, ainda, no Sagrado Coração de Jesus!

Se receber de Nosso Senhor a devida força para falar do que penso ser – no Plano da Graça – aquele terceiro vanguardismo embrionário do pioneirismo juizforano, prometido na parte I, escreverei a terceira parte desta “provocação”. Do contrário, elas permanecerão contidas, ainda, no Sagrado Coração de Jesus!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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