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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Uma nova espécie... o animal ANTIRRACIONAL (Parte I)

Recordemos, antes a tudo, que o mundo natural é dividido - por classificação de seres e organismos - em Reinos (segundo Cavalier-Smith: 2 Impérios e 6 Reinos).

Contudo, para efeito do que iremos refletir, basta-nos considerar a antiga divisão adotada universalmente pelas ciências naturais, a saber: Reino Mineral, Reino Animal e Reino Vegetal.

Mais especificamente, nossa reflexão se deterá sobre o comportamento relativo aos seres de um destes Reinos, o Animal.

No universo do Reino Animal, por muito que seja dependente e esteja sujeito ao ciclo da vida e da rede intrínseca de relações numa ampla e complexa cadeia organizacional de todos estes seres, é, sem dúvida o homem, o animal dominante.

O que coloca o homem objetivamente no topo desta cadeia de relações diversas é o uso da razão.

Por isto se diz que o homem é o único animal racional. Todos os demais seres vivos do reino animal são considerados animais irracionais.

Sendo assim, vamos retomar a conceituação básica de razão, que nos permite dizer que o homem é um animal racional e os demais são animais irracionais.

Etimologicamente o vocábulo razão vem do latim rationem (cálculo, medida). Apesar de na história do conhecimento este termo encontrar um leque abrangente de significados, pode ser tomado de modo geral como sendo a faculdade de medir, calcular, avaliar, ponderar uma realidade antes de decidir.

Portanto, a razão é a capacidade que se tem de avaliar um fato de modo crítico, reflexivo, antes de fazer uma escolha.

A respeito dessa capacidade preferimos dividi-la em duas noções de entendimento. O que chamamos de pensamento instintivo e pensamento reflexivo. Noutros textos deste blog já abordamos mais sobre isto (A anti naturalidade do bicho homem...; O mundo carece de silêncio...). Retomemos.

Partimos da premissa de que todo animal tem a capacidade de desenvolver algum tipo de inteligência - não reflexiva, naturalmente – mas, na medida em que todo animal é capaz de se deter diante de uma determinada situação e fazer uma escolha. A possibilidade de escolher estimula o pensamento ou raciocínio em algum nível, mesmo que seja de forma instintiva, isto é, sem analise crítica ou reflexiva. A isto chamamos de pensamento instintivo.

Ora, todo animal irracional, numa situação de confronto, por exemplo, está habilitado a fazer uma escolha fundamental: ou ataca ou foge. Essa escolha fundamental é o que chamamos de pensamento instintivo.

O animal irracional não tem capacidade de elaborar esta escolha reflexivamente, isto é, não é capaz de avaliar criticamente a situação e considerar alternativas de entendimento, diálogo, acordo, etc. Mas, dentro do universo de registro de informações que possui, ele realizará uma escolha.

O animal irracional possui, portanto, um conjunto de registros e informações. Daí deriva uma linguagem própria – não elaborada com conceitos e significados como a humana – mas que é suficiente para que exprima a situação que enfrenta com sons diversos, os quais são compreensíveis especialmente entre os de sua própria espécie.

Ainda que o limite patente dessa construção inteligível fique reduzido a um padrão comportamental repetitivo e sem campo para especulação (padrão sem especulação reflexiva = instinto), há uma rede de informações que são basilares da comunicação deste animal consigo mesmo (no ato das escolhas internas que faz na luta instintiva pela sobrevivência), na comunicação que estabelece com os de sua espécie e na comunicação de aviso ou ameaça que estabelece com os de outras espécies.

Já o animal racional é capaz de se deter diante da situação de confronto e reconsiderar as escolhas sob outros aspectos. É capaz de construir um dia-lógos, ou seja, uma comunicação com uma linguagem cheia de significados, conceitos, justificativas, enfim, com motivos razoáveis para alterar a sequência dos fatos.

Isto faz do homem um sujeito construtor da história, autor e protagonista dela como dominante de todos os Reinos Naturais. Ao passo que os demais seres – mesmo os animais irracionais que tem algum tipo de inteligibilidade – compõem o cenário épico, o enredo, as tramas, as personagens, as figurações, enfim, todo o conjunto do teatro da vida natural, no máximo, como coadjutores, contudo, via de regra, como sujeitos incapazes de construir história.

Em outras palavras, como já dito noutra ocasião, o animal racional pode escolher uma saída alternativa para o impasse, convidando, por exemplo, seu oponente, para um chá, um café, uma cervejinha e... desfazer a razão principal motivadora do confronto. Pode mudar o “roteiro”...

Não que fará isto sem grande esforço. Mas o que nos interessa aqui é que esta via alternativa pode ser construída pelo animal racional, ou seja, ele está apto a isto. Este uso elaborado e complexo da inteligência é o que o distingue fundamentalmente dos animais irracionais.

Este dado é ontológico, isto é, é intrínseco à natureza da espécie humana. Já é dado por sua constituição genética.

Por mais que se domestique um papagaio ensinando-o a falar, ele não será capaz de fazer uso crítico daquela linguagem humana cheia de conceitos, significados, sentidos, etc. A rede de significados em sua magnífica complexidade são inatingíveis por este animal irracional que reproduz fantasticamente a linguagem do animal racional.

No sentido de não compreender os conceitos e significados das palavras que repete, o papagaio é um reprodutor de sons tanto quanto qualquer equipamento eletrônico sem vida própria. Com a diferença, claro, de que ele faz escolhas. Pode escolher recusar repetir algumas palavras e aceitar reproduzir outras. Pode aprender a desenvolver esta habilidade com a ajuda do treinamento de uma pessoa ou de modo autodidata (conheço um papagaio que a diversão dele é irritar um cachorro da casa. Vive imitando o latido do cãozinho para provocá-lo... rsrs)

De fato, não se pode negar a existência de uma linguagem nos animais irracionais. Por exemplo: se soltamos um bezerrinho recém nascido num curral cheio de vacas, ele emitirá um som que será distinguido pela sua mãe e ela, em contrapartida, mugirá um som num timbre que ele identificará. E assim farão até que um encontre o outro na multidão de vacas e bezerros.

A questão é: se vaca e bezerro conseguem estabelecer e identificar reciprocamente um timbre diferenciado que, ao mesmo tempo em que os fazem se identificar os fazem distinguir do resto do gado, quem pode dizer que isto não é uma forma de comunicação?

É claro que não se trata de uma comunicação com a linguagem elaborada pelos homens, que é uma linguagem reflexiva, cheia de códigos, símbolos, numa complexa construção de sentidos e de significados como apontamos anteriormente. Mas que é uma forma de linguagem, é!...

Talvez também possamos chamar de linguagem instintiva, derivada de uma construção daquilo que antes denominamos pensamento instintivo.

Dito isto, nós estamos rememorando as condições ontológicas (= estruturais e estruturantes) dos animais racionais e dos animais irracionais. E fortalecendo aquilo que a um só tempo aproxima-os – enquanto seres do Reino Animal – e distingui-os enquanto espécies ontologicamente diferentes.

Simplificando: o homem (animal racional) está geneticamente organizado para desenvolver esta faculdade do raciocínio complexo e elaborado a fim de estabelecer suas escolhas e, por conseguinte, habilitado para construir uma linguagem que corresponda a esta sua qualidade primária.

Assim também o não humano (animal irracional), embora qualificado para fazer escolhas num nível menos complexo e menos elaborado, através de uma linguagem também menos complexa e menos elaborada, cumpre - a rigor - o estatuto, por assim dizer, de sua constituição ontológica.

Sendo assim, o animal racional e o animal irracional são devedores das condições já dadas por suas constituições genéticas. Desenvolvem aquilo que já está determinado por antecipação na estrutura de seus DNA’s.

É este dado intrínseco da natureza (o DNA) que nos permite afirmar categoricamente: por mais que um papagaio repita palavras humanas não compreenderá o que diz; pela mesma forma, o homem, por mais que desenvolva tecnologias de vôo, jamais voará como um papagaio, ou seja, com asas próprias (a não ser na mitologia, roubando o sonho de Ícaro).

Pode parecer esdrúxula a ênfase nesta obviedade lógica das coisas, tal qual elas existem e si mesmas. Contudo, diante de uma nova espécie de animais – quanto ao uso da razão – que está surgindo, não será tão surreal assim.

Abordaremos sobre a novo grupo de animais emergentes no Reino Animal na parte II desta reflexão...

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