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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sr. Ciúme e Dona Inveja... (continuação - Parte II)

... continuando...

O ciúme, como dissemos, é um sentimento autocentrado na ambição de possuir do outro aquilo que é o objeto interno deste outro, isto é, o sentimento dele(a).

É a posse dominante do sentimento alheio.

O ciúme é um sentimento que favorece o fechamento do ser em si mesmo.

É, pois, a centralidade nucléica do egoísmo. É o amor de si por si mesmo, centrado no próprio eu. O ciumento tem a mania de exigir e medir, compulsivamente, o amor que o outro sente por ele.

Não se interessa pelo que o outro sente, mas por aquilo que o outro faz despertar em si. Portanto, o ciúme, opõe-se à gratuidade do verdadeiro amor, o qual deve exigir de si doar ao outro, quantidade e qualidade de sentimento, ao invés de exigir receber do outro.

O ciúme é a perversão do amor em sua legítima essência (que é doação de si mesmo).

Se eu amo, devo medir e pesar o que sinto pelo outro com desprendimento e, portanto, não devo medir nem pesar, principalmente se for com a régua do apego, o amor que o outro sente por mim.

O amor que o outro sente por mim não é o meu amor, é o amor dele.

E se eu me apego ao sentimento que o outro tem ou deveria ter por mim, alimento este vício que, no final, irá destruir o outro e a mim mesmo.

Logo, se meço o amor do outro por mim - ao invés de medir o meu amor pelo outro - sou – desgraçadamente – ciumento, possuindo, neste caso, uma patologia atrelada ao pecado de origem e, ao mesmo tempo, continuadora dele.

O ciúme também varia de lógica. Nem sempre é a cobrança egoísta de demonstração do sentimento do outro por mim. O ciúme é, também, o apego egoísta ao meu próprio sentimento pelo outro. Neste caso, amo mais o que sinto pelo outro do que o outro propriamente.

Ora, se eu efetivamente amo o outro, e este meu sentimento é sincero e verdadeiro, o que deveria ser mais caro a mim é o efetivo bem deste outro, mesmo que isto suponha a renúncia expressa ao bem de mim mesmo, não é verdade?

Mas isto não é assim na cabeça do ciumento. O ciumento tem a necessidade de “provar” para o outro quão forte é o seu sentimento, a fim de exigir-lhe contrapartida a este grande amor (que na verdade é amor próprio).

A aceitação da liberdade do outro para não corresponder, como o ciumento espera, ao que ele (ciumento) sente, não existe na vontade do ciumento.

Esta é a dimensão de liberdade honesta existente no verdadeiro amor, que não se enciúma.

Quando exijo do outro, correspondência e reciprocidade para com meus sentimentos de amor, segundo as minhas medidas, estou, na verdade, apegado aos meus sentimentos, isto é, estou querendo preservar meu amor próprio a todo custo, usando como desculpa o que digo sentir pelo outro.

Se eu fico apreensivo com relação aos sentimentos que o outro tem por mim, isto ocorre porque, na verdade, meu foco está no desejo de ser amado e não na minha honesta disposição para amar.

Quem ama qualquer outro com legitimidade, isto é, sem ciúmes, deseja a plena felicidade deste outro, pois, não o aprisiona nos limites egoístas da vontade própria, da correspondência obrigatória ou da reciprocidade em igual medida.

Como posso amar o outro como distinto de mim, se o nivelo por mim mesmo que sou distinto dele?

O ciumento exige do outro aquilo que congratula e satisfaz a si mesmo, então, torna-se prisioneiro de suas próprias expectativas, logo, não aspira ao verdadeiro bem alheio, mas cultua, com egoísmo, seu próprio bem.

O ciúme é uma perversão que cada vez mais isola o indivíduo em torno de suas próprias expectativas de receber amor e não de dar amor. Ou então em torno da exaltação do bem dos próprios sentimentos e não do bem dos sentimentos do outro que diz amar.

Quanto maior o amor-próprio, maior o egoísmo, que é o ato intrínseco desse desajuste sentimental. Quem ama dessa maneira, é ciumento... é descompensado.

Se o egoísmo é o motor que move o amor próprio, na medida em que faz girar continuamente a ciranda do auto-amor de si, podemos dizer ainda que, o ciúme, é a gasolina desse motor movente.

Mutatis mutandis, a caridade, legítimo amor - isento de egoísmo e ciúme – é o motor imóvel, cuja potência é a força invisível do único, perfeito e imutável sentimento que se transforma em ato puro, em favor da felicidade de outrem. Razão esta também da verdadeira felicidade própria.

Pronto. Apresentado está o Sr. Ciúme, cujo nome e sobrenome se funde e confunde na essência de uma mesma e única perversão do amor como paixão pelas aptidões do próprio ego.

Vamos agora falar um pouco sobre a tal da Dona Inveja.

Como já dissemos rapidamente antes, se o ciúme ambiciona o objeto interno de algum outro, a inveja, por outra forma, é a ambição do objeto externo de qualquer outro.

A inveja é o sentimento humano que não basta a si com aquilo que lhe é próprio.

É o estímulo ambicioso pela propriedade alheia.

É o desprezo e a ingratidão com aquilo que se possui, em preferência ao desejo compulsório por aquilo cuja posse pertence a outro.

Por esta razão, também a inveja, é uma perversão do desejo que corrompe as intenções mais íntimas da pessoa humana, fazendo brotar desejos mórbidos que transformam aquele que é invejado numa espécie de inimigo dos desejos não realizados do invejoso.

Para o invejoso, o outro, que possui aquilo que ele julga que deveria ser ele a possuir, se torna um inimigo.

Mais que isto – de modo inconsciente – para o invejoso, aquele que possui o que julga ser por direito seu, é um usurpador do seu direito de posse. É como se o outro lhe tivesse roubado algo que por direito deveria pertencer a ele.

O que “justifica”, para o invejoso, o seu próprio ímpeto para ambicionar o bem alheio é que o outro, de certa maneira, “roubou” aquilo que “lhe era devido”. Está com o outro, mas deveria estar comigo, pensa – para própria desgraça - o invejoso.

Se, o ciúme, é a cobiça daquilo que o outro sente, a inveja é a cobiça daquilo que o outro tem.

Quer num quer noutro caso, isto é, a cobiça possessiva pela pessoa do outro ou a cobiça ambiciosa pela propriedade alheia, fere de morte o direito natural e livre de SER e de TER. É assim que a morte instala e desenvolve seu mecanismo de degradação individual e coletivo.

E depois os homens dizem não entenderem por que morrem e por que matam...

Tais transgressões comportamentais, que se desenvolvem como vícios, nos permitem elaborar uma pergunta fundamental que suscita novas questões:

- qual a necessidade do Mandamento Divino revelado positivamente ao homem, se não para recordar-lhe a razoabilidade da lei natural?

Não há dúvidas de que, dentro do estado geral das coisas no mundo natural, no qual o homem - em processo de desenvolvimento - ainda não atingiu a estatura de Cristo,[1] a Lei Divina, revelada sob o Patriarcado Mosaico, tem a relevante função de regular a justiça em favor daqueles que são penalizados pelo desmando da ação dos indivíduos e das coletividades que se constituem na perspectiva dos vícios, que são comportamentos deformados como, no caso em questão, dos vícios que se multiplicam numa “prole” para lá de fértil a partir da promiscuidade “conjugal” do Sr. Ciúme e da Dona Inveja.

De fato, o assassinato, o roubo, a mentira, a calúnia, a difamação, o ódio, a traição, a vingança, a desonestidade, enfim, toda perfídia humana brota dos corações ciumentos e invejosos.

As figuras bíblicas na cena das primícias da existência humana atestam isto patentemente...

A serpente, antigo ser de luz que passa a rastejar pela terra, tão humilhado pela queda de sua condição original, movimenta-se esfregando o dorso no pó, por ciúme e inveja daquele que - feito do pó - mereceria a Glória e a Honra de ceder a natureza inferior para o Criador de todas as naturezas...

A mãe dos viventes (do nome hebraico Eva) incitada a invejar a condição Divina, provoca ciúmes na humanidade (Adão, em hebraico). Daí a trans-formação (na verdade, deformação) da vontade de conhecer somente o bem (obediência) em vontade de conhecer o bem e o mal (desobediência)...

A cena pós paradisíaca dos filhos de Adão e Eva, na esteira do mesmo mecanismo interno, irá inaugurar - na sequência da dinâmica do mal e seus desdobramentos - a lista dos assassinatos. Caim sentiu ciúme do sentimento de Deus pelo irmão Abel, invejando-lhe a oferta, decidiu destruí-lo, depois de destruir dentro de si o amor e o respeito por si mesmo, por seu irmão e por seu Criador...

E assim seguem todas as demais Histórias Bíblicas e seculares... sem exceção!

Homens de todos os povos, nações, raças, línguas, lugares, enfim, uma sequência ininterrupta de desenvolvimento de vícios e perversões comportamentais, num show de barbárie e degradação individual e coletiva... tudo patrocinado pela força íntima do Sr. Ciúme e da Dona Inveja...

Agora, contudo, compete-nos observar que, muito para além da função operativa que a Lei Divina oferece, no sentido de estabelecer a justiça que regula os desajustes individuais e relacionais entre os homens, ela tem um caráter proeminentemente preventivo, na perspectiva da misericórdia, a qual torna a justiça perfeita e inequívoca.

Que desejamos dizer ao afirmarmos isto?

Simples. Vejamos...

Quando a Lei Divina estabelece positivamente e de modo imperativo, por exemplo, “não cobiçais as coisas alheias”, há nesta ordem um apriorismo de misericórdia, antes de cumprir uma exigência moral, legal e jurídica.

Ora, se o ciúme e a inveja são como dissemos anteriormente, uma perversão do sentimento humano, uma vez que cobiçam imprópria e indevidamente aquilo que é uma realidade - interior ou exterior - pertencente a outro, então, antes mesmo que venham acontecer os atos impetuosos externos destes indivíduos invejosos e ciumentos contra terceiros (calúnia, perjúrio, roubo, assassinato, etc), há um mal concreto que já se instala na estrutura mental e psíquica destes infelizes, a saber: a falta de paz, a inquietude, a ansiedade, enfim, uma cadência de sentimentos perturbadores que adoecem o sentimento e comprometem o equilíbrio e a perfeita sanidade daquele que não domina seus instintos afetivos e viscerais.

Isto sem dizer de outras conseqüências que se instalam na consciência do sujeito após ele realizar ações externas incitadas pelo devaneio do ciúme e da inveja. Estamos dizendo de sentimentos como: remorso, culpa, autocondenação, etc.

E, atente-se para o fato de que, ainda, não dissemos das conseqüências externas, isto é, das punições que os sistemas legais, baseados nesta sadia Lei Moral do Decálogo, pode impetrar contra as atitudes concretas (calúnia, perjúrio, roubo, assassinato, etc) dos homens invejosos e ciumentos.

Logo, tendo em vista todas essas conseqüências - internas e externas - causadas pela cobiça da propriedade alheia (interior ou exterior), a Lei coercitiva (“não cobiçar...”) é, antes de ser uma ameaça punitiva, um aviso preventivo que pretende proteger o homem de padecer de todas essas automáticas conseqüências, que seguramente advirão do ato intrínseco de cobiçar impropriamente (= ter ciúme e inveja) aquilo que não lhe pertence.

Você quer se livrar, por atacado, de uma lista sem fim de vícios morais e pecados?

É simples...

- destrua na sua consciência o prostíbulo da vontade cheia de si mesma (orgulho),

- não entre no quarto promíscuo da idolatria de si mesmo (egoísmo);

- e, por fim, não permita deitar no leito de volúpias da vontade própria (ambição) o Sr. Ciúme e a Dona Inveja.

Mas, tudo isto hoje não é fácil. Especialmente considerando que o “evoluído” conhecimento moderno instituiu a legalização do despudorado acasalamento entre o Sr. Ciúme e a Dona Inveja, erigindo divãs para a consciência admitir como coisa normal essas compulsões do Ego e do Self (si mesmo).

Jung e Freud que se lasquem para lá - e bem longe de mim - com suas teorias de conivência e afago cheias de melindro idolátrico para com as vontades inconscientes do ego e do self.

O ciúme não é em medida nenhuma de equilíbrio uma demonstração saudável de amor e afeto pelo outro... é um vício terrível, que destrói o outro e a própria pessoa...

A inveja não é em nenhum grau de controle uma força positiva para estimular a superação de si mesmo... é um vício horroroso, que mata a gratuidade alheia e individual...

Logo, por não serem sentimentos lícitos nem tampouco sadios, sua permanência na alma do ser racional e - bem pior - a “coabitação” “relacional” entre tais vícios, é uma perversão geradora de morte.

A Dona Inveja não é “esposa” do Sr. Ciúmes coisíssima nenhuma. É sua prostituta... e sua bastarda lista de vícios já elencados são a descendência do mal perpetuado no âmago da vontade humana, que resiste permanentemente em seguir a Cristo na renuncia de si mesmo para retomar a condição do homem adamítico...

Domine... Sed libera nos a malo. Amem.

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN



[1] Santo Ireneu de Lion.

Um comentário:

  1. Felizes os que não conhecem esses dois vermes vorazes. Com a inveja e o ciúme não há calma, não há repouso possível. Para aquele que sofre desses males, os objetos da sua cobiça, do seu ódio e do seu despeito se erguem diante dele como fantasmas que não o deixam em paz e o perseguem até no sono.

    Parabens pelo texto muito profundo,acho que a frase mais interessante para mim foi:
    "Se eu amo, devo medir e pesar o que sinto pelo outro com desprendimento e, portanto, não devo medir nem pesar, principalmente se for com a régua do apego, o amor que o outro sente por mim."
    O amor que o outro sente por mim não é o meu amor, é o amor dele.

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