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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


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sábado, 23 de outubro de 2010

A anti naturalidade do bicho homem...

Na natureza a regra comum no processo de reprodução das criaturas é a geração da espécie por via do encontro entre os gêneros diferentes: masculino e feminino.

E é este dado intrínseco da complementaridade entre pares que garante a ordem e o equilíbrio de cada espécie, bem como assegura ordem e equilíbrio entre a pluralidade das espécies.

Exceção há, certamente. Raras e específicas. Como é o caso da reprodução por partenogênese, onde o ovo se desenvolve sem a necessidade de ser fecundado por um espermatozóide, não obstante essas espécies de exceção continuem a possuir dois gêneros universais sexualmente distintos: masculino e feminino.

Mesmo assim esta não é a regra universal da cadeia reprodutiva.

De fato, raríssimas são as espécies habilitadas a desenvolver este modo de reprodução, em que o gênero feminino – de modo autônomo e auto-suficiente - independa da reciprocidade conjugal direta e relacional para dar continuidade à espécie.

Ao contrário, é a exceção, que apesar de reproduzir de modo assexuado, não afemina os machos e nem masculiniza as fêmeas, conservando cada qual sua identidade estrutural segundo sua origem biológica.

E mais, apesar do modo atípico de se reproduzirem, fica garantida a perpetuação de apenas dois gêneros, não de três ou quatro.

Assim é a natureza mesmo quando estabelece a exceção, isto é, não deforma o comportamento universal da espécie, conservando a estrutura dos gêneros.

Se tal exceção – a partenogênese - viesse a se tornar a regra comum, é certo que o caos e o desequilíbrio se instalariam na pluralidade multiforme. Pois, esta pluralidade multiforme, é o componente essencial do universo criado.

Está óbvio que a estrutura dos seres está assinalada pelo componente da complementaridade entre as estruturas do ser macho e do ser fêmea. Neste componente, a sexualidade tem um forte papel na realização de vínculos em todas as espécies. Trata-se, portanto, de um fato prático e não de uma premissa teórica de cunho filosófico ou religioso.

Dada esta evidência geral pertencente aos seres naturais, aí sim, poderemos arriscar algumas questões de cunho filosófico:

- Se ocorresse uma inversão generalizada da regra reprodutiva, por escolha de comportamento (o que certamente não seria possível aos animais irracionais), a pluralidade que constitui o modo característico do mundo natural ficaria comprometida em seus fundamentos constitutivos?

- Na hipótese de que fosse possível isto, tal fato poderia levar à autodestruição das espécies, uma vez que as funções orgânicas e comportamentais não estão ajustadas para existirem de modo diferente da medida em que estão estruturadas ontologicamente?

- No caso da espécie humana: a modificação comportamental em razão dos pressupostos antropológicos seriam capazes de refazer a constituição ontológica do homem por “evolução” natural, isto é, poderia o gênero masculino desenvolver de modo natural (sem intervenção cirúrgica e sem manipulação genética) elementos constitutivos femininos e vice-e-versa?

- Uma vez que a complementação produtiva (por via reprodutiva) dá pleno sentido ao ser, na medida da necessidade intrínseca de perpetuação da espécie pelo apelo de seu oposto, a alteração de comportamento contra a constituição biológica e social da espécie poderia desencadear um processo de auto destruição do instinto de subsistência?

Vamos considerar estas questões filosóficas a partir da observação dos especialistas em ciências biológicas, que podem atestar o fato comportamental dessas espécies sujeitas à partenogênese que são um caso à parte na natureza (à parte pelo método reprodutivo e pelo isolamento social): “os organismos que se reproduzem por este método [patogênese] estão geralmente associados a ambientes isolados como ilhas oceânicas”.[1]

Ora, esta constatação científica, feita por biólogos – e não teólogos ou filósofos – de que a partenogênese está associada a “ambientes isolados” é muito significativa e oferece horizonte seguro para fundamentar nossa reflexão que tem argumentos também filosóficos e teológicos.

Donde já se pode extrair uma premissa fundamental: os comportamentos individuais e sociais dos seres estão intimamente ligados ao modo como exercem a complementaridade dos opostos segundo a natureza própria que possuem.

Sendo assim, indivíduos e espécies que reproduzem assexuadamente, tendem a possuir um comportamento social isolado, sem, contudo, suprimir um dos gêneros ou metamorfoseá-los num terceiro gênero inexistente.

O chamado hermafroditismo da abelha rainha - que também realiza reprodução assexuada - é um conceito falso, pois a rainha não dispõe originariamente do órgão do macho, apenas o retém durante a cópula, conservando reservas de material de fertilização para a fecundação dos óvulos.

Mesmo no caso de algumas espécies com intensa vida social, onde também pode ocorrer a reprodução assexuada, como entre as abelhas, o produto desta reprodução - os zangões - que nascem de ovos não fecundados, “vivem alheios às atividades de manutenção da colméia” por não possuírem órgãos de defesa ou de trabalho e “costumam agrupar-se em determinados locais próximos à colméia, onde ficam à espera de rainhas virgens”.

Em outras palavras, apesar de exercer seu papel reprodutor na sociedade das abelhas, o zangão, como conseqüência da reprodução não fecundada, não possui vida social ativa.

Ao contrário, as demais abelhas membros da colméia que nascem por fecundação do ovo, desenvolvem uma das mais notórias e vinculantes vidas sociais entre os irracionais.

Por outro lado, as espécies que de maneira absoluta se reproduzem sexuadamente no reino animal, têm vida social.

Esta é uma evidência da plena complementaridade do ser animal.

Os irracionais seguem a cartilha estrutural de sua condição natural sem, contudo, compreenderem reflexivamente estes componentes relativos à estrutura de seu ser. Fazem-no por pura escolha existencial devedora do que poderíamos chamar de pensamento instintivo (vide no blog a reflexão O mundo carece de silêncio).

Ora, os animais racionais, capazes de saltar do estágio instintivo do pensamento para a complexidade elaboradora do raciocínio - que podemos chamar de pensamento reflexivo - não deveriam ainda mais que simplesmente respeitar esta condição dada, mas, por serem capazes de refletir sobre ela, regozijarem-se nos pensamentos e sentimentos a respeito deste mistério que conjuga efetivamente os opostos?

Trocando em miúdos... que desvio do comportamento é este que faz a única espécie natural dotada de razão (= pensamento reflexivo), o ser humano, desencadear uma revolta íntima de anseios e vontades contra a própria natureza?

A religião chama isto de pecado. A filosofia de vício. Raríssimas psicologias - que ao menos, por vocação à honestidade, percebem que seus postulados antropológicos carecem de efetivo fundamento ontológico – chamariam isto de desvio comportamental.

Eu chamaria isto de revolta íntima (vide neste blog a reflexão O homem indigno), exercida consciente ou inconsciente contra os dogmas imutáveis da verdade (Stº Ireneu de Lion, séc II).

A propósito, o que seriam estes dogmas imutáveis da verdade?

Não se tratam aqui de dogmas religiosos ou dogmas de fé.

São, antes, princípios imutáveis, regidos por leis naturais claras e evidentes. São os mecanismos funcionais das realidades criadas tais quais elas existem em si mesmas.

Passemos a alguns exemplos para plasticidade concreta do que significam estes dogmas imutáveis...

Alguém pode, por exemplo, preferir o dia, em razão da imponência do sol...

Outro pode preferir a noite, diante da majestosa sombra do descanso – para uns – ou das vigílias virtuosas ou pecaminosas, para outros...

Outros, ainda, podem gostar de um e de outro, como podem não gostar nem de um nem de outro, como podem ser indiferentes a ambos. Enfim, seja como for, goste ou não goste o homem, fato é: ao fim de cada dia o sol se porá e ao termino de cada noite ele surgirá, impreterivelmente, no horizonte...

Aconteça o que acontecer. Queiramos ou não. Gostemos ou não. Aceitemos ou não. Revoltemo-nos com isto ou convivamos resignados a isto... mas, enquanto o sistema solar existir, segundo as regras e leis físicas e químicas que o rege, isto se sucederá ad infinitum.

A vontade íntima do homem e mesmo seu conhecimento acumulado e sua capacidade científica e tecnológica não poderão mudar isto sem causar a destruição disto.

Se o homem conseguisse interferir ou mudar o ciclo solar, junto, mudaria destrutivamente o ciclo da vida.

Portanto, a vida natural - visto que só existe dentro das condições estabelecidas pela relação intrínseca entre esta verdade imutável do sistema solar e os reinos naturais (mineral, vegetal e animal) - é uma conseqüência deste princípio ou verdade imutável.

Isto significa que a vida deriva disto e não causa isto.

Não se trata de um pragmatismo simplista. É claro que a totalidade do ente homem está imersa num contexto mais complexo de significados. Há, no homem, outros componentes, além de sua dependência a um conjunto de leis objetivas, que demonstram o ultrapassamento da realidade do homem muito para além deste raciocínio anterior, que alguns poderão considerar “fisicista” ou mecanicista.

De fato, se por um lado, existem no homem as mesmas condições que o circunscrevem à objetividade destas leis universais, por outro, existem também outras condições mais subjetivas que o permitem assimilar intimamente (resignar-se) os conjuntos individuais e universais sobre si e o mundo onde existe, ou, que o permitem rejeitar intimamente (revoltar-se) contra a lógica formal da realidade ontológica que se lhe é imposta.

O critério mediador entre ambas as possibilidades construtivas do sentido de ser do homem é a lei soberana da liberdade.

Com ela o homem pode concordar (resignar-se) com as verdades imutáveis - que estão dadas no universo à revelia do próprio homem - ou discordar (revoltar-se) delas.

Fato é: qualquer das escolhas terá seu preço!

Se no uso da sua liberdade, o homem escolhe concordar intimamente (resignar-se) com a evidência de sua condição ontológica, irá destruir suas vontades divergentes e construir um itinerário na direção daquilo que de fato ele é.

Se, ao contrário, o homem escolhe discordar intimamente (revoltar-se) das realidades que o antecedem (pois as aptidões comportamentais, isto é, psíquicas, são posteriores às aptidões biológicas, isto é, genéticas), então, neste caso de discordância possível pela liberdade, ele construirá um castelo de ilusão que, no final, irá destruir tudo aquilo que de fato ele é, enquanto ser que se desenvolve a partir das informações que antecipadamente possui em seu DNA.

Isto posto, é preciso considerar que: a liberdade - uma vez estabelecida na natureza do homem como condição para lhe permitir apropriar-se de sua condição ou negar sua realidade - confere-lhe o direito de construir qualquer raciocínio que se oponha a este.

O homem é livre não apenas para destruir o que lhe acerca, como se evidencia vivamente mesmo numa falsa consciência ecológica hodierna.

É livre também para destruir a si mesmo, contrapondo suas escolhas de entendimento aos fatos de sua condição existencial. Fazendo isto, pode reconstruir-se de direito, re-significando-se por direito, mesmo que esta reconstrução e re-significação o levem à destruição daquilo que ele verdadeiramente é, de fato.

Resumo da “ópera” vital... o homem pode escolher comportar-se como quiser. Pode até mesmo iludir-se com a falsa idéia de que suas escolhas comportamentais derivam de sua estrutura biológica, como um dado firme de sua condição de pessoa que o incapacita a vencer o apelo íntimo (e não inato) que o lança num calabouço escuro de escolhas contra a própria natureza.

De fato, embora o desenvolvimento embrionário siga mais facilmente as leis dogmáticas (informações genéticas do DNA e leis biológicas entre embrião e ventre) do que as leis relacionais intra uterinas (afetividade, aceitação, rejeição, etc), é inegável que desde as primeiras semanas de vida o pequeno embrião irá iniciar um processo de desenvolvimento de assimilação das futuras aptidões psíquicas que desenvolverá, um dia, de modo consciente.

Isto quer dizer que as leis dogmáticas da genética precedem as leis relativas do psiquismo.

Na esteira de seu futuro desenvolvimento – e já desde a influência ainda inconsciente sofrida no período intra uterino – o homem acumula marcas potentes em sua estrutura de pessoa, fazendo-o refém de escolhas anti naturais. Fato é: há um dado apriorístico que o define ontologicamente, segundo a lei natural que é universal e imutável (independente da cultura) e não segundo a lei comportamental é que mutável (dependente da cultura).

Em termos filosóficos...

O que determina a constituição ontológica do homem são as leis físicas, químicas, biológicas, enfim, as quais possuem uma cadeia de princípios imutáveis e que constroem o suporte (substare) para um possível desenvolvimento do psiquismo.

O que determina a constituição antropológica do homem são as leis psíquicas, morais, éticas, espirituais, etc, ou seja, aquelas que, não obstante possam ter um parâmetro de imutabilidade por princípio, podem, na medida em que se circunscrevem no paradigma da escolha, fixar-se no indivíduo e na sociedade (portanto na cultura) numa cadeia de princípios relativos.

Contudo, o apriorismo natural permanece sendo da realidade que antepara o psiquismo, isto é, o corpo.

Logo, a determinação do que seja o ente, em última instância, está dada pela sua constituição anterior ao que sua escolha resolve modificar.

Vamos lá... que tudo isto é exaustivo de ficar refletindo, cá entre nós, de fato o é...

Mas, se não o fizermos, devolvendo à razão o que a emoção fácil, o prazer estéril, o sentimento libertino, a paixão louca, enfim, os desmandos das escolhas têm tirado dela (razão), onde irá parar a humanidade do bicho racional?

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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