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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O mundo carece de silêncio...

Há uma balburdia de informações no mundo... letreiros, placas, vitrines, outdoors, cartazes, livros, jornais, panfletos, todo tipo de equipamento de som e vídeo, uma explosão virtual de conteúdos, enfim, uma erupção de sons e imagens sem fim...

Na era da comunicação visual e da virtualidade, tudo fala com cores múltiplas e sons diversos...

As idéias em convulsão precisam vazar por todos os lados...

E quanto mais a expressão das idéias, pensamentos, vontades e todo gênero da criatividade humana se expande e multiplica, a velocidade parece comprimir o tempo, a fim de fazer caber tais conteúdos no tempo e no espaço...

O homem parece enlouquecido pelo conflito do desajuste interno, em que a ânsia voraz por maior quantidade de conteúdos diversos em menor tempo e com maior velocidade, entra em choque com a necessidade orgânica, psíquica e espiritual de pausa para elaboração dos processos. Este conflito íntimo e ao mesmo tempo universal, parece gerar uma esquizofrenia generalizada dos sentidos...

Na multiplicação qualitativa dos meios de informação em favor do saber de qualidade, ocorre, inversamente, a desqualificação reflexiva por senso crítico do ser pensante. Com isto, na prática resultante do choque de tantas teorias, o homem vai se tornando - pouco a pouco e cada vez mais - uma máquina potente de dados acumulados com, cada vez menos, capacidade de elaboração crítica dos dados armazenados.

O homem da era tecnológica, que criou a inteligência artificial, vai se tornando refém da própria criação, na medida em que vai reeducando sua capacidade reflexiva, fazendo-a involuir para uma mecanicidade de idéias, pensamentos, vontades sem efetivo senso crítico.

De fato, neste processo, o homem continua a ser um ser pensante, todavia, cada vez menos reflexivo.

O que distingue o animal racional do irracional é exatamente a capacidade de refletir. O pensamento é o ato de escolha entre uma coisa e outra, distintas entre si. Este ato de escolha pode ser reduzido a um mecanismo puramente instintivo ou ampliado a um processo dinamicamente reflexivo.

Há um exemplo que gosto de usar. Diante de uma situação de confronto, um cão e um gato que se deparam de modo agressivo um contra o outro, só tem duas opções de escolha: ou decidem pela fuga ou pelo confronto.

Esta escolha é o nível mais básico do pensamento. É o pensamento que acontece de modo instintivo. Não existe a possibilidade de reformulação das opções produzindo, a partir da avaliação crítica do pensamento, uma alternativa diferente.

Nem o cão nem o gato, diante do fato instalado, têm a possibilidade de proporem, por exemplo, como alternativa ao impasse, um chá, para discutirem melhor o assunto e chegarem a um denominador comum sobre o problema.

A conciliação é, portanto, uma negociação do pensamento instintivo que faz parar o ato impulsivo, impedindo a resposta pura e simplesmente instintiva (fuga ou atraque).

O pensamento reflexivo é o movimento da escolha no sentido de fazer fletir novamente (= re-fletir) a escolha primária e automática, isto é, o pensamento reflexivo é o movimento interno que faz curvar as disposições do instinto para uma alternativa não pragmática (fuga ou atraque), donde derive uma alternativa que chamamos de mais inteligente.

Mesmo na severa disputa entre interesses opostos, o homem, distintamente das outras espécies animais (que são dotadas disto que chamamos de pensamento instintivo), é capaz de construir formas incrivelmente elaboradas para solucionar os impasses.

Vejamos os tribunais. O homem é capaz de dedicar uma vida inteira, se especializando no conhecimento do direito para reger a disputa entre seus semelhantes, para ajudá-los a construir uma espécie de consenso. O homem cria mecanismos como a elaboradíssima estrutura jurídica, com juízes, júris, advogados, promotores, testemunhas, enfim, um emaranhado – num para lá de complexo sistema - de leis e normas de regulação para evitar a solução prática e imediata do pensamento instintivo: simplesmente destruir o outro e garantir prontamente o que requer para si como escolha.

O gênio humano é capaz de inventar todo este estupendo aparato escolhendo a forma menos instintiva e mais reflexiva do pensamento para manter-se distinto do cão e do gato na solução de um impasse instalado, evitando com isto uma situação de confronto animal entre escolhas opostas.

Não satisfeito com a capacidade de produzir este movimento (= flexão) que o projeta para fora de si mesmo - interferindo na permanente situação de confronto entre as escolhas diferentes entre as pessoas diferentes - o homem, genialmente, cria uma inteligência completamente fora de si e distinta de si...

E passa a reger-se pouco a pouco dependente dela...

A predominância progressiva desta inteligência artificial vai devolvendo o homem, sem que se dê conta disto, ao retrocesso naquilo que distingue seu pensamento reflexivo do pensamento instintivo das demais espécies.

O homem vai voltando, vítima de sua própria genialidade reflexiva, para o gueto obtuso do pensamento instintivo, cada vez menos capaz de reflexão e cada vez mais mecanizado pela escolha viceral.

Formidavelmente, a inteligência reflexiva humana, produziu na era da inteligência artificial o mais fantástico calabouço para a própria razão. Globalizou com quantidade e velocidade de tal modo a multiplicação das informações que está incapacitando a si mesmo da pérola genuína de sua constituição como animal racional: a capacidade de refletir...

Deve ser por isto que dizem que a linha que separa o gênio, o louco e o santo é muito tênue...

Ponha tênue nisto...

Talvez a equação seja a seguinte:

- o gênio é um louco sem santidade;

- o louco é um santo sem genialidade;

- o santo é aquele cuja loucura é pura genialidade;

Diante da eloqüência murmurante de tantas idéias e palavras, perguntar-se-ia: que tipo efetivo de silêncio carece a alma humana?

Consideremos, de um lado, o som da vontade humana que prorrompeu desobedientemente o éden paradisíaco na origem do desconhecimento do homem em relação a si mesmo, ruminando reflexivamente a mastigação com volúpia do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Consideremos, ainda, em contrapartida a isto, o silêncio lânguido da Palavra emudecida do alto da copa do madeiro da Cruz, num ato de obediência ao propósito exclusivo de somente fazer o bem, mesmo sob a pena capital – sob a égide de dois tribunais: um religioso e um laico (ambos conchavados na defesa dos interesses próprios) – para sustentar a escolha reflexiva de conhecer somente o Bem.

Confrontando uma consideração com outra, resta-nos, pela notoriedade da conclusão reflexiva, que um só é o silêncio que carece o homem...

O homem carece silenciar a própria vontade!

Quem tem o poder de calar a própria vontade tem o poder de ouvir a Verdade sobre si mesmo, sobre o outro e sobre Deus!

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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