Após
desabar a alma na última postagem, laconizando angústias acumuladas por conta
de uma percepção cada vez mais amiúde das entrelinhas da história, onde Deus
procura deixar pistas de Seu agir velado e paradoxal - mas nunca pragmático e
contraditório - rendo-me, inteiro, aos quatro votos que professei como monge
católico, com ênfase ao quarto que é especial: “amor ao clero sem limites e sem
julgamentos” (São Francisco de Assis).
E
por quê?
Habemus
Papam!
Habemus
Papam é o que fez ecoar, ontem, a Igreja, e mesmo o mundo inteiro, através da
maior cobertura televisiva da história, sem qualquer precedente.
No
Brasil, até quem fez império midiático protestando por veemente oposição de
credo ao catolicismo, teve que transmitir - ao vivo e a cores! - o maior
fenômeno religioso do planeta terra, nem que fosse só para não ter a vergonha
de registrar audiência perto de zero.
Inimaginável!
Até mesmo o mais importante protagonista desse episódio, o Papa Emérito, que
causou com sua renúncia um novo Pontífice Romano, grudou os olhos de anciã
sabedoria doutoral num monitor de TV para acompanhar o mundo inteiro dobrar-se
– festejando efusivo ou “cuspindo marimbondo” – diante do novo Vigário de
Cristo na Terra.
Fato
é: por mais que falsos profetas ressuscitem mortos, em sessões de curandeirismo
em troca de dízimo, são incapazes de atrair com tamanha força toda a atenção do
globo.
Que
explicação há nisto senão que reside no Ministério Petrino um real apontamento
para a Verdadeira Transcendência?
Que
poder é este que cativa de modo tão impactante os que buscam a Deus com maior
sinceridade do que aqueles que, embora chamando a Deus de Senhor, tratam-no
como Servo de seus projetos de glória humana?
Que
poder é este que flagra aqueles que recusam crer que o Papa seja o Verdadeiro
Vigário de Cristo na Terra, a ponto de obriga-los à pavorosa contradição de
terem que monitorar o fenômeno papal para tentar provar ser falso aquilo que de
antemão já consideravam não ser verdadeiro?
E
se muitos vão justificar que se prendem à transição do papado só para
registrarem a oportunidade de ver finalmente desmantelar - de uma vez por todas!
- a alegada “hipocrisia” da Igreja que se diz de Cristo, então, cabe perguntar:
de onde vem tão poderoso desejo de ver o fim do que julgam sequer ter tido um
verdadeiro começo?
De
qualquer forma, se - para “gregos e troianos” contra ou a favor de romanos -,
hoje, reboou um solene (para uns) ou um debochado (para outros) habemus papam, para mim, muito
particularmente, e para a Obra dos Pequenos Monges do Pater Noster, calou fundo
um sonoro habemus papam Francesco...
E
não podia ser diferente...
O
quarto voto que fazemos como monges e monjas do Pater Noster, o Pai de Nosso
Senhor Jesus Cristo e nosso, assim como o Carisma de Fundação desta Obra de Deus,
está alicerçado na mais genuína expressão do amor de Francisco de Assis a Deus:
através de sua veneração autêntica às Coisas Sagradas, à Hierarquia e à Igreja
Santa e Católica, expressa nesta sua bela frase dita ao Colégio de Cardeais de
sua época, quando perguntado como conseguiria compatibilizar sua proposta de “altíssima
pobreza” com a realidade opulenta da Cúria Romana: “amando-os, sem limites e sem
julgamentos”, respondeu intrépido o santo...
Todos
fazem questão de lembrar-se do pobrezinho de Assis por seu despojamento dos
bens materiais e amor aos mais desfavorecidos. E não estão errados.
Ou
exaltam o irmãozinho das criaturas por sua devoção – e não adoração – aos seres
criados, por reluzirem a perfeição de Seu Criador. No que igualmente estão
certos.
Mas
quem se lembra do Gigante da Espiritualidade que reconstruiu a Igreja não distribuindo
o patrimônio material da Igreja ou exigindo de seus líderes - opulentos à época
- uma universal conversão à pobreza temporal, como pretendiam cátaros e
valdenses, cujo reducionismo temporal da fé os conduziu a passos largos para a
heresia, senão, muito pelo contrário, repetindo sem cessar para a cúpula da
Cúria Romana de então que os amaria, não obstante tudo, “sem limites e sem
julgamentos”?
Francisco de Assis sabia, melhor que a grande maioria - antes e depois de si - que: se agradava a Deus seu total despojamento material para fazer-se materialmente pobre com os mais pobres, muito mais agradava a Deus sua espiritualidade despojada, que o unia na Eucaristia, Àquele que, embora possuindo o maior dos tesouros – a Natureza Divina – fez-Se o mais Pobre entre todos os pobres: abdicando de ser Rei do Universo para fazer-Se servo dos pecadores na terra, aponto de deixar-se ser preso e morto, tolerando atravessar os séculos em favor da salvação dos homens como amoroso prisioneiro do Tabernáculo?
Pode
haver maior pobreza que esta para ser cultuada pelo homem: o Filho de Deus,
Herdeiro do Céu e da Terra, abrir mão de Sua condição de ser igual a Deus para
fazer-se miseravelmente igual a nós em tudo, fazendo-se inclusive pecado para
tomar sobre si nossas transgressões sem, contudo, cometer um único pecado para
merecer a Cruz que nos Salva?
Francisco,
amando a Deus em primeiro lugar, mais que a si e mais que a qualquer outra
criatura, com pureza de alma, conseguiu rasgar o véu no templo de sua percepção
sensorial para vislumbrar a tal ponto o Mistério da Fé que encerra a Real
Presença de Deus na Eucaristia que, ao invés de se escandalizar com a opulência
dos Hierarcas ou com os desmandos temporais da Cúria Romana ou ainda com a
prevaricação moral deste ou daquele membro do clero, foi capaz de enxergar os
Ministros de Cristo muito para além das exigências de pureza moral e ética,
própria aos que julgam com facilidade e prontidão as atitudes alheias na mesma
medida em que, com tremenda dificuldade e muito tardiamente julgam a si
próprios...
Por
esta lucidez ímpar de Fé, Francisco de Assis - Místico Chagado e Mestre da
Espiritualidade - era capaz de dizer sem titubear: ‘se encontra-se um Anjo Puro, vindo direto do Trono de Deus e o pior
padre da terra, o mais vil, o mais pecador, ajoelhar-me-ia diante do padre e
lhe beijaria as mãos, porque o Anjo, em toda a sua pureza não pode trazer-me do
Céu o Pão da Vida, e, o mais vil dos
padres, pode dar-me o alimento dos anjos em favor da salvação de minha alma”.
Com
toda reverência que minha consciência a respeito deste Carisma que lateja em
meu peito permite, olho para o Papa Francisco de Buenos Aires, lo hermano de nosotros, recém eleito
Sucessor de Pedro Apóstolo, e posso dizer com a simplicidade de bom mineiro com
um traço de espiritualidade franciscana amalgamada à espiritualidade kenótica dos orientais católicos:
_ Santo
Padre, se pensando assim, uníssono com aquele de quem tomou o nome para vosso
papado, Vossa Santidade priorizar o serviço da caridade em favor do bem dos
materialmente pobres, amando o Criador nas criaturas, sereis, então, um grande
Papa, todavia, maior que alguns e menor que muitos.
_ Se
de modo concomitante Vossa Santidade priorizar, sobretudo, a Caridade Litúrgica
em favor do bem dos espiritualmente pobres, adorando o Criador para além das
criaturas, então, serás um Grande Santo, nem maior nem menor que todos os
demais.
_ E
se ainda, o vosso nome escolhido, Francisco, contiver o desejo de continuar como
Pontífice, o que o vosso confrade Jesuíta se propôs como missionário no extremo
oriente, então, vale lembrar quão mais longe vós sereis capaz de chegar que a
Doutora da Igreja, que ardendo em Adoração ao Amoroso e Divino Prisioneiro do
Tabernáculo, tornou-se Padroeira das Missões sem jamais deixar o claustro.
_ Santo
Papa Francisco, por último, perdoe-me o atrevimento em dirigir-me a Vós
publicamente, visto que esta minha postagem parece já ter se tornado uma
terceira carta aberta a Pontífice Romano (duas a Bento XVI e esta primeira a
Vossa Santidade), então, eu aproveito para registrar: não que eu espere de vós
qualquer coisa que me pese contra o quarto voto de amar a vós e ao vosso clero
– não só em Roma, mas em todo mundo – sem limites e sem julgamentos,
contudo, desejo para vosso pontificado, muito para além de amar os pobres como
convém, guardar a Liturgia como ninguém!... ou ao menos como os Franciscos, que
Vos serviram de inspiração para o nome!
Pe.
Frei Flávio Henrique, pmPN
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