O Natal se aproxima. Todos os anos a Sabedoria da Igreja conserva viva a Tradição do mais importante nascimento que já houve na Terra: o nascimento do Único Menino com Natureza verdadeiramente Divina.
Gerado pelo Pai no Seio da Trindade Divina, Ele é Verdadeiramente Deus. Gerado no ventre da Virgem Maria por Obra do Espírito Santo, Ele é Verdadeiramente Homem!
Não houve antes. Não há agora. Nem haverá jamais, nascimento tão distinto e egrégio.
Deus Se fez carne para habitar em meio a nós. Veio para nos Salvar. Sua vinda como Homem gerou revolta entre os Anjos. E como toda revolta termina em divisão (= diabolus/diaboli), o Céu cindiu e precipitou para Terra aqueles que se tornaram inimigos de Deus.
Vagando pela Terra para estabelecer a inimizade dos homens com Deus, o poder das trevas disseminou em muitas culturas e crenças os mitos sobre filhos de deuses. Para confundir e desacreditar a Vinda do Único Herdeiro do Trono Celeste – o Mashiar (Messias) Hebreu - aqui e acolá, ao longo da história humana, se difundiu estórias fantásticas e mirabolantes sobre divindades e suas peripécias com os reinos dos homens...
Mas o Verbo Se fez carne uma única vez, no centro geográfico do mundo, no centro cultural da humanidade e no centro paradigmático divisor da história... e habitou entre nós.
Entre os extremos do ocidente e do oriente, a Pedra Angular Se estabeleceu para mediar a religação autêntica entre a criatura humana e o Criador Divino.
O Verbo venceu a natureza carnal e Se fez carne por Obra do Espírito de Deus...
O Verbo venceu a ambição e o orgulho dos príncipes deste mundo e fez da manjedoura de palha um Trono de Humildade...
O Verbo venceu a inveja e o ciúme dos governantes da Terra Santa (Santa por ter acolhido Deus numa gruta), fugindo ileso ao atravessar o deserto onde habitam os espíritos malignos, para refugiar-Se onde outrora o Povo de Deus fora escravizado pelos antigos Faraós, então soberanos da Terra...
O Verbo - a Água Viva da Divina Fonte - recém nascido da carne de uma Virgem, venceu a truculência do Rei de Judá, escapando ao rio de sangue que se derramou no seu encalço, no mais eloqüente infanticídio da história...
E, após exilar-se além mar vermelho – que fora atravessado a pés enxutos por Moisés e o Povo Pascal - voltou menino para crescer em tamanho, graça e sabedoria, no entorno das águas mortas do único mar sem vida do globo, o mar devidamente chamado de morto, por estar a mais de 400 metros abaixo do nível dos oceanos, formando uma gigantesca bacia de água extremamente salinizada e estéril para a vida... Lá, neste espaço geográfico inóspito e desértico, plantou Deus a Árvore da Vida...
O Verbo venceu a insignificância desprezível das terras áridas e inóspitas do Antigo Israel, para fazer frente, pela Palavra da Verdade, a um dos maiores Impérios que a Terra já conheceu, fazendo-o curvar, toda sua opulência e soberba legitimamente representada pelo Governador da Judéia, diante do tremendo Mistério: “o que é a Verdade?!”
O Verbo venceu a cegueira, a surdez, o aleijão, a doença, a fome, o desprezo, o abandono, enfim, a morte do corpo e a futura morte da alma... Com os Sete últimos Sopros de Sua boca derrotou o maior dos inimigos do homem, a morte:
1) "Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem." (Lucas, 23:34);
2) "Em verdade eu te digo que hoje estarás comigo no Paraíso." (Lucas 23:43);
3) "Mulher, eis aí teu filho; olha aí a tua mãe." (João 19:26-27);
4) "Eli, Eli, lama sabachthani? (Deus, meu Deus, por que me abandonaste?)" (Mateus 27:46 e Marcos 15:34);
5) "Tenho sede". (João 19:28);
6) "Está consumado" (João 19:30);
7) "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito". (Lucas 23 46);
O Verbo destruiu a morte pela morte, porque o Verbo, a Palavra, a Razão, Se fez carne e assumiu, na carne, a dor e a morte, para poder destruí-las de igual modo pela dor e pela morte...
O Verbo venceu o veneno da serpente, a morte, extraindo dele o antídoto: matando a morte pela morte! Por esta razão a Arte Sacra Bizantina em sua magnífica catequese iconográfica, apresenta, no Ícone da Natividade, o Menino Deus envolto numa mortalha... É para isto que Se fez carne e habitou entre nós: para matar a morte pela morte! Aleluia!...
O Verbo veio para vencer o pior dos inimigos dos homens, feitos à imagem e semelhança de Deus... Veio para vencer a morte! Aleluia! E venceu a morte pela morte! Aleluia! Aleluia! Aleluia!
A vitória sobre a morte só poderia se realizar matando-se a morte. Escolheu Deus a morte de Cruz, pois, ninguém realiza a vontade de Deus sem antes crucificar suas próprias vontades (“Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua.” - Lc 22, 42). Se esta é a evidência da verdade, de onde vem a repugnância que os falsos “cristãos” de hoje tem da Venerável e Vivificante Cruz?!
A glória que buscam todos aqueles que usam em vão o Nome de Deus ao repudiar a Cruz, é igualmente vã...
A Glória de Cristo se dá através da Cruz! Ele Se fez carne para habitar no meio de nós, morrer como um de nós e ressuscitar como primogênito dentre os mortos para dividir a herança da Ressurreição com todos...
Sem a Sua Gloriosa Encarnação, não haveria Sua Gloriosa Paixão...
Sem Sua Gloriosa Paixão, não haveria Sua Gloriosa Morte na Cruz, onde derramou sobre todas as gerações - do passado, presente e futuro - o Amor Puro e incondicional...
E sem esta Gloriosa morte na Cruz, não haveria Gloriosa Ressurreição...
E se Cristo não morresse para ressuscitar, como primogênito, ninguém ressuscitaria... Esse é o Mistério da Fé!
Que neste Natal, nasça em nós a humildade e a modéstia necessárias para entendermos este Mistério da Fé para além dos nossos interesses pessoais e temporais. Que nasça em nós o Cristo Verdadeiro que veio, sim, para morrer por amor de nós, e ensinar-nos a crucificar, sim, as nossas vontades por Amor de Deus!
Como poderá nascer em nós a inocente e humilde Vontade de Deus se, antes, nós não aceitarmos que sejam crucificadas as nossas vontades cheias de malícia e soberba?
Como poderá Deus agir como uma Criança em nossa consciência se, antes, nós não fizermos curvar o adulto altivo e pretensioso, senhor absoluto dos nossos desejos e vaidades?
Como poderá, enfim, o Verbo Eterno habitar em nós, fazendo da nossa morada carnal a morada do Seu Espírito se, antes, nós não destruirmos os tronos de glória vã das nossas ambições, que nos fazem desejar sermos amados e idolatrados pelos que nos rodeiam como se fossemos deuses?
O Natal se aproxima com chocolates, papais-noéis, presentes, comes e bebes, festas e alegrias, e tudo que o homem pode imaginar e construir para substituir o verdadeiro significado do Natal... E, este falso natal, se aproximando assim, do imaginário coletivo de muitos que se acreditam “cristãos”, faz afastar para longe dos convivas de Cristo o Verdadeiro Natal, o qual traz consigo a realidade intrépida dos que se identificam com o Menino da Manjedoura, porque igualmente não nasceram em berço de ouro...
Esta dura realidade do Natal não se apresenta a nós para estabelecer sobre nossas consciências maior condenação do que ela já carrega em razão dos nossos subterfúgios festivos. Mas, para trazer nossas consciências para o reconhecimento da realidade sem máscaras e sem gorros de “bom” velinho barbudo, duendes e fantasias surreais, introduzindo-nos no Verdadeiro Espírito do Natal, fazendo-nos sentir compaixão sincera pelos mais necessitados, como acontecia com o velho Bispo São Nicolau...
Envolto na mortalha de uma recém nascida Obra no Coração da Igreja, desejo a todos aquilo que só Deus pode conceder aos homens de Fé e de Boa Vontade, nesta Natividade do Filho Único de Deus Pai: a Paz que vem do Alto, que se mantém mesmo no tempo da desgraça e do infortúnio e, a Vida Eterna, que adentra o Céu muito para além dos túmulos!
FELIZ NATAL !!!
Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN
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