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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Eu não quero ser santo...

É verdade! Sou sacerdote e monge e nunca quis ser santo. Nem quero agora. Certamente não é a meta do meu querer para 2011 e acredito que não quererei no futuro.

Isto pode soar estranho, muito estranho, partindo de alguém consagrado a Deus, não é mesmo?!

Contudo, mais estranho seria um religioso, que livremente escolhe seguir um projeto que jamais concebeu para si mesmo, e que livremente faz votos, faltar com a verdade...

Há, contudo, razões honestas para que eu não queira ser santo. Vamos a elas.

A primeira delas está no significado da própria palavra. O Novo Testamento, escrito em grego e difundido em latim, recorre ao Antigo Testamento, escrito em hebraico, para buscar o conceito de sanctus. É no hebraico que temos o termo Kadosh e que significa, etimologicamente, separado.

Estrito senso, “só Deus é Santo” (cf. 1Sm 2,2; Sl 22,3; Is 6,3). De fato, a única natureza existente completamente distinta, separada de todas as leis cósmicas, e separada perfeitamente do tempo e do espaço, é a Natureza Divina.

Todas as demais naturezas, no mundo da Graça e no mundo natural, estão, de alguma maneira, misturadas por um conjunto de elementos. De tal modo que a separação só se dá em razão da Graça e em medida de participação, não em medida de essência.

Esta separação clara e absoluta de Deus é tão patente que até o Mistério da Encarnação a demonstra, na questão da dupla Natureza do Filho, Verdadeiramente Deus e Verdadeiramente Homem. Na união hipostática na Única Pessoa do Filho, as naturezas – Divina e Humana - não se misturam, não se fundem nem se confundem. Permanecem ‘separadas’ substancialmente, mas unidas sem confusão na Única Pessoa do Filho, conforme ensina o Dogma de Calcedônia, em 461dC.

Se ser santo é ser separado, ser perfeitamente Santo é ser perfeitamente separado. E só Deus, que é perfeitamente separado, é perfeitamente Santo.

Logo, como o início do pecado no gênero humano está associado ao desejo de “ser como deuses” (cf. Gn 3, 5), eu não quero ser como um deus, perfeitamente separado, isto é, não desejo acreditar iludidamente que a minha natureza é divina, sequer em germe... A natureza que Deus me deu é humana e é Sua Graça que a Diviniza...

Não sou um deus. Deus é Santo, Santo, Santo. Sou pecador que vai sendo 'divinizado' por participação na Graça Divina, não por desenvolvimento da consciência de mim mesmo.

Não sou um iluminat, ou seja, alguém separado por força de sua própria condição. Sou salvo, não salvador de mim mesmo.

Aceito com modéstia o que sou. Não desejo presunçosamente ser aquilo que não posso ser. E, se por um lado, não posso separar-me do pecado por minha própria força, por outro, não posso trancar-me nele rejeitando a Graça santificante (separadora) de Deus.

Esta é a primeira razão para que eu não queira - no sentido de ser uma iniciativa da minha vontade, poder ou capacidade - ser santo... Há outras!

Ser santo é ser separado. Não é ser separando e nem separador. Quem é separado está sob a ação de outrem. Eu não me separo porque eu não sigo a mim mesmo. É Deus quem me separa para Si. Ora, se eu não posso separar a mim mesmo para me seguir, então, não posso querer ser santo, no máximo, posso aceitar - ou não - participar da santidade de Deus. Posso responder – ou não - à separação feita por Deus.

Estas razões anteriores são da ordem da lógica, contra as quais não se pode tergiversar sem se tornar ilógico.

Todavia, há uma razão bem mais severa para que eu não queira ser santo...

Tenta, você, separar um braço, uma perna, ou mesmo um dedinho, do seu corpo – de preferência sem anestesia - e diga-me o que sente, tanto pela perda do membro como pela violência do ato...

Dor? Pavor? Medo? Angústia? Insegurança? Perda?...

Tudo isto e muito mais - só de imaginar! - não é mesmo?!

Sou cidadão do mundo. Nasci e cresci no mundo. Aprendi com o mundo. Quando eu vim ao mundo ele já existia como um corpo marcado pelo pecado. Sou um membro deste corpo, com as mesmas marcas. Ser separado dói... Implica em sentir tudo aquilo que você imagina sentir com a perda de um membro de seu corpo...

Dói abdicar dos prazeres da vida, numa vida de renúncias...

Dói não ser compreendido pelos que não entendem esta separação...

Dói ser tratado como um membro amputado e sem valor para o corpo social...

Dói de muitas maneiras, ser separado (santo)...

Não sou masoquista. Se não amo o sofrimento e não sinto prazer na dor, como posso querer ser separado? Por isto nunca quis e continuo não querendo ser santo... Contudo, de que vale a minha vontade???

Mas, a coroa da razão para o fato de eu não querer ser santo, é a vida dos santos...

Não bastassem as dores das renúncias acima elencadas, os santos (separados por Deus), viveram uma vida de horror nesta terra. Sinto calafrios de indignidade só de pensar no dízimo (para quem não sabe: a fração de 10%) da resposta que eles deram...

Como alguém pode querer isto para si? Tanto é verdade que nenhum de nós, capaz de refletir sobre o que isto supõe, pode querer sem grande sofrimento.

Aqueles que prontamente dizem querer, sem avaliar o que significa curvar a vida na direção da Cruz (único caminho para santidade), são enganadores de si mesmos e, na prática, não suportam as exigências de tal empreitada. São seplucros caiados.

Raríssimos são aqueles, entre nós, que respondem a este chamado com o rigor que ele requer. Ou estou mentindo?!

Fosse mentira, os processos de canonização seriam uma festa e não uma batalha com tribunal próprio...

De resto, o simples desejo de ser santo (separado), no sentido de ser diferente, especial, iluminado, acima dos pobres mortais, já é, de per si, o contrário da santidade. É presunção! E se temos esta pretensão dentro de nós, começaremos a ser santos quando começarmos a lutar contra esta pretensão.

Posto tudo isto eu lhe pergunto: como é que eu posso querer ser santo?

Em perspectiva da vida futura, esta separação na vida presente é uma dádiva. Mas isto é um ato de fé, pois, em razão da vida presente, viver como um separado (santo) é uma verdadeira loucura.

Por isto, para ser coerente com este chamado, não existem frases mais honestas e verdadeiras que as seguintes:

- “Morro por que não morro! Vivo sem viver em mim!” (Santa Tereza D’Ávila);

- “Já não sou eu quem vivo é Cristo que vive em mim” (São Paulo Apóstolo);

- “Meu amor está crucificado!” (Santo Inácio de Antioquia);

Conclusão: não quero ser santo.

A santidade é o querer de Deus para mim, não o meu querer para mim mesmo e nem para Deus. E porque Deus me quer Santo, Ele me separou para Si, contra meus planos de vida. Que posso fazer? Dizer não para Deus? Virar-Lhe as costas? Ignorar Aquele que desenhou minha existência quando eu sequer podia desejá-la ou mesmo imaginá-la?

Francamente? Bem que eu gostaria de ser corajoso o suficiente para opor-me ao Desígnio de Deus. A ‘lasqueira’ (expressão mineira interiorana que significa algo parecido com desafio incalculável, que pode ser bom ou ruim) é que nem a virtude da coragem eu possuo, logo, tenho que me contentar com a minha covardia em seguir sem méritos o Santo dos Santos, sentindo-me, além do que, humilhado.

Por isto, mesmo sem querer ser santo, no sentido de ser a santidade um desejo que parte de mim, a busca/resposta de santidade é um compromisso que abarca minha existência fugaz.

Minha meta e meus votos para 2011 são muitíssimo mais módicos do que o pleito da egrégia santidade. Me contento em me tornar - com ajuda de Deus - um cristão melhor, mais autêntico, íntegro e comprometido.

É o que também lhe desejo para 2011.

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

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