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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

sábado, 13 de novembro de 2010

(Parte I) O reinocentrismo atual na esteira do “espírito revoltoso”...

Toda árvore que hoje existe como tal, adulta, veio de uma semente, muda ou raiz.

Algumas, no entanto, produzem alimento saudável e madeira resistente para boas construções. Outras servem ao homem e à natureza numa gama bem diversa de bens e insumos.

Contudo, há aquelas que produzem apenas folhas sem serventia e, quando ressequidas, prestam somente como lenha para inflamar o fogo.

Assim também acontece com o conhecimento.

As sabedorias das novas ciências no contexto da modernidade que, hoje, com seus “troncos robustos” e suas “copas viçosas” fornecem “sombra” para as idéias e expectativas de nosso tempo, um dia, foram pequenas como “sementes” e “tenras como raízes” na pena dos filósofos, cientistas e sábios iluministas...

Muitas dessas sabedorias se tornaram universalmente “frondosas” e “viçosas”, e, por tal razão, predominam no “solo” da cultura hodierna.

Nem sempre, contudo, a predominância, a robustez e o aspecto viçoso são sinônimos de produtividade e/ou utilidade. Recordemos o exemplo do Evangelho:

“Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas só achou nela folhas; e disse-lhe: ‘Jamais nasça fruto de ti!’ E imediatamente a figueira secou.”[1] (Grifo nosso)

O reinocentrismo é semelhante a tal figueira.

E o que é o reinocentrismo?

É um modelo eclesiológico (eclesiologia é o estudo sobre a Igreja) cuja “semente” foi plantada na história em larga escala desde o tempo da reforma protestante.

Este modelo eclesiológico desenvolveu-se como “vegetação” cheia de “vigor” e apresenta-se culturalmente “viçoso” em todo ocidente, embora, tal “vigor” e “viço” correspondam em medida exata ao exemplo da figueira estéril.

Nos dias atuais, devido à pujança de seu predomínio no modelo mental do ocidente, a influência deste fenômeno adentra as fronteiras de algumas teologias católicas.

E o faz através dos novos modelos antropológicos (antrophos = homem. Antropologia, em linhas gerais, diz respeito ao que é próprio do homem).

Estes modelos advêm das ciências surgidas mais recentemente na história do conhecimento (possuem apenas dois séculos, o que é muito pouco se levarmos em conta o conjunto do saber).

Tais modelos antropológicos são principalmente devedores de neo ciências como: ciências sociológicas, ciências psicológicas e, mais recentemente, em vias de formação, ciência das religiões... Todas, contudo, carentes de efetivo fundamento ontológico (ontos = ser. Ontologia, em linhas gerais, diz respeito à natureza própria do ser).

Apenas para facilitar a noção geral, lembramos que as antropologias são normalmente construídas levando-se em conta o comportamento – individual (psíquico) e coletivo (social) – do homem.

Todavia, esta capacidade humana de comportar-se diversamente da constituição inerente à sua natureza, não redefine ou reconfigura – como pretendem os modernos - sua constituição ontológica, ou seja, sua natureza intrínseca.

A Encíclica SPE SALVI do Papa Bento XVI aborda temas e questões que arremetem ao problema eclesiológico do reinocentrismo. Numa análise desta encíclica feita pelo padre Elílio de Faria Matos, encontramos o seguinte trecho que resume bem esse assunto:

“Essa teologia dita reinocêntrica ao mesmo tempo em que diz com acerto que o fundamental é o reino de Deus, erra fragorosamente ao separar o reino da Igreja e, no fim das contas, como notou o então Cardeal Ratzinger, ao separar o reino do próprio Deus, dobrando o seu sentido numa direção prevalentemente horizontal e terrestre. Cumpre notar que o Reino de Deus anunciado por Jesus e presente no mundo pela ação do Espírito, embora não se restrinja às fronteiras visíveis da Igreja, tem uma relação intrínseca e misteriosa com ela, que, por vontade de Deus, é o “sacramento universal da salvação” (Lumen gentium , n. 48).[2]

É este fragoroso erro destacado pelo Pe. Elílio – que separa o Reino da Igreja - que nos levará até os anais da história, para que possamos perceber a reforma protestante como principal núcleo produtor desse modelo mental “reinante” há mais de cinco séculos...

Ora, por que afirmamos peremptoriamente que é no espírito da reforma protestante -ocorrida há mais de cinco séculos - que se encontra a raiz ou semente das antropologias modernas, as quais semearam na religião de nossos dias o mesmo modelo mental?

Há um elo comum entre o espírito dos reformadores do século XV e o espírito dos iluministas do século XVIII:

- os reformadores postularam o livre exame (interpretação livre da Bíblia, questionando a autoridade da Tradição, do Magistério, dos Dogmas, etc);

- os iluministas fundamentaram o princípio da autonomia (princípio de liberdade que questiona e/ou mesmo suprime a autoridade em todos os âmbitos).

Neste sentido, pode-se dizer que o espírito da reforma protestante, que insurge contra os elementos (Tradição, Magistério, Dogmas, Hierarquia, etc) que dão ao conhecimento Bíblico um sentido pleno de unidade e coerência do Texto Sagrado, transferiu para demais áreas do conhecimento o mesmo modelo de raciocínio, apenas que aplicado às novas formas de saber, multiplicando este erro por todo o ocidente.

É sob a égide deste fenômeno tornado universal no campo do saber religioso e secular que as novas ciências que elencamos acima surgiram.

Dito isto, retornemos ao ambiente originário de todo este paradigma do conhecimento.

O fenômeno reinocentrista, hoje tão difuso na cultura cristã ocidental, era, no contexto da reforma protestante, um conjunto de sementes que se esparramaram pela Europa ao bel sabor do vento impetuoso do livre exame.

Para fazer uma análise pontual dessa constatação, escolhemos um documento histórico que nos parece bem a propósito para perscrutar o mecanismo interno desse fenômeno reinocentrista.

E para verificar suas incongruências e contradições como aplicação prática, tomaremos como ponto de partida, na segunda parte desta reflexão, a carta que o primeiro teólogo reformador (Lutero, protagonista do reinocentrismo) dirigiu contra os demais reformadores que não se submetiam às suas idéias.

Curioso notar que aquele que questionava – através do livre exame – uma autoridade legítima capaz de interpretar universalmente a Bíblia, quis impor - aos que lhe seguiram o espírito de livre examinador - uma espécie de primado autoritário e truculento... Primado este que ele rejeitava veementemente em qualquer outro.

Teoricamente, não se apresentava com tal pretensão. Mas, o que a história demonstra é que na prática, seu poder de articulação mostrou-se ditatorial, orquestrando ideologicamente os príncipes da saxônia para o agir bélico contra seus próprios comparsas, contra o povo e contra a Igreja, para sufocar a revolta que ele iniciara e que lhe escapara das mãos...

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