Evitar-se-ão, pois, os juízos temerários sobre o Próximo: Condenar os nossos irmãos por simples aparências e por motivos mais ou menos fúteis, sem conhecer a fundo as suas intenções, é usurpar o Direito de Deus, Único Juiz supremo dos vivos e dos mortos, é cometer injustiça para com o Próximo, pois se condena sem ser ouvido, nem conhecidos os motivos secretos das suas ações, e as mais das vezes sofre o império de preconceitos ou de qualquer paixão. A Justiça e a Caridade exigem, ao contrário, que nos abstenhamos de julgar e interpretemos o mais favoravelmente possível as ações do Próximo.
l) contristamos o Próximo que, ao ver-se atingido na sua reputação, sofre com isso tanto mais quanto mais aprecia a honra;
2) abatemo-lo na estima dos seus semelhantes;
3) enfraquecemos a autoridade, o critério de que ele tem necessidade para gerir os seus negócios ou exercer legítima influência, e deste modo causamos muitas vezes prejuízos quase irreparáveis.
Nem se diga que aquele, cujas faltas se divulgam, já não tem direito à fama; conserva-o, enquanto as faltas não são públicas; e, seja como for, não se deve perder de vista a Palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Quem de vós estiver sem pecado, atire-lhe a primeira pedra" (Jo.8:7). É de notar que os Santos são extremamente misericordiosos, e buscam todos os meios de salvaguardar a reputação de seus irmãos. Imitemo-los.
E deste modo mais seguros estaremos de evitar a calúnia que, por meio de imputações mentirosas, acusa o Próximo de faltas que ele não cometeu. O que é seguramente injustiça, tanto mais grave quanto é certo que muitas vezes é inspirada pela maldade ou pela inveja.
E que de males não acarreta! Demasiado bem acolhida, infelizmente, pela malícia, circula rapidamente de boca em boca, destrói a reputação e a autoridade daqueles que dela são vítimas, e por vezes lhes causa prejuízo considerável até mesmo nos negócios temporais.
É, pois, dever estrito reparar as maledicências e as calúnias. É difícil, sem dúvida, pois custa retratar-se, e, depois, a retratação, por sincera que seja, não faz mais que paliar a injustiça cometida: A mentira, ainda quando se desdiz, deixa muitas vezes vestígios indeléveis. Isso, porém, não é razão para não reparar a injustiça cometida; é dever até aplicar-se a isso com tanto mais energia e constância quanto maior é o mal. Mas a dificuldade duma reparação deve-nos levar a abstermo-nos de tudo quanto de perto ou de longe nos pudesse fazer cair nesse grave defeito.
Eis o motivo por que as pessoas, que aspiram à perfeição, cultivam não somente a Justiça, senão também a Caridade que, fazendo-nos ver a Deus no Próximo, nos leva a evitar solicitamente tudo quanto o possa contristar.
† dom Farès Maakaroun
Arcebispo da Igreja Católica Apostólica Greco-Melquita no Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário