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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

segunda-feira, 21 de março de 2011

PARALÍTICO (QUARESMA DE 2011) – p/ Dom Farès Maakaroum

Amados meus,

Não poderia começar minha homilia sem uma benção especial a todos, neste dia especial para cada um de nós.

Amados meus, estamos na Quaresma, que é tempo de fazer Sacrifícios, e a leitura, do Evangelho de hoje, tem um aspecto muito peculiar do valioso Sacrifício do Paralitico até estar com Jesus.

Estamos na Quaresma que é um tempo de fazer Sacrifícios, isto é, se abster de algum prazer Lícito, de alguma coisa Boa, por Amor a Deus.

Mas Sacrifício?

Qual é a finalidade disso?

Um sacrifício para Deus visa atingir que fim?

Parece ser algo arbitrário, e por isso diferente dos Sacrifícios da vida comum, que são o meio necessário para o fim desejado.

Por que Deus pede Sacrifícios e não prazeres?

Todos nós fazemos Sacrifícios em outras áreas da vida. Valores importantes são difíceis de alcançar, e requerem que deixemos de lado (sacrifiquemos) valores menores.

Há boas razões para que seja assim. A primeira delas é totalmente humana. Um soldado, por exemplo, toma banho frio e dorme em cama dura. Em si mesmo, isso em nada contribui para a força ou habilidade do soldado. Seu objetivo é a disciplina do caráter. O soldado abre mão, agora, de pequenas coisas das quais poderia usufruir, para fortalecer o controle sobre suas próprias ações, de modo que, na hora em que surgir uma tentação, à qual ele não possa ceder (fugir da batalha, por exemplo), ele siga firme em seu dever. O mesmo vale para os pequenos Sacrifícios da Quaresma: abstendo-se do lícito, fortalece-se a vontade para se abster do ilícito.

Já outro motivo é mais diretamente ligado a Deus. Todas as coisas criadas são Boas; refletem, em alguma medida e cada uma de um jeito, a Bondade Infinita de Deus.

É Bom, portanto, que o homem goste delas. Contudo, o Amor por uma coisa criada nunca deve superar o amor pelo Criador, que é a fonte de todo o bem. Esse é o risco que o homem sempre corre: amar mais o bem menor do que o Bem Maior; pecado é isso, e nossa natureza tem uma certa tendência a pecar. Conforme vivemos a vida, aproveitando os diversos bens do universo, invariavelmente supervalorizamos alguns deles e tiramos o valor de outros. Em especial, nos prendemos demais às criaturas e esquecemos do Criador. O Sacrifício de alguns bens e prazeres nos faz lembrar que, por melhores que sejam os bens criados, são todos relativos e incompletos, se comparados ao Bem Incriado.

Por fim, o Sacrifício da Quaresma, o Sacrifício do Paralítico, nos lembram e nos levam a imitar a vida e a paixão de Cristo, que esteve disposto a passar por todo o tipo de privação por amor aos homens. Dada nossa condição caída, com tendência ao pecado, viver bem implica passar por sofrimentos, “carregar nossa Cruz”. Ao fazer isso, participamos da obra redentora de Cristo. Ao mesmo tempo, o exemplo de Sua Ressurreição nos dá a garantia de que esse sofrimento é compensado, com uma vida mais verdadeiramente feliz agora e uma eternidade junto de Deus, que aprendemos a amar cada vez melhor.

Meus amados, os Sacrifícios que o Paralitico praticou, para chegar até Jesus, são exemplos fieis, da recompensa de Bem, concedida a todos aqueles que se Sacrificam e sofrem por Amor a Deus. Buscar incansavelmente até encontrar. E por isso mesmo que a História de Cristo, neste mundo, cada detalhe de Sua História tem um Sentido Simbólico Intenso, que ecoa através de todos os tempos.

Por isso, resta-me concluir perguntando: Qual é, na realidade, o nosso verdadeiro Bem? Não há dúvida de que o conceito que temos do Bem depende sempre do ideal que norteia a nossa vida. Para um materialista, que reduz a existência à avidez dos desejos, o Bem é aquilo que simplesmente o satisfaz, o que lhe dá prazer, mesmo que porventura acabe redundando num mal ou num prejuízo para os outros.

Para o Cristão, pelo contrário, o Bem, a verdadeira realização de si mesmo, não é a satisfação do egoísmo, mas o Bem da Virtude. O amadurecimento das virtudes, com a ajuda de Deus, é o que realiza o autêntico Bem do homem e, por isso mesmo, faz arraigar nele uma felicidade cada vez mais profunda, cheia de Paz e de Plenitude Interior.

Quando conseguimos adquirir esta perspectiva cristã, os nossos Sacrifícios começam a encarar-se de uma maneira diferente da do egoísta. Já de início, podemos fazer uma descoberta muito interessante, que a experiência se encarregará de confirmar: a rigor, não existem dificuldades que, sozinhas, sem a nossa cumplicidade, possam atrapalhar o bem da virtude, isto é, possam impedir que amemos mais, sejamos mais bondosos, pacientes, corajosos e fieis, daquilo que nos faz bons e nos dá, por isso mesmo, a alegria.

De certa forma, poderíamos dizer que a Virtude é Invulnerável e, além disso, é “onívora”, porque ela de tudo se alimenta e nada a prejudica, se nós não a prejudicarmos. A mesma dificuldade que arrasa o egoísta fortalece o santo. Por isso, “O mesmo fogo faz brilhar o ouro e fumegar a palha”.

Para aquele que cultua o conforto como finalidade de vida, uma doença inesperada e grave constitui uma adversidade destrutiva e pode até produzir um esmagamento brutal, que conduza ao desespero. Pelo contrário, para um homem que crê firmemente em Deus, que pauta a sua vida pelo Amor a Deus e o Amor ao Próximo, essa mesma doença grave pode chegar a ser uma grande ajuda para o aprimoramento do seu Amor, um meio de purificação, crescimento e fecundidade.

Uma dificuldade econômica pode introduzir numa família uma fumaça asfixiante, que vai penetrando nos corações, desgastando a paciência e envenenando os nervos, até transformar o convívio num inferno de apreensões, queixas e mau humor. Pelo contrário, em outra família construída sobre o alicerce da Fé e do Amor, a mesma dificuldade financeira pode ser o grande momento de união, em que todos aceitam o sacrifício sem um lamento, apoiando-se mutuamente e procurando tornar mais amável a vida dos outros, ao mesmo tempo que cobrem com um sorriso o seu próprio sofrimento.

Como se pode então dizer que os Sacrifícios devem ser encarados como um obstáculo para o Bem?

Quando temos a consciência clara de que o Verdadeiro Bem se encontra no Amor e no Perdão, percebemos que a nossa Vontade de Bem só pode ser minada pela nossa infidelidade pessoal, e não pelos Sacrifícios e dificuldades da vida.

Ao contrário, estas podem nutrir-nos e nos fazer crescer, de modo que, em vez de aparecerem como obstáculos, se mostrem como meios para o autêntico Bem Moral e Espiritual.

Amém! Aleluia!

Dom Farès Maakaroun

Arcebispo da Igreja Católica Apostólica Greco-Melquita no Brasil

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