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Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

terça-feira, 2 de abril de 2013

CEIA? ÁGAPE?... OU EUCARISTIA?



Concluiu-se a Grande Semana Santa de 2013. Celebramos mais uma Páscoa, depois de dois milênios. Diante de tão longa e árdua travessia histórica, uma questão é preponderante:

- poderia a Páscoa, após tanto tempo e tantos deslocamentos históricos adquirir, liturgicamente, sentido tão diverso daquela instituída por Cristo, formulada pelos Apóstolos, estruturada pelos Santos Padres, rezada e defendida por mártires e santos, enfim, aquela mesma de sempre – apesar da variedade dos Ritos – que tem garantido a permanência de Cristo na terra até o último dia?

Esta é uma questão delicadamente problemática para se abordar.

Especialmente complicada se levarmos em conta a multiplicação vertiginosa de grupos ‘católicos’ insurgentes de todas as espécies, cuja pretensão crítica não demonstra mínima reverência para com a Santa Igreja através de seus legítimos representantes ordenados para o Culto Santo.

Grupos estes que, movidos por pura paixão ideológica (ainda que cheias de certeza moral de amor à verdade), acabam elevando a enésima o espírito enrustido do protesto, causando - na prática - um vendaval de facções fragmentadoras da unidade, em razão do agir com a Palavra (ou com a palavra) como se fossem justiceiros de causa própria, à revelia da autoridade institucional constituída.

Diante deste cenário mais caótico que católico, em que o apego ideológico faz despertar paixões insanas mesmo entre aqueles que “juram de pés juntos” amor à verdade, levantar um questionamento honesto a cerca da mobilidade histórica dos reais sentidos das coisas, pode também parecer insinuar ‘censura’, contestação ou insubordinação à Igreja em suas decisões conciliares.

Entretanto, por uma questão de dever para com a verdade do propósito e da intenção que nos move nesta polêmica empreitada, devemos antecipar que em absoluto esta nossa “provocação do pensamento” se alinha com estas perspectivas semi-cismáticas.

Bem ao contrário é o nosso posicionamento...

Nem abrimos mão da obediência reverente que é sempre devida à Santa Igreja e seus legítimos representantes ordenados para o Culto Santo nem renunciamos ao extenuante esforço de caridade para com quem a isto subterfugia.

Neste quadro que enxergamos caótico no horizonte da Reta Fé, é necessário destacar que os mecanismos de subterfúgio - internalizados na inclinação desses ‘católicos’ – são devedores de uma consciência muitas vezes bem intencionada. Porém, mal direcionada.

Analogamente temos na atmosfera do catolicismo um fenômeno tempestuoso: uma grande ‘massa de ar frio’ (falta de verdadeira caridade) encontra-se com outra grande ‘massa de ar quente’ (amor próprio em nome da verdade). A grande diferença de temperatura entre essas duas massas, ocasionam as ‘tempestades’ que atingem com violência inenarrável a Barca de Pedro, como previra Dom Bosco.

Estes modelos mentais contrastantes, como no encontro de ‘massas de ar’ quentes e frias a formar um ‘céu’ com ‘nuvens densas e carregadas’, parecem possuir de si mesmos pouca – às vezes nenhuma - consciência do próprio subterfúgio à autoridade institucional da Igreja.

Isto se dá visto que estes modelos mentais, opostos entre si, também são vítimas dos ‘ventos fortes’ do livre exame e das causas próprias, avessas umas às outras, causados por: de um lado, pela recalcitrância progressista; e na outra extremidade, pela intolerância pseudo ortodoxa.

Feita esta indispensável notificação antecipada, para registrar com vigor que o nosso esforço reflexivo não se alinha nem com uma nem com outra visão da Fé, retornemos ao núcleo da problemática sugerida nesta “provocação do pensamento”.

Uma vez que a centralidade do Mistério da Salvação está incruentamente associada à Páscoa do Senhor, instituída por Ele como permanente e indefectível Ação Litúrgica, que faz memória atualizadora do Seu Sacrifício Redentor como Único Filho de Deus, então, vamos apresentar na sequência algumas considerações oportunas sobre o tema.

Necessário será cumprir, primeiramente, um caminho introdutório um tanto enfadonho - devo admitir -, mas, rigorosamente necessário para fundamentar, com a lógica da verdade, o que pretendemos expor.

Portanto, caro (a) leitor (a), eu sou obrigado a desafiá-lo (a) a não desaminar, ainda, desta leitura, pelo fato de, primeiro, ter que “atravessar o deserto” mais intelectualizado dos próximos parágrafos.

Motive-se com a esperança de poder encontrar-se, logo na sequência, com a “terra prometida” do verdadeiro sentido da Liturgia na chamada Economia da Salvação.

É nesta perspectiva de esforço de coerência com a Reta Fé que herdamos de nossos antepassados - e da qual NÃO somos protagonistas autorizados a modificá-la -, que pinçaremos alguns aspectos pontuais que nos permitam explorar algumas dolorosas imprecisões.

Imprecisões decorrentes dos deslocamentos de sentido que reinam quase que absolutos nesta época dominada pela “ditadura do relativismo”.

Antecipamos que percebemos nestes deslocamentos de sentido - abundantes em nossa época – uma usina geradora de corruptelas lamentavelmente ‘autorizadas’ por um quase livre-exame hermenêutico, comprometido com as incongruências relativistas do tempo e negligente com a coerência dogmática de uma Tradição que – por possuir origem Divina – é capaz de atravessar incólume a História.

E por falar em história, demos os primeiros passos na parte árida desta travessia do pensamento para, depois, chegarmos ao núcleo do tema: Ceia? Ágape? Ou Eucaristia?...

A história é móvel, sim. Tem dinâmica própria. Insere, por conseguinte, tudo o que nela está inscrito e sujeito a este movimento dinâmico.

Em decorrência deste fato, cada época está sujeita ao conjunto de conhecimentos que a caracteriza, fenômeno que podemos chamar de ’paradigma da época’.

Este fenômeno causa deslocamento nos conceitos e significados dos termos, das ideias, das teorias, dos costumes, das crenças, etc. Assim, uma palavra que originalmente significa uma coisa, pode ganhar significado diverso, e mesmo oposto.

Um exemplo simples: o termo ordinário é uma palavra que, originalmente, serve para significar tudo àquilo que está sujeito a uma ordem (natural ou sobrenatural).

Qualquer coisa que se tome por ordinária é, em si, devedora de dignidade por estar de acordo com a lei que a rege.

Todavia, a normalidade do agir conforme a natureza própria torna este algo tão corriqueiro e comum que, de nobre, a normalidade o transforma em vulgar no senso comum.

É desta maneira que, na linguagem popular, o termo ordinário passa a significar exatamente o contrário do seu sentido original.

O vocábulo ordinário, então, que de per si serviria para significar algo moralmente nobre, por seguir o ordenamento de leis intrínsecas - naturais ou sobrenaturais -, passa rapidamente no senso comum à conotação vulgar de imoral ou sem vergonha, donde se diz, por exemplo, que o sujeito é ‘ordinário’ por agir contrariamente à lei que deveria respeitar (lei natural, lei moral ou lei da Graça).

Portanto, essa mobilidade semântica varre todos os campos da cultura e do conhecimento ao que não se excetua a religião.

Tais deslocamentos, que acompanham os paradigmas de época, podem trazer graves consequências ao real significado das coisas tanto na ordem natural como na ordem sobrenatural.

Por vezes estes deslocamentos podem mesmo inverter a verdade contida nos elementos da natureza e nos elementos da Graça.

Em muitas outras postagens neste blog falamos com largueza sobre a indefectibilidade dos dogmas imutáveis da verdade (Stº Ireneu de Lion).

Na história - sujeita a ação do tempo e às circunstâncias do espaço - as coisas se movem, sim, fazendo variar as conotações e as interpretações, naturalmente.

Contudo, o movimento da história se desenvolve inexoravelmente em torno de um eixo de verdades imutáveis.

Gosto sempre de exemplificar: por mais que se inventem bebidas diferentes, em quaisquer épocas - anteriores à pré-história, que está sob os escombros do movimento espacial geológico; ou ulteriores à pós-modernidade, que está ainda emergindo no movimento temporal da cultura – a água continuará sendo constituída por 2 moléculas de hidrogênio e 1 molécula de oxigênio.

E água será H2O per saecula saeculorum. Independente dos conhecimentos e tecnologias químicas realizadas com a tabela periódica.

E a água – que será sempre H2O e jamais outra coisa - permanecerá sendo o elemento constitutivo da vida, não importando as mudanças dos hábitos e costumes culturais, sociais, econômicos, científicos, religiosos, enfim, sejam eles quais forem.

E a água, não importa o que se invente de bebidas diferentes, será o único líquido a saciar, de fato, a sede orgânica e biológica do homem.

Também vivo repetindo como “disco arranhado”, com o fito de fazer despertar do sono da morte ideológica os relativistas de plantão, que independente das nossas preferêcias para o dia ou para a noite, teremos que suportar ambas fases do Dia ad aeternum, enquanto o sistema solar funcionar causando vida na terra.

São dois exemplos tão simples e tão óbvios que, embora incontestáveis, não são percebidos pelos adoradores da hermenêutica crítica literária, quando fazem suas divagações de conjecturas analíticas seguindo o relativismo quase “dogmático” (sic!) do paradigma da época.

Os hermeneutas, idolatrando a evidência do movimento cósmico que descreve, por assim dizer, a mobilidade das coisas movíveis em seu contínuo movimento em torno das coisas imutáveis, simplesmente ignoram as coisas imutáveis que obrigam as coisas movíveis mudarem constantemente sob os influxos do tempo e as circunstâncias do espaço.

Em palavras menos filosóficas: os intérpretes da história, reverenciando em demasiado o mobilidade de todas as coisas, ignoram que são justamente os elementos inamovíveis e imutáveis (que desprezam com seu modelo mental relativista), que as movem.

A idolatria do relativismo ao evocar, por exemplo, a dinâmica evolutiva da história das bebidas exalta a mutabilidade dos líquidos sem levar em conta o seu elemento imutável, a saber: a tabela periódica, que dá aos líquidos sua composição química, afinal, em qualquer tempo e em qualquer espaço natural, água será sempre H2O.

Esta evidência nos permite afirmar, para o pavor dos relativistas (dogmáticos ao menos na certeza de que tudo muda o tempo todo), que existem, sim, ”dogmas imutáveis da verdade”.

Repetindo de maneira mais simples, podemos dizer que em nossa época há uma tendência de relativizar todas as coisas devido ao permanente movimento em que todas elas, também, se encontram.

Assim, os observadores da lógica hermenêutica, olhando para a dinâmica do sistema solar, por exemplo, e percebendo todos os movimentos causados pelos ciclos, concluem que nada permanece como tal sob a ação do tempo e do espaço.

Mas não consideram que é justamente uma realidade inamovível, estática, imutável, enfim, dogmática, que possibilita isto, a saber: será assim, sempre, enquanto o sol existir e fizer o sistema solar funcionar como conhecemos.

Caso contrário, toda vida da qual se pode apreender o movimento de existir, deixa de existir. Inclusive tudo aquilo que é relativo dentro do processo de existir sob as leis naturais garantidas pelo ciclo solar. Simples assim.

Por tanto, como dissemos antes, é inexorável que as dinâmicas mutáveis são causadas por leis imutáveis:

- 2 moléculas de hidrogênio + 1 molécula de oxigênio = água, sempre;

- o sol regendo perpetuamente o sistema solar = sempre condições para vida na terra;

Mas alguém movido por preguiça mental poderia dizer:

_ ah, mas o sol vai deixar de existir em algum momento e, com ele, o sistema solar, mudando a configuração de tudo, de alguma forma. Sendo assim, a vida na terra é relativa...

Ora, os dogmas imutáveis da verdade são leis inexoráveis dentro do conjunto funcional no tempo e no espaço. Sendo assim, esta lei deixa de existir somente em razão de outra lei inexoravelmente maior. No caso acima, há uma lei imutável não percebida pela preguiça mental de quem põe em relevo apenas a relatividade do fato: a de que, com o fim do sol, se finda também o sistema solar.

E isto é, obviamente, uma lei também imutável, dentro de qualquer outra lei que se prove imutavelmente ainda maior.

Se tais regras imutáveis deixassem de existir, juntamente com elas deixariam de existir também todas as dinâmicas, movimentos, desenvolvimentos, “evoluções”, “saltos quânticos”, etc, etc, etc.

Como conclusão parcial, uma questão relevante:

- as coisas no tempo e no espaço são permanentemente mutáveis e, por conseguinte, dogmaticamente relativas, como pretende a idolatria hermenêutica?

Isto, sim, é deveras relativo...

Há, pois, uma mutabilidade permanente, sim, contanto que sujeitas às causas que as inicia na dinâmica das mudanças: os elementos imutáveis em torno dos quais elas se desenvolvem...

Ora, se esta é a realidade das coisas no campo da Razão Natural, independente das interpretações que a elas se atribuem, então, não é diferente no campo da Fé Sobrenatural.

Portanto, voltando ao campo da Fé, podemos perceber que os deslocamentos de sentido hermenêutico das chamadas novas teologias e novas exegeses, baseados no reducionismo imanentista da crítica literária, seguindo a mesma lógica dos pressupostos da razão natural, acima elencados, também tendem a incorporar no discurso da “fé” o relativismo da Revelação.

Junto com isto, arrastam para dentro de todas as perspectivas da religião (eclesiológica, dogmática, sotereológica, pastoral, litúrgica, etc), as mesmas deficiências de percepção da verdade tal como ela o é - enquanto verdade dogmática - na perspectiva da Revelação Divina.

Assim a hermenêutica ‘cristã’ tende a reduzir a mitigadas contradições aquilo que, na perspectiva do Mistério, permanece sendo puro paradoxo.

E é deste modo surge esta barbárie de equívocos interpretativos – teológicos, exegéticos e litúrgicos - não obstante todas elas certificadas secularmente com títulos doutorais, por estrita submissão honorífica à metodologia hoje assumida como científica...

Não nos esqueçamos que, tais metodologias - hoje ‘senhoras’ dos crivos doutorais - possuem a mesma proeminência de outras metodologias por elas substituídas, as quais, também, no passado, gozaram deste mesmo privilégio categórico.

E mais: no futuro, outras metodologias mais condizentes com as novas épocas do porvir, poderão, em substituição às atuais, vir a gozar deste referido privilégio categórico, descredibilizando não apenas os métodos atuais, como também o que se tomou por certo a partir deles.

Dito isto, nossa primeira impressão sobre a pluralidade deveras diversa das hermenêuticas bíblico-litúrgicas, por vezes contraditórias entre si, são tão ilógicas quanto insustentáveis. Tão contrárias à própria letra quanto antagônicas ao seu verdadeiro espírito.

É a partir deste ponto que queremos fazer esta “provocação do pensamento” confrontar o real sentido das Liturgias Santas no Ocidente e no Oriente (Católicas e Ortodoxas).

Para tanto, tenhamos em mente as Ações Litúrgicas celebradas entre a Instituição da Eucaristia e o Domingo de Páscoa.

Falamos em confrontar o sentido real porque, especialmente o ocidente, permanece sofrendo algum tipo de influência das concepções da grande chaga litúrgica iniciada pela Reforma Protestante e continuada, a nosso ver, pelas infindáveis hermenêuticas da ruptura aplicadas no contexto das chamadas nova exegese e nova teologia.

Não bastasse toda esta influência potentemente capaz de fazer deslocar o sentido real da Eucaristia Instituída como Páscoa do Senhor, há, ainda, a influência dos deslocamentos eclesiológicos pastoralistas, vigentes na prática dos variados modelos que se desenvolvem a partir do Concílio Vaticano II, construtores do que o Magistério de Bento XVI chamou de hermenêutica da descontinuidade.

Apesar das exaustivas indicações deste fenômeno em curso, feitas pelo Magistério de Bento XVI, elas não chegaram suficientemente, ainda, a produzir o necessário despertar da consciência no tecido eclesial.

Há, todavia, esperança de que esse patrimônio do Magistério Ordinário do Papa Alemão, agora emérito, produza seus frutos no porvir.

Feitas estas considerações de necessária crítica epistemológica, passemos a analisar de modo direto e objetivo o verdadeiro sentido semântico da Liturgia Sacrifical e Expiatória da Santa Missa, como sempre foi entendido pelas Tradições Cristãs do Ocidente e do Oriente - antes e depois da Reforma Protestante – ao menos, com perfeita clareza, até o Concílio Vaticano II.

A propósito, importa destacar que a tradição litúrgica protestante foi a única a considerar de modo diverso esta realidade expiatória e sacrifical da Eucaristia. A ponto de exportar este deslocamento impróprio para os novos sentidos de Ceia e Ágape, os quais vão pouco a pouco se introduzindo em alguma medida na Liturgia Católica Ocidental, particularmente no âmbito do Ordo de Paulo VI.

Que fique bem claro: constatar isto com sobriedade, franqueza e tristeza não implica, absolutamente, repudiar o Novus Ordo Missae.

Nem desejamos isto e tampouco poderíamos, caso desejássemos.

É reservado à Santa Igreja (através de Sua Santa Hierarquia) e somente à ela decidir sobre a Vida Litúrgica do Corpo Místico de Cristo.

Aos teólogos, liturgistas, ministros ordenados e, sobretudo, aos palpiteiros de “butuca ligada”, cabe, primeiramente, com humildade obedecer à Igreja e, com reverência hierarquizada, refletir sem abrir mão da Verdade e sem buscá-la em detrimento da Caridade.

É o que tentamos, novamente aqui, nesta “provocação do pensamento”, a partir da modéstia do lugar de Sacerdote de Cristo, Ministro do Altar, licita e validamente ordenado para oficiar o Santo Sacrifício de Louvor em dois Ritos Católicos: o Romano e o Bizantino.

Se conseguiremos?!... bem, ao menos não cansaremos de tentar...

Tomemos, então, por base o belíssimo e rico texto da primeira leitura segundo o calendário da Missa Romana da Instituição de Eucaristia (Ex 12, 1-8.11-14), comumente chamada de Ceia do Senhor.

Vamos colocar em relevo alguns aspectos do texto, que sempre foi tomado pelos Santos Padres como perfeita prefigura da Páscoa Cristã.

Para bem acompanhar o raciocínio, convém reler o texto ou tê-lo em mãos para consulta ao longo desta reflexão.

O texto descreve o Plano de Deus para o Pessach (Páscoa = Passagem) dos Hebreus, retirando-os da Escravidão do Egito para a liberdade em uma “Terra Prometida”.

Não é nenhuma novidade o fato de que para o cristianismo esta é a prefigura da Páscoa Cristã, em que o batizado – atravessando as águas do ‘mar vermelho’ do sacrifício de Cristo – passa da escravidão do pecado para a liberdade da “Pátria Definitiva”, o Céu.

A única novidade bastante recente neste caso é o reducionismo imanentista de algumas hermenêuticas, que querem com suas interpretações circunscrever o céu dentro dos limites da terra, ainda que insistam em ficar repetindo o famoso já e ainda não”...

Desejo pinçar deste texto da Primeira Aliança alguns elementos muito significativos, que suportam em si a verdadeira estrutura semântica e exegética da Eucaristia Cristã, desde a comunidade dos Apóstolos e através dos séculos.

Tomemos por partes os versículos do livro do êxodo que narra a Páscoa Hebraica - prefigura da Páscoa Cristã - a partir da qual poderíamos construir uma curiosa e especulativa “interpretação”.

Importante dizer: a hermenêutica, enquanto ferramenta metodológica de trabalho, não é por si mesma nem boa nem ruim, mas, aproxima-se ou afasta-se da verdade dependendo de como é usada, ou seja, se aplicada rompendo com a linha contínua dos dogmas imutáveis da verdade ou se lhes dando continuidade. Isto registrou com vigorosa precisão o Magistério de Bento XVI.

Vejamos o versículo:

“Este mês será para vós o princípio dos meses: tê-lo-eis como o primeiro mês do ano.” (Ex 12, 2)

Nasce assim o primeiro Ano Litúrgico do mundo Monoteísta.

Não nos esqueçamos de que o primeiro povo do globo terrestre a realizar a distinção pessoal e substancial entre o Criador e as criaturas, inaugurando na História da Humanidade, o Monoteísmo autêntico, foi o povo semita de língua hebraica, aquele mesmo povo do qual descendem os habirus (miseráveis, pequeninos, excluídos), como eram denominados em língua egípcia.

E não só tem início um calendário litúrgico monoteísta, ou seja, um calendário através do qual os homens construam sentido de existência - enquanto passam nesta terra – ordenando seu amor em primeiro lugar a Deus e a Sua Santa Vontade. Este novo calendário, movido pela priorização da Vontade de Deus, já indica cronologicamente dois precisos sinais para este cumprimento. Senão vejamos a primeira indicação no versículo seguinte:

“Dizei a toda a assembleia de Israel: no décimo dia deste mês cada um de vós tome um cordeiro por família, um cordeiro por casa.” (Ex 12, 3)

Se os hermeneutas podem construir ‘interpretações’ ‘exegéticas’ em ruptura com a indefectibilidade da Tradição Apostólica e Cristã, então, vou me permitir interpretar o versículo acima, apenas que sem nenhuma pretensão exegética. Todavia, tal interpretação, segue consoante com um sincero esforço de continuidade com a Fé que herdei no Batismo, a qual devo transmitir como Sacerdote de Cristo, não me sendo permitido adulterá-la como palpiteiro da vontade própria.

Vejamos.

O mês em referência é o mês de Nissan, de acordo com o calendário judaico.

Curioso, no mínimo, que Deus indique ao Grande Profeta do Decálogo número tão sugestivo no contexto da teologia para a escolha do cordeiro a ser imolado: “no décimo dia” do mês que será o princípio dos meses...

Assim, os dias teológicos parecem indicar que a escolha do cordeiro - cuja imolação livrará o povo da destruição quando da passagem de Deus em seu meio - deva ser precedida pelo cumprimento, na história, dos Mandamentos – frise-se: em número de 10 - que seriam dados a partir daquela Páscoa Hebraica...

Ainda sobre isto:

- os dez mandamentos preparam o coração dos indivíduos (eleitos) e da coletividade (povo de Deus) para acolhimento do Ungido de Deus. Não são os Mandamentos que salvam, mas são eles que preparam os homens para acolherem a Ação d’Aquele que Salva;

- a Páscoa Hebraica não é apenas prefigura da Páscoa Cristã, mas é a preparação da Humanidade para inclusão de todos os povos na Libertação de Cristo, que não se reduz a uma mera e imperfeita libertação histórica e temporal, sobretudo, consiste numa Libertação para além dos limites temporais da história e para além das fronteiras históricas do tempo;

Avancemos para o versículo 6:

“E o guardareis até o décimo quarto dia deste mês; então toda a assembleia de Israel o imolará no crepúsculo.”

Prosseguindo com nossa interpretação, não exegética no sentido acadêmico do termo, mas afinada com o sentido que lhe deu a Sagrada Tradição, então, cumpre-nos notar outras curiosidades...

Guardar o cordeiro até o décimo quarto dia... a genealogia de Cristo, o Verdadeiro Cordeiro Imolado, é apresentada pelos Evangelistas divididas por algum propósito providencial em intervalos temporais de 14 gerações, até seu nascimento...

E não será menos intrigante que os 4 dias em que o cordeiro deveria ficar guardado, a partir da escolha, possam ser bem representados pelos dias em que Deus resolveu guardar “longe” de Si o Seu Unigênito, para distribuí-lo como Dom Total da Salvação na Eucaristia, perfeitamente significada nos 4 dias de eventos salvíficos entre a Quinta Feira Santa em que Instituiu a Eucaristia e o Domingo Santo em que Ressuscitou dos mortos.

De fato, o Filho de Deus, a partir da Ceia Eucarística, permaneceu guardado no Mistério do mais perfeito abandono durante “4 dias” da semana segundo o tempo dos homens (últimos momentos da quinta, sexta e sábado inteiros, e primeiros instantes do domingo; o que somam, na verdade, os 3 dias anunciados entre a morte e ressurreição segundo a contagem judaica, que considera o dia encerrando com o crepúsculo).

E para fazer saltar aos nossos olhos o que significou, de fato, este permanecer guardado no Mistério do perfeito abandono, recordemos:

- foi traído por Judas, a quem chamou de amigo;

- foi negado por Pedro, a quem escolheu como Primeiro entre aqueles que foram os Seus mais próximos da terra: os Apóstolos;

- à exceção de João, viu todos os demais Apóstolos abandonarem-nO no Calvário;

- padeceu na solidão interior a agonia do horto enquanto seus discípulos mais íntimos dormiam invés de lhe fazer companhia, compartilhando a vigília de oração para que fosse cumprida a Vontade do Pai em prol de nossa Salvação;

- apresentado no tribunal foi condenado pelos chefes do Seu povo num julgamento arbitrário, injusto e forjado;

- sofreu a solidão exterior preso no calabouço do Sumo Sacerdote uma noite inteira, enquanto aguardava o cumprimento da sentença de Sua morte;

- humilhado, escarnecido, flagelado e crucificado – embora sem culpa alguma - numa condição de suplício que não se aplica ao mais hediondo dos criminosos;

- no vértice mais absoluto do abandono humano, experimentou misticamente o abandono de Deus: ELI ELI LAMÁ SABACTÂNI;

- abandonou Seu Divino Corpo no Túmulo para descer à mansão dos mortos, permanecendo no inferno o período correspondente a um dia completo, a fim de dar vida aos que estão nos túmulos;

É claro que estas analogias e interpretações, como já fora dito anteriormente, não cumprem os critérios metodológicos requeridos de uma exegese bíblica. Nem é o que se pretende aqui. Todavia, o que merece relevo e destaque é o justo desejo de ligar o que sempre se acreditou depois de Cristo com aquilo que sempre foi tomado como seu prenúncio.

Neste sentido há ainda duas coisas imprescindíveis que podem e devem ser tomadas a partir do texto em questão.

Destaquemos o versículo abaixo:

“Se a família for pequena demais para um cordeiro, então o tomará em comum com seu vizinho mais próximo, segundo o número das pessoas, calculando-se o que cada um pode comer.(Ex 12,3)

Tomando a peito o texto - e o contexto - deste versículo temos, sem dúvidas, a evidência de que o cordeiro imolado, que prefigura a Eucaristia, é a imagem perfeita do Ágape: uma Ceia propriamente fraterna.

Isso é inquestionável, realmente.

Até mesmo a fraternidade da partilha está presente neste texto e neste contexto.

Se a família de sangue for pequena, deve-se partilhar o dom do alimento com a família maior, a família de fé, a comunidade. No caso específico do texto, a família hebraica prisioneira no Egito, prestes a passar da escravidão para a liberdade.

Entretanto, colher do texto e do contexto esta evidência, não significa, absolutamente, que isto implique no sentido primordial e pleno da mensagem.

Se, por um lado, não se pode negar que na Eucaristia se encerra, TAMBÉM, a dimensão unívoca de ÁGAPE e CEIA, por outro, seria um erro imperdoável imaginar que o significado primordial da EUCARISTIA se resuma a CEIA e ÁGAPE.

Por que frisamos isto com tanta veemência?

Acaso é possível imaginar uma “ação de graças” que não seja fraterna e respeitosa?

Claro que não.

Toda ceia só é realizada apropriadamente se for fraterna.

E toda fraternidade - em torno da refeição - só é honesta se contiver respeito.

É impensável uma ceia sem fraternidade ou uma reunião em torno da mesa sem respeito.

Portanto, CEIA e ÁGAPE são partes integrantes, sim, da Mesa Eucarística.

Mas, disto, supor que o sentido principal da Eucaristia se reduz a esta necessária educação afetiva e amigável em torno do Mistério da Fé é, simplesmente, uma barbaridade absurda. É uma ignorância pavorosa. É exatamente tudo aquilo que a EUCARISTIA não é...

A Eucaristia é AÇÃO DE GRAÇAS dada a Deus!

Não é, JAMAIS, a ação de graças dada aos dons – em nome de Deus - em favor de causas próprias...

E, ÁGAPE (amor fraterno) e CEIA (refeição com gratidão), podem ser coisas boas, ainda que completamente independentes de estarem cumprindo a Vontade de Deus.

Mas Deus pode, inclusive, estar incluído num ÁGAPE e/ou numa CEIA?

Sim, pode!

Isto significa que sempre que houver uma reunião fraterna (ÁGAPE) e/ou uma refeição respeitosa (CEIA) haverá EUCARISTIA?

Com absoluta convicção: NÃO!

Entretanto, por outro lado, é urgente afirmar: sempre que houver uma autêntica EUCARISTIA, haverá - COMO CONSEQUÊNCIA E COMO COMPLEMENTO - um ÁGAPE e uma CEIA verdadeiros... mas, nem sempre que houver um ÁGAPE e/ou uma CEIA, acontecerá uma EUCARISTIA...

O que nos permite afirma isto?

Entre muitas coisas, o próprio texto...

Vejamos o versículo 11:

“Eis a maneira como o comereis: tereis cingidos os vossos rins, vossas sandálias nos pés e vosso cajado na mão. Comê-lo-eis apressadamente: é a Páscoa do Senhor.(Ex 12, 11)

Pergunta básica: numa reunião - ainda que fraterna e respeitosa - há clima de festa (como num jantar dançante) durante uma refeição em que todos estão vestidos para viagem (ao invés de trajados para um baile), com mochilas nas costas (rins cingidos = prontos para viagem) e cajado na mão (com apetrechos de estrada)?

Uma CEIA festiva ou um ÁGAPE celebrativo requerem, essencialmente, ambiente e condições apropriados para comemoração.

Como imaginar alguém indo para um almoço comemorativo ou para um jantar dançante ou um coquetel em que os convidados sejam intimados a comparecer com mochila nas costas, cajado na mão, sandálias nos pés e rins cingidos, prontos para partir de imediato?

Essa foi a ordem de Deus para os que se reuniram para comer o cordeiro que foi imolado: prontidão, vigilância e preparação para pronta partida, e não para comemoração.

Se não acredita em minha afirmação, leia o que diz a Escritura Sagrada: “Comê-lo-eis apressadamente: é a Páscoa do Senhor”...

Quem se reúne para festejar em torno do alimento deste jeito, pronto para partir com rins cingidos, com mochila nas costas e cajado nas mãos?

Que terrível equívoco transformar a necessária educação para tomar qualquer alimento (do almoço comemorativo ao lanche rápido), em qualquer circunstância (da celebração festiva à refeição de trabalho), como sendo EUCARISTIA...

EUCARISTIA é, antes de tudo, AÇÃO DE GRAÇAS dadas a Deus segundo os parâmetros do SACRIFÍCIO DE LOUVOR DEVIDO AO ATO SALVÍFICO DE CRISTO: CORDEIRO IMOLADO EM FAVOR DE NOSSA SALVAÇÃO!

CEIA, ÁGAPE e EUCARISTIA, embora possam e devam se complementar, são coisas definitivamente distintas...

Repitamos esta realidade em forma de franca questão:

- a EUCARISTIA inclui como extensão a CEIA (cristã e respeitosa) e o ÁGAPE (cristão e fraterno)?

Sim, sem qualquer sombra de dúvidas...

E as CEIAS (ainda que cristãs), e os ÁGAPES (mesmo que cristãos), incluem automaticamente a EUCARISTIA?

Redondamente: NÃO!

Aqui estamos diante de um fragoroso equívoco das hermenêuticas modernas.

Que tristeza inominável equivaler realidades que, apesar de complementares, são intrinsecamente distintas...

Esse é um drama – melhor – o drama do sentido litúrgico atual.

Mas, o pior ainda está por vir...

“Tomarão do seu sangue e pô-lo-ão sobre as duas ombreiras e sobre a verga da porta das casas em que o comerem.(Ex 12, 7)

Então quer dizer que o principal objetivo da ordem de Deus não é a CEIA nem o ÁGAPE entre os Hebreus cativos no Egito?

Quer dizer que o ÁGAPE e a CEIA são necessidades meramente consequentes do real objetivo da imolação do cordeiro, a saber: “Tomarão do seu sangue e pô-lo-ão sobre as duas ombreiras e sobre a verga da porta das casas em que o comerem.”

Então toda questão de comer apressadamente e dividir fraternamente a carne do cordeiro, tem por fim apenas o não desperdício e o não egoísmo na consumação do que fora sacrificado para obter sangue necessário para untar ombreiras da porta das casas?

Que perspectiva controversa àquilo que as hermenêuticas apresentam atualmente, não?!

“O sangue sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal (de proteção): vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor, quando eu ferir o Egito.” (Ex 12, 13)

Então, a razão maior e principal para a imolação do cordeiro é a proteção causada pelo sangue aplicado no portal das casas?

É o sacrifício do cordeiro para cumprir estrito senso a Vontade de Deus?

Não é o ÁGAPE nem a CEIA?

Que constrangimento isto para as muitas perspectivas circulantes por aí, não?

Não bastasse isto, ainda é o desejo de Deus que a comunidade celebre a memória deste fato, pautado na salvação que Ele operou em meio ao povo por meio do sangue do cordeiro, e não em razão da ‘partilha’ da carne do ovino “...sem defeito, macho, de um ano...”?

Que horror... isto é fundamentalismo... reagirão, suponho, os hermeneutas bíblicos.

“Naquela noite, passarei através do Egito, e ferirei os primogênitos no Egito, tanto os dos homens como os dos animais, e exercerei minha justiça contra todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor.” (Ex 12, 12)

Então Deus é fundamentalista?

_ Não, de modo algum... fundamentalistas são os ‘interpretes’ que não fazem hermenêutica do texto bíblico, tomando-os ao “pé da letra”, dirão com certeza...

Ou na melhor das hipóteses: fundamentalista é este discurso irônico e retórico...

Fundamentalista ou não, irônico ou não, retórico ou não, pergunto: o que salvou os primogênitos dos hebreus no Egito? Foi o ÁGAPE da CEIA fraterna e filantrópica entre as famílias maiores que dividiram os comensais com as famílias menores dos hebreus no Egito?

Respondam como quiser...

E se quiserem responder divergindo do que aqui sustento em perfeita comunhão com o que os Santos Padres sempre defenderam, então, os profissionais da hermenêutica terão que fazer um grande malabarismo elucubrativo...

E para reafirmar a indefectível perspectiva da Verdadeira Fé, mais uma ‘dor de cabeça’ para os crentes da hermenêutica:

“Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua.(Ex 12, 14)

Esse é, em medida perfeita, o sentido da Santa Missa no Ocidente e da Santa e Divina Liturgia no Oriente. Ninguém está obrigado a aceitar e crer assim, contudo, quem livremente adere à Fé Cristã, deveria se obrigar a crer nisto sem protestar...

Claro, numa coisa devemos concordar com os hermeneutas, que tendem a discordar desta perspectiva de Fé que julgam, literalista: todo o texto considerado diz respeito aos contextos próprios do Antigo Testamento...

Mas, cabe a pergunta franca e direta, ainda que incômoda: em que o Novo Testamento divergiu ou anulou o Antigo?

Portanto, depois de refletir sobre estes aspectos das Escrituras Antigas que jamais deixarão de significar as Escrituras Novas, chegamos às seguintes conclusões:

- nem toda CEIA educada e respeitosa é EUCARISTIA;

- nem todo ÁGAPE fraterno é EUCARISTIA;

- toda EUCARISTIA inclui uma CEIA educada e respeitosa e um ÁGAPE fraterno, sem se reduzir a ambos;

- a EUCARISTIA é, sim, Sacrifício de Louvor, por uma memória oblativa, sacrifical e expiatória;

- este sempre foi o sentido instituído por Cristo, organizado pelos Apóstolos, estruturado pelos Santos Padres, defendido pelos Mártires e Santos e acreditado com simplicidade evangélica pelos verdadeiros cristãos de todas as épocas;

- sentidos adversos a este foram continuamente apresentados ao longo de todas as épocas, sendo considerados devidamente como heresias. Entre todos os movimentos dessa natureza, jamais um teve tanto êxito quanto a Reforma Protestante, e jamais um influenciou tanto o catolicismo quanto o novus ordo missae de Paulo VI (concluir isto não significa rejeitar a Missa Nova);

- os deslocamentos de sentidos podem, sim, oferecer riscos efetivos ao correto entendimento das coisas e, portanto, conduzir ao desvio (heresia), à separação (cisma) e mesmo à apostasia dos dogmas imutáveis da verdade, quer no campo da Fé quer no campo da Razão;

- as hermenêuticas em si mesmas não conduzem necessariamente ao erro, contudo, em geral, servem ao propósito da contradição, relativizando a indefectibilidade da verdade percebida pela razão natural ou da Verdade acolhida pela Revelação;

- a EUCARISTIA jamais foi, não é, e nunca será uma CEIA não expiatória ou um ÁGAPE de fraternidade afetiva;

- as mudanças de época que influem no deslocamento dos sentidos, passam; a indefectibilidade do Sacramento Instituído por Cristo, que não suporta a influência dos deslocamentos temporais, permanece;

Enfim: CEIA? ÁGAPE? OU EUCARISTIA?...

A EUCARISTIA, que inclui como consequência o sentido adequado de CEIA, não é puramente ÁGAPE. 

A EUCARISTIA, que realiza por extensão de seu sentido o ÁGAPE, não se reduz a uma CEIA. 

A CEIA e o ÁGAPE, tomados como sentido principal da celebração cristã, não incluem a EUCARISTIA.

Razão tinha São João Crisóstomo que, com objetividade e clareza, interpretava com justiça o sentido da Eucaristia, nossa Verdadeira Páscoa Semanal (como dizem os orientais), isto é, a passagem de Deus em nossas vidas, o qual, ao passar, encontrando nossos lábios tingidos com o Sangue do Cordeiro - como "as duas ombreiras e sobre a verga da porta das casas em que o comerem.” - livra-nos da morte eterna, pois:

“O sangue sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal (de proteção): vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor...” (Ex 12, 13)


Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN





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