Páginas


Bem vindos ao blog do Frei Flávio Henrique, pmPN

Caríssimos(as),
é, sim, nosso objetivo, "provocar" a reflexão para poder confrontar o modelo mental instalado e o paradigma de conhecimento que se arrasta há mais de cinco séculos, na esteira do renascentismo, do humanismo, da reforma protestante, do iluminismo e de todo processo de construção do conhecimento que atenta contra a Razão sadia - que inexiste sem o discurso metafísico - e contra a Verdadeira Fé, distorcida pelos pressupostos equivocados das chamadas nova exegese e nova teologia. (Ler toda introdução...)


* "PROVOCAÇÕES" MAIS ACESSADAS (clique no título):

*1º Lugar: Arquidiocese de Juiz de Fora reconhece avanço da Obra do Pater Noster...

*2º Lugar: Lealdade, caráter e honestidade... no fosso de uma piada!

*3º Lugar: Fariseu ou publicano, quem sou?

*4º Lugar: Retrospectivas e balanços de fim de ano...

*5º Lugar: “A sociedade em que vivemos”: um big brother da realidade...

* "PROVOCAÇÕES" SUGERIDAS:

*Em queda livre na escuridão...

*Somos todos hipócritas... em níveis diferentes, mas, hipócritas!

*Vocação, resposta, seguimento...

*O lugar da auto piedade...

*A natureza íntima da corrupção...

sábado, 2 de agosto de 2014

Carta aberta aos pecadores como eu...

Em tudo... em tudo... em tudo... mais que em todas as derrotas, mais que em todas as vitórias: a VONTADE DE DEUS conta mais que tudo...mais que os vícios e pecados... mais que as virtudes e as pretensões de santidade...
Vou rabiscar essas ideias radicais para utilidade de quem, antes de pretender “produzir” qualquer tipo de reforma cristã na “fábrica” de utilidades vendáveis do Evangelho - segundo as regras da economia da nova evangelização - está honestamente comprometido(a) com a produção artesanal e laboriosa da própria conversão, como artífice diuturno da reforma de si mesmo, para o bem de todos.
Por incrível que possa parecer o que vou dizer, mas, até mesmo o pecado na luta por realizar a Vontade de Deus, vale mais que a virtude na luta – nobre que seja - por realizar a vontade própria...
Tão incrivelmente paradoxal isto, que vou repetir: até mesmo o pecado na luta por realizar a Vontade de Deus, vale mais que a virtude na luta – nobre que seja - por realizar a vontade própria...
Não será em razão do que decorre disto, em misteriosa profundidade, que algumas prostitutas nos precederão no Reino dos Céus??? Na decadência do zelo para consigo, uma prostituta leva aos estertores a humilhação de uma vida de desprezo a si mesma, que de algum modo gera humildade. Pode-se dizer tudo de uma prostituta, nunca que ela seja orgulhosa. As prostitutas podem ser vaidosas, mentirosas, dissimuladas, enfim, podem acumular - além da promiscuidade - toda sorte (na verdade azar) de vícios morais, todavia, não se encontrará entre elas o orgulho gracejando-lhes a alma.
Na vida tristemente degradante de quem vende o corpo, a própria prostituição destrói o amor próprio e, junto, de quebra, o orgulho que nele reside e dele se alimenta. Sem ter o amor próprio para alimentar o orgulho, como pode este último sobreviver? Será por esta razão que suas almas acrisoladas em corpos manchados pelo pecado, contêm alguma predisposição maior para conversões mais sinceras? É de fazer pensar!
Em muitos virtuosos, ao contrário, excede a exaltação que gera o orgulho. Talvez por isso, não poucas heresias venham de processos mentais adoecidos pela convicção internalizada da auto piedade e auto pureza, que se desdobram em formas pietistas e puritanas na prática do bem comum ou da santa religião, desfigurando-os por completo. A isso, temo, também, irá levar a tão idolatrada práxis no lugar da doxa, que na extensa literatura bíblica, aparece poeticamente como prostituição contra um Único Deus Criador de todas as coisas.
Pensemos nisto com modéstia e simplicidade: talvez seja por isto que o Bendito Salvador afirmou não ter vindo para os que estão saudáveis. De fato, estes não precisam da Medicina de Deus. Aliás, a Medicina de Deus cura não apenas o pecado, mas, a raiz do pecado: o orgulho. E como o orgulho viceja com facilidade nas almas ciosas de si mesmas, apaixonadas pela vaidade de práticas virtuosas acima da media.
Aqui neste blog, é assim: “uma no cravo, outra na ferradura”. Afinal, ferreiro que se preza, tem de testar a qualidade do casco antes de fazer padecer o animal com pregos de aço em patas chochas. De que adiantam gastar ferraduras onde os cravos – iguais aos da Cruz – não poderão conservá-las?
Primeiro se deve tratar os cascos danificados da nossa vida carnal danificada quer pela falta de respeito ao próprio corpo, que se entrega facilmente à prostituição; quer os cascos rachados (embora rígidos) da nossa vida espiritual danificada pelo excesso de valorização da alma, que se deleita na vanglória.
Em razão disto veio Ele para tratar os que estão doentes, isto é, os que reconhecem no profundo de si mesmos impotência para glorificar a Deus e somente a Ele. Estes estão alquebrados e humilhados pelo pecado e falta de virtudes. Humilhados, aceitam humildemente a Medicina Divina. Com as feridas da alma abertas e expostas, absorvem o bálsamo da Misericórdia com gratidão, generosidade, intensidade, simplicidade, abertura honesta, enfim, certos de sua indignidade, os fracos descobrem o Mistério de que Deus fará brotar neles a Graça, como faz brotar no esterco, o lírio...
Por isto o Santo Apóstolo, que de Tarso a Damasco, viu-se derrotado pelo farisaísmo virtuoso da antiga religião que usava da Lei para oprimir o pecador, invés de cuidar-lhe as feridas do corpo e da alma, disse com propriedade doutoral (no sentido de Medicina Divina, mesmo): “onde abunda o pecado, superabunda a Graça de Deus”...
Mistério da Fé! Tão grande este Mistério que, talvez, seja por esta misteriosa razão do paradoxo entre o mundo natural e o mundo sobrenatural que, os maiores místicos da Igreja padeciam terrivelmente do vigor das compulsões de todas as ordens. Foram achincalhados pela visceralidade das libidos ou dos nervos... tudo, terrivelmente, à flor da pele.
Ponhamos de lado um instante a Medicina de Deus e voltemo-nos novamente ao diagnóstico dos que dela precisam.
Os candidatos à pureza angelical, numa quase anti-naturalidade de desprezo à condição de natureza que lhes deu o Criador – sem o perceber muitas vezes – querem atestar certa incompetência Divina, que deliberou fazer-nos homens invés de anjos. Aonde chegam os píncaros do orgulho, não?
Contudo, os ciosos da própria candura idolátrica, não padecem a boa, necessária e fatigante luta da alma. Parecem viver num “paraíso” de contemplação onde tudo é como é e não faz muita diferença que assim seja, não lhes toca o fundo da alma (mais ocupada com as próprias virtudes), que as coisas sejam como são.
Eles parecem não possuir material interior de decrepitude moral para ser transformado pela Graça, embora, estejam imersos no âmago da mais abominável forma de amor: o amor próprio... (agora não sei se é o ferreiro dando no cravo ou o cavalo retribuindo com um coice).
Seja como for, em consequência disto, os garbosos do amor próprio pela prática das virtudes, bastam-se a si mesmos, correndo o terrível risco de rejeitar mínimas provas, e chegam mesmo a desenvolver revolta contra Deus e contra si próprios, a partir de inexpressivos arranhões em sua condição interior que jazia já num ego pseudo ilibado e pseudo perfeito. Basta-lhes o mínimo dos mínimos em termos de falha, para abandonarem a paz aparentemente “perfeita” dessa inércia (indiferente para com tudo fora de si), e enveredarem por um caminho de difícil retorno à concórdia com as próprias consciências, com tudo o que lhes cerca e com Deus, ao fim das contas...
O narcisismo espiritual é o amor próprio – doentio - à beleza da própria pureza, tanto quanto o narcisismo físico é o amor próprio – doentio - à beleza das próprias feições... BIS (leia de novo e reflita com honestidade).
Se você leu novamente e chegou à conclusão que isso lhe diz respeito de algum modo, menos mal. Há chance de buscar a Medicina Divina antes que isto se torne um câncer espiritual, pior que o causado pelo pecado do corpo, pois, aquele, sendo pecado da alma, poderá destruí-la para sempre. O pecado do corpo só destrói a vida no corpo, não necessariamente a vida da alma (o que também pode acontecer sem o devido cuidado).
Por isso disse o Senhor: felizes os pobres, felizes os que choram, enfim, no Sermão da Montanha, felizes são todos aqueles que são infelizes neste mundo “nem perfeito nem imperfeito, mas em desenvolvimento” (Stº Ireneu de Lyon), pois, não se bastam a si mesmos. Eles reconhecem sua ‘faltância’ e insuficiência, por isso estão aptos à preexistência da Graça que tudo sustenta e à sua operação na natureza, a fim de complementá-la na vida natural e de suplementá-la na vida sobrenatural.
Na outra ponta do tênue fio existencial, pode-se dizer: infelizes são os ricos, infelizes os que riem dos próprios méritos e conquistas, enfim, infelizes são todos aqueles que são felizes em seus mundinhos de perfeição e virtude, pois, bastam-se a si mesmos no engodo da meritocracia espiritual (julgam-se merecedores da Graça pela prática das virtudes, o que equivaleria dizer que a Graça bate continência para seus próprios méritos... ora, pois sim!). Estes últimos gabam-se de suas completudes e suficiências, por isto permanecem inaptos ao complemento e suplemento da Graça, embora possam reconhecer a preexistência dela como sustentação do próprio existir.
Não conheço um só santo ou santa – um único - que não tenha desconfiado severamente de si próprio. Se místico, então... até a exaustão da alma e dos sentidos.
Tanto mais Deus cabe em nós, quanto mais nos esvaziamos de nós mesmos. Eis a kenosis do Discípulo Amado, obediente ‘cuidador’ da Santíssima Virgem Mãe de Deus.
Portanto, voltando ao exemplo da falta de virtude moral daqueles que tenham descido até o fundo do poço dos próprios limites e misérias (como as/os prostitutas/os, por exemplo), têm eles toda convicção do mundo de que nada possuem que os façam merecer, por si mesmos, os benefícios inenarráveis da Graça Divina.
Inversamente proporcional a isto, aqueles que ergueram a si próprios no auge de seus méritos e virtudes (como os puríssimos Anjos de Luz=Lúcifer; e seus imitadores quer nos coros angélicos quer no “coro de carne” de muitos homens e mulheres cheios de vanglória), têm toda convicção própria de que possuem todos os méritos necessários para usufruírem – por direito de merecimento e não por Gratuidade Divina – os beneplácitos da Graça Divina.
Importante lembrar que a palavra Graça significa exatamente gratuidade. O Dom da Vida é concedido de Graça. Ninguém, antes de existir, poderia fazer nada para merecê-lo, simplesmente porque não existia para fazê-lo. E depois de vir à existência, não por merecimento pessoal, mas por puro mérito da gratuidade (Graça) Divina, nada pôde, pode ou poderá fazer meritoriamente para garantir a permanência da existência.
Santo Agostinho tem razão: Tudo é Graça... Tudo é Graça... Tudo é Graça... até o pecado, não quisto por Deus, mas, por Ele permitido, favorece a Graça para superabundância dela mesma, afinal, quem como Deus pode de todo e qualquer mal, tirar sempre um bem infinitamente maior?

Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

Nenhum comentário:

Postar um comentário