Para ser honesto com a realidade, a grande ilusão do ser humano contemporâneo
desemboca numa pavorosa desilusão de sentidos vazios de nobreza e verdade. Mais
que uma crise afundada na completa falta de fundamento ontológico do
entendimento do homem a cerca de sua própria natureza, condição e verdade
própria, trata-se de um mergulho existencial no nada...
Isto:
o homem palmilha passo a passo os vazios individuais e coletivos. Atravessa os
paralelos intangíveis da(s) consciência(s) numa busca que o leva, como cabe
repetir num e noutro texto, de nenhum lugar para lugar nenhum.
Todos
os parâmetros de realidade que o homem atual procura construir são,
tristemente, falaciosos. São recheados de um estranho vento de inexistência num
mar aberto de existências fadadas ao vazio dos sentidos. São paragens amorfas
de compreensão para com: um de onde vim que não importa, de um permanecer
fútil, até concluir um para onde ir completamente desconexo do real viver.
O
homem tenta fugir da realidade construindo cada vez mais “castelos de areia” de
novos sentidos sem sentido nenhum. Na grande maioria, virtuais. A própria razão
de ser – primária e secundária – das coisas, já nem é mais sujeito, senão, mero
objeto de sistemas binários que se reinventam mais do 1 para o 0 que do 0 para
o 1.
Que
isto significa? Tudo e nada. Aliás, do Todo UM para o nada ZERO. Mais ou menos
isto, multiplicado e dividido, igual por todos.
Filosofia
complexa à parte, vai o homem atual fazendo desconstruir – na medida em que
tecnologicamente pensa construir – todos os sistemas que dizem que a verdade
existe, muito para além do que se pode dizer ou compreender dela, nela mesma.
Se
pudéssemos dar um nome a este processo de falência da humanidade, chamaríamos
processo Pilatos. Afinal, na esteira de tamanho ceticismo – do viés moral da
Revelação ao ético da construção do Conhecimento – o que é a VERDADE afinal?
Ela,
a VERDADE relativizada por tão cruel sistema de ignorância racional, já não é
matéria de investigação autêntica. Ela não só não é buscada, como não é amada.
É ignorada pelos novos processos de conhecimento. É relegada ao ostracismo das “formas”
caracterizadas pela deformação absoluta, em tudo. Em todos.
Queria
dizer, ao começar a escrever este post, da grande ilusão dos meios e recursos
usados, inclusive, para anunciar a Verdade que Se fez Carne... nem comecei e
também já padeço os efeitos da desistência...
São
tantas as ilusões que cercam as chamadas “ferramentas” tecnológicas de “evangelização”,
que faz com que o “cristianismo” em voga busque mais a auto satisfação de
cumprir esforços de conversão alheia, que não percebem ignorar – ampla e
completamente – o seu mais potente e autentico processo intrínseco: a auto
conversão.
O
mundo todo quer influir na mudança do mundo. Ninguém quer, efetivamente,
contribuir modestamente na transformação de si mesmo. E dá-lhe esforço
coletivo, de novo, de nenhum lugar para lugar nenhum. Do nada para o nada,
resumidamente.
Quem
me lê poderá com muita facilidade vislumbrar um “Q” pessimista nas minhas considerações.
Será fato isto? Que pensariam os mártires da primeira geração cristã, que invés
de pretender mudar o mundo, vagavam de catacumba em catacumba, fazendo
indizível esforço de escondimento para crescer na renúncia de si próprios, a
fim de fazer glorificar em suas vidas o Cristo que glorificou Seu Pai?
Ah...
- dirão os afoitos evangelizadores do sucesso que mais enxergam convertidos
para própria causa “evangelizadora” que para a renúncia do seguimento – os tempos
são outros...
É...
de certo, para essas mentes conformadas com o formidável poder de
descaracterização da época, o Evangelho, seguindo os tempos que são outros,
talvez também devesse ser outro, né?!
Seja
como for, na época do nada para o nada, do lugar nenhum para nenhum lugar,
minha voz no deserto de uma época tão cheia de um si mesmo vazio de significado autêntico, seguirá buscando no alto
de qualquer montanha um olhar para o horizonte, com o otimismo realista de
vislumbrar, na história presente, um futuro próximo que irá melhorar, não antes
sem piorar muitíssimo...
Embora
possa parecer pessimista aos olhos de quem se pauta pela mecânica do grande
vazio, posso garantir, meu otimismo é grande, maior inclusive que a Grande
Ilusão, que, ao fim das contas, não é minha...
Pe.
Frei Flávio Henrique, pmPN