É muito oportuno o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, escolhido pela Conferência dos Bispos do Brasil: “Fraternidade e a Vida no Planeta”. Oportuno por inúmeros aspectos, impossíveis de serem explorados, todos, aqui. Todavia, são imediatas algumas tônicas do tema.
Vale lembrar, antes, a título de introdução, a ótima semente desta Campanha que acontece todos os anos. Nasceu, pois, da resposta hábil do ex-arcebispo de Salvador e de Natal, atual arcebispo emérito do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Cardeal Sales.
E por que é importante partir desta memória justa?
Porque isto denota a sensibilidade da Hierarquia em conciliar as demandas de base da sociedade humana com o necessário e indissolúvel vínculo com a Santa Sé Apostólica. Não custa recordar que também foi este eclesiástico um dos fundadores das CEB’s, as quais, somente depois, em alguns contextos, ganharam outras conotações, distanciando-se na perspectiva de alguns setores mais radicais da Teologia da Libertação.
Mas, o que nos importa aqui é o valioso resultado disto: os bispos brasileiros abraçaram a proposta, fazendo-a um mote anual de engajamento missionário, que conhecemos por Campanha da Fraternidade.
Mas, em que isto pode – e deve – ser associado ao tema da Campanha deste ano, “Fraternidade e a Vida no Planeta”?
A expressão plena da fraternidade e da vida, no Planeta onde Deus plantou o gênero humano, sempre esteve garantida pela Fé Una, Santa, Católica e Apostólica. Pois, a vida, é algo que tem sua origem em Deus, sua manutenção subsidiada pela Graça Divina que “pressupõe a natureza” (Santo Agostinho) e também o seu fim n’Ele que é a Causa Última de todas as coisas (metafísica aristotélico-tomista).
Vale ainda dizer que, no caso do Ser Humano, principal ente herdeiro da vida, este fim derradeiro em Deus é só uma passagem (Páscoa), cujo rito anual de atualização memorial nós começaremos a preparar na Quaresma que se aproxima.
Eis a razão da Encarnação: dar vida - e vida plena - ao homem, o que inclui a biodiversidade que o mantém durante sua passagem pelo Planeta.
Eis, também, a relação vinculante entre a campanha nacional da Igreja no Brasil, “Fraternidade e a Vida no Planeta”, com o governo único da Igreja de Cristo, realizado pela Sé Apostólica.
Mas, é bom insistir na pergunta: em que repetir - aquilo que deveria ser óbvio ao menos aos católicos - pode ser útil neste texto da CODEVIDA (Comissão Arquidiocesana em Favor da Vida), na preparação para assumir o tema da Campanha da Fraternidade deste ano?
Não duvidemos: sem levar em conta a plenitude da vida durante a páscoa temporal - o que inclui necessariamente a vida no Planeta em todas as fases (princípio, meio e fim) - não faria sentido falar da vida, dentro ou fora de campanhas.
E se não nos fosse possível considerar a Vida Plena sem as condições fundamentais para que ela surja, se desenvolva, e complete seu ciclo natural, então, não teríamos um ponto de partida honesto para considerar a “Fraternidade e a Vida no Planeta”.
A CODEVIDA, motivada pelo engajamento de seu Fundador e Presidente, e um dos Bispos atuantes na causa dos Prós Vidas no Brasil desde seus primórdios, o Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira, considera com distinção a oportunidade do tema da Campanha da Fraternidade, no contexto primoroso dos 50 anos de comemoração do Concílio Vaticano II, cuja coordenação nacional está também a cargo do mesmo eclesiástico.
As temáticas que certamente serão estudadas de modo exaustivo e competente pelos peritos das áreas correspondentes como: “Proteção dos biomas diversos”, “Tratamento do lixo”, “Emissão de Gases veiculares”, “Aquecimento global”, “Mudanças climáticas” e outros, são expressões legítimas que devem estar no horizonte amplo da defesa da vida no Planeta.
O homem, gestor criado por Deus para o cuidado do resto da criação, deve ser, antes de tudo, fraterno com tudo que diga respeito à vida: em seu princípio, na manutenção justa dos meios, e na consecução natural dos fins.
É com esta nota concisa que a Associação do Pater Noster, em parceria com a CODEVIDA, se introduz no verdadeiro espírito da Campanha da Fraternidade da CNBB em 2011. E é nesta perspectiva que incentiva toda Arquidiocese de Juiz de Fora, através de seu clero, das paróquias, pastorais e movimentos a participarem da urgente demanda da “Fraternidade e a Vida no Planeta”.
Sem embaraços ideológicos abraçamos o desafio de promover a vida em todas as suas fases (princípio, meio e fim). Isto, porém, como é nosso dever missionário aliado ao espírito sinodal da Igreja Particular de Juiz de Fora, sem: rendermo-nos aos apreços puramente marqueteiros dos clichês publicitários; sem deixarmos reduzir nossas iniciativas às possíveis tendências idolátricas de certa corrente da teologia ecológica e, sobretudo, sem abdicar da autêntica sensibilidade social da comunidade humana para tão grave problema, a saber, a demanda urgente da Vida no Planeta!
Juiz de Fora, 27 de fevereiro de 2011
Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN
Membro da CODEVIDA e Presidente da Associação Pater Noster
Em tempo
Duas importantes razões temos para nos alegrarmos após a postagem desta carta sobre a Campanha da Fraternidade em nosso blog no dia 28 de fevereiro de 2011.
A primeira é que Dom Gil Antônio Moreira a aprovou como carta da CODEVIDA (Comissão Arquidiocesana em Favor da Vida) para ser dirigida ao clero arquidiocesano de Juiz de Fora.
A segunda diz respeito à recente mensagem do Papa Bento XVI aos Bispos do Brasil sobre a Campanha “Fraternidade e a Vida no Planeta”. Nesta mensagem, oportuníssima, o Santo Padre coloca o devido acento, que com grande discrição apontamos dias antes no artigo acima: “Defender o homem antes que o meio ambiente” destaca como manchete a Agência de notícias internacionais ACI. (http://www.acidigital.com/noticia.php?id=21302)
Vale a pena, acrescer posteriormente a esta postagem um trecho específico da mensagem que Bento XVI encaminhou a Dom Geraldo Lyrio Rocha, Presidente da CNBB, no dia 09 de fevereiro:
“O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e àquilo que o circunda, a não ter respeito pelo ambiente em que vive, pela criação. Por isso, a primeira ecologia a ser defendida é a "ecologia humana" (cf. Bento XVI, Encíclica Caritas in veritate, 51). Ou seja, sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, neste contexto, daqueles que perderam tudo, vítimas de desastres naturais, nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio-ambiente.”